*Rangel Alves da Costa
Alento ou ilusão, mas a verdade é que todo mundo – seja casado ou apenas em relacionamento – deseja passar o Dia dos Namorados namorando. O presente é o mínimo ante o prazer do compartilhamento, da presença, da união e do afeto.
Coisa boa é ter o que comemorar nesse dia. Coisa boa é sentir e dizer a si mesmo que ama e é amado, que possui alguém que pode chamar de parte na sua vida. E saber que logo vai reencontrar, beijar, abraçar, sentir, dizer e repetir que ama e ama.
Mas nem sempre assim acontece. Ao invés do prazer da comemoração desse dia, apenas restar o entristecimento por não ter alguém que ame ao seu lado. Ou simplesmente a certeza que mais um ano se passa sem que possa ter o coração animado pelo amor de outra pessoa.
Dia dos Namorados sem namorado possui a mesma feição de um Natal na solidão, sem visitas, sem luzes piscando, sem árvore de natal num cantinho da casa, apenas no silêncio das horas que vão passando lentamente. Uma situação depressiva e dolorosa.
Dia dos Namorados sem namorado é igual a passagem de ano sem abraço e desejos de um ano feliz. Dia dos Namorados sem namorado é o mesmo que tudo ter e sentir a falta de tudo. Ora, quer apenas a certeza de estar amando e de que é amado. E isso só é possível pela presença.
Contudo, verdadeiramente triste, dolorosa, angustiante, é a solidão às vésperas do Dia dos Namorados. Não como aquela solidão de rotineiramente estar sozinho, mas a solidão depois da perda de alguém amado.
Não aquela solidão que se prolonga na pessoa e esta até acaba tendo de suportar a ausência de um amor, mas uma solidão forjada na inesperada separação, na ausência daquele amor que até quatro dias atrás representava toda a sorte da vida.
Na solidão de permanência ou de muito tempo sozinho, o Dia dos Namorados chega e passa como um sacrifício que se tem de suportar. Mas diferente ocorre com aquele que tudo já planejava para comemorar a data ao lado de seu amor. E de repente tudo desanda.
E desanda de uma forma incompreensível, até inexplicável. O dia inteiro dizendo palavras bonitas, confirmando o amor sentido, semeando o futuro a dois, mas eis que chegando a noite chega também a intriga e com ela se vai todo o amor.
Assim aconteceu comigo. Pouco tempo de namoro, pois pouco menos de sete meses, mas como se já fosse de eternidade. Ao menos para mim, ao menos no meu sentimento. Mas qual a valia de se amar tanto sozinho? Ora, verdadeiramente não ama aquela que apenas diz não sem motivo algum.
Não desejo me alongar sobre as razões, eis que não há nenhuma plausível razão. Digo apenas do meu espanto ao ter um relacionamento terminado sem qualquer justificativa. Ou com justificativas demais, pois quem põe um fim sempre se coloca como vítima para a tomada de atitude.
Mas acabou, como ela passou a repetir depois. Fazer o que? Existe réu sem culpa, existe condenado sem crime, existe sentenciado inocente. O julgamento cabe a quem se acha no direito de decidir sobre a vida, sobre o destino, sobre o amor, como ocorreu neste caso.
Faltando, pois, quatro ou cinco dias para o Dia dos Namorados e até o presente já comprado agora parece não ter mais qualquer valia. Como não é meu, como não comprei pra mim, mas para minha namorada, por isso mesmo que farei chegar às suas mãos. E que ela dê a destinação que quer.
Enquanto isso, a data se aproxima. E feliz Dia dos Namorados para quem tem namorado, para quem está amando, para quem vai compartilhar o momento. Com a minha solidão eu mesmo resolverei. Ou simplesmente deixarei que ela tome conta de mim.
Escritor
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