Por Raul Meneleu
O grande
historiador, escritor, conferencista e "contador de causos" Ariano
Suassuna extraiu de sua verve poética, essas belas expressões em homenagem a
esse cangaceiro justiceiro. O grande músico pernambucano Capiba musicou a
letra. Acompanhe na voz de Therezinha do Acordeon:
Meus senhores
que aqui estão
Vou contar meu
dizatino
A canção do
cangaceiro que se chamou Jesuíno
Seu bacamarte
de prata
E o luar do
seu destino
Num gibão
Todo vermelho
Um punhal no
cinturão
Bem montado
num cavalo
Cujo nome é
Zelação
Jesuíno virou
logo, ai, ai, ui, ui
Rei do povo do
Sertão.
Ver a terra
era seu sonho
Nobre terra do
Sertão
Com o povo
repartida
Pelo sol da
partição
E é por isso,
que ele canta
De bacamarte
na mão
Eu tenho um
espelho de cristal
Foi Jesus
Cristo que limpou ele do pó
Mas lá um dia
a terra se alumia
E o meio dia
se espalha a luz do sol.
Mas os ricos
se juntaram
Com o governo
da nação
Lhe botaram
emboscada
E ele morreu a
traição
Mas o povo não
esquece
Sonha com ele
o sertão
E se diz que
ainda hoje
Em qualquer
ocasião
Alguém sofre
uma injustiça
Nos caminhos
do Sertão
Soam tiros do
seu rifle, ai, ai, ui, ui
E o tropel de
zelação
E Jesuíno
brilhante
Volta feito
aparição
Queima do dono
da injustiça
De bacamarte
na mão
Sua voz então
se afasta
Cantando a
mesma canção
Chamava-se
Jesuíno Alves de Melo Calado, nasceu em Patu, Rio Grande do Norte, no ano
de 1844.Fez-se chefe de Cangaço devido a intrigas com a família Limão,
protegida por influentes potentados rurais das províncias do Rio Grande do
Norte e da Paraíba. Seus principais biógrafos são unânimes em reconhecer-lhe o
caráter reto e justiceiro. Agiu no semi-árido paraibano e potiguar, quando a
instituição do escravismo ainda vicejava de forma proeminente, refletindo as
exigências da classe dominante em fazer valer seus interesses em detrimento de
valores humanos. O cangaceiro transformou-se em ´Robin Hood´, intervindo em
prol dos humildes em diversas oportunidades, com ênfase quando da grande seca
de 1877-1879, atacando comboios de víveres enviados pelo governo imperial,
distribuindo-os com famintos e desvalidos dos sertões ermos e
esquecidos. Jesuíno morreu de emboscada no Riacho dos Porcos, em Belém do
Brejo do Cruz, na Paraíba, no final da seca de 1879, atingido por carga de
bacamarte disparada por seu inimigo chamado Preto Limão.
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