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sábado, 23 de fevereiro de 2019

DE CAPITÃO PRA CAPITÃO


Por Ruy Lima

JOÃO BEZERRA DA SILVA, pernambucano de Afogados da Ingazeira, (distante apenas 87 Km de Serra Talhada, antiga Vila Rica, onde nasceu Lampião), foi o oficial da Polícia Miliar de Alagoas que comandou a volante que aniquilou, na Grota de Angico, no Estado de Sergipe, em 24 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros Luiz Pedro, Quinta-Feira, "Colchete", Marselha, Elétrico, Mergulhão, os irmãos Moeda e Alecrim e Enedina, esposa do cangaceiro Zé de Julião (Cajazeira), o qual conseguiu escapar do intenso tiroteio e fugir. João Bezerra aniversariou exatamente um mês antes do ataque (ele nasceu em 24 de junho de 1898). 

VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA (Lampião) nasceu no mesmo ano de 1898, no dia 04, também do mês de junho. 

Tinham os dois a mesma idade. 


Em 1926, havia a ameaça iminente da presença da Coluna Prestes movimento comunista armado, no Cariri. O deputado federal Floro Bartolomeu, responsável por organizar o batalhão patriótico idealizado pelo presidente Artur Bernardes, na região, para enfrentar Prestes, resolveu convidar Lampião e seu bando. Lampião recebeu armas e fardamentos, além da patente de capitão do batalhão patriótico, assinada pela única autoridade federal que se encontrava em Juazeiro do Norte, um agrônomo do Ministério da Agricultura chamado Pedro Albuquerque Uchoa. Essa patente não tinha nenhum valor jurídico, mas Lampião gabava-se ao ser chamado de “capitão”. 

Na ocasião do confronto em Angico, João Bezerra tinha a patente de tenente. 

Pouco tempo depois, em 1940, já promovido à patente de capitão da Polícia Militar de Alagoas, pela sua ação em Angico, João Bezerra publicou o livro: “Como dei Cabo de Lampeão”. (*)

O livro é bastante interessante e tem grande valor na historiografia do cangaço. Nele o autor, que esteve presente em onze confrontos com os cangaceiros, narra com bastante detalhe suas estratégias para chegar até o “Rei do Cangaço”.

Mas, o que nos chama a atenção nessa obra, foram as palavras de admiração do Capitão João Bezerra em relação ao “Capitão” Virgolino. (*)

No Capítulo VII, do citado livro, ele diz que se fosse escrita uma história natural dos delinquentes célebres, se teria de reservar um lugar de destaque para Lampião. “Nenhum salteador do começo do século passado (século XIX) até este segundo quartel de século em que vivemos (século XX), suplantou em audácia esse terrível bandoleiro, escreveu o autor, fazendo referências aos bandidos José do Telhado, em Portugal, Bonot, na França, os chefes da Camorra e da Máfia, na Itália, Al Capone e Dellinger, nos Estados Unidos, todos de sinistra lembrança, os quais não tiveram a atuação guerreira desse famoso cangaceiro, que enfrentou durante vinte anos forças militarizadas mais ou menos numerosas, levando a sua audácia ao cúmulo de penetrar em cidades como Juazeiro/CE, com quase 60.000 habitantes, de atacar centros comerciais da importância de Mossoró/RN, também de grande população e vias de comunicação.”

Registrou ainda o capitão João Bezerra:

“Nenhum outro criminoso o ultrapassou em celebridade e astúcia.” 

“Mostrando destemor das forças que o perseguiam, desprezo pela vida e pela prosperidade das pessoas que viviam nas regiões que exerceu o seu “reinado” sangrento, criou grupos e mais grupos de facínoras que dominava valentia e a astúcia, chegando a se acompanhar de mulheres armadas de Fuzis “Mauser” e de punhais, impondo-lhes igual ação combatentes à dos indivíduos componentes das hordas assaltantes que chefiava.”

Entretanto, nos parágrafos seguintes, o capitão trata dos “assassinatos covardes que esse bandido cometeu, os assaltos contra a propriedade privada, roubando, incendiando e destroçando; as sevícias que inflingiu em criaturas indefesas foram inúmeras, tornando-se difícil fazer um cômputo real de tantos crimes hediondos”

Trata também dos militares que foram mortos, devendo ter ultrapassado a casa de 300, entre oficiais, sargentos, cabos e soldados, dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Segundo ainda, João Bezerra, houve ocasiões em que Lampião conduziu grupos com 150 a 200 parceiros todos armados com armas de guerra.

No mesmo capítulo VII do seu livro, ele traçou outro perfil de Lampião:

“Tipo boçal, de natureza rústica, analfabeto e vaidoso, sem ter sequer conhecimentos mesmo rudimentar da arte militar, esse indivíduo demonstrou cabalmente com o desenvolvimento da sua ação danosa, o quanto tem de perigosas as guerrilhas, principalmente num terreno como o do “hinterland” (**) nordestino de características típicas para esse gênero traiçoeiro de guerra sem quartel.”

(*) (pelas normas ortográficas da época, Lampião se escrevia com “e” e Virgulino com “o”)

(**) Interior/Sertão.

Fonte: “Como Dei Cabo de Lampeão” – Capitão João Bezerra – 2ª Edição – 1940. – J. do Valle & Lauro LTD.

Nota: observei pelo menos dois fatos constantes do referido capítulo VII do livro do então capitão João Bezerra, que divergem das informações e opiniões de pesquisadores e historiadores do cangaço:

1º - “... atacar centros comerciais da importância de Mossoró/RN, também de grande população e vias de comunicação.”

2º - “... chegando a se acompanhar de mulheres armadas de Fuzis “Mauser” e de punhais, impondo-lhes igual ação combatentes à dos indivíduos componentes das hordas assaltantes que chefiava.”

Ruy Lima – fev/2019.

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