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quarta-feira, 15 de junho de 2016

CAUSAS, PERCURSO E CONSEQUÊNCIAS DO CANGAÇO

Por: Antonio José de Oliveira

O cangaço foi sem sombra de dúvida um fenômeno nordestino que teve as diversas motivações para sua origem, sendo, portanto, um conjunto de fatores que conduziram os nossos jovens sertanejos às perigosas aventuras.

E, por certo é um fenômeno ocorrido, praticamente em uma única região do nosso vasto país: o Nordeste. Procurei pesquisar nas outras quatro regiões, se encontrava vestígios do cangaço e, apenas encontrei um episódio – que o tenho por isolado -, de um cidadão de nome

Januário Garcia Leal - redescobrimento.com.br

Januário Garcia Leal, de uma família renomada, que, revoltado com o assassinato trágico de seu irmão, por sete indivíduos, que o ataram a uma árvore e lhe arrancaram a pele até a morte, ingressou na vida do crime, juntamente a outros familiares, e não deu trégua até matar todos os assassinos de seu irmão.

Informa a Wikipédia em data de 21.03.2013, que Januário, antes do crime havia sido nomeado Capitão de Ordenança do Distrito de São José de Nossa Senhora das Dores, hoje Alfenas-MG. Portanto, cidadão de uma família de posição social elevada.


“A Justiça colonial não tomou providências, deixando impunes os sete irmãos que havia perpetrado a revoltante barbárie” – informação da supramencionada fonte.

As centenas de cangaceiros dos relatos da história do cangaço são filhos dos sofridos sertões nordestinos, especialmente nos idos anos VINTE e TRINTA do século passado.

Mesmo assim, há mais de cento e quarenta anos antes do ingresso de Virgolino na senda do cangaço, morria na forca em Recife, o

José Gomes, O Cabeleira - www.onordeste.com

Cangaceiro José Gomes - O Cabeleira, que tinha como companheiros de infortúnio, seu próprio pai Joaquim Gomes (que o ensinou a ser cruel) e Teodósio. Informa o escritor Franklin Távora em seu romance O CABELEIRA.


Lucas da Feira - Há um consenso entretanto que ele ajudou a formar um dos primeiros grupos considerados como cangaço na primeira metade do século XIX. - depressaoepoesia.ning.com

“Em 25 de setembro de 1849, Lucas da Feira, o mais célebre bandido de seu tempo, foi enforcado num patíbulo erguido no Campo do Gado de Feira de Santana” – Informa o escritor Nelson Cadena em Memórias da Bahia.

Assim entendemos que, setenta anos, antes de Virgolino entrar no cangaço, morria na forca, um indivíduo que era tratado como cangaceiro. Lucas era tão perverso que a tradição relata que o
Dom Pedro II - www.diariodorio.com

D. Pedro II, em retrato do pintor Delfim da Câmara em 1875 - Carioca - educacao.uol.com.br

Imperador D. Pedro II, solicitou que o mesmo fosse conduzido a sua presença para que ele conhecesse a fisionomia de alguém que era tão cruel.

Capitão Lampião - Pernambucano

Antes de Virgolino virar Lampião, existia o cangaceiro romântico, Jesuíno Alves de Melo Calado, ou simplesmente Jesuíno Brilhante.

Jesuíno brilhante - Uma representação artística - pt.slideshare.net

Mais tarde, comandou um grupo de cangaceiros, Manoel Batista de Morais, que passou a se chamar Antonio Silvino, apelidado de O Rifle de Ouro.

Antonio Silvino - http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Silvino foi preso em 1914 quando Virgolino ainda era um adolescente de 16 anos e, pensava apenas no trabalho de almocreve junto ao pai. Informa Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco.

Semira Adler Vainsencher da Fundação Joaquim Nabuco - semiraadlervainsencher.blogspot.com


Sebastião Pereira da Silva – o Sinhô Pereira foi o chefe de cangaço que, em 1922, abandonou o cangaço e entregou o grupo a um dos seus componentes – Virgolino Ferreira da Silva, vindo a falecer em 1972.


Muitos foram os fatores que levaram os jovens nordestinos a ingressarem no cangaço, começando pela própria aridez de um sertão que, se com os recursos de hoje não propicia melhores dias para seus habitantes, diga você, há oitenta e cem anos passados!

Porém, conforme os escritos que acompanhamos, a maioria entrou no cangaço por algum tipo de vingança, principalmente vingança contra aqueles que praticaram atos violentos contra seus familiares, como foi o caso de Januário Garcia Leal, que viu seu irmão João Garcia ser assassinado sem que houvesse providência. Antonio Silvino, que teve o pai assassinado e nada aconteceu com quem cometeu o assassinato. Sinhô Pereira, que passou pela mesma situação quando assassinaram seu irmão Né Pereira. E, Virgolino, que embora já tivesse as suas desavenças com a família vizinha, mas poderia ter sido evitado o pior, que foi a morte do velho pai – José Ferreira.

José Ferreira e Maria Sulena pais de Lampião - Bico de pena de Lauro Villares com retratos da época - blogdomendesemendes.blogspot.com

Um renomado pesquisador do cangaço, cujo nome não me recordo, afirmou que “entre os sertanejos, o filho que soubesse quem assassinou o pai e nada fizesse como vingança, seria desprezado pela sociedade do seu tempo. Era tido como um covarde”.

Tantos outros cangaceiros têm a sua história de vingança.

E com essa coragem tão extremada dos nossos jovens sertanejos, as consequências foram as mais desastrosas possíveis. Foram mortes, sequestros, furtos para a sobrevivência de uma vida errante por entre as caatingas, sem falar na grande quantidade de jovens que deixaram seus familiares e ingressaram na Polícia e saíram a caçar, muitas vezes os próprios conterrâneos, como aconteceu com o Tenente Zé Rufino, que conhecia Virgolino, e ingressou na Força Policial, chegando a matar mais de vinte jovens-cangaceiros, conforme ele mesmo relatou em entrevista.

Tenente Zé Rufino - cangaconabahia.blogspot.com

Assim foi o cangaço! Repleto de lutas, vinganças e sofrimento. Só uma coisa eu digo: “Ninguém nasce cangaceiro”!

Antonio José de Oliveira
Povoado Bela Vista
Serrinha-Ba.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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