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sexta-feira, 5 de junho de 2020

O TRAVESSÃO


Por Francisco de Paula Melo Aguiar

— O que é o travessão [ — ] ? Segundo o Dicionário Priberam [2008-2020]:
— É um substantivo masculino.
— É a junção da palavra travessa + ão.
— É travessa grande.
— É a peça usada para sustentar ou reformar uma estrutura [trave].
— É a trave horizontal da balança de pratos onde está o fiel.
— No esporte é a peça horizontal que delimita a parte superior de um gol
[trave].
— Na Tipografia é o sinal gráfico horizontal [—], mais comprido do que o hífen,
usado para separar as falas dos interlocutores e que supre também o
parêntese.
— Na música é o traço perpendicular à pauta musical, e que, atravessando-a,
separa os compassos rítmicos.
— É também o utensílio alongado usado para prender o cabelo.
— É o adorno prenso na roupa. [broche].
— É queda-d’água no Brasil.
— É a parte mais larga do cincho e que, quando se encilha o cavalo, fica sobre
o lombilho no Brasil.
— É travesso + ão.
— É adjetivo. Por exemplo.: Ex.: Muito travesso. [atravessado, desinquieto].
— É adjetivo e substantivo masculino. Ex.: Diz-se de ou que vento contrário e
forte.
— Tem ainda diversas palavras relacionadas ao termo: travessão, dentre as
quais: travessia, filame, transfogueiro, trasfogueiro, tresfogueiro, bimbadura,
boçardas.
— Sem querer, querendo, observei que no meio do meu cartão de visita de
advogado tem um travessão — mencionando o endereço completo do
escritório de advocacia e outro travessão — indicando o número do telefone.

— Assim sendo é o nome do que sei fazer como advogado, o meu secular
negócio como profissional liberal.
— E não vai ser diferente com o meu cartão de empresário do ramo
educacional, como professor e gestor, minha profissão secular desde 1964,
isso por si só explica a minha própria vida pessoal e profissional.
— Ante o exposto, o travessão afirma quem na realidade eu sou em sua
essência, pura e simples.
— Por outro lado, tomei conhecimento da existência das regras gramaticais,
dentre as quais o travessão, ainda na escola primária nos fins dos anos 50 e
inicio dos anos 60 do século XX, onde a professora fazia ditados envolvendo o
termo travessão, ditando as orações e frases, dizendo, escreva na outra linha,
afastada margem, com letra maiúscula e com travessão [...].
— Tenho saudade do meu tempo infanto-juvenil, quando estudei da primeira a
quarta série do curso primário com o livro de capa dura, costurada e colada —
Infância Brasileira, do autor Ariosto Espinheira, da Companhia Editora
Nacional. Da capa do livro, tenho lembrança que tinha um menino com boné,
debruço sobre o livro aberto.
— Concluído o quarto ano do curso primário, passei um ano fazendo o curso
preparatório para os exames de admissão ao ginásio — um verdadeiro
vestibular para ingressar no curso ginasial, uma vez que o art. 3º da
Portaria/MEC nº. 325, de 1959, consta que são matérias de exame de
admissão: Português, Matemática, História do Brasil e Geografia,
especialmente do Brasil — e a referida portaria citada em seu Parágrafo 1º
determinava a realização de provas: escrita e oral de Português, etc.
— É importante lembrar de que tais exames de admissão ao ginásio — eram
verdadeiros vestibulares e foram instituídos por meio da Reforma da Educação
Brasileira chamada de Francisco Campos, em 1931 [Fruto da Revolução de
1930] e vigoraram até o ano de 1971, sendo obrigatórios nas escolas públicas
e dificultaram assim o acesso ao ensino secundário de milhares de jovens de
todas as classes sociais, uma vez que era um vestibular seletivo.
— E assim dei sequência aos estudos — concluindo nos anos seguintes a
Educação Básica e a Educação Superior de graduação e de pós-graduação —
por onde andam os meus colegas de caminhada escolar? O tempo é o
testemunho do que somos e fizemos.

— Não é por acaso que escolhi um travessão — para provocar a pergunta e
dizer algo por onde estive antes de aqui chegar a presente data.
— Então não é por acaso mesmo que o travessão [—] é um dentre os sinais
de pontuação, usado no inicio de cada discurso e/ou fala direta, porém, existem
sem sombra de dúvidas outras formas de usos e/ou de utilizações do termo. De
modo que o travessão é necessariamente usado nos casos: para indicar a
mudança de interlocutor e/ou o inicio da fala e/ou discurso de um personagem
envolvido no diálogo.
Assim sendo, invoco e faço minhas palavras, ainda que por analogia, o
enfatizar e o vivenciar contidos nos termos do poema:

O travessão
Leio sobre um homem que se pôs de pé para falar no enterro
de uma amiga. Referiu-se sobre as datas em seu túmulo do
principio ao fim. Percebeu que primeiro vinha a data do
nascimento e falou da data seguinte com lágrimas, mas disse
que o que mais importava era o travessão entre aqueles anos.
Porque o travessão representa todo o tempo que ela passou
viva na terra. E agora só aqueles que a amaram sabem o que
vale aquele pequeno sinal. Porque não importa o que
possuímos: os carros... a casa... o dinheiro. Importa como
vivemos e amamos e o que fizemos no espaço do travessão.
Pense então nisso longamente, intensamente... Há coisas que
você gostaria de mudar? Porque nunca sabemos o tempo que
nos resta (podemos estar na metade do travessão).
Se pudéssemos apenas diminuir o ritmo para avaliar o que é
verdadeiro e autêntico e tentássemos sempre compreender
como os outros se sentem. E termos menos rapidez na raiva, e
demonstrarmos mais apreço e amarmos as pessoas da nossa
vida como nunca amamos antes.
Se tratarmos uns aos outros com respeito, e sorrirmos com
mais frequência... lembrando-nos que este travessão especial
pode durar só mais um instante, assim quando lerem seu
louvor, e o que fez na vida for revisto... você sentiria orgulho
daquilo que fosse dito sobre como viveu seu travessão?
[LINDA M. ELLIS].

É o outro lado da moeda simbólica gramatical a que me referi desde os
meus tempos de criança quando ainda estudava as primeiras letras na escola
primária.
Vejam por exemplo, que depois de cinquenta e seis anos plenos em sala
de aula do magistério da Educação Básica e Superior, me vi obrigado pelas

circunstâncias da pandemia: Coronavírus – Covid-19, em parar a labuta diária
por trinta dias, isso faz parte do meu travessão profissional e empresarial.
Acredito que daqui mais uns dias tudo voltará à normalidade e voltarei
para dar continuidade ao meu travessão do magistério — e também não será
diferente para os colegas professores e para os pupilos letivos do corrente ano.
E até porque, o poema “O travessão”, acima transcrito, que é uma aversão
ao termo “travessão”, gramaticalmente falando, me faz lembrar de que, quando
uma pessoa morre, é tradição no Brasil e quiçá no mundo inteiro, se escrever
sobre sua lápide, sepultura, túmulo e/ou cenotáfio, não importa o nome que
seja dado, a data de nascimento e a data de falecimento do falecido e/ou da
falecida, valendo salientar de que o risco e/ou símbolo que fica entre ambas as
datas, o travessão — data de nascimento e data de falecimento é
simplesmente ignorado, isto é, ninguém vai mais se lembrar...
Ah! Isso quer dizer que a partir do momento do fim da vida, ninguém vai
mais se lembrar da data de meu nascimento e muito menos da data de meu
falecimento, vão sim, se lembrar do meu travessão — todos e/ou quase todos
conhecidos e meios conhecidos, irão se lembrar do que eu fiz no decorrer do
tempo de minha estada aqui entre eles, isso é inevitável, uma espécie de juízo
final, morre o homem, acaba-se em lama, desaparece a grana e fica a fama de
ruim e/ou de bom a juízo de quem assim contar.
É por isso que o meu travessão — foi e será sempre voltado para o
cumprimento dos meus deveres pessoais e profissionais. A ética em primeiro
lugar, corro com medo de corruptos que sabem que a corrupção fede, porém
não se incomodam, desde que o bolso, a cueca e/ou o cofre esteja estourando
de tutu...
A minha vida é a maior riqueza que detenho e será o maior legado que
deixarei quando aqui não mais existir, porque o ar que respiro para viver é o
mesmo ar que respiro para morrer se os governos e os governados não
erradicarem o coronavírus, o meu travessão — e a maneira de viver
respeitando e/ou não a natureza, terminará antes da época. Por analogia, não
será diferente para os demais que fazem parte da humanidade.
Todo ser vivente tem o seu travessão — pessoal, profissional e agora o
coronavírus, o travessão do eu, tu, ele, nós, vós e eles — governos e
governados — da humanidade.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Haroldo de; SILVA, Joaquim; PENTEADO, José A.; CRETELA JR,
José; SANGIORGI, Osvaldo. [Organizadores]. Programa de Admissão.
Companhia Editora Nacional, 1960.
DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA [2008-2020].
Travessão. In.: <https://dicionario.priberam.org/travess%C3%A3o .Consultado
em 27-03-2020.
DICIONÁRIO AURÉLIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Travessão. [2009-2020].
In.: <https://www.dicio.com.br/travessao/> Consultado em 27-03-2020.
ESPINHEIRA, Ariosto. Infância Brasileira. Companhia Editora Nacional, 1959.
ELLIS, Linda. M. - O travessão. [Pensador: 2005-2020].
In.:<https://www.pensador.com/autor/linda_m_ellis/>. Acessado em, 27-03-
2020.

Enviado por Francisco de Paula Melo Aguiar.

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