Lampião
sangrava seus inimigos como se eles fossem bois e os castrava como bodes
O cangaceiro
Lampião foi quem sistematizou, no sertão nordestino, o sequestro à resgate. O
rei do cangaço também se colocava à disposição dos coronéis amigos e
protetores, que lhe forneciam mantimentos, armamentos e munição, em troca da
utilização do seu bando como "grupo de extermínio". "Esses
coronéis e os próprios cangaceiros viviam financiando a abertura de negócios.
Uma pessoa que quisesse abrir um comércio, recebia o empréstimo a juros. Agora,
se não pagasse, eles iam atrás", revela detalhes das ações do maior dos
cangaceiros, o historiador da Fundaj, Frederico Pernambucano de Mello.
Frederico Pernambucano de Mello
Por conta
disso, tem sertanejo que ainda hoje o detesta e o compara aos bandidos atuais.
A lista de crueldades e castigos aplicados pelo cangaceiro e seu bando é
extensa. Seu punhal, com 45 centímetros de lâmina (80 centímetros), ficou tristemente famoso: a
arma era utilizada para sangrar os inimigos e traidores, ou seja, era enfiado
pelo pescoço de cima para baixo em direção ao abdômen da vítima, que morria com
todos os órgãos vitais perfurados.
O sangramento,
revela o historiador Frederico Pernambucano, era uma prática herdada da cultura
medieval que ainda dominava o Sertão do Nordeste. A técnica era igual à técnica
de sangramento do gado, aplicada pelo colonizador do Sertão. O corte da orelha
é igual ao corte que marcava o bode. A castração do homem era igual àquela
realizada no bode ou no carneiro. Retirava-se a bolsa escrotal com os
testículos, mantendo-se o pênis. A assepsia era feita com a colocação de cinza,
sal e pimenta. "Essa técnica foi aplicada pelo cangaceiro Virgínio, chefe
de um dos bandos, no camponês Manoel Luiz Bezerra. Eu entrevistei Manoel e vi
como foi feito o corte", relata Frederico Pernambucano.
TESTEMUNHAS
Na memória dos
primos Davi Gomes Jurubeba, 95 anos, e João Gomes de Lira, de 82, o nome
Lampião é associado imediatamente a muito sangue, um ódio imenso e vários
combates. Juntos, testemunharam muitos desses crimes e integraram a mesma
volante que combateu Virgolino Ferreira pelo sertão pernambucano. Apesar da
idade avançada, os dois guardam detalhes daquela época. Jurubeba passou oito
anos na polícia: foram 15 combates contra o cangaceiro, a maioria deles na
pequena Nazaré (hoje, Carqueja, distrito de Floresta, a 434 quilômetros do
Recife).
João Gomes de Lira
Jurubeba viu
um irmão e seus primos morrerem. Fica revoltado quando se fala em homenagear o
rei do cangaço. "Ele e seu bando cercaram o Riacho da Barra, tomaram conta
do povoado ao redor, estupraram todas as moças. A mulher do médico, de quem
queriam roubar, também foi estuprada, entrou em coma e morreu. Ele era
bom?" questiona.
"Querem pegar um bárbaro desses e fazer festa para
ele. Além disso, ele castrou civis que recusaram ajuda, furou olhos e cortou
línguas".
A relação
entre cangaço e Justiça é o tema da pesquisa do juiz de Direito de Triunfo,
Assis Timóteo Rodrigues, 50 anos, que lançará no próximo ano o livro Lampião e
a criminologia de sua época. O trabalho é resultado de pesquisas que o juiz
realiza por cidades de cinco estados nordestinos onde o cangaceiro esteve.
Vasculhando os precários arquivos dos cartórios nordestinos, em busca de
processos contra Virgolino Ferreira, ele chegou à conclusão que, se ele tivesse
sido julgado por todos os crimes, seria a condenado a mais de mil anos de
prisão.
Os assaltos,
roubos, extorsões e homicídios eram seus crimes mais comuns. Mas ele nunca
compareceu a nenhum julgamento. Ainda segundo Timóteo, os advogados que
patrocinaram as defesas de Virgulino e seus cabras, deixaram de lado o aspecto
criminológico, e sequer trataram o cangaço como fato social. "Os homens
nomeados para a defesa de Lampião eram rábulas, sem conhecimento do Direito
Penal e de outras ciências, como a Antropologia, Sociologia e Medicina
Legal."
http://www.dpnet.com.br/anteriores/1997/07/08/especial5_0.html
Postado e ilustrado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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