Por João Filho de Paula Pessoa
Conta-se que em 1935, o bando de Lampião seguia pelo sertão da Bahia com muita
fome e sede, chegaram à uma fazenda onde se encostaram no alpendre da casa para
descansar e receberam comida e bebida. Três potes grandes de barro que estavam
no alpendre foram abastecidos de água para saciar a sede do bando. Na fazenda
tinha um tocador e logo alguns cangaceiros começaram a dançar xaxado no terreiro
da casa, levantando muita poeira. Lampião sempre caprichoso, cobriu os potes
d´água com panos para proteger a água da poeira, sendo que, toda vez que alguém
se servia da água, nunca devolvia as tampas de pano ao local, deixando os potes
descobertos e pegando poeira.
Em determinado momento Lampião se zangou com
aquilo, foi lá, ajeitou as tampas novamente e reclamou em voz alta com todos e
gritou no rumo de Labareda que estava deitado com sua Mariquinha vizinho aos
potes:
- E esse peste aí deitado, que vê isso e num faz nada?
- Labareda não disse
nada, permaneceu deitado sem responder ao Capitão.
Assim que Lampião saiu e se
distanciou, Labareda se levantou e quebrou os três potes d´água à coronhadas de
mosquetão, deixando só os cacos de barro e a corredeira d´água no chão e voltou
a se deitar com sua Mariquinha.
Logo após chega Zé Baiano morrendo de sede e se
depara com aquela situação e pergunta de forma zangada quem fizera aquilo, e
ouve a voz vinda do lado:
- Fui eu - disse Labareda, deitado.
Zé Baiano o olhou e
nada disse, não brigou e foi reclamar com Lampião que, ao chegar para conferir
os potes quebrados, encontrou Labareda já de pé e perguntou quem tinha quebrado
os potes, respondeu Labareda que tinha sido ele.
Lampião retrucou:
- Você num me
respeita, cabra?
- O tanto que você me respeita - disse Labareda.
Lampião encheu os olhos de sangue, levantou seu rifle e peitou Labareda, que
imediatamente também levanta seu mosquetão e fixaram uma troca de olhares
raivosos, prestes a explodir à qualquer momento.
O clima pesou, o tempo fechou,
a tensão pairou no ar, o nervosismo tomou conta do bando, a desgraça passou a
orbitá-los, tudo numa fração de segundos.
Virgínio, prevendo o pior,
intrometeu-se entre os dois, interceptando os olhares e pedindo calma,
apaziguando os nervos e minimizando o problema, dizendo que eram só potes e que
eles eram companheiros antigos de luta e que já bastavam os “macacos” querendo
lhes matar à todo tempo.
Carrancudos, os dois brabos baixaram a guarda, foram
separados pelo bando, permaneceram fervorosos ainda um tempo, mas no dia
seguinte firmaram a paz novamente e seguiram em frente, Lampião com sua Maria,
Labareda com sua Mariquinha e todos do bando.
João Filho de Paula Pessoa,
Fortaleza/Ce. 09/01/2020.
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