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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

ZÓZIMO LIMA


Um ano e três meses antes do seu falecimento, o cronista Zózimo Lima fez publicadas, no já extinto jornal “Gazeta de Sergipe”, de 26.10.1972, aquelas que seriam as suas últimas considerações a respeito do cangaço em Sergipe, tema por ele, quando em vez, abordado nos seus sempre bons escritos, muito embora e apesar de ter estado pessoalmente com Lampião, em 29, na capela, tenha destinado, relativamente, pouco tempo à pesquisa e ao estudo deste importante e fascinante tema.

Algo a se lamentar.

Porque este intelectual e brilhante jornalista, de notável inteligência e de grande perspicácia, irônico além da conta, tinha as relações humanas e os acontecimentos importantes em Sergipe, naqueles tempos, durante e pós-Lampião, sob completo e total domínio, vez que conhecia a tudo e a todos; era homem que circulava com desenvoltura nos meios sociais, pobres e abastados, eis que gostava de andar pelos bairros periféricos de Aracaju, frequentar feiras livres e mercados públicos de carnes e cereais, tratar com os mais humildes; visitar cidades do interior, para estar e conversar com as gentes e seus mandatários, os chefes políticos; descansar em sítios e fazendas de amigos; ao mesmo tempo em que acessava livremente palácio, amigo que era de governadores, de um Leandro Maciel, Lourival Batista, Luiz Garcia, e mesmo o médico Eronildes de Carvalho, do qual, se não o tinha como amigo deixou claro em seus artigos, que o considerava e com ele se relacionava de forma amistosa e cordial. Zózimo, que era, por sinal, correspondente de um jornal da Bahia; que escrevia praticamente sobre tudo, todos os dias, sendo a sua coluna "Variações em Fá Sustenido" uma das mais concorridas naqueles dias; Zózimo que dirigiu a repartição em que trabalhava como telegrafista, os correios e telégrafos, como também, presidiu a Academia sergipana de letras (ALS) e a Associação dos Jornalistas de Sergipe (ASI). Portanto, era um verdadeiro receptáculo.

Lamentar, porque Zózimo sabia muito mais dos coitos, passos, tratos e interação de um Lampião, de um Zé Baiano e de muitos outros cangaceiros, que por aqui pintaram e bordaram, igualmente, do que realmente pensavam, faziam e pretendiam as volantes e os maiorais do Estado no contraponto destas perigosas presenças, do que se dispôs a dizer.

Lembrei-me agora de algo, que ilustra estas minhas mal traçadas considerações de lamento.

Certa feita - contou-me um dos seus filhos - Zózimo, quando de passagem por uma certa fazenda localizada na zona sertaneja sergipana, avistou, na propriedade, como se tivessem acabados de chegar, sujos, cansados, discretos, alguns cangaceiros, e Lampião estava presente

Portanto, imaginem vocês o quão rica seria a historiografia do cangaço em Sergipe, se este capelense, que tão bem lidava com os idiomas, o inglês, o francês, o latim, tivesse traduzido o tanto que viu e ouviu a respeito de volantes e cangaceiros, coiteiros e coronéis, e, principalmente, do povo que tanto sofreu nas mãos destes algozes.
Sinto por isto.

AINDA SOBRE LAMPIÃO
Por Zózimo Lima


Uma das melhores obras que conheço é “LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE”, de Aglae Lima Oliveira, 2ª edição, 448 páginas, porém com falhas que jamais foram cometidas, em narrativa por Joaquim Góis, em seu "LAMPIÃO, O REI DO CANGAÇO", editado pela Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, com 222 páginas.

Na 2ª edição, já promovida por Nertan Macedo, o que não se realizou porque Joaquim Góis faleceu antes de completar a obra, seria publicada com muitas páginas inéditas e acontecimentos horrorosos.

Eu entretive longas palestras com Lampião, na Capela, das 7 horas da noite às 3 da madrugada, e as repetirei, sem aspas e sem parágrafos.

Joana Gomes, que, com os bandidos, percorrera os sertões de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Bahia e Sergipe, amasiada com Cirilo de Engrácia, desde 1930, com quem teve quatro filhos, cansada da vida errante e das lutas, resolvera entregar-se à Polícia de Alagoas, em Mata Grande, em 1937, depois de ter passado, aos 24 anos, pelos braços de Inácio, Jacaré, Mariano, Corisco, Português e Sereno, sobrinho de Corisco.

Também dormiu com Ângelo Roque, Zé Baiano, Jacaré, José Mariano e Nevoeiro. Era meretriz muito disputada pelos cangaceiros. Disse-me Lampião que o seu grupo, que era de 60 homens, dividiu em quatro turmas, depois da derrota nas imediações em Canguaretama, e a um seu chamado urgente ou apito conseguia rapidamente reuni-los em seu grupo.

Jacaré, último amante de Joana Gomes, lhe dissera que fugiria antes de entrar em combate em Mata Grande. E morreu mesmo num combate em alagoas. Não se sabe mais o que ocorrera com Joana Gomes que se entregara à Polícia em mata Grande.

Lampião elogiou sempre o DIABO LOURO, antonomásia de Corisco, que em certa época pertencera à polícia sergipana. Corisco foi morto pelo coronel José Rufino, que eu conheci, nas imediações de Jeremoabo, sendo ferida sua amásia Dadá, que amputou uma perna, e ainda vive em Salvador, recordando o seu passado de aventuras criminosas.

Volta Seca, que também conheci, é hoje servente da Estrada de Ferro Leopoldina, casado, arrependido, bom chefe de família.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo10:24:00

    DADÁ - Sérgia da Silva ChagaS, não foi amante de CORISCO - Cristino da Silva Cleto, e sim sua esposa. Por sinal, o único casal realmente casados no Cangaço, por um Padre. Fonte: Gente de Lampião - Corisco e Dadá. Antonio Amaury Correia de Araújo.
    Kydelmir Dantas
    Mossoró - RN.

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