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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

NORTERIOGRANDENSES ILUSTRES - IX

Por: José Ozildo dos Santos
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Foi o mais bravo soldado norte-riograndense, que participou da Guerra do Paraguai. Nascido na antiga Vila Nova da Princesa, atual cidade de Assú, a 5 de maio de 1846, Ulisses Caldas era filho do Alferes Francisco Justiniano Lins Caldas e de dona Maria Gorgonha de Holanda Wanderley. Em sua juventude, transferiu-se para Natal, onde continuou os estudos iniciados em Assú, tornando-se popular em toda cidade, por seu espírito comunicativo.

ULISSES OLEGÁRIO LINS CALDAS

Eclodindo a Guerra contra o Paraguai, movido por forte gesto de patriotismo, alistou-se no Batalhão de Voluntário da Pátria, a 17 de março de 1865, integrando a primeira turma de voluntários, embarcando logo em seguida para o cenário da guerra, sendo-lhe dado a patente de alferes. Ao seu irmão, João Perceval que encontrava-se no Recife e que também alistou-se como voluntário, deram-lhe o posto de sargento.

Logo no primeiro combate, demonstrou que era um bravo. Numa determinada ocasião, “após a explosão de uma mina e vendo dispersos os membros mutilados de companheiros mortos ao seu lado, gritou aos sobreviventes, num lance de indômita coragem, avança, camaradas! ainda é vivo Ulisses!”, e toma, ele mesmo, à ponta de espada e por entre um chuveiro de balas, duas peças de artilharia ao inimigo, sendo, do corpo a que  pertencia, o primeiro que galgou as suas trincheiras”.

Por este valente feito, foi condecorado com o hábito de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. Seu nome, tornou-se uma legenda. A cada combate, aumentava seus atos de valor e “ao falecer, a sua fé de ofício oferecia, pelo número de elogios que continha, um verdadeiro contraste com a rapidez de sua carreira militar”.

Alferes do 29º Corpo de Voluntários da Pátria, em ação na Zona de Combate, foi comandado pelo tenente coronel Alexandre Freire Maia Bittencourt e, a 4 de setembro de 1866, recebeu a patente de tenente. Com sua espetacular bravura, encorajava seus homens, guiando-os de espada em punho, nas frentes de batalhas. No comando, “atirava-se às refregas acesas, criando renome, citado, apresentado aos comandantes como exemplo de coragem, de tenacidade, de sangue frio”.

O Tenente Ulisses Caldas faleceu em combate a 7 de novembro de 1866, nas avançadas da tomada de Curuzu, aos vinte anos de idade e menos de dois, prestados ao serviço militar, deixando às gerações futuras, “um nome e uma tradição de heroísmo que não morrerão jamais”.

Registrou Tarcísio Medeiros, que Ulisses Caldas “ao falecer, a sua fé de ofício oferecia, pelo número de elogios que continha, um verdadeiro contraste com a rapidez de sua carreira".

Por carta, João Perceval comunicou aos seus pais, residentes em Assú, a morte de seu irmão, em detalhes, numa narrativa emotiva e comovido de lágrimas. Eis a carta:

“Meus caros pais, abençoam”.
Acampamento em Curuzu, 8 de novembro de 1866.
Depois de ter passado por tantos trabalhos, por tantos perigos, veio a sucumbir em um tiroteio que houve entre nosso piquete e o inimigo, ontem às 9 horas e meia da manhã, o meu querido irmão Ulisses, o maior amigo que eu tinha. VV. mercês. devem avaliar a minha dor, pela de VV. mercês.

 Estava eu com o batalhão junto às trincheiras, quando soube que ele tinha sido baleado. Imediatamente entreguei a bandeira a outro alferes e segui para o hospital onde ele se achava. Em caminho soube que ele (baleado) foi conduzido morto; cheguei ao Hospital, com efeito, achei-o na eternidade, cercado por muitos oficiais e soldados; entrei, dei-lhe um ósculo na face, muitas lágrimas banharam meu rosto pálido, mas não desfigurado. Sai a fim de preparar o caixão, sepultura e arranjar o que era necessário para sepultá-lo com decência, para o que muito se prestaram alguns comprovincianos nossos que são meus verdadeiros amigos. O ferimento foi de lado, no braço direito quase no costado do ombro; não quebrou o osso, porém a bala foi ao coração. É doloroso esse golpe que acabamos de sofrer, porém alguma cousa aliviada pela brilhante figura que fez sempre em todos os combates em que se achou, pelo que foi sempre elogiado nas ordens do dia do seu comandante e mesmo do Exmo. Sr. General”.

“Sem dúvida o nome dele já está nas colunas dos jornais, pela bravura que apresentou no combate do dia 3 de setembro, que a ele se deve a tomada de duas bocas de fogo. No dia 22, portou-se com o mesmo e assim no dia 13 de outubro, o batalhão dele achava-se de proteção ao piquete; este foi atacado pelo inimigo que depois refugiou-se na mata. O general do dia pediu ao comandante um oficial de confiança e oito praças; ele foi escolhido; segue para dentro da mata afim de provocar o inimigo, quando recebeu grande descarga, ficando logo três praças baleados. Com cinco praças que restavam sustentou o arrojo do inimigo que avaliou em 80, até que veio socorro de mais 50 praças, e neste último em que sucumbiu portou-se dignamente, marchando na frente como sempre fazia. A morte dele causou grande choque no segundo corpo do exército. Vv. Mercês sabem do gênio dele; a todos agradava grandes e pequenos; no semblante de todos se divisava sentimento”.

“Foi acompanhado à sepultura por mais de 150 oficiais e alguns cadetes, sendo a maior parte de infantaria, muitos de cavalaria e alguns da marinha. Foi sepultado as 4 e meia da tarde do mesmo dia entre duas       árvores, onde estão mais alguns bravos seus companheiros. Era tenente do dia 4 de setembro, quando eu também fui promovido a alferes”.

“Tudo isto, meus caros pais devemos encarar com muita resignação. Deus o tenha em sua glória. Adeus. Aceitem o coração saudoso de seu filho obediente e amigo - JOÃO”.

No Rio Grande do Norte, o nome do Tenente Ulisses Caldas é lembrado com admiração. Em Natal, desde 13 de fevereiro de 1888, encontra-se imortalizado, designando a Rua onde está hoje o edifício da Prefeitura Municipal.



Extraído do blog: "Construindo a História"

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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