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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A FLOR QUE AFLORA NO MANDACARU

*Rangel Alves da Costa

Olhai os lírios do campo com suas belezas nascidas da simplicidade, mas olhai principalmente para nossa sertaneja flor do mandacaru e sua beleza tão frágil e tão transitória.
Olhai os jardins da vida com seus pássaros e madrigais, com seus aromas e perfumes, suas cores e suas belezas, mas olhai também para a flor do mandacaru com sua seiva de tão curta existência.
Olhai o que possa maravilhar o olhar, o que possa encantar a visão, mas não se esqueça de olhar o nascer e o existir da doce e meiga flor do mandacaru. E nela talvez aviste o significado da vida.
E você, que é tão prepotente, tão vaidosa, tão egoísta, que usa de tanta desfaçatez nas suas relações com os outros, veja só o que acontece com a beleza exuberante da flor do mandacaru.
Nasceu ontem ao entardecer, já estava brotada nos braços abertos do mandacaru e ontem foi gestada como flor sem igual: coisa mais linda, coisa mais bela, a natureza em perfeição maior!
Mas hoje, já logo ao amanhecer, começou a perder o seu viço, as suas cores, o seu encanto. A flor do mandacaru simplesmente definha. Desde o entardecer de ontem ao alvorecer de hoje, aquela lindeza toda em algum lugar do sertão.
A lua e os seres da noite se ajoelharam perante sua majestade. O brilho da lua caía como dourado nas suas pétalas esbranquiçadas e nas suas hastes amarelo-avermelhadas. Uma verdadeira paixão noturna.
Contudo, bastou que o sol aparecesse para que a flor do mandacaru começasse a morrer. Sim, dura apenas uma noite a linda flor do mandacaru. Sim, de pouca existência é a bela flor do mandacaru.


Algo assim parecido com o que temos como vida. Ao nascer, imagina-se uma eternidade, em existência sem fim, mas para de repente ter o mesmo destino da flor do mandacaru. Nascer, fulgurar e expirar.
Então repito: você, que é tão prepotente, tão vaidosa, tão egoísta, que usa de tanta desfaçatez nas suas relações com os outros, possui menos tempo de vida que a flor do mandacaru.
Por maior beleza que tenha ou imagine ter, sempre será uma flor qualquer perto da flor do mandacaru. E para não existir no momento seguinte. Significa dizer que o seu o brilho e seu resplendor não dura mais, na existência, que a flor do mandacaru.
Por ser a vida transitória demais, aonde tudo vem e tudo passa, sequer os seus instantes são devidamente aproveitados. Por isso cuidado. Cuidado em querer ser mais espinho que flor. Cuidado em não querer ser além daquilo que é.
Muitas vezes, a beleza é apenas um espelho de fingimento. Muitas vezes, a escultura corporal é apenas uma curva ao precipício. Muitas vezes, o encanto repassado por onde passa, é apenas um silvo de cobra de bote armado.
A grande diferença está no fato de que a flor do mandacaru morre para nascer outra flor no mesmo lugar. E quando a flor humana morre, não há nada que a faça renascer. Apenas morre sem adeus e nos escombros do esquecimento terá seu destino.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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