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domingo, 22 de abril de 2018

JOSUÉ DE CASTRO.

Por Medeiros Braga

JOSUÉ DE CASTRO - Eu tinha uma conta a acertar com o médico e sociólogo Josué de Castro e o fiz. A minha moeda em paga seria em versos de cordel. Esta se achava bem valorizada, vez que o grande mestre encontrava-se esquecido e os seus feitos mais ainda. Eis, portanto a minha quitação.

Vou falar de um brasileiro
Da maior dignidade,
Que as causas conhecendo
Da voraz mortalidade
Ante a fome insana, bruta,
Externou por toda luta
Sua sensibilidade.

Navegar irei sem remos
Por esse mar turbulento,
Trazer Josué de Castro,
Mostrar com todo provento
Ao povão desinformado
Esse tesouro deixado
Em profundo esquecimento.

Seu pai veio da Paraíba
 De Cabaceiras, pivete,
Fugindo assim da maldosa
Seca de setenta e sete,
Para escapar do seu mal
Procurou o litoral
Que de chuva se derrete.

De Manoel e de Josefa
Apolônio, era ele filho,
Nasceu em mil, novecentos
E oito, seguindo um trilho,
Em um cinco de setembro
A família mais um membro
Ganharia pra seu brilho.

Dona Josefa que era
Por profissão professora
Deixou nas primeiras letras
Sua mente promissora,
Teve assim, saber fecundo
Para entender esse mundo
De prática destruidora.

Josué continuou
A sua grande lição
No Ginásio Pernambucano
E no Carneiro Leão
Por esse tempo, em essência,
Era uma referência
Que havia na educação.

Daí ingressou em cursos
De estudo superior,
Colou grau em medicina,
Teve láureas de doutor,
Muita coisa foi na vida
Mas sua luta aguerrida
Foi como pesquisador.

Ele as causas conhecendo
Da família que emigrou
Começou a estudar
E tão bem interpretou
A seca, a fome, a miséria
Que eram pura pilhéria
Pra quem sempre dominou.

Josué de Castro esteve
Sempre com os retirantes,
Conheceu mangues, mocambos,
Suas mazelas reinantes,
Pôde entender, evidente,
Da paga insuficiente,
 As causas determinantes.

Descobriu que a fome era
Uma catástrofe social,
Que não era consequência
De ocorrência natural:
Étnica, física, climática,
Mas, uma herança, na prática
Do sistema colonial.

Todo ser que é humano
Também é um lutador,
Seus ideais humanistas
Têm viés transformador...
Solidário em sua meta
Ele foi como o poeta
Que do povo sente a dor.

Preocupado com o
Bem-estar da humanidade,
Sempre estava a estudar
A fome, a desigualdade,
As doenças cruciantes
E os índices alarmantes
Que há da mortalidade.

Recife à época com seus
Duzentos mil habitantes
Tinha uma burguesia
Das ideias imigrantes
De insensatez e torpeza
Da “belle époque” francesa
Já com muitos imitantes.

Assim, tinha a burguesia
Outra preocupação,
Esnobar sua luxúria,
Sustentar a tradição,
Para isso se teria
Que manter no dia a dia
O sistema de extorsão.

Mesmo com suas pesquisas
De campo sempre reais
Não fugia das questões
Sociais e culturais,
Buscava bem mais saber
Pra poder fortalecer
Os seus próprios ideais.

Da classe trabalhadora
Descobriu que a maioria
Vivia sempre com fome,
Com fome sempre morria,
Porque ele em seu tormento
Não consome o alimento
Necessário em caloria.

Não consome os alimentos
Para a recomposição
Das perdas das energias
Que se vão na produção;
Se ele menos consome
Vai encontrar pela fome
A mortal desnutrição.

Todo operário precisa
Consumir, diariamente,
Proteína, vitamina,
E caloria, evidente,
Se não come na medida
Todo dia, perde a vida
Por fome, seguidamente.

Vitamina e proteína
São sessenta e cinco gramas,
E mais três mil e quinhentas
Calorias, que são chamas;
Pra se ter vida saudável
Esta trinca admirável
Está em todos programas.

Estão esses elementos
Na carne e nos vegetais,
Nas verduras, frutas, massas,
Que são sempre naturais,
A quantidade a rigor
Vai depender do teor
De cada um dos florais.

Antes de mostrar a fome
Que há pelo mundo inteiro
Expôs ele a que havia
Com o povo brasileiro,
E do ponto da ciência
Descreveu com sapiência
O seu mapa verdadeiro.

Tendo por base a análise
Do sistema alimentar
Expôs no MAPA DA FOME
As regiões a contar:
Amazônia, Centro-Oeste,
O Sul e mais o Nordeste,
Duas partes a se dar.

O Nordeste Açucareiro
E o Sertão Nordestino,
Cinco regiões da fome
Para estudo com bom tino,
Cada qual de Sul a Norte
Com sua causa de morte,
Com seu funesto destino.

********************
 ********************
Escreveu diversas obras
 Sem do tema desviar,
 A Geografia da Fome
Posta em primeiro lugar,
Também, vital, de renome,
A Geopolítica da Fome
 Com questão a elucidar.

A Geopolítica da Fome
Foi seu livro condoreiro,
Mostrava com tal ciência
A fome lá no estrangeiro.
 Com o livro feito um astrGrassou Josué de Castro
 Prestigio no mundo inteiro.

Josué de Castro ainda,
Das obras de importância,
Escreveu a instigante
 Geografia da Abundância,
Qual declaração de guerra
 Fez “Sete Palmos de Terra
 E um Caixão” de sustância.

Eram os canavieiros
Mortos, em redes levados,
E em valas coletivas
Eram vestidos jogados,
Mas com luta, por pressão,
Uma cova e um caixão
Afinal, são conquistados.

Dizia Josué de Castro
Do seu vasto refletir:
Dois terços eis sem comer
Podem até se insurgir,
Feito rival nesse enredo
O outro terço com medo
Já não consegue dormir.

Vivendo ali em Recife
 E lembrando dos lampejos
 Escreveu com sentimento
 O “Homens e Caranguejos”,
 E levou sem um engano
 Ao leitor americano
 Pra conhecer seus ensejos.

Alertou para a existência
 Da fome oculta aclamada,
 De uma gente tão pobre
 Viver subalimentada,
Proteína, vitamina,
Sais minerais, pra chacina
 No tempo ser confirmada.

Mas, sempre a mostrar os tipos
 E as causas da fome, enfim,
As perdas das energias,
A reposição ruim.
 Isso no cotidiano,
 No trabalho, o ser humano
 Vai se consumindo, assim.

Essas são algumas das 80 estrofes sobre o grande Josué de Castro. Há muitas informações científicas e políticas pela frente.
O seu comentário sobre Josué de Castro e\ou o cordel é muito importante.
Medeiros Braga


EIS MEU ÚLTIMO TRABALHO NESTA TARDE PESSOENSE DE 21 DE ABRIL DE 2018


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguaino José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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