Por Francisco
de Paula Melo Aguiar
—
O que é o travessão [ — ] ? Segundo o Dicionário Priberam [2008-2020]:
—
É um substantivo masculino.
—
É a junção da palavra travessa + ão.
—
É travessa grande.
—
É a peça usada para sustentar ou reformar uma estrutura [trave].
—
É a trave horizontal da balança de pratos onde está o fiel.
—
No esporte é a peça horizontal que delimita a parte superior de um gol
[trave].
—
Na Tipografia é o sinal gráfico horizontal [—], mais comprido do que o hífen,
usado
para separar as falas dos interlocutores e que supre também o
parêntese.
—
Na música é o traço perpendicular à pauta musical, e que, atravessando-a,
separa
os compassos rítmicos.
—
É também o utensílio alongado usado para prender o cabelo.
—
É o adorno prenso na roupa. [broche].
—
É queda-d’água no Brasil.
—
É a parte mais larga do cincho e que, quando se encilha o cavalo, fica sobre
o
lombilho no Brasil.
—
É travesso + ão.
—
É adjetivo. Por exemplo.: Ex.: Muito travesso. [atravessado, desinquieto].
—
É adjetivo e substantivo masculino. Ex.: Diz-se de ou que vento contrário e
forte.
—
Tem ainda diversas palavras relacionadas ao termo: travessão, dentre as
quais:
travessia, filame, transfogueiro, trasfogueiro, tresfogueiro, bimbadura,
boçardas.
—
Sem querer, querendo, observei que no meio do meu cartão de visita de
advogado
tem um travessão — mencionando o endereço completo do
escritório
de advocacia e outro travessão — indicando o número do telefone.
—
Assim sendo é o nome do que sei fazer como advogado, o meu secular
negócio
como profissional liberal.
—
E não vai ser diferente com o meu cartão de empresário do ramo
educacional,
como professor e gestor, minha profissão secular desde 1964,
isso
por si só explica a minha própria vida pessoal e profissional.
—
Ante o exposto, o travessão afirma quem na realidade eu sou em sua
essência,
pura e simples.
—
Por outro lado, tomei conhecimento da existência das regras gramaticais,
dentre
as quais o travessão, ainda na escola primária nos fins dos anos 50 e
inicio
dos anos 60 do século XX, onde a professora fazia ditados envolvendo o
termo
travessão, ditando as orações e frases, dizendo, escreva na outra linha,
afastada
margem, com letra maiúscula e com travessão [...].
—
Tenho saudade do meu tempo infanto-juvenil, quando estudei da primeira a
quarta
série do curso primário com o livro de capa dura, costurada e colada —
Infância
Brasileira, do autor Ariosto Espinheira, da Companhia Editora
Nacional.
Da capa do livro, tenho lembrança que tinha um menino com boné,
debruço
sobre o livro aberto.
—
Concluído o quarto ano do curso primário, passei um ano fazendo o curso
preparatório
para os exames de admissão ao ginásio — um verdadeiro
vestibular
para ingressar no curso ginasial, uma vez que o art. 3º da
Portaria/MEC
nº. 325, de 1959, consta que são matérias de exame de
admissão:
Português, Matemática, História do Brasil e Geografia,
especialmente
do Brasil — e a referida portaria citada em seu Parágrafo 1º
determinava
a realização de provas: escrita e oral de Português, etc.
—
É importante lembrar de que tais exames de admissão ao ginásio — eram
verdadeiros
vestibulares e foram instituídos por meio da Reforma da Educação
Brasileira
chamada de Francisco Campos, em 1931 [Fruto da Revolução de
1930]
e vigoraram até o ano de 1971, sendo obrigatórios nas escolas públicas
e
dificultaram assim o acesso ao ensino secundário de milhares de jovens de
todas
as classes sociais, uma vez que era um vestibular seletivo.
—
E assim dei sequência aos estudos — concluindo nos anos seguintes a
Educação
Básica e a Educação Superior de graduação e de pós-graduação —
por
onde andam os meus colegas de caminhada escolar? O tempo é o
testemunho
do que somos e fizemos.
—
Não é por acaso que escolhi um travessão — para provocar a pergunta e
dizer
algo por onde estive antes de aqui chegar a presente data.
—
Então não é por acaso mesmo que o travessão [—] é um dentre os sinais
de
pontuação, usado no inicio de cada discurso e/ou fala direta, porém, existem
sem
sombra de dúvidas outras formas de usos e/ou de utilizações do termo. De
modo
que o travessão é necessariamente usado nos casos: para indicar a
mudança
de interlocutor e/ou o inicio da fala e/ou discurso de um personagem
envolvido
no diálogo.
Assim
sendo, invoco e faço minhas palavras, ainda que por analogia, o
enfatizar
e o vivenciar contidos nos termos do poema:
O
travessão
Leio
sobre um homem que se pôs de pé para falar no enterro
de
uma amiga. Referiu-se sobre as datas em seu túmulo do
principio
ao fim. Percebeu que primeiro vinha a data do
nascimento
e falou da data seguinte com lágrimas, mas disse
que
o que mais importava era o travessão entre aqueles anos.
Porque
o travessão representa todo o tempo que ela passou
viva
na terra. E agora só aqueles que a amaram sabem o que
vale
aquele pequeno sinal. Porque não importa o que
possuímos:
os carros... a casa... o dinheiro. Importa como
vivemos
e amamos e o que fizemos no espaço do travessão.
Pense
então nisso longamente, intensamente... Há coisas que
você
gostaria de mudar? Porque nunca sabemos o tempo que
nos
resta (podemos estar na metade do travessão).
Se
pudéssemos apenas diminuir o ritmo para avaliar o que é
verdadeiro
e autêntico e tentássemos sempre compreender
como
os outros se sentem. E termos menos rapidez na raiva, e
demonstrarmos
mais apreço e amarmos as pessoas da nossa
vida
como nunca amamos antes.
Se
tratarmos uns aos outros com respeito, e sorrirmos com
mais
frequência... lembrando-nos que este travessão especial
pode
durar só mais um instante, assim quando lerem seu
louvor,
e o que fez na vida for revisto... você sentiria orgulho
daquilo
que fosse dito sobre como viveu seu travessão?
[LINDA
M. ELLIS].
É
o outro lado da moeda simbólica gramatical a que me referi desde os
meus
tempos de criança quando ainda estudava as primeiras letras na escola
primária.
Vejam
por exemplo, que depois de cinquenta e seis anos plenos em sala
de
aula do magistério da Educação Básica e Superior, me vi obrigado pelas
circunstâncias
da pandemia: Coronavírus – Covid-19, em parar a labuta diária
por
trinta dias, isso faz parte do meu travessão profissional e empresarial.
Acredito
que daqui mais uns dias tudo voltará à normalidade e voltarei
para
dar continuidade ao meu travessão do magistério — e também não será
diferente
para os colegas professores e para os pupilos letivos do corrente ano.
E
até porque, o poema “O travessão”, acima transcrito, que é uma aversão
ao
termo “travessão”, gramaticalmente falando, me faz lembrar de que, quando
uma
pessoa morre, é tradição no Brasil e quiçá no mundo inteiro, se escrever
sobre
sua lápide, sepultura, túmulo e/ou cenotáfio, não importa o nome que
seja
dado, a data de nascimento e a data de falecimento do falecido e/ou da
falecida,
valendo salientar de que o risco e/ou símbolo que fica entre ambas as
datas,
o travessão — data de nascimento e data de falecimento é
simplesmente
ignorado, isto é, ninguém vai mais se lembrar...
Ah!
Isso quer dizer que a partir do momento do fim da vida, ninguém vai
mais
se lembrar da data de meu nascimento e muito menos da data de meu
falecimento,
vão sim, se lembrar do meu travessão — todos e/ou quase todos
conhecidos
e meios conhecidos, irão se lembrar do que eu fiz no decorrer do
tempo
de minha estada aqui entre eles, isso é inevitável, uma espécie de juízo
final,
morre o homem, acaba-se em lama, desaparece a grana e fica a fama de
ruim
e/ou de bom a juízo de quem assim contar.
É
por isso que o meu travessão — foi e será sempre voltado para o
cumprimento
dos meus deveres pessoais e profissionais. A ética em primeiro
lugar,
corro com medo de corruptos que sabem que a corrupção fede, porém
não
se incomodam, desde que o bolso, a cueca e/ou o cofre esteja estourando
de
tutu...
A
minha vida é a maior riqueza que detenho e será o maior legado que
deixarei
quando aqui não mais existir, porque o ar que respiro para viver é o
mesmo
ar que respiro para morrer se os governos e os governados não
erradicarem
o coronavírus, o meu travessão — e a maneira de viver
respeitando
e/ou não a natureza, terminará antes da época. Por analogia, não
será
diferente para os demais que fazem parte da humanidade.
Todo
ser vivente tem o seu travessão — pessoal, profissional e agora o
coronavírus,
o travessão do eu, tu, ele, nós, vós e eles — governos e
governados
— da humanidade.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO,
Haroldo de; SILVA, Joaquim; PENTEADO, José A.; CRETELA JR,
José;
SANGIORGI, Osvaldo. [Organizadores]. Programa de Admissão.
Companhia
Editora Nacional, 1960.
DICIONÁRIO
PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA [2008-2020].
Travessão.
In.: <https://dicionario.priberam.org/travess%C3%A3o .Consultado
em
27-03-2020.
DICIONÁRIO
AURÉLIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Travessão. [2009-2020].
In.:
<https://www.dicio.com.br/travessao/> Consultado em 27-03-2020.
ESPINHEIRA,
Ariosto. Infância Brasileira. Companhia Editora Nacional, 1959.
ELLIS,
Linda. M. - O travessão. [Pensador: 2005-2020].
In.:<https://www.pensador.com/autor/linda_m_ellis/>.
Acessado em, 27-03-
2020.
Enviado por Francisco de Paula Melo Aguiar.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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