Por Rangel Alves
da Costa*
Os tambores
nordestinos ecoaram entristecidos, as cantigas se transformaram em lamentos, o
povo surpreendido e amargurado saiu às ruas para olhar os horizontes e buscar
nos céus quaisquer respostas para a notícia espalhada como tragédia. E logo
confirmada. Nesta quarta-feira, 13 de agosto, ainda pela manhã, um avião
levando seu filho ilustre e assessores caiu num condomínio em Santos e todos
acabaram vitimados no terrível desastre. A tragédia se confirmava: Eduardo
Campos estava entre os mortos.
Uma tristeza
indescritível. Por mais que a morte seja destino e fadário de todos, não há
como negar a dor redobrada diante das circunstâncias que ela chega.
Particularmente dolorosa quando consequência de acidente, mas ainda mais
aterradora quando ocorrida num desastre aéreo, em via urbana, e ceifando a vida
de sete pessoas ainda jovens, e com relevância maior para a morte de um
político renomado e candidato à presidência da República. Pernambuco, berço
familiar e político, certamente ainda sente dificuldade para acreditar no que
realmente ocorreu com seu filho.
É tristeza
após tristeza, luto após luto. O povo nordestino ainda pranteia a partida de
Ariano Suassuna, expoente maior de suas raízes e tradições, falecido em 23 de
julho passado, e poucos dias depois novamente se vê levando lenços aos olhos
transbordantes de entristecimentos. Um pranto angustiante, uma profunda
aflição, tudo com a feição de um luto que melancolicamente se prolonga. Em
pouco tempo e um povo se vendo órfão do seu guardião cultural e daquele cujas
raízes políticas tanto enriqueceram o estado pernambucano e que despontava como
esperançosa promessa na política nacional.
E que grande
promessa da política nacional era Eduardo Campos, daí também a consternação de
toda a nação brasileira, desde os viventes sulistas aos caboclos das distâncias
nordestinas. Mesmo não sendo seus eleitores ou defendendo outras bandeiras
partidárias, inegavelmente que o jovem candidato era respeito e admirado por
todos. E com virtudes difíceis de ser encontradas em meio aos vícios e mazelas
da política brasileira: não agia por conveniência, não se dobrava às benesses
oferecidas, não temia ser afrontado por aqueles que se sentiam feridos por não
ter seu apoio, eis que sempre agia com a mesma coerência herdada de seu avô.
Sim, do seu
avô a herança do homem e do político. E agora tudo ocorrido na mais triste
coincidência. No dia 13 de agosto de 2005, vitimado por um choque séptico
causado por infecção respiratória, falecia no Recife, aos 88 anos, um dos
maiores expoentes da esquerda brasileira, o ex-deputado e governador Miguel
Arraes. E nove anos depois, na mesma data, o Brasil e o Nordeste perderam o
neto do grande líder, também alçado ao patamar das grandes lideranças, o
ex-deputado, ministro e governador Eduardo Campos. E um dos concorrentes mais
fortes ao posto maior da nação.
Sua biografia,
trajetória e percurso já eram bem conhecidos dos pernambucanos, e aos poucos o
país inteiro ia tomando conhecimento de sua caminhada vitoriosa, sua conduta
pessoal e política, de seus projetos para um Brasil melhor. Mas faleceu antes
mesmo que pudesse expor suas ideias com mais precisão nos programas eleitorais
no rádio e na televisão. E certamente muito tinha a dizer ao povo brasileiro, e
não só pautando sua experiência legislativa, ministerial e executiva, como
também a partir daquilo que via como respostas possíveis aos problemas
brasileiros. E demonstrando sua capacidade de efetivamente realizar, como já
comprovado nas funções públicas exercidas.
Incabível aqui
o delineamento de toda a sua trajetória, bastando apenas relembrar que foi
militante político e presidente do diretório acadêmico quando estudante de
Economia da UFPE, chefe de gabinete de seu avô Miguel Arraes, sendo eleito
deputado estadual em 1990, pelo PSB. Daí em diante foi acumulando vitórias e
reconhecimentos, sendo eleito e reeleito deputado federal, tornando-se
articulador político do governo federal e depois ministro da Ciência e Tecnologia.
Foi eleito em 2006 para o governo de Pernambuco e reeleito em 2012. Era líder
maior do PSB nacional. E por esta sigla se lançara candidato a presidente.
Pedrinho
Valadares e Eduardo Campos
Sergipe também
chora e lamenta o ocorrido, e duplamente, eis que um filho da terra também
acabou vitimado pela tragédia. Pedro Almeida Valadares Neto, o Pedrinho
Valadares como mais conhecido, assessorava politicamente Eduardo Campos e com
este estava no trágico voo. Aos 48 anos, advogado, político, ex-deputado
federal por três legislaturas, possuía filiação numa das mais tradicionais
famílias sergipanas e simão-dienses, a Valadares, de tantos e renomados
políticos.
Por todo e
tudo, o dia 13 de agosto de 2014 será de difícil esquecimento para a nação
brasileira. O povo, seja qual for a bandeira partidária, naturalidade ou classe
social, continua enlutado com o acontecido. A maioria sequer deseja falar sobre
as consequências políticas com a morte do candidato, os novos rumos das
campanhas ou acerca de quem será indicado em seu lugar. Não vê a morte senão
como uma tragédia que abriu profunda fenda no sentimento. E por isso, muito
mais que o político, chora o homem sensato, sereno e coerente que se foi. E
também dolorosamente pranteia todos aqueles que alçaram os espaços num voo
muito diferente daquele que não chegou.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Informação ao leitor: O blogdomendesemendes não posta matérias sobre política, mas esta é uma crônica do escritor Rangel Alves da Costa sobre a morte do Eduardo Campos.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Pois é caro Mendes, estive falando com o Dr. Rangel, mais ou menos o mesmo que ele escreveu em seu texto: Um grande homem - um excelente político, o Brasil perdeu nesse doloroso desastre que não ceifou a vida apenas do nobre cidadão Eduardo Campos, mas, junto a ele, outros se foram para outra Esfera de vida. Com certeza, deixará uma grande lacuna nos meios políticos e na administração. AS MINHAS CONDOLÊNCIAS PARA A FAMÍLIA ENLUTADA E PALAVRAS DE CONFORTO PARA SEUS QUERIDOS FILHOS.
ResponderExcluirAntonio José de Oliveira - Serrinha - Bahia.