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quarta-feira, 1 de março de 2017

CANÇÕES QUE ECOAM SAUDADES

*Rangel Alves da Costa

Gosto de músicas de um repertório mais antigo, que possuem sentido e profundidade nos versos e plangência na melodia. Canções que ao ouvir logo despertam sentimentos, relembranças, saudades.

Gosto de ouvir canções que chegam como retratos, bilhetes, feições. Músicas com tamanha força na interpretação, na letra, na instrumentalidade e na melodia, que balançam sozinhas a rede de dormir, que embaçam as vidraças em noites chuvosas, que fazem o coração mais pulsante e os olhos molhados de tanta saudade.

A cada canção ouvida é como se uma viagem fosse feita no pensamento. Canção que vai abrindo porta, que vai chamando o nome de alguém, que vai em busca dos braços para o abraço, dos lábios para beijar, do olhar para sentir o amor.

Ou mesmo canções que relembrem momentos mais entristecidos e mais dolorosos. Não que sejam temas de angústias e aflições, mas por que fazem recordar instantâneos da vida que tanto procuramos esquecer. Assim como um amor perdido, assim como um adeus forçado, assim como um tempo bom que não volta mais.

“Espere por mim, morena, espere que eu chego já, o amor por você, morena, faz a saudade me apressar. Tire um sono na rede, deixe a porta encostada, que o vento da madrugada já me leva pra você. E antes de acontecer, o sol a barra vir quebrar, estarei nos teus braços para nunca mais voar...”.

Espere por mim, morena, de Gonzaguinha, é uma das canções assim, que fazem viajar, que transformam o instante em realidades outras num tempo de amor e de aconchego. É como se a pessoa estivesse confessando uma saudade grande ao seu amor e dizendo que tamanha é a aflição pela distância que se pudesse voaria ao seu encontro.


“Foi assim, como ver o mar, a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção de me apaixonar, mera distração e já era momento de se gostar. Quando eu dei por mim, nem tentei fugir do visgo que me prendeu dentro do seu olhar. Quando eu mergulhei no azul do mar sabia que era amor, e vinha pra ficar. Daria pra pintar todo azul do céu, dava pra encher o universo da vida que eu quis pra mim. Tudo que eu fiz foi me confessar escravo do seu amor, livre pra amar”.

“Todo azul do mar”, principalmente na voz de Flávio Venturini, é uma daquelas canções cuja leveza e plangência nos fazem verdadeiramente voar. No pensamento logo surge o olhar da pessoa amada, e no olhar o brilho amoroso e encantador, motivo maior para despertar a paixão. E quando esse olhar está distante, então tudo surge como um espelho que se deseja transpor para alcançar aquele azul de mar novamente.

“Na primeira manhã que te perdi, acordei mais cansado que sozinho. Como um conde falando aos passarinhos, como uma bumba-meu-boi sem capitão. E gemi como geme o arvoredo, como a brisa descendo das colinas, como quem perde o prumo e desatina, como um boi no meio da multidão. Na segunda manhã que te perdi, era tarde demais pra ser sozinho. Cruzei ruas, estradas e caminhos como um carro correndo em contramão. Pelo canto da boca num sussurro fiz um canto demente, absurdo. O lamento noturno dos viúvos, como um gato gemendo no porão. Solidão”.

“Na primeira manhã”, de Alceu Valença, é hino à solidão depois do amor desfeito. Aquele que tanto amou e de repente se viu distanciado do seu bem querer, certamente encontrará na letra dessa música todo o doloroso percurso do desamor. Na música, uma fiel descrição de como acordar sem ter ao lado a pessoa amada, vendo-se desnorteado pela vida e amargando os passos errantes da incerteza de si mesmo.

São canções assim que gosto de ouvir. Sofro sim, até sinto um lacrimejar. Mas também é quando reencontro os olhares e as feições, os lábios e o corpo, daquilo que tanto valeu a pena na vida. Entre o amor e a dor, entre a saudade e o sofrimento, assim também a certeza do já vivido.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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