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sábado, 10 de junho de 2017

SITUAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS RESERVATÓRIOS DAS HIDRELÉTRICAS DA CHESF – 09/06/2017


Meus Prezados,

Seguem as dificuldades nos gerenciamentos volumétricos das represas de Sobradinho e de Três Maria, agora agravadas pela retirada volumétrica do projeto da transposição do Rio São Francisco.

Com o encerramento da quadra chuvosa das regiões do Alto e Submédio São Francisco, as represas de Três Marias e Sobradinho começaram a depreciar suas capacidades acumulatórias. Três Marias, por exemplo, está com uma afluência de apenas 68 m³/s e uma defluência de 272 m³/s, fato esse que resulta na redução de seu percentual volumétrico, passando de 30,29%, da semana anterior, para 29,68%, na atual. Já Sobradinho manteve constante sua afluência de 388 m³/s, e está com uma defluência de 608 m³/s, fato que reduziu o seu percentual volumétrico de 13,88%, da semana anterior, para 12,92%, nessa semana. Pereira Bode Velho, alerta para a rápida diminuição volumétrica de Sobradinho (gráfico abaixo). Segundo ele, com a manobra de redução da defluência de Sobradinho, para cerca de 600 m³/s, a Chesf deu condições à represa de chegar, no mês de dezembro deste ano, no seu nível mínimo. Ele conclui dizendo que “a natureza foi deixada de lado nessa decisão, e o Rio São Francisco passou a ser, apenas, um canal de água para o agronegócio e para a geração de energia”. Os baixos volumes atuais do Rio São Francisco e, também, dos reservatórios das regiões Centro Oeste/Sudeste (43,25% - 08/06/2017), são os principais motivos do acionamento das termelétricas na geração de energia do País, em socorro às hidrelétricas. Esse fato resultou no aumento nas tarifas de eletricidade, do usuário da energia, estando, atualmente, operando em bandeira vermelha.  Para o agravamento desse caótico cenário, o projeto da transposição continua interferido de forma negativa, com retiradas volumétricas significativas do rio, de cerca de 9 m³/s, para o atendimento das demandas hídricas da região Setentrional nordestina. Somada a ele, a exploração descontrolada das águas subterrâneas de aquíferos do São Francisco (Urucuia e outros) tem, também, interferido nas reduções volumétricas do rio (vide gráficos de Pereira Bode Velho, abaixo). O natural declínio na caída das chuvas na região tornará mais difícil à recuperação, tanto da represa de Três Marias, como de Sobradinho, até o final do ano em curso. Preocupada com isso, a ANA emitiu nota estabelecendo a redução das defluências, em ambas represas. A tendência é de que sejam defluidos, de Sobradinho, cerca de 600 m³/s, apenas, e já se comenta da possibilidade dessa vazão vir a ser reduzida mais ainda, para 500 m³/s. A seguir, são apresentados os volumes do Rio São Francisco, nos postos de observação da Chesf: no posto de São Romão, que na semana anterior estava com 477 m³/s, passou, nessa semana, para 417 m³/s. No de São Francisco, que na semana anterior estava com 488 m³/s, passou para 366 m³/s; no de Bom Jesus da Lapa que estava com 702 m³/s, passou para 535 m³/s e no de Morpará, que na semana anterior estava com 677 m³/s, agora está com 608 m³/s, respectivamente. A afluência volumétrica na represa de Sobradinho permaneceu inalterada nos 388 m³/s. A defluência da represa está em declínio, passando de 613 m³/s, da semana anterior, para 608 m³/s nessa semana. O percentual volumétrico de Sobradinho está em queda livre. Na semana anterior haviam sido registrados 13,18% de seu volume útil. Na atual está com 12,92%. A barragem continua com o seu percentual volumétrico com cerca de menos da metade do que aquele verificado em igual período do ano anterior (atualmente 12,92% - ano anterior 26,10%).

Uma curiosidade: em 2015, ano no qual a represa de Sobradinho alcançou, no mês de novembro, 1% de seu volume útil, no dia 12/06 daquele ano, a represa apresentava percentual volumétrico de 20,70%. No dia 09/06 de 2017, Sobradinho está com 12,92%, um fato preocupante tendo em vista o atual cenário de seca e de ineficiência na gestão dos recursos hídricos existentes em toda bacia do rio. Portanto, o alcance do volume morto de Sobradinho, em 2017, é um fato provável, caso não sejam tomadas as medidas necessárias para o seu enfrentamento.

Na semana (09/06), o quadro atual de penúria hídrica vem trazendo reflexos negativos ao projeto da transposição. As águas do Velho Chico estão chegando, na represa de Boqueirão, em volumes muito reduzidos (estima-se entre 3,00 a 3,50 m³/s, numa promessa de cerca de 9,0 m³/s), o que tem obrigado as autoridades a divulgarem nota justificando a prorrogação do racionamento de água na cidade de Campina Grande. Houve, também, incertezas da chegada da água nas torneiras dos municípios atendidos pelo projeto, motivando, inclusive, a população de Monteiro, na Paraíba, aprotestar pela falta d´água na localidade, exigindo providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis.É importante observar, também, que a continuidade das baixas defluências de Sobradinho (608 m³/s) vem agravando o quadro da progressão da cunha salina na foz do rio (ver a excelente análise de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, abaixo). Existem relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju, que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a cerca de 60 km da foz.

Em pleno período de estiagem na região, é ficar na torcida para que as medidas sugeridas pela ANA e Ibama, de redução criteriosa das vazões de Sobradinho e Xingó, surtam os efeitos esperados, a fim de que os volumes do Velho Chico voltem a ser utilizados dentro da normalidade. Para tanto, continuaremos atentos para as questões das defluências de Sobradinho (608 m³/s) e, agora, de Três Marias (272 m³/s), pois houve determinação das autoridades do setor, para que essas defluências ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e 160 m³/s, respectivamente, conforme divulgadas na mídia e atualmente não praticadas, inclusive com acréscimos em Três Marias e decréscimos naquelas emitidas por Sobradinho.


Abraço

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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