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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

RIVALDO DE JANJÃO, O ÚLTIMO ABOIO DO VAQUEIRO

*Rangel Alves da Costa

Hoje, ao por do sol de 2018, numa quarta-feira entristecida, Poço Redondo se despede de um de seus maiores vaqueiros: Rivaldo de Janjão.
Homem da terra, cheirando a mato, de reconhecida dignidade sertaneja, caracterizou-se e sempre foi reconhecido pela sua vida voltada à vaqueirama, à vida de gado, fosse como vaqueiro ou como afoito corredor de boi valente no mato.
Rivaldo foi tido até como invencível na vida vaqueira, pois não havia boi brabo, bicho valente nos carrascais catingueiros, que ele não se desincumbisse da pega.
No seu famoso cavalo “Veadinho” ou mesmo no “Novo Brinco”, Rivaldo ajudou a escrever as mais belas páginas da cultura vaqueira de Poço Redondo.
A geração vaqueira da qual Rivaldo fez parte era espetacular e se equiparava aquela de Tião de Sinhá e Abdias. Assim surgia no cenário das caatingas com todo fulgor os nomes de Rivaldo de Janjão, Elias de Tonho Gervásio e Sebastião de Timbé.
Famoso vaqueiro da Queimada Grande, logo se tornou amigo fiel de outro grande vaqueiro, proprietário de terras e abnegado à vida de gado: José Ferreira Neto, o famoso Zé Ferreira de Major Izidoro, nas Alagoas, mas que abraçou Poço Redondo com seu imenso e generoso coração.
Rivaldo também vaquejou, ao lado de Elias de Tonho Gervásio, na Fazenda Cuiabá, na vizinha Canindé de São Francisco.


Conforme assinalou Alcino em seu livro “Vaqueiro, Cavalo e Boi”: “Rivaldo e Elias eram dois vaqueiros completos. Em cima de uma sela e enfiados nos carrascais mais brutos da mataria, eram verdadeiros campeões. Na ‘unha’ daqueles dois heróis, boi brabo da Cuiabá em vez de esturrar ‘piava fino’ – diziam orgulhosos os seus patrícios do antigo lugarzinho de Luís da Cupira. Os cavalos de campo de Rivaldo eram o Veadinho e o Novo Brinco e o de Elias era o Azulão, ambos vindos com eles de Poço Redondo... Perde-se o número de reses que Rivaldo e Elias pegaram nas carreiras desembestadas daqueles cerrados do bom-nome, do cipó de leite, da macambira e do croatá. A saga campeira desses dois heróis sertanejos está viva na mente de muitos dos que ainda resistem à ação demolidora do tempo”.
Quando ninguém conseguiu pegar o famoso boi Vaga-lume das caatingas da Fazenda Cuiabá, outro vaqueiro não foi pensado senão no filho de Seu Janjão. E Rivaldo desafamou o bicho de vez, pois bastou uma carreira e o bicho já estava enlaçado.
E já afastado da vida vaqueira, já lanhado de tempo e luta, Rivaldo era sempre avistado pelos arredores da Praça Eudócia (Praça do Redondo) ora sentado numa calçada, ora em breve proseado sertanejo.
Conversava pouco, pouco dizia sobre o que podia dizer no seu imenso livro sertanejo. Um livro de vaqueiramas, de aboios, de espinhos e pontas de paus sendo vencidos, de bichos brabos sendo derrubados.
Mas hoje Rivaldo deu seu último aboio e se despediu. Foi vaquejar nas estrelas, foi campear no firmamento, junto ao Pai Celestial.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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