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sábado, 12 de julho de 2014

A pisada de Lampião em Sergipe - Capela

Capela

A literatura cangaceirista narra, com uma grande riqueza de detalhes, a visita de Lampião á cidade de Capela, distando esse município, apenas 70 kms de Aracaju, capital do estado de Sergipe. A visita indesejável ocorreu no dia 25 de novembro de 1929.

Após visitar e fazer escaramuças na cidade sergipana de Nossa Senhora das Dores/SE, o rei vesgo do cangaço, se apropriou de alguns poucos veículos existentes nesse lugarejo, e junto com sua malta, algo em torno de 15 cangaceiros, se dirigiu á cidade de Capela.

Ao se aproximar dessa última urbe, o rei do cangaço mandou emissário ao então intendente (cargo de Prefeito), Sr. Antão Correia Andrade, conhecido por "Correinha", com o seguinte recado:

" Diga ao major Correinha (irmão do Chefe de Polícia/SE - Dr. Heribaldo Dantas Vieira) que se quizé qui eu entre em paz venha até aqui, se não vié eu entro com bala e a rapaziada ".

Em seguida, partiu o emissário, voltando em companhia do intendente. Após confabulações com seu interlocutor, Lampião entrou na cidade de Capela/SE, por volta das 20:00 hs, antes, porém, mandou cortar os fios de comunicação. Os cangaceiros do estado-maior de Virgulino: Moderno, Ezequiel, Arvoredo, Volta Seca, Mourão, Gavião, Zé Baiano e outros valentes, tomaram posição, em pontos estratégicos.

Cine Capela, foto: cortesia de Sérgio Dantas.

Lampião foi até o "Cinema Municipal de Capela", acompanhado de alguns cabras, e do intendente. Ao chegarem no local, foi grande o alarido, tendo os espectadores sido dominados pelo pavor, impossibilitados de fugir. Na ocasião estava sendo exibido o filme "Anjo da Rua ", com a atriz Janet Gaynor.

A projeção foi interrompida. O rei do cangaço advertiu a todos que não corressem. Era um cinema simples, com banda de música que tocava no intervalo. Os músicos tocaram com beiços trêmulos, uma valsa triste e desafinada.

O telegrafista Zózimo Lima.

Na sala de projeção, avista-se o telegrafista Zózimo Lima*, e previne-lhe de que não dê notícia de sua entrada na cidade, sob pena de ser sangrado. Do cinema, Lampião sempre acompanhado do intendente, e do telegrafista Zózimo foi até a estação da estrada de ferro, utilizando 3 automóveis, dos 4 tomados em Nossa Senhora da Dores.

Com a chegada do trem, os passageiros começaram a saltar, calmos. Ao saberem da presença do Rei do Cangaço, o desembarque se transformou numa debandada. Um soldado que vinha de Aracaju, foi abordado por Lampião, que arrebatou-lhe o fuzil, tirou as balas e disse que ele tinha sorte, pois se fosse da polícia baiana, o sangraria, ali mesmo.

Como contribuição, o caolho do cangaço estabeleceu que a cidade contribuiria com a importância de 20 contos de réis. O prefeito, no em tando, salientou que os habitantes de Capela eram pobres, se achavam desprevenidos, estavam atravessando três anos de seca. Nisso, foi atendido, tendo a importância sido reduzida para 06 contos de réis. O próprio chefe de polícia (delegado), Pedro Rocha quem fez a coleta entre os que dispunham de posse. Entregue ao cangaceiro Moderno, esse colocou o montante no bolso, sem contar.

O chefe do cangaço deu ordens a seus subordinados para que andassem livremente pela cidade, mas que ficassem atentos ao apito para a retirada estratégica. Na loja do comerciante Jackson Alves de Carvalho, Lampião adquiriu Roupas, capa de borracha e uma pistola parabellum, sendo dito o seguinte:

"Eu carrego comigo três coisas: coragem, dinheiro e bala..."

Por onde andavam os cangaceiros eram acompanhados de uma grande legião de admiradores, encantados com as histórias de suas façanhas e vestimentas esquisitas.

Por seu turno, o padre José Cabral esteve com os delinquentes que a ele se curvaram pedindo benção. Foram aconselhados a deixarem aquela vida.
Lampião recebeu das mãos do comerciante Jackson Alves Carvalho, com dedicatória, o livro "Vida de Cristo".

Cerca das 23:00 horas, Lampião desejou telefonar para o chefe de polícia da capital (Aracaju), Sr. Heribaldo Vieira. A ligação não pôde ser completada, em face da hora.


Lampião desejou conhecer o "brega" (cabaré) de Capela, pois essa cidade gozava da fama de ter mulheres decaídas bonitas em abundância. Ele foi recebido pela prostituta "Enedina", a quem obsequiou, após o " coito", com 70 mil réis. Enquanto vadiava, dois cangaceiros davam guarda á entrada e saída do lupanar.

No salão de bilhar (jogo) situado na Praça do Mercado, o Rei vesgo do Cangaço, deixou, em uma das paredes, o seguinte aviso:

Capela - 25-11-29
Salvi. Eu cap.m Virgolino Ferreira
Lampeão
deixo Esta Lca. para o officiá qui parçar
Em minha perceguição, apois tenho Gosto que
Voceis me persigam. Descupe as letra qui sou
Um bandido como voceis me chama pois eu não
Mereço, Bandido E voceis que andam roubando
e deflorando as famia aleia porem eu não tenho
este costume todos me desculpe a gente a quem odiar?
Aceite Lças. do meu irmão Ezequiel Vulto Ponto Fino e
do meu cunhado Virginho Vulgo Moderno

Por volta das 03 horas da madrugada, Lampião convocou os demais cangaceiros, com três silvos de apito, tendo deixado Capela, nas mesmas viaturas em que haviam chegado. No caminho, trocaram os automóveis por cavalos. A polícia sergipana, na capital, havia sido avisada, mas não conseguiu chegar a Capela, senão às 07 hs da manhã do dia seguinte.

Um abraço a todos.
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN
 **Imagens e texto reproduzidos do 
blog: lampiaoaceso.blogspot.com.br
**Postagem original feita por Kiko Monteiro em seu Blog lampiaoaceso.blogspot.com.br, em 14/03/2010.
Postagem da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 16 de julho de 2013.
http://grupominhaterraesergipe.blogspot.com.br/2013/07/a-pisada-de-lampiao-em-sergipe-capela.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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