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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O SERTÃO EM CHAMAS

Por Enéas Athanazio - Promotor de Justiça aposentado, advogado, escritor.

O cangaço foi um fenômeno brasileiro sem similar na história ou no mundo. (…)

Chegada do canhão Krupp de 75 mm no arraial do Belo Monte (Canudos)...registro: Flávio de Barros. Julho de 1897.

Apesar do tempo decorrido, o cangaço continua instigando os pesquisadores e a bibliografia a respeito não cessa de crescer. Entre os mais recentes lançamentos está o extraordinário livro “O sertão anárquico de Lampião”, de autoria de Luiz Serra (Outubro Edições – Belo Horizonte – 2016).

Lampião e Manoel Juriti, com as vestimentas ornadas do cangaceiro. 
(1936 ... foto: Benjamim Abrahão)

Escrito em linguagem elegante e contendo interessantes fotos, o autor faz uma abordagem histórica e sociológica do fenômeno, mostrando como o meio anárquico e a ausência do poder estatal permitiram o surgimento e a sobrevivência do cangaço por tanto tempo, mesmo perseguido sem cansaço pelas forças policiais de todos os Estados nordestinos. Segundo revela, desde longa data, o sertão fervilhava de combatentes engajados em variados movimentos sediciosos. Entre eles, recorda a Guerra de Canudos, a chamada sedição de Juazeiro, em que o Padre Cícero Romão Batista chegou a derrubar o governador do Estado, a Coluna Prestes, que ameaçava o poder dos “coronéis”, a chamada República de Princesa, em que o 

Este o coronel sertanejo do algodão, o paraibano José Pereira, que chegou a ter um "exército" de 1800 jagunços armados para combater cangaceiros e inimigos políticos poderosos do sertão anárquico. Expulsou o ex-amigo Lampião da Paraíba.

“coronel” José Pereira Lima declarou a independência de seu município, desafiando o poder estadual e, por fim, o assassinato de João Pessoa, em Recife, candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, fato que teria sido o estopim para a deflagração da Revolução de 1930.

Padre Cícero, com seu cajado, indo pegar seu automóvel Ford, em Joazeiro, tendo ao lado esquerdo seu secretário o árabe mascateiro e fotógrafo Benjamim Abrahão. .. Diário do Nordeste (1930).

Todos esses acontecimentos, contemporâneos ou em sequência, contribuíram para a formação do cadinho revolucionário que permitiu a criação de bandos cangaceiros que agiram por longos anos. Só a carreira de Lampião durou vinte anos.

Prestes e Getúlio Vargas no mesmo palanque eleitoral. Cena inusitada para os acontecimentos anteriores a 1937... arquivo: Celina vargas Amaral Peixoto.

Todos esses aspectos são estudados em minúcia, com base em extensa pesquisa, inclusive in loco, entrevistando testemunhas e conhecedores do assunto, de maneira a transmitir ao leitor um painel rico e completo sobre o curioso fenômeno. O livro de Luiz Serra se integra a partir de agora entre as obras indispensáveis ao perfeito conhecimento do tema.

Livraria Sebinho de Brasília (julho 2017).

Enéas Athanázio tem 48 livros publicados, em variados gêneros literários. Recebeu prêmios literários, faz parte de diversas entidades culturais. Articulista do Jornal Página 3, e da Revista Blumenau (Cadernos), e no Coojornal, Revista Rio Total (online).

Escrito por Enéas Athanázio, 30/01/2017 às 11h29  e.atha@terra.com.br

Fonte: facebook
Página: Luiz Serra

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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