Seguidores

sábado, 10 de setembro de 2016

POMBAL: DÉCADA DE 1970 CURINHA, TABAJARA, BIRÓ DE ONFRE E O JACARÉ DO RIO PIANCÓ.

Por Jerdivan Nobrega de Araujo

A grande pergunta: era como aquele Jacaré foi parar nas águas mansas do rio Piancó? O primeiro avistamento foi feito por alguns moleques que saltavam dos galhos da ingazeira. A notícia não foi levada muito a sério, e não chegou se quer a ser assunto na Rua do Comércio, onde as fofocas se propagavam, e muitas vezes viravam verdade nas versões de dona Maricô, Maria Deca e dona Zulima.

A semana passou o assunto foi esquecido e a rotina do rio Piancó, com suas lavadeiras, moleques brechando as meninas adolescentes desajeitadas e os vendedores de água que enchiam as suas ancoretas para, enfim, sair pelas ruas de Pombal marcando o caminho com a água que gotejava dos barris furados, até que chegassem as residências dos seus fregueses sedentos de sede.

Passa o tempo, passa tudo e o assunto já esquecido volta as manchetes da Rua do Comercio quando uma lavadeira vê passar bem a sua frente o famigerado Jacaré, e aos gritos corre para um lugar seguro. A gritaria chamou a atenção das demais lavadeiras, que já arriscavam até o tamanho do bicho. Em algumas versões chegava a “quatro metros do rabo a cabeça”.

Como desta feita tínhamos testemunhas, não havia mais como negar: existe sim jacaré vivendo nas águas do rio Piancó.

A partir daquele dia os meleques, lavadeiras e aguadores começaram a se precaver, tomando cuidado para não se depararem ou serem surpreendidos com o novo morador do rio. As sombras e galhos das ingazeiras começaram a se esvaziar, já que os pais não mais deixavam os filhos tibungarem nas águas, agora perigosas, do rio.

Desta forma, o rio Piancó, antes tão prazeroso passou a ser um local perigoso. Os mais incrédulos ainda duvidavam se de fato existia ali um jacaré, e se fosse verdade como o bicho chegou às redondezas, já que não são nativos do nosso sertão. Especulações sugiram: a história recorrente era que fora trazido por um Caminhoneiro que transportava madeira do Pará, e por maldade o largou no rio.

A verdade era que a cidade estava em pânico e havia de se fazer alguma coisa. Seu Meira, famoso pescador se juntou com mão de onça e fizeram umas batidas nas margens do rio, sem muito êxito já que o animal era fugaz, tornando-se invisível aos olhos dos pescadores bêbados.

A sorte do Jacaré mudou em certa manhã quando Biró de Onofre, Curinha e Tabajara, ao tempo que degustavam uma garrafa de cachaça a beira do rio especulavam o que aconteceria se ali nas sombras da ingazeira, de repente aparecer o famoso e indesejável morador do rio Piancó. De repente, entre uma e outra garrafa de cachaça não é que Curinha aponta para a água, e denuncia aos demais a presença do jacaré “ouvindo a conversa”?

Sem titubear, já que a cachaça não nos permite discernir entre o certo e o errado ou o perigo e a segurança, Curinha pula sobre o Jacaré que lhes responde com uma chicoteada de cauda no meio do peito quer o deixa zonzo. Vendo o amigo em perigo os dois heróis pulam na água, e começa a peleja contra o jacaré, que segundo Tabajara me falou, era novo, mas tinha muita força na cauda e se defendia heroicamente.

Por fim, o jacaré foi vencido, capturado, morto e levado como um troféu a ser exibido pelas ruas da cidade, com direito a foto dos três heróis com o animal nos braços. Festejado o ato inédito e heroico, o jacaré foi divido em três partes iguais entre Biró de Onofre, Tabajara e Curinha, para ser degustado com mais cachaça. Tabajara me disse que nunca havia comido uma carne tão ruim.


Restava ainda a explicação de onde viera aquele “dessorturdo” animal, que com certeza fizera uma longa viagem antes de se transformar em tira-gosto nas cachaçadas dos três amigos e seus convidados.

Em fim, depois de tanta especulação, a cidade teve a resposta: O jacaré pertencia a Pedro Celestino Dantas (Pedão do depósito Antártica). O animal era criado no sitio “Ramadinha”, de onde fugiu caiu nas águas do rio e acabou virando tira-gosto.

Tem ainda a versão de Pedão que dizia que o jacaré não fugiu coisa nenhuma: fora roubado por cachaceiros, e conseguiu escapar para o rio.
Ao final é a mesma coisa.

É a essa a versão, ainda não definitiva, do CURINHA, TABAJARA BIRÓ DE ONOFRE E O JACARÉ DO RIO PIANCÓ, com narração livre de quem viveu aquele momento.
--
Jerdivan Nobrega de Araújo. Advogado. Escritor. Poeta. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Tele´grafos em João Pessoa/PB. Pombalense radicado na capital paraibana. Membro efetivo do Grupo de Estudos Benigno Ignácio Cardoso D' Arão. 

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário