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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

MORTES NA FAMÍLIA DA “RAINHA DO CANGAÇO”



O sertanejo, nordestino puro, sempre teve uma posição sobre sua honra quanto à vingança por mortes ou lavar sua honra por outros motivos, hoje tidos como menos agressivos, porém, naquela época era motivo de morte. A vingança de um ente da família, ou sobre um deles muitas vezes era respeitada por ambas as partes não dando prosseguimento com o caso. No entanto, um simples roubo de animais jamais fora perdoado.

Devido a uma mentira, os familiares de Maria Gomes de Oliveira, Maria de Déa, a ‘Maria Bonita’, "Rainha do Cangaço" se envolvem, familiarmente numa confusão de lágrimas, dor, sangue e mortes.


Um vendedor de peles não conseguindo vender seu produto ao costumeiro comprador, devido as mesmas não serem de boa qualidade, procura um primo da “Rainha do Cangaço” para que o mesmo consiga vender a outro comprador. Esse primo de Maria de Déa chamava-se Gêncio.

Gêncio é incumbido por Odilon Cazé, o vendedor de peles, para que o mesmo vendesse um fardo de peles que fora ‘refugada’ pelo grande comprador, Dionísio Pereira, para outro comprador, Cícero Cazé, na fazenda Lagoa Seca. Colocando as peles no lombo de um animal, na madrugada daquela quarta-feira, coloca os pés no caminho e segue em direção à fazenda do comprador. No caminho, já com o sol bem alto, Gêncio ao passar pela Malhada da Caiçara, resolve fazer uma visita a Teodorinho, seu irmão, e vai até a casa dele. Seu irmão não estava em casa, só sua filha chamada Servina encontrava-se na moradia. Após conversar com sua sobrinha Gêncio retorna à estrada e segue de caminho afora com as peles. No caminho encontra-se com seu primo José Gomes de Oliveira, conhecido por Zé de Déa, irmão de ‘Maria Bonita’. Gêncio diz para o primo que estava levando as peles dos animais para vender ao comprador da Lagoa Seca, Cícero Cazé. Zé de Déa presta atenção na mercadoria e segue fazendo o caminho ao contrário do primo. Chegando à casa de Teodorinho, seu primo e irmão de Gêncio, pergunta a jovem Servina o que seu tio havia dito que faria recebendo a resposta de que ele lhe dissera que iria vender as peles a Cícero da Lagoa Seca. Nesse momento a jovem sobrinha de Gêncio tem um sobressalto com o que Zé, irmão de Maria Bonita diz:

“-Tá vendo aquelas peles? Elas são roubadas. São de João de Teixeira, do Riacho e tava no meio das minhas criação e desaparecero!” (LIMA, pg 73, 2011)

Não pensando duas vezes, talvez pela força da inocência, a sobrinha corre atrás do tio e lhe diz que não venda as peles que as mesmas são roubadas. Gêncio fica incrédulo com o que acaba de escutar da sobrinha e lhe pergunta de onde danado ela havia tirado aquilo. A sobrinha Servina lhe diz que fora Zé de Déa quem lhe havia dito.

“- Tio Gêncio! Tio Gêncio! Num venda essas peles não que Zé de Déa disse que era roubadas! (diz a Servina)

- Mais num é possível! Onde é que você ouviu essa história?” (responde Gêncio)(LIMA, 2011)

Gêncio vira uma fera. Com muita raiva dá meia volta e retorna para a casa do irmão, pai de Servina, Teodorinho, para ver se encontrava Zé de Déa para tirar aquela história a limpo. Lá chegando não encontrou seu primo, porém seu irmão já se encontrava em casa. Após contar para ele o que havia dito Zé de Déa, disse que ele, o irmão de Maria Bonita, teria que, vendo as peles, mostrar se eram realmente roubadas.

Havia ali próximo a casa de um amigo chamado Toinho Fabiano, e foi nessa casa que Gêncio resolveu ficar e pedir para o amigo ir chamar Zé de Déa na casa do pai, o senhor Zé Felipe. Teodorinho, conhecendo o temperamento do irmão Gêncio, resolveu chamar mais dois irmãos, “João de Dô e Zé de Dô”, para que, se precisasse esses interviriam na tentativa de apaziguar os ânimos.

O amigo Toinho Fabiano vai à casa de Zé Felipe e chama Zé de Déa, José Gomes de Oliveira, seu filho para que fosse até sua casa dizendo que seu primo Gêncio precisava falar urgentemente com ele. Sabedor do que seria o assunto Zé não se dispôs a ir, porém, sua segunda esposa, Alaíde Marques, o atiça mandando que ele vá ‘resolver o caso’. Zé Gomes já estava na porta da casa quando sua mulher o manda levar uma arma, coisa que o mesmo volta e, pedindo a arma a ela, coloca um revólver na cintura. 

Chegando Zé de Déa à casa de Toninho Fabiano, Gêncio, irado como estava, vai logo perguntando que história seria aquela de que as peles seriam roubadas? Zé de Déa explica, ou tenta explicar, que algumas criações de João Teixeira que estavam junto as suas haviam ‘sumido’.


O pai de Maria Bonita, José Gomes de Oliveira, mais conhecido por Zé Felipe, e também pai de Zé de Déa, chega à casa de Toinho Fabiano acompanhado de outro filho chamado Izaías Gomes nesse momento. Momento em que Gêncio desamarrando o fardo de peles, as espalha, jogando-as aos pés de seu primo Zé de Déa. Gêncio manda que José Gomes verifique as peles e procure dentre elas se se tratava de serem as das criações roubadas. Zé responde que não iria verificar, pois as mesmas não eram suas. Essa resposta de Zé deixou seu primo Gêncio mais irado ainda ao ponto de mandá-lo novamente verificar as peles e já o chamando de covarde. Dessa vez não ocorreu resposta alguma da parte de Zé, então Gêncio saca uma pistola daquelas de ‘dois tiros e uma carreira’ e atira na direção do primo que mesmo tentando esquivar-se do projétil esse penetra em uma de suas coxas.

Apertando novamente o gatilho, Gêncio dispara a outra bala da pistola e acerta o alvo. Só que essa penetra no tórax do velho José Gomes de Oliveira, o velho Zé Felipe. Em seguida atira a arma descarrega para o lado e saca de um facão investindo na direção do outro filho de Zé Felipe, Izaías Gomes.


Zé de Déa refaz-se do susto e, com esforço, consegue colocar-se em pé, saca do revólver e dispara ferindo um dos irmãos de Gêncio, Zé de Dô, acertando-lhe um dos braços. No meio da confusão, o pai de Servina, Teodorinho, outro irmão de Gêncio, tenta saltar para fora da casa e é quando, nesse momento, Zé de Déa aperta o gatilho duas vezes o atingindo e o mesmo ao chegar ao solo já se encontra sem vida.

Zé Felipe, mesmo com um projétil entre as costelas, vendo Gêncio golpeando com o facão seu filho Izaías, que já se encontrava caído no chão dando adeus a vida, mas o ‘velho’ não sabia, parte para cima dele a fim de defender a já perdida vida de sua prole. Entrando no espaço entre o corpo do filho e o agressor, Zé Felipe é ferido novamente. Desta feita o facão de Gêncio acerta a cabeça do pai de Maria Bonita que ao receber o golpe cambaleia e desmorona. Nesse instante, Zé de Déa dispara duas vezes na direção de Gêncio. Estava difícil acertar, pois o outro irmão de Gêncio, João de Dô, o ‘comia’ na folha da ‘viana’, faca peixeira, o ferindo várias vezes. Mesmo assim Zé de Déa conseguiu colocar os dois projéteis no peito de Gêncio que corre para fora da casa, mas logo tomba e cai bastante ferido.


Os lutadores estavam sem condições de se agredirem mais. Alguns estavam mortos, Teodorinho e Izaías, e o restante bastantes feridos, Gêncio e seus outros irmãos Zé e João de Dô assim como Zé de Déa e seu pai Zé Felipe... Nas quebradas do Sertão baiano.

Fonte “A trajetória guerreira de MARIA BONITA – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. 2011.
Foto Ob. Ct.
OBS.: A FOTO DE LAMPIÃO E MARIA BONITA FOI COLORIZADA DIGITALMENTE PELO AMIGO SÉRGIO Sergio Roberto

https://www.facebook.com/groups/545584095605711/


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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