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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

MONUMENTO À COLUNA PRESTES EM FLORESTA ? POR DENIS CARVALHO

Por Denis Carvalho
Túmulo de João Lopes Diniz

Tenho acompanhado durante toda a semana as discussões a respeito da alocação de um monumento dedicado a passagem da Coluna Prestes no município de Floresta – PE. Fica então a pergunta: qual o sentido dessa homenagem? Para quem não conhece, a Coluna Prestes foi um “movimento político-militar” liderado pelo comunista Luis Carlos Prestes, tendo percorrido mais de 20.000 km pelo interior do país. 

O mais estranho desse movimento é que, apesar de seus ideais serem indiscutivelmente louváveis, como a exigência do voto popular secreto e melhorias no ensino publico, jamais conseguiram o apoio popular, tendo concluído sua marcha sem ter conseguido cumprir nenhum de seus objetivos.Ora, se até mesmo o temido cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) conseguiu conquistar o respeito e a admiração de alguns sertanejos, por que não ouvimos nenhum dos que tiveram contato com a Coluna narrar algo de positivo ou admirável? 

O repúdio popular, na época, explica-se em decorrência do modus operandi com que os “revoltosos” utilizavam para fazer aderir os populares à causa. O uso da violência era constante: invadiam fazendas e casas, torturavam seus moradores, roubavam provisões e animais de carga; tudo isso em nome da “causa”. Qualquer sertanejo era taxado de “jagunço” e não havia o mínimo respeito com os habitantes dos locais por onde passavam.

Denis Carvalho, Leo Gominho, Marcos de Carmelita, João de Sousa Lima, 
Cristiano Ferraz e Manoel Severo

Lutar por uma causa justa com o uso de meios imorais e ilegais, a meu ver, não faz de ninguém um herói. Sei que muitos vão dizer que “os tempos eram outros”, mas nada justifica o uso de uma força com dezenas de homens contra simples sertanejos, que em nada deram causa à sua luta, muito menos poderiam esboçar qualquer forma de reação. Não vejo nenhuma necessidade de um monumento relacionado à Coluna Prestes em Floresta, afinal, esse monumento já existe...

Eis na imagem o túmulo de João Lopes Diniz, morto em 1926 na fazenda Campo Alegre durante a passagem do movimento. Seu corpo ficou exposto no terreiro de sua casa, tombado no local de seu assassinato, enquanto sua esposa e filhas choravam implorando que deixassem enterrá-lo. As respostas eram apenas ironias, seguidas de gargalhadas.

Hoje vemos nossos opressores virarem heróis, ao passo que nossos mortos são esquecidos. Enquanto seu túmulo jaz abandonado, engolido pela caatinga; seus algozes receberão uma homenagem em um dos lugares mais pomposos da cidade que sua família ajudou a construir.

Muitos outros marcos foram deixados por onde passaram, como cercas incendiadas, marcas de projéteis de bala e pessoas traumatizadas.

A construção dessa obra é, então, uma total falta de respeito e uma grande demonstração de que a história do município está sendo irresponsavelmente ignorada por seus dirigentes. E isso em nada me admira, afinal, vivemos em um país em que o crime compensa e que, em vez de penas, rendem-se homenagens aos criminosos.

Denis Carvalho
Pesquisador e colecionador, Floresta PE

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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