Meus Prezados,
Seguem as
dificuldades nos gerenciamentos volumétricos das represas de Sobradinho e de
Três Maria, agora agravadas pela retirada volumétrica do projeto da
transposição do Rio São Francisco.
Com o
encerramento da quadra chuvosa das regiões do Alto e Submédio São Francisco, as
represas de Três Marias e Sobradinho começaram a depreciar suas capacidades
acumulatórias. Três Marias, por exemplo, está com uma afluência de apenas
68 m³/s e uma defluência de 272 m³/s, fato esse que resulta na redução de
seu percentual volumétrico, passando de 30,29%, da semana anterior, para
29,68%, na atual. Já Sobradinho manteve constante sua afluência de 388 m³/s, e
está com uma defluência de 608 m³/s, fato que reduziu o seu percentual
volumétrico de 13,88%, da semana anterior, para 12,92%, nessa semana. Pereira Bode Velho, alerta para a rápida diminuição
volumétrica de Sobradinho (gráfico abaixo). Segundo ele, com a manobra de
redução da defluência de Sobradinho, para cerca de 600 m³/s, a Chesf deu
condições à represa de chegar, no mês de dezembro deste ano, no seu nível mínimo. Ele
conclui dizendo que “a natureza foi deixada de lado nessa decisão, e o Rio São
Francisco passou a ser, apenas, um canal de água para o agronegócio e para a
geração de energia”. Os baixos volumes atuais do Rio São Francisco e, também,
dos reservatórios das regiões Centro Oeste/Sudeste (43,25% - 08/06/2017),
são os principais motivos do acionamento das termelétricas na geração de
energia do País, em socorro às hidrelétricas. Esse fato resultou no aumento nas
tarifas de eletricidade, do usuário da energia, estando, atualmente, operando em bandeira vermelha. Para o
agravamento desse caótico cenário, o projeto da transposição continua
interferido de forma negativa, com retiradas volumétricas significativas
do rio, de cerca de 9 m³/s, para o atendimento das demandas hídricas
da região Setentrional nordestina. Somada a ele, a exploração descontrolada das
águas subterrâneas de aquíferos do São Francisco (Urucuia e outros) tem,
também, interferido nas reduções volumétricas do rio (vide gráficos
de Pereira Bode Velho, abaixo). O natural declínio na caída
das chuvas na região tornará mais difícil à recuperação, tanto da represa de
Três Marias, como de Sobradinho, até o final do ano em curso. Preocupada com
isso, a ANA emitiu nota estabelecendo a redução das defluências,
em ambas represas. A tendência é de que sejam defluidos, de Sobradinho, cerca
de 600 m³/s, apenas, e já se comenta da possibilidade dessa vazão vir a ser
reduzida mais ainda, para 500 m³/s. A seguir, são apresentados os volumes do
Rio São Francisco, nos postos de observação da Chesf: no posto de São Romão,
que na semana anterior estava com 477 m³/s, passou, nessa semana, para 417
m³/s. No de São Francisco, que na semana anterior estava com 488 m³/s, passou
para 366 m³/s; no de Bom Jesus da Lapa que estava com 702 m³/s, passou para 535
m³/s e no de Morpará, que na semana anterior estava com 677 m³/s, agora está
com 608 m³/s, respectivamente. A afluência volumétrica na represa de Sobradinho
permaneceu inalterada nos 388 m³/s. A defluência da represa está em declínio,
passando de 613 m³/s, da semana anterior, para 608 m³/s nessa semana.
O percentual volumétrico de Sobradinho está em queda livre. Na semana
anterior haviam sido registrados 13,18% de seu volume útil. Na atual está com
12,92%. A barragem continua com o seu percentual volumétrico com cerca de menos
da metade do que aquele verificado em igual período do ano anterior (atualmente
12,92% - ano anterior 26,10%).
Uma
curiosidade: em 2015, ano no qual a represa de Sobradinho alcançou, no mês de
novembro, 1% de seu volume útil, no dia 12/06 daquele ano, a represa
apresentava percentual volumétrico de 20,70%. No dia 09/06 de 2017, Sobradinho
está com 12,92%, um fato preocupante tendo em vista o atual cenário de seca e
de ineficiência na gestão dos recursos hídricos existentes em toda bacia do
rio. Portanto, o alcance do volume morto de Sobradinho, em 2017, é um fato
provável, caso não sejam tomadas as medidas necessárias para o seu
enfrentamento.
Na semana (09/06),
o quadro atual de penúria hídrica vem trazendo reflexos negativos ao
projeto da transposição. As águas do Velho Chico estão chegando, na represa de
Boqueirão, em volumes muito reduzidos (estima-se entre 3,00 a 3,50
m³/s, numa promessa de cerca de 9,0 m³/s), o que tem obrigado as autoridades
a divulgarem nota justificando a prorrogação do
racionamento de água na cidade de Campina Grande. Houve, também, incertezas da chegada da água nas torneiras dos
municípios atendidos pelo projeto, motivando, inclusive, a população de
Monteiro, na Paraíba, aprotestar pela falta d´água na localidade, exigindo
providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis.É importante
observar, também, que a continuidade das baixas defluências de Sobradinho (608
m³/s) vem agravando o quadro da progressão da cunha salina na foz do rio (ver a
excelente análise de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, abaixo). Existem
relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São
Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos
no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima
qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju,
que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma
adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a
cerca de 60 km da foz.
Em pleno
período de estiagem na região, é ficar na torcida para que as medidas sugeridas
pela ANA e Ibama, de redução criteriosa das vazões de Sobradinho e Xingó,
surtam os efeitos esperados, a fim de que os volumes do Velho Chico voltem a
ser utilizados dentro da normalidade. Para tanto, continuaremos atentos para as
questões das defluências de Sobradinho (608 m³/s) e, agora, de Três Marias (272
m³/s), pois houve determinação das autoridades do setor, para que essas
defluências ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e 160
m³/s, respectivamente, conforme divulgadas na mídia e atualmente não praticadas,
inclusive com acréscimos em Três Marias e decréscimos naquelas emitidas por
Sobradinho.
Abraço
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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