Ao pesquisador atento, desvestido
de preconceitos com a religiosidade popular e que saiba exercitar a
contextualização dos episódios estudados no devido cenário histórico, não custa
compreender a grandeza moral e, sobretudo, a excelsa espiritualidade do Padre
Cícero Romão Batista, que em vida já era venerado pelas virtudes taumatúrgicas
que os céus lhe concederam.
Padre Cícero, o “Meu Padim Pade
Ciço” da fala simples e piedosa dos romeiros que afluem a Juazeiro do Norte,
foi exemplo fidedigno de obediência às determinações da Santa Igreja Católica
Apostólica Romana, dela não divergindo nem nos momentos mais dolorosos em que a
injustiça bateu à sua porta e o aguilhão da intolerância do bispo Dom Joaquim
feriu em profundidade o seu coração de sacerdote. Claro que o sofrimento do
humilde pároco da aldeia foi maior porque a injustiça foi praticada exatamente
pela ação insensata e cruel de alto clérigo representante da hierarquia
temporal daquela que é Mater et Magistra.
Agora, no apagar das luzes do ano
de 2015, passados mais de cem anos dos fenômenos conhecidos como “o Milagre da
Hóstia”, em que foram protagonistas o padre e a beata Maria de Araújo, quando a
sede papal é ocupada por um bispo latino-americano, dito “Papa da
Misericórdia”, eis que assoma a sabedoria da Igreja, revelada em documento do
Vaticano, assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. Neste
documento, ainda que não definitivo e eivado de expressões diplomáticas ditadas
pela imensa prudência que caracteriza a Igreja, está claramente definida a nova
postura do Vaticano em relação ao Padre Cícero.
O Vaticano, segundo o assentado
por um dos seus mais altos dignitários, cujas expressões indubitavelmente
contêm a chancela do papa Francisco, reconhece que o Meu Padim ocupa o coração
de milhões de fiéis católicos, os quais se põem genuflexo diante da Igreja
exatamente em face da pregação sempre viva do Santo do Nordeste. Padre Cícero
foi exemplo de acolhimento, de perdão e de misericórdia.
Por isto, diz o documento em
tela: “Não deixa de chamar a atenção o fato de que estes romeiros, desde então,
sentindo-se acolhidos e tendo experimentado, por intermédio da pessoa do
sacerdote, a própria misericórdia de Deus, com ele estabeleceram – e continuam
estabelecendo no presente – uma relação de intimidade, chamando-o na carinhosa
linguagem popular nordestina de PADIM, ou seja, considerando-o como um
verdadeiro padrinho de batismo, investido na missão de acompanhá-los e de
ajudá-los na vivência de sua fé.”
Para mim, basta este parágrafo para se afirmar sem medo, ao contrário de alguns
que ainda titubeiam, que, definitivamente, a Igreja Católica reconciliou-se com
o injustiçado Padre Cícero. A Igreja, pela palavra segura e legítima de alto
purpurado do Vaticano, reconhece finalmente, que “a própria misericórdia de
Deus” estava contida nas ações do Meu Padim. Roma locuta, causa finita!
Barros Alves
Jornalista
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário