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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

SEU GALDINO DEU UMA DE AGIOTA EMPRESTANDO DINHEIRO A JURO

Por José Mendes Pereira

Tendo um bom rebanho de gado e devido a falta de chuvas por toda região seu Galdino Borba(gato) Mend(onça) Filho resolveu selecionar algumas cabeças de gado mais nutridas, chamou o marchante e negociou todas de uma só vez. Com o valor em mãos ficou sem saber em que deveria empregar aquele dinheirão.
Os amigos mais próximos diziam que o melhor seria comprar lotes de terra, e com certeza, empregaria o dinheiro muito bem, e não teria despesas, ao contrário, cada dia que se passava mais valorizados ficariam os imóveis, e ele nunca iria ter prejuízo, porque terreno ninguém o carrega e nem o bicho come. Mas outros mais distantes achavam que melhor seria comprar casas, vez que elas se alugam e todo mês tem dinheiro extra para receber.
Mas seu Galdino não estava interessado em nenhuma destas opiniões, o melhor para ele era se tornar agiota, porque o juro é bom, e assim fez. Disse a alguns amigos que entrara no ramo da agiotagem.
Manoel Cascudo que há poucos anos morava em Mossoró oriundo da chapada do Apodi e amigo em tempo longínquo do seu Galdino, logo tomou conhecimento que ele estava emprestando dinheiro a juros. Vivo, pegou seu velho carro chevrolet e se mandou até a fazenda do recém/agiota, na intenção de tomar um dinheirinho para negociar lá pelo Mercado Público Central da cidade de Santa Luzia.
Ao chegar, Manoel Cascudo não encontrou o recém/agiota em casa, mas foi informado pela dona Dionísia sua esposa que ele não se demoraria chegar. Tinha ido apanhar em uma cacimba um galão dágua para os serviços da sua cozinha. Ali, sob o alpendre, Manoel Cascudo ficou sentado em um banco feito de tábua da aroeira, aguardando o futuro oportunista. E com alguns minutos depois, ele apontou na estrada conduzindo sobre os ombros o galão com água.
Foi um encontro de dois amigos da antiguidade que há alguns anos não se viam, mas o respeito continuava firme. Ali, sob a cobertura conversaram muito, onde fora relembrados alguns acontecimentos do tempo de jovem. Depois de tudo isso o Manoel Cascudo levou o assunto ao seu Galdino sobre a sua ida até lá. Soubera que ele estava com dinheiro para começar a sua nova atividade de empréstimo a juro. E ele sendo um dos seus amigos e de grande responsabilidade queria uma certa quantia.
Depois de ouvido a conversa do Manoel Cascudo seu Galdino disse-lhe que não seria possível o empréstimo, pela razão de só emprestar todo o dinheiro em uma única mão. Não tinha intenções de dividir o seu dinheiro para três, quatro ou mais mãos. Toda quantia a um único seria melhor para ele. Dito isto, o Manoel Cascudo se engrandeceu. Queria o dinheiro todo. Só assim ele faria uma melhor arrumação, isto é, compraria mais produtos de venda para o seu futuro comércio.
Foi aí que o seu Galdino caiu na conversa, dizendo que estava feito o negócio, mas descontaria logo os 30% de juros sobre o valor emprestado, e lembrasse que estava emprestando aquela quantidade porque ele era seu amigo. E em seguida, seu Galdino foi lá dentro da casa, apanhou o dinheiro, tirou os 30% e o entregou o valor emprestado com desconto. O pagamento seria feito todo de uma só vez, com 60 dias depois.
Aconteceu que chegou o dia do pagamento e o Manoel Cascudo não lhe apareceu. Passou o primeiro dia, segundo, terceiro... e nada do devedor chegar em sua casa com o dinheiro. Desesperado, seu Galdino foi atrás dele para receber a quantia. Ao chegar em sua residência não o encontrou, fora informado que ele tinha ido a casa de um amigo.
Andando pelas ruas à procura do devedor seu Galdino o viu passando de uma lado da rua para o outro. Mas antes ele já tinha visto o seu Galdino e cuidou de se esconder em uma casa onde velavam o corpo do dono do lar.
E andando mais um pouco seu Galdino viu uma porção de gente aos arredores da casa e resolveu saber o que tinha acontecido ali, e de imediato contaram-no que o dono da casa havia falecido e estavam o velando. E ao entrar seu Galdino viu logo o Manoel Cascudo defronte aos pés do defunto como se ali ele estivesse rezando. E foi se aproximando e em seguida, ficou ao seu lado. Como havia encontrado o fujão seu Galdino quis saber o porquê de não ter ido levar o seu dinheiro. E olhando para ele perguntou-lhe:
- Manoel Cascudo, e o meu dinheiro? Por que você não foi me pagar assim como nós havíamos combinado?
E sem olhar para o seu Galdino com os olhos firmes ao defunto, e além do mais, astucioso, com lágrimas de crocodilo no olhar, o Manoel Cascudo perguntou-lhe:
- E ele não te entregou o dinheiro, Galdino?
- Quem ele? - Perguntou-lhe seu Galdino.
- Ele. Este homem que morreu, pois eu mandei por ele na semana passada...
Nesse momento vinha chegando um amigo do seu Galdino que há anos não o via. Diante de tantos abraços e apertos de mão seu Galdino se descuidou, e quando procurou o Manoel Cascudo, já tinha se mandado. "Adeus, Galdino!"
Assim que o homem saiu da sua presença seu Galdino ficou conversando só, dizendo que ele era acostumado pegar onça nos tabuleiros e não tinha medo dela, muito menos de um caloterio fujão, e não iria deixá-lo mais em paz.
O Manoel Cascudo se mandou para suas terras de origens que eram na chapada do Apodi e nunca mais seu Galdino o viu. Perdeu todo dinheiro.
Mas é assim mesmo. Os mais espertos são os mais tolos. Seu Galdino tão esperto para pegar onça, assim afirmava ele, foi ludibriado por um dos seus amigos mui amigo.

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