João de Sousa Lima
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João de Sousa Lima
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Por João Filho de Paula Pessoa
Os Conflitos apareceram na vida de Lampião muito cedo, com ele muito jovem, ainda em menoridade experimentou as primeiras escaramuças armadas, ingressou plenamente no Cangaço em 1920, no bando do célebre Sinhô Pereira, que ao abandonar a vida cangaceira em 1922, entregou-lhe seu bando, à sua liderança, e rapidamente Lampião ascendeu ao trono do Cangaço e nele ficou até 1938.
Muitos entraram e saíram do cangaço, muitos morreram, nenhum outro homem durou tanto tempo no cangaço como Lampião, que foi um cangaceiro de corpo, alma e coração. Aderiu ao cangaço voluntariamente e fez nele seu reinado e seu império, em sete Estados Nordestinos. Viveu fantásticas e inusitadas situações, travou lutas, fugas e combates, obteve ganhos e perdas, sentiu alegrias e tristezas, percorreu inúmeros lugares, conheceu muitas pessoas, sertanejos, fazendeiros, coronéis, políticos, religiosos, oficiais de polícia, dentre outros, fez o bem e o mal, experimentou a fome, a sede e a abundância, fez amigos e inimigos, exerceu o poder de vida e morte, obteve muito dinheiro, sofreu perseguições, ganhou proteções, recebeu convites e conselhos para abandonar o cangaço e mudar de vida, mas nunca o fez, permaneceu nele a maior parte de sua vida, por quase vinte anos.
Lampião adotou o Cangaço para si e se tornou seu núcleo, a expressão maior e mais emblemática deste fenômeno, o exerceu de forma onipotente, fazendo-o orbitar em seu entorno, como líder soberano, tornou-se o âmago vital do Cangaço, seu coração e centro de comando, o desenvolveu, lhe deu estilo e características, o levou às manchetes locais, nacionais e internacionais e nele se tornou famoso e inesquecível, amado e odiado.
Lampião viveu o cangaço plenamente, o cangaço foi sua vida e sua morte, quando morreu o Cangaceiro Lampião, também morreu o Cangaço. João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 18/10/2020.
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Clerisvaldo B. Chagas, 20 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.401
Antes da construção da escola Helena Braga, havia uma craibeira centenária no local, testemunha da estrada construída pelo coronel Delmiro Gouveia, ao passar por aquele trecho. A craibeira atual que chama atenção de longe da Avenida Castelo Branco, foi germinada já com a escola funcionando há mais de trinta anos. Descobrimos que foi plantada pelo senhor conhecido como João Boêmio, esposo de professora da própria unidade. Chegamos a planejar uma festa para homenagear seu semeador: placa na árvore com nome popular e científico, corpo discente e docente reunidos, autoridades e cantos para deflagrarmos no dia da árvore. Mas como sempre surgem os imprevistos, a citada escola voltou à pertencer ao município como era antes.
Direção e professores foram designados para outras escolas e até a biblioteca organizada com muito sacrifício e amor, teve seu acervo removido para a Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira. O projeto da homenagem se desfez, tanto para a rainha da flora quanto para quem a plantou. Seria uma surpresa para o senhor João Boêmio e que agora pedimos desculpas pela frustração. Muito rara a lembrança de quem fez o benefício após 30 anos, com a nova geração.
Não sabemos até quando viverá a nossa querida craibeira, ou morrerá de velhice ou vítima de novo machado como foi a sua antecedente centenária. Continuamos agradecendo ao senhor João Boêmio pelo presente que orna o nosso Bairro. Matamos a saudade da escola em horas contemplativas por cima dos quintais.
Craibeira florida ao fundo da imagem. (Foto: B. Chagas).
Uma Carta Produzida por um dos Primeiros Moradores do que Se Tornaria o Bairro do Alecrim Informa Uma Outra Versão Sobre a Sua Toponímia e Quem Teria “Batizado” um dos Mais Tradicionais Bairros de Natal
Rostand Medeiros – IHGRN
Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, antes da existência do que hoje conhecemos como Cemitério Público do Alecrim, as pessoas em Natal eram enterradas na parte interna, ou nas proximidades das igrejas católicas[1]. E isso eram um baita de um problema.
Podemos perceber essa necessidade através do registro de uma sessão da Assembleia Legislativa Provincial, ocorrida em 29 de julho de 1851, quando João Ignácio de Loyola Barros debateu com José Moreira Brandão Castelo Branco se uma verba de 500$000 (quinhentos mil réis) seria destinada para a iluminação pública ou para a construção de um cemitério. Ganhou a iluminação[2].
Quanto ao cemitério público, segundo Câmara Cascudo, somente em 8 de fevereiro de 1856, o Presidente da Província Antônio Bernardo dos Passos fechou um contrato com o mestre Manuel da Costa Reis para a construção de um cemitério pelo valor de 3.400$000 (três contos e quatrocentos mil réis), “na esplanada que fica no caminho das Quintas” [3]. Como podemos perceber o valor aumentou bastante em relação do que se previu gastar com a mesma obra em 1851. E a razão para o aumento dos gastos é bem clara e transparente, pois 1856 foi o ano da cólera[4].
Câmara Cascudo aponta que nesse tempo Natal tinha cerca de 5.000 habitantes, que a capital perdeu 215 vidas e o Rio Grande do Norte pagou o alto preço de 2.563 mortos. O Presidente Passos então proibiu enterros fora do cemitério e João Estevão Barbosa tomou posse como primeiro administrador do Cemitério Público em 11 de abril de 1856 e ganhava 40$000 (quarenta mil réis) por mês. Segundo Câmara Cascudo, diante do poder aquisitivo da moeda vigente no Império do Brasil, aquele valor era uma verdadeira fortuna. Quem sabe se não seria complementado por uma espécie de “adicional de insalubridade”?
Outra ação do Presidente Passos nessa época foi construir um Lazareto para abrigar os doentes pobres. Sobre a importância histórica desse local, um texto acadêmico aponta que “Os primórdios da psiquiatria potiguar se inserem na construção, em 1857, de um hospital Lazareto”[5]. Tudo indica que em 7 de setembro de 1882, o então Presidente da Província Francisco de Gouveia Cunha Barreto ou começou a ampliação desse local, ou derrubou o prédio velho e construiu uma nova edificação, que foi concluída em 1885 e passou a ser denominado de Lazareto da Piedade[6].
Certamente pelo medo de propagação do cólera e de outras doenças a partir dos corpos em decomposição, foi que o Presidente Passos escolheu o local do Cemitério Público em um ponto bem distante da área central de Natal, o que provocou novos problemas. Cascudo comentou que para atenuar essa situação, o Presidente da Província mandou comprar em Recife um carro fúnebre no valor de 750$000 (setecentos e cinquenta mil réis). Entretanto, quase quarenta anos depois do ataque do cólera em Natal, uma nota de jornal transparece como a distância para o Cemitério Público continuou sendo grande para a população local. Em 24 de agosto de 1891 o jovem Manoel Adélio Emerenciano faleceu de causas desconhecidas e foi enterrado no Cemitério do Alecrim. Seu pai, José Idelfonso Emerenciano, mesmo em meio a tragédia da perda do seu filho, fez questão de publicar uma nota agradecendo aqueles que se dignaram a acompanhar o velório até o cemitério[7].
Origem do Nome
Em sua interessante obra História da Cidade do Natal, Câmara Cascudo informou que uma senhora que habitava nas proximidades do cemitério público costumava enfeitar com pequenos ramos de alecrim os ataúdes das crianças que eram ali sepultadas. Não sabemos se essa mulher, conhecida como Velha do Alecrim, realizava essa caridosa tarefa por piedade, ou para pagar alguma promessa. Nem sabemos se sua ação ocorreu na época da epidemia do cólera, ou começou depois. Assim como nada ficou registrado sobre seu nome e sua história pessoal. Mesmo sem maiores referências, essa é a versão mais conhecida para a criação da toponímia do bairro do Alecrim[8].
Já na edição de 4 de agosto de 1948 (pág. 2) do jornal católico natalense A Ordem, encontramos um interessante relato feito por um oficial do Exército Brasileiro ao Monsenhor Paulo Herôncio de Melo (1901 – 1963), sobre os primeiros anos do que hoje é o bairro do Alecrim e um certo elemento, nem um pouco piedoso e caridoso, que supostamente teria batizado o bairro.
Reinaldo F. Lourival nasceu em Natal, sendo um dos dezenove filhos legítimos de Lourival Eduvirges de Mello Açucena (1827 – 1907), o renomado poeta Lourival Açucena[9]. Esse verdadeiro ícone da poesia potiguar teve três mulheres e ainda foi responsável pela vinda ao mundo de outros treze rebentos bastardos, perfazendo trinta e dois filhos no total. Apesar dessa situação, nada incomum em muitas famílias brasileiras na virada dos séculos XIX e XX, Reinaldo cresceu tendo acesso a uma boa qualidade de vida, o que lhe proporcionou entrar no Exército e seguir a carreira militar. Ele fez o curso de oficial na extinta Escola Militar da Província do Rio Grande do Sul[10].
Em 1948 Reinaldo Lourival escreveu para o Monsenhor Paulo Herôncio comentando que retornou do Rio Grande do Sul em abril de 1892, passando a residir na Rua Padre Pinto, antiga Rua do Fogo. Depois comprou um terreno que ficava além da região do Baldo, próximo da atual Praça Pedro II, onde construiu uma casa. Depois, na mesma área, edificou uma vivenda para sua mãe Dona Flora Clarindo de Vasconcelos Lourival, a segunda esposa de Lourival Açucena. Ele informou que naqueles primeiros momentos do Alecrim, afora algumas poucas casas ao redor do seu terreno, do cemitério e do lazareto, ou de algum rancho mais afastado, o resto era basicamente mato.
Câmara Cascudo faz eco ao texto de Reinaldo Lourival, apontando que antes de 1892 a região era ainda mais desabitada, onde comentou que “Raríssimas pessoas habitavam o descampado. Era terra de roçados de mandioca e de milho, zona de caçada para os morros. Umas quatro casinhas de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas capuabas, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada”. Já em relação aos moradores da região onde atualmente se localiza a Praça Pedro II, Cascudo comentou que essa praça “teve as honras das iniciais filas de casas”. Ele apontou que entre os primeiros moradores que ali viviam estava Flora Lourival, mãe do militar Reinaldo Lourival[11].
Voltando ao texto produzido pelo militar em 1948, Reinaldo informou que batizou a área onde morava como “Alto da Santa Cruz”. Segundo ele a aprovação desse nome contou com o apoio de ninguém menos que o Padre João Maria Cavalcanti de Brito. E o bondoso e caridoso padre teria lhe dito que “Coloque lá uma cruz, que é o símbolo do Cristianismo”. Se o militar chantou essa cruz, eu não descobri.
Tempos depois, por volta de fevereiro ou março de 1895, um cidadão chamado Manuel dos Prazeres vendeu sua residência, que ficava após o cemitério e o lazareto. O comprador foi um negro conhecido Manuel Peregrino, que foi escravo de um rico comerciante chamado Joaquim Inácio Pereira. Após a sua libertação Peregrino, tido como “pândego”, montou uma “pensão” em uma antiga artéria de Natal chamada Rua do Morcego (anteriormente conhecida como Rua do Sebo) [12]. Um ambiente que, segundo Reinaldo, promovia bailes e batuques e a “gente do meretrício e do álcool” circulava tranquilamente. Sempre tarde da noite era servido pelo proprietário uma suculenta Panelada e uma ótima Mão de vaca, para levantar a moral e o espírito dos frequentadores, tidos pelo autor como uma “baixa e temível freguesia”.
Ocorre que o negócio de Peregrino estava perturbando a vizinhança da Rua do Morcego e o ex-escravo foi devidamente “convidado” a se retirar do setor pelas autoridades. Consta que ele pagou um bom dinheiro pela sua nova casa, mas o problema é que Manuel Peregrino levou para a região próxima do “Alto da Santa Cruz”, do cemitério e do lazareto o seu ganha pão, seu batuque, sua clientela, sua Panelada e a Mão de vaca.
Não demorou e começaram o que o militar classificou de “orgia e desordem”. Um dia o filho de Lourival Açucena testemunhou Peregrino atacar violentamente um ex-escravo do coronel Bonifácio Câmara a cacetadas. O fato ocorreu no meio da rua e na frente de todos, sem ter sido divulgada a razão do ataque[13].
Reinaldo Lourival informou na carta publicada no jornal A Ordem que foi o próprio Manuel Peregrino que lhe confessou em uma ocasião que “batizou de Alecrim o novo bairro” e que isso ocorreu “de parceria com seus convivas, sentindo talvez o cheiro da planta aromática, que certamente em casa tinha”. O militar apontou que Peregrino fez isso “talvez ignorando o que eu tinha proposto”, que foi chamar a região de “Alto da Santa Cruz”, com a anuência do Padre João Maria.
Apesar do Relato Interessante, Seria Essa História Verdadeira?
Será que Manuel Peregrino, por talvez possuir ramos da popular planta aromática no seu negócio, decidiu junto com sua a sua gente bem destrambelhada chamar de “Alecrim” a área onde estava a sua dita “pensão”?
Realmente a única referência sobre essa versão de onde surgiu o nome Alecrim para o bairro, é a carta desse militar ao Monsenhor Paulo Herôncio e publicada na edição de 4 de agosto de 1948 (pág. 2) do jornal católico natalense A Ordem.
Parece não haver dúvidas que a planta alecrim (Salvia rosmarinus) era uma planta abundante e popular na capital potiguar. Encontramos inúmeras citações do seu uso entre os moradores de Natal nos jornais do final do século XIX. Certamente ela proliferava desde a região onde hoje se encontra a Praça Pedro II, até o Cemitério Público e o setor onde foi construído o antigo Lazareto da Piedade. Quem sabe se bem antes de existir o cemitério e a Velha do Alecrim com a sua caridosa ação, ou o “pensão” onde Manuel Peregrino vendia sua Panelada e a Mão de vaca, de alguma forma toda aquela região já era conhecida pelo nome da popular planta que ali proliferava?
Realmente eu não sei!
O que sei é que a história das cidades e de seus bairros é algo extremante dinâmico e interessante, cuja existência segue adiante independente de meras questões toponímicas.
Já nos primeiros anos do século XX existem várias referências sobre uma área, aparentemente um logradouro não oficial, denominado “Rua Alecrim”, cuja localização era “alguns passos além do campo santo”.
Essa referência encontramos na edição do jornal natalense A República, de 30 de julho 1902 (pág. 1), que afirmava ser a dita “Rua Alecrim” um dos locais perigosos de Natal. Um setor onde “a língua, as armas e a cachaça estão elevadas ao último grau”. Inclusive essa nota informava sobre o caso de um homem chamado Belarmino Bezerra Borges, que tinha sua horta composta de jerimuns, quiabos, macaxeiras, feijão de corda e outros legumes, sendo continuamente roubada e destruída por um certo Francisco de Oliveira, que acabou preso.
Outras referências deixam claro que a área no entorno da “Rua do Alecrim” era realmente “quente”. Poucos meses antes do roubo a Belarmino Bezerra Borges, encontramos a designação de José Pereira Neves como “Inspector de Quarteirão” da “Rua Alecrim” e da “Travessa Barro Vermelho, conforme está descrito na edição de 4 de fevereiro de 1902 (pág. 4) de A República,[14].
Apesar dos problemas envolvendo violências nessa área da capital potiguar, encontramos um indicativo de crescimento habitacional na região da “Rua Alecrim”. Ainda em 1902 foi publicado um convite feito por Godofredo Xavier da Silva Brito, Presidente da 1ª Seção de Alistamento Eleitoral, conclamando as pessoas que habitavam nas localidades “Pirangí”, “Ponta Negra”, “Quintas”, “Réfoles” e “Rua Alecrim”, para comparecerem na sede da Intendência Municipal e se registrarem como eleitores. Vale recordar que nessa época nem mulheres e analfabetos eram aceitos como eleitores e a fraude era uma constante nas votações. Já o que se chamava de Intendência Municipal, ou simplesmente Intendência, é algo que hoje denominamos como Prefeitura[15].
Logo a designação “Alecrim” começou a aparecer também em documentação oficial do Governo do Estado. Na página quatro do relatório da diretoria do Hospital de Caridade, entregue ao governador Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão e anexado a sua mensagem ao Congresso Legislativo do Estado de 1904, o futuro bairro aparece como “Alto do Alecrim”.
E parece que a área foi crescendo, se ramificando e parindo outros logradouros com a denominação “Alecrim”. Em 1907 o Sr. Lucio Ferreira do Nascimento requereu na Intendência Municipal de Natal o aforamento de um terreno de sua propriedade na área da Praça Pedro Américo[16]. Nessa nota essa praça é também referenciada como “antiga do Alecrim”[17].
Essa região, considerada periférica na época, continuou crescendo e em 23 de outubro de 1911, através da Resolução número 151, promulgada pela Intendência Municipal de Natal, é criado o bairro do Alecrim, o quarto bairro da cidade do Natal.
NOTAS
[1] Sobre a história do Cemitério do Alecrim ver Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal-RN. IHGRN, 3ª Ed., págs. 263 a 266, 1999.
[2] O tribuno Loyola torcia que a verba se destinasse a iluminação e Brandão pelo cemitério. Apesar da Lei 225 ter sido promulgada em 9 de agosto de 1851, com a devida autorização para a compra de quinze lampiões que utilizavam azeite, ela não foi cumprida. Natal só veio a ter seu primeiro sistema de iluminação pública em 1859. Ver Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal-RN. IHGRN, 3ª Ed., págs. 299 e 300, 1999.
[3] Sobre esses interessantes debates ocorridos na Assembleia Legislativa Provincial, ver o jornal Argos Natalense, Natal-RN, ed. 07/09/1851, pág. 2 e a edição de 20/09/1851, na pág. 4.
[4] Nesse mesmo ano de 1856 o Presidente Passos ergueu o Hospital da Caridade. Esse hospital ficava localizado na rua que ficou conhecida como Caridade e hoje se chama Presidente Passos, na Cidade Alta. Ver Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal-RN. IHGRN, 3ª Ed., pág. 206, 1999.
[5] Reforma psiquiátrica em Natal-RN: evolução histórica e os desafios da assistência de enfermagem. Autores – Fernando de Souza Silva, Clélia Albino Simpson e Rita de Cássia Dantas. Publicado originalmente na SMAD, Revista Eletrônica de Saúde Mental, Álcoo e Drogas.(ED. Port.) vol.10no.2 Ribeirão Preto-SP ago. 2014.
[6] Segundo placa comemorativa ao centenário do prédio, onde hoje funciona o CEI Leste II, localizado no Alecrim, em 1921 o antigo Lazareto da Piedade se transformou no Hospital dos Alienados, depois foi construído no local o Centro de Saúde do Alecrim e hoje é o Centro de Saúde Reprodutiva Prof. Leide Morais, na Rua Fonseca e Silva.
[7] O carro fúnebre foi adquirido ainda em 1856. Sobre a nota publicada por José Idelfonso Emerenciano, ver o jornal O Santelmo, Natal-RN, ed. 06/09/1891, 1ª pág.
[8] Ver Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal-RN. IHGRN, 3ª Ed., pág. 356, 1999.
[9] Foi Luís da Câmara Cascudo, com a ajuda de Joaquim Lourival, filho do poeta, que recolheu o que foi possível de seus poemas, publicando um volume em 1927. Este filho do bardo foi igualmente uma figura muito conhecido na capital potiguar, sendo proprietário de uma escola particular e chamado por todos de “Professor Panqueca”. Mais sobre a vida de Lourival Açucena ver https://tokdehistoria.com.br/2017/09/09/lourival-acucena-o-grande-artista-de-natal/
[10] Entre os filhos de Lourival Açucena ao menos três deles seguiram a carreira militar no Exército. Foi o caso do coronel Reinaldo F. Lourival, que anos depois do episódio aqui comentado passou a residir no Rio de Janeiro, e do major Pedro Lourival, que passou a residir em Pelotas, Rio Grande do Sul. Já o cadete Carlos Lourival, outro filho de Lourival Açucena, morreu com 21 anos em decorrência do “uso imoderado de morfina”. Este jovem nascido em Natal era fruto do segundo casamento do poeta, morava em São Paulo e estava lotado no 10° Regimento de Cavalaria, onde faleceu na madrugada de 4 para 5 de julho de 1889. Ver https://tokdehistoria.com.br/2017/09/09/lourival-acucena-o-grande-artista-de-natal/
[11] Ver Cascudo, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal-RN. IHGRN, 3ª Ed., pág. 355 e 356, 1999.
[12] Não consegui descobrir onde se localizava essa antiga artéria natalense.
[13] Alguém pode estranhar que Reinaldo F. Lourival, um oficial do Exército Brasileiro durante a Primeira República, uma época onde os militares detinham muito poder político em meio a sérias crises institucionais no Brasil, tenha aceitado a existência desse tipo de “ambiente” em uma área não muito distante da sua casa e a da residência de sua mãe. Entretanto, apesar de todo movimento, parece que nem o militar e nem sua família se sentiram atingidos pelo o que ocorria no lugar de trabalho de Manuel Peregrino, pois em seu longo relato não encontrei a menor referência desse militar utilizar a polícia contra esse lugar. Ainda segundo o texto publicado no jornal natalense A Ordem, na edição de 4 de agosto de 1948 (pág. 2), nessa época Reinaldo F. Lourival estava aposentado no posto de coronel e vivia no Rio de Janeiro. Por essa época morava em Natal um filho seu chamado Mauro, que havia estado na Itália, como 1º tenente-médico e integrante do contingente da Força Expedicionária Brasileira – FEB.
[14] Um “Inspector de Quarteirão” era uma pessoa designada, sem remuneração, como auxiliar do delegado municipal. Ficavam encarregados do policiamento em locais normalmente mais afastados dos centros urbanos, onde cabia-lhes lidar com situações diversas, sendo responsáveis pela solução de problemas localizados em seus setores, ou realizar o encaminhamento dos envolvidos para as Delegacias de Polícia. Segundo o historiador Anderson Szeuczuk, em um artigo publicado na Revista Saber Acadêmico (edição nº 28, dezembro de 2019) da Faculdade Presidente Prudente, informa que os quarteirões designados ao seus respectivos inspetores deveriam normalmente ter no mínimo 25 casas, o que poderia indicar um número relativo aos primeiros habitantes do bairro do Alecrim.
[15] Ver jornal A República, Natal-RN, ed. 23/04/1902, pág. 2.
[16] A antiga Praça Pedro Américo é chamada nos dias atuais de Praça Pedro II.
[17] Ver jornal A República, Natal-RN, 23/01/1907, 1ª pág.
https://tokdehistoria.com.br/2020/10/16/24939/
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Rostand Medeiros – IHGRN
No início de 1944, em meio a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Natal se encontrava muito agitada com a presença de milhares de uniformes nas ruas, o intenso contato com os estrangeiros, a movimentação de aeronaves pousando e decolando das bases da Rampa e de Parnamirim Field, além das notícias nos jornais locais dos acontecimentos da guerra pelo mundo afora. Foi quando a comunidade foi surpreendida com a notícia que o cantor Nelson Gonçalves viria se apresentar em breve na capital potiguar.
Nessa época Nelson Gonçalves, gaúcho da cidade de Santana do Livramento, cujo nome verdadeiro era Antônio Gonçalves Sobral, despontava com bastante intensidade nos palcos do Rio de Janeiro como cantor. Ele havia gravado em outubro de 1941 a sua primeira música, uma valsa intitulada “Se eu pudesse um dia”, e nessa época tentava chamar atenção nos programas de calouros que eram transmitidos nas rádios cariocas, enquanto sobrevivia cantando em bares do Rio.
Em dois anos a situação mudou e Nelson Gonçalves se tornou o “crooner” do badalado cassino do Hotel Copacabana Palace, para depois ser contratado como atração fixa da Rádio Mayrink Veiga, uma das mais importantes do Brasil no período.
Quando 1944 se iniciou o cantor fechou uma parceria com a Cruz Vermelha Brasileira para cantar para as tropas nacionais e estrangeiras que estavam estacionadas no Nordeste. Uma multinacional americana de bebidas decidiu apoiar o projeto, era a Ashley’s do Brasil, cuja sede em nosso país ficava em Recife e fabricava conhaque e gim[1].
Improvisando Com Um Sargento da US Army e Cantando Para Os Recrutas Brasileiros
Nelson chegou ao Recife no dia 12 de janeiro de 1944 em um DC-3 da empresa NAB – Navegação Aérea Brasileira. No outro dia, às cinco da tarde, o cantor foi homenageado por jornalistas e empresários locais com um coquetel no tradicional Grande Hotel de Recife. O convescote deve ter sido bem animado, bem regado a bebidas e a boa conversa, pois lá pras tantas Nelson decidiu cantar para os presentes de forma improvisada os seus sucessos mais recentes e músicas de sua autoria, que iria apresentar no carnaval de 1944, como “Quase louco”, “Olhos negros” e “Ela me beijou”.
O interessante da apresentação, conforme está descrito nos jornais recifenses, foi que um sargento do Exército dos Estados Unidos (US Army) que se encontrava no Grande Hotel, se ofereceu para tocar o piano e acompanhar o cantor brasileiro. O desconhecido militar foi elogiado pelo feito[2].
Na sexta-feira, 14 de janeiro, Nelson Gonçalves seguiu para o Campo de Instrução de Aldeia, uma área sob o comando do general de divisão Newton de Andrade Cavalcanti, comandante da 7ª Região Militar, em substituição ao General Mascarenhas de Morais, que em breve estaria na Itália comandando a Força Expedicionária Brasileira.
Os soldados do Centro de Instrução de Aldeia foram liberados para convidar parentes e amigos e o espetáculo teve início às quatro da tarde. Antes de Nelson Gonçalves cantar, se apresentaram vários artistas da Rádio Club de Pernambuco, que tinha o prefixo P.R.A. 8 e era uma emissora que tinha uma grande audiência em todo norte e nordeste do Brasil. Subiu ao palco os cantores Vicente Cunha, Maria Celeste e Maria Parísio, conhecida como “Rouxinol da PRA-8”, além do grupo Demônios do Ritmo. Mas a grande atração foi Nelson Gonçalves, que subiu ao palco, cantou com seu vozeirão característico e agradou a todos[3].
No Hospital Americano da Praia
Nelson ainda se apresentou para a sociedade recifense no tradicional Teatro Santa Isabel e realizou uma apresentação no hospital da Marinha dos Estados Unidos em Recife[4].
Esse hospital era bem movimentado devido a quantidade de navios da Marinha dos Estados Unidos que circulavam pelo porto de Recife, sendo considerado uma das instalações mais importantes para os militares da marinha americana em operação no Atlântico Sul, tendo recebido seu primeiro paciente em 19 de dezembro de 1942. Era conhecido como Knox Field Hospital e para alguns autores ficava localizado defronte a praia de Boa Viagem, para outros já seria na região da praia de Piedade. Consta que entre os atendimentos mais comuns estava o tratamento e controle das doenças sexualmente transmissíveis[5].
É possível que nessa apresentação de Nelson Gonçalves tenham vindo até outros militares americanos lotados na região. Pois alguns quilômetros ao sul do ponto onde estava o Knox Field Hospital, também defronte a praia, ficava o centro de atendimento hospitalar dos militares do Exército dos Estados Unidos, denominado na época 200th Station Hospital, atual HARF – Hospital de Aeronáutica de Recife e não muito distante a Base Aérea de Recife[6].
Como eram comuns nessa época, devido a censura existente pela situação de guerra, poucas foram as notícias que informaram sobre essa apresentação.
Sabemos que Nelson Gonçalves também se apresentou em João Pessoa, Paraíba, mas sobre essas apresentações não conseguimos nenhuma informação.
Em Natal
Após a passagem por João Pessoa, o cantor da Rádio Mayrink Veiga, apresentado em Natal como “O Rei do Rádio”, chegou à cidade no dia 4 de fevereiro, uma sexta-feira. Junto com Nelson vieram as cantoras Maria Parísio, o “Rouxinol da PRA-8”, e Yvete Porto. Esta última foi apresentada pelos jornais natalenses como sendo uma “Sambista moderna”.
Nas noites de sábado e domingo esses artistas se apresentaram no extinto cinema Rex, localizado na Avenida Rio Branco, próximo a esquina com a Rua João Pessoa, não muito distante de um ponto de venda de cafés pertencente ao Sr. Francisco das Chagas Andrade e conhecido por todos os natalenses com “Grande Ponto”.
Nelson cantou “Marilú”, de Orlando Monello e Antônio Elias, e “Renúncia”, de Mário Rossi e Roberto Martins, sucessos de 1942. Além de “Sabiá da mangueira”, de Benedicto Lacerda e Eratóstenes Frazão, e “Mãe Maria”, de Custódio Mesquita e David Nasser. O vozeirão de Nelson deleitou a todos no Rex com músicas, ao ponto dos jornais locais não tecerem nenhum comentário sobre as apresentações das cantoras Maria Parísio e Yvete Porto.
Como o Rex era um dos principais cinemas da cidade, sabemos que após os dois shows o público presente foi contemplado com a exibição do filme “A noiva caiu do céu”, com os astros James Cagney e Batty Davis[7].
A princípio essas eram as únicas apresentações agendadas de Nelson Gonçalves em Natal. Mas o comitê da Cruz Vermelha Brasileira local, comandado pelo capitão Aníbal Medina de Azevedo e seu vice, o médico militar Galdino Lima, o secretário geral Edilson Varela e o jovem Aluízio Alves, então diretor da Comissão Estadual Legião Brasileira de Assistência. Eles solicitaram que Nelson realizasse no domingo um show no Teatro Alberto Maranhão, exclusivamente para os militares brasileiros e estrangeiros estacionados em Natal. O show contava com o apoio e aquiescência dos chefes militares e o cantor aceitou.
No Teatro Alberto Maranhão
O show ocorreu as 14 horas, sendo exclusivo para militares brasileiros e norte-americanos e, segundo o jornal A República, os militares brasileiros e norte-americanos “de ar, mar e terra” estiveram presentes e a tradicional casa de espetáculos da Praça Augusto Severo estava lotada. Estava presente o comandante da guarnição dos militares brasileiros em Natal, o coronel Nilo Horácio de Oliveira Sucupira[8].
Quem subiu ao palco foi Aluízio Alves, certamente para agradecimentos de praxe, ou talvez já se preparando para os mitos palanques que utilizaria no futuro.
O show contou com a participação das cantoras Maria Parísio e Yvete Porto, a apresentação foi do locutor Josué Silva, da Rádio Educadora de Natal – REN, e houve o acompanhamento do pianista local Pedro Duarte.
Mesmo sem detalhamentos, o jornal natalense aponta que principalmente Nelson Gonçalves e Maria Parísio apresentaram várias canções, sendo “vivamente aplaudidos”.
Não encontrei a mínima opinião dos militares estrangeiros sobre o espetáculo. Mas após o show Nelson e as cantoras que vieram com ele de Recife, foram convidados a visitar naquele mesmo domingo a base de Parnamirim Field. Foi apenas uma visita de cortesia, ou os cantores brasileiros foram convidados para uma pequena apresentação no Cassino dos Oficiais da base?
Infelizmente não sabemos, mas se assim aconteceu pode ser uma demonstração que os estrangeiros gostaram do que viram e ouviram, o que não seria surpresa, pois Nelson Gonçalves se tornou um dos principais expoentes da Música Popular Brasileira.
NOTAS
[1] Sobre essa empresa ver Jornal Pequeno, Recife-PE, ed. 22/11/1943, domingo, pág. 6.
[2] Ver Diário de Pernambuco, Recife-PE, ed. 12/01/1944, quinta-feira, pág. 5 e Jornal Pequeno, Recife-PE, ed. 13/01/1944, sexta-feira, pág 2.
[3] Segundo o pesquisador Alberto Bittencourt, o conceito do Campo de Instrução Militar foi inspirado no mesmo modelo que criou os fortes americanos, particularmente o Fort Benning. Em palestra intitulada “A FEB e o Campo de Instrução do Engenho Aldeia”.[3] Bittencourt informou que em 1943, a ideia do general Newton com relação ao Campo de Instrução de Aldeia era “construir um local adequado para instrução e treinamento da tropa nordestina, capacitando-a a combater quem quer que fosse e no local a ela designado. O pesquisador recordou que “A ideia original da FEB era o Brasil enviar para além-mar, um Corpo de Exército completo, com três Divisões de Infantaria, blindados e serviços, embora a realidade, bem o sabemos, tenha sido outra. Essa 3ª Divisão de Infantaria Expedicionária, que seria preparada e treinada no campo de instrução do antigo Engenho Aldeia, não chegou a sair do papel. Provavelmente essa 3ª Divisão Nordestina, seria comandada pelo seu criador, o general Newton Cavalcanti”. Mais detalhes sobre essa palestra e a história do antigo Centro de Instrução de Aldeia, ver http://albertobittencourt.blogspot.com/2013/10/a-feb-e-o-campo-de-instrucao-do-engenho_29.html
[4] Ver O Jornal, Rio de Janeiro-RJ, edição de sábado, 29/01/1944, pág. 06.
[5] Ver https://www.ibiblio.org/hyperwar/USN/Admin-Hist/146-SouthAtlantic/146-SoLant-Chron.html
[6] Sobre o HARF – Hospital de Aeronáutica de Recife ver na página 23 do livro “Entre saberes e cultura, a arte de curar na Força Aérea Brasileira”, de Elaine Gonçalves da Costa Pereira, Ed. INCAER, 2019.
[7] Ver jornal A República, edição de sábado, 05/02/1944, pág. 4.
[8] Ver jornal A República, edição de domingo, 06/02/1944, pág. 8.
https://tokdehistoria.com.br/2020/10/19/1944-nelson-goncalves-canta-para-as-tropas-brasileiras-e-norte-americanas-no-nordeste/
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