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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

LAMPIÃO E O TORMENTO DA LEPRA.

Por João Filho de Paula Pessoa


Conta-se que por volta de 1926, quando Lampião andava pelo Ceará já como capitão, certa vez, após alguns combates nos sertões de Pernambuco e Paraíba, fugiu pelo sertão cearense e embrenhou-se na remota caatinga em busca de refúgio e ao longe, avistou uma precária casa de taipa no meio do nada e foi até lá em busca de água e comida, ao se aproximar percebeu que não havia rebanho, nem criações, mas havia pessoas na casa. Mandou um de seu cabras chamar o morador, que o fez, porém sem resposta, mandou então que batesse na porta, sem derrubar, pois estavam em terras de Pe. Cícero, este bateu várias vezes, mas não abriram. Lampião impacientou-se e foi até a porta e bateu fortemente com a coronha de seu rifle, ordenando que abrissem senão poria a porta à baixo. A parte superior da porta abriu-se pela metade e por esta brecha ouviu-se uma fraca voz perguntar o que queriam. Lampião anunciou-se dizendo que vinham em paz e precisavam de água. Disse a voz, que tinham água, mas que de sua água Lampião não poderia beber. Lampião irritou-se pela insolência e disse que abririam fogo contra a casa e pegariam a água de qualquer jeito e mandou o bando preparar as armas para abrirem fogo, momento em que a porta se abriu por completo e mostrou duas almas moribundas envoltas em trapos brancos encardidos por todo o corpo, inclusive nos rostos, mais parecendo umas múmias vivas com cheiro de morte. Lampião assustou-se pavorosamente, baixou a guarda e todos do bando também baixaram as guardas assustados. Uma destas criaturas desenrolou os panos da cabeça e mostrou seu rosto desfigurado pela lepra, que já tinha corroído parte de seus lábios e nariz, sua bochecha, deixando aparente e expostos seus dentes e mandíbula lateral até a orelha, também já corroída pela doença, e num ar desafiador e desesperançoso encarou Lampião e esperou por sua atitude, como se não temesse a morte. Lampião nesta hora escureceu a vista, a tontura tomou conta de seu corpo e atônito lutou par manter-se em pé, extremamente impressionado enfrentou o desmaio e o calafrio, o suficiente para fazer o sinal da cruz três vezes, beijar seu escapulário e retirar-se vexado dalí aos enjoos, levando consigo aquela perturbadora visão, que atrelada à suas inúmeras crenças e superstições, tornou-se um tormento em seus medos, presságios e pesadelos por muito tempo. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 26/02/2020.


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