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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Existia amor no Cangaço?

Por:Juliana Ischiara

O fato de os cangaceiros não serem carinhosos com suas companheiras não é parâmetro para analisar se havia ou não afeto ou amor por parte deles. Sabemos que, àquela época, demonstração de afeto em público, como beijos e abraços, não era comum. As mulheres eram criadas para procriar, cuidar do marido e dos filhos. Já aos homens, cabia prover o sustento e o bem estar, cuidado e proteção da sua família.

Partindo desta premissa, não se podia esperar de um homem rude, marginalizado e vivendo sobre o jugo da violência, da brutalidade e da luta pela sobrevivência, que este agisse com urbanidade em tempo integral. Como disse 


João de Sousa Lima, os depoimentos de Adília e Sila, são impressões isoladas.


O fato de Zé Sereno e Canário não serem “bons maridos”, não é suficiente para se generalizar que não havia afetividade dentro do cangaço. 


Sabemos que Maria Bonita*, embora vez por outra brigasse com Lampião,  chegava a gritar e a xingá-lo e, mesmo assim, ele não a agredia. Todos sabem do carinho que havia entre eles e, como citou João de Sousa, ainda temos casais como


Durvinha e Virginio, 


Corisco  e Dadá.

Ainda temos o fato de Luiz Pedro, que depois da morte de sua companheira Nenen, 


não voltou a se amasiar com outra mulher. Um outro caso é o de 


Pancada e sua companheira Maria, que mesmo sabendo das relações extraconjugais da companheira, não a matou, nem a deixou. Por fim, ainda temos o valente cangaceiro 


Gato, que morreu quando tentava salvar sua Inacinha, que havia sido capturada. Como vemos, havia muito mais demonstração de amor e afeto, que o contrário.

Que estas mulheres viviam em condições subumanas ninguém discorda. Muitas devem ter se arrependido de ter seguido o que, para elas, era uma possibilidade de liberdade, aventura e desejo de viver um grande amor, mesmo que bandido. Já as que foram seqüestradas, arrastadas, forçadas, algumas como Dadá, se adaptaram muito bem àquela vida e amavam seus companheiros. Outras tiveram a oportunidade de fugir e não o fizeram.

Em síntese, não se pode dizer que não havia amor no cangaço, pelo fato de um cangaceiro não ter beijado sua companheira ou ter sido agressivo com a mesma, haja visto que, ainda nos dias atuais, muitas mulheres se casam por amor e depois descobrem em seus maridos verdadeiros algozes. Milhares de mulheres são agredidas e têm suas vidas ceifadas por seus maridos que antes lhes pareciam príncipes encantados. Se, mesmo depois de toda a evolução socioeducacional e da ascensão do universo feminino, ainda foi necessário a criação de uma lei que a tutelasse da violência doméstica, imaginem há mais 70 anos atrás.

Juliana Ischiara
Diretora do GECC
Conselheira Cariri Cangaço


Um comentário:

  1. Professora Juliana,
    Gostaria de me comunicar por e-mail para informações sobre sua monografia "A saga nordestina na musica de Luiz Gonzaga". Meu e-mail é marlosmn@gmail.com

    Obrigado

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