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domingo, 15 de setembro de 2019

DUAS CASAS

*Rangel Alves da Costa

As casas são como as pessoas. As casas nascem, vão sofrendo desgastes, deteriorando em suas fachadas e entranhas, envelhecendo nos seus ambientes, para um dia, enfim, serem apenas memórias.
As casas são como os retratos que vão perdendo a cor, que vão amarelando até embranquecerem de vez. São como as molduras as molduras grandes, bonitas, de madeira de lei envernizadas e parecendo eternas, mas que num tempo da vida vão sendo tomadas de cupins até se tornarem em nada.
As casas são assim, tão vivas quando construídas e tão mortas depois do abandono e da destruição. Paredes que racham, pisos que vão se soltando, goteiras que vão surgindo das coberturas, frestas por todo lugar. A porta já não fecha direito. As janelas cheias de brechas e de madeira carcomida.  
Em Poço Redondo, na Praça da Matriz e arredores, muitas casas já nasceram e já morreram. Já tiveram seus tempos de presenças, vozes e vivacidades, mas também já sumiram na força foram do tempo e da idade. A mais imponente das casas já não existe mais.
O casario de China do Poço e Mãeta resta somente em retratos. Poço Redondo ainda se recorda da imponente casa de esquina, com janelas e porta grandes, traços arquitetônicos esmerados, toda uma feição de pujante presença. Foi derrubada antes de envelhecer de vez e, em escombros, tornar-se apenas em poeira e pó.  
A arquitetura grandiosa da casa de Dona Celina e Seu Chico Barbado (casa de Mariano e Terezinha) deu lugar a fachada moderna, naquela feição quase sempre igual dos modernos azulejos e cerâmicas. Uma casa qualquer, pode-se dizer.
Uma ou outra casa ainda persiste com a mesma fachada, tendo recebido apenas uma ou outra pintura. Sobressaem-se, contudo, duas casas vizinhas, parede com parede, história com história. A antiga casa de Seu Zé de Lola e Dona Quininha continua no mesmo aspecto de antigamente, naquele mesmo formato de sua originária construção.


Ante sua visão, logo se percebe uma diferenciação das demais, porém não muito da casa ao lado, esta pertencente a ao Sr. Gabriel Feitosa. Nas duas casas ainda os testemunhos daquele Poço Redondo de antigamente. E nas duas a vivência de dois parentes, um tio e uma sobrinha.
Ao entardecer, Neném, atual guardiã e filha de Dona Quinininha e Zé de Lola, senta-se na calçada esperando o sopro da brisa boa. Logo ao lado, geralmente no mesmo horário, Seu Gabriel começa a avistar o mundo enquanto vai abrindo as portas de suas vastas recordações.
De poucas palavras, sem gostar de falar sobre seus caminhos na vida, apenas revive por dentro os idos de um sertão inteiro. As duas casas ainda estão vivas, presentes, parecendo eternas naquele local. Tudo passa, tudo se transforma, e elas continuam ali.
E que continuem ali, continuem sendo páginas vivas de nossa história. Poço Redondo precisa manter e preservar o que lhe resta como escrita daquele passado vivenciado na força e na tenacidade de um povo.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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