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segunda-feira, 25 de março de 2013

O Dia em que o cangaço chorou


Por: Inácio Loiola

28 de julho de 1938. Madrugada fria de uma quinta-feira do inverno nordestino que entraria para a história. Há exatamente 74 anos, os cangaceiros Colchete, Marcela, Quinta-Feira, Luiz Pedro, Mergulhão, Elétrico, Alecrim, Moeda, Enedina, Maria Bonita, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, tombam ao barulho ensurdecedor das espingardas escopetas no solo árido da Grota de Angicos, no município de Poço Redondo (SE).

A morte de Lampião e seu bando, embora tenha ocorrido no Estado sergipano, fora planejada e articulada em Alagoas, no governo de Osman Loureiro, que não dava trégua aos cangaceiros. O governador alagoano colocou como ponto de honra a captura desses homens que procuravam fazer justiça com as próprias mãos e aterrorizavam a população do Sertão.

Depois de anos de perseguição, o cerco a Lampião aumentava até que as volantes sob o comando do tenente João Bezerra, aspirante Francisco Ferreira e sargento Aniceto Rodrigues conseguiram o êxito de descobrir o coito (local), onde os cangaceiros se refugiavam para descanso. Quem deu a dica do lugar que ficava às margens do Rio São Francisco, em território sergipano, fora os coiteiros, irmãos Pedro e Durval de Candido, que residiam em Piranhas, na vila Entremontes. Fizeram isso sob a pressão dos policiais.

Alcino Alves Costa e Inacio Loiola

O planejamento de chegar até à Grota de Angicos e surpreender os cangaceiros ocorrera na noite anterior ainda em Alagoas. Detalhado o plano, o passo seguinte fora atravessar o São Francisco de canoa no embalo da correnteza e embrenhar-se na Caatinga. Maria Bonita, ao levantar, fora uma das primeiras a ser atingida pelos tiros. Ela, Lampião e mais nove morreram no local, do total de 36. Os demais se evadiram. Do lado das volantes, morreu o soldado Adrião.

Cessado o fogo, os soldados cometeram a atrocidade de cortar as cabeças dos cangaceiros e levá-las a Piranhas. O município serviu de palco para a exposição das cabeças dos cangaceiros que ainda percorreu algumas cidades sertanejas até serem levadas para o Instituto de Medicina Legal Nina Rodrigues, em Salvador.

A morte do cangaceiro Corisco, que pertencia ao bando de Lampião e liderava um grupo, em Miguel Calmom, na Bahia, em 25 de maio de 1940, em combate com a volante do tenente Zé Rufino marca o fim do cangaço no Nordeste, mas o cangaço entra para a história do Brasil, com Lampião, o mais famoso cangaceiro, que era oriundo de Vila Bela, hoje cidade de Serra Talhada (PE).

Inácio Loiola
Pesquisador do Cangaço
Ex-Prefeito de Piranhas, Deputado Estadual

http://cariricangaco.blogspot.com

TRIO MOSSORÓ

Por: Lúcia Rocha

Esse é o Trio Mossoró, que fez muito sucesso na região Sudeste e em todo o Nordeste de 1962 a 1972, baseados no Rio de Janeiro, para onde migraram no início da década de 60, em busca do sucesso. 


Em 1965, gravaram pioneiramente CARCARÁ, de autoria de João do Vale, e venceram o Prêmio Euterpe, o maior da música popular brasileira. Anos depois, essa música lançaria Maria Bethânia como cantora. Pois bem, estamos eu e o professor 


Almir Nogueira da Costa , em processo de finalização da biografia de Oseas Carlos André , líder do Trio Mossoró e irmão de João Mossoró e Hermelinda, que formaram o trio, ainda hoje executado em emissoras de rádio. 

Se você conhece alguém que possa colaborar com esta obra ou você mesmo, estamos no aguardo, especialmente em relação a material fotográfico, depoimentos, recortes de jornais da época, enfim. Desde já, somos gratos. 

Nas fotos, o Trio Mossoró posando para divulgação no Rio de Janeiro, em meados da década de 1960 e no reencontro em Mossoró, em 2009. Se você compartilhar, já está colaborando com o livro. Obrigada.


Fonte:
Facebook - página da autora
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CENTENÁRIO DE DIX-HUIT ROSADO

Por: Lúcia Rocha

No dia 21 de maio de 1912, há cem anos, nascia em Mossoró, Rio Grande do Norte, Jerônimo Dix-huit Rosado Maia, filho do paraibano de Pombal, Jerônimo Ribeiro Rosado, casado em segundas núpcias com a conterrânea, Isaura Rosado Maia, irmã da primeira esposa, Maria Amélia Henriques Maia, de quem enviuvara.  Jerônimo era filho de um português de Coimbra, Jerônimo Ribeiro Rosado, que residia há muito tempo em Pombal. Formado em Farmácia, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Jerônimo Rosado, ou seu Rosado, como era tratado em Mossoró, migrou para esta cidade, em 1890, à convite de um médico, com quem se associara para abrir a Farmácia Rosado. Seu Rosado registrou seus filhos e filhas com nomes esquisitos, o que já rendeu a participação de alguns de seus descendentes no Domingão do Faustão. Seu biógrafo, Luís da Câmara Cascudo conta no livro lançado em 1967,Jerônimo Rosado – Uma Ação Brasileira na Província que, seguindo a tradição portuguesa de registrar o primeiro filho com o nome do pai, o primogênito chamava-se Jerônimo Rosado Filho, o Rosadinho. O segundo filho, Laurentino, herdou o nome do avô materno, viveu apenas onze meses, porém com o nascimento do terceiro filho, Tércio Rosado Maia, seu Rosado iniciaria a numeração dos filhos. “Daí em diante, com surpresa admirada e permanente, a série obedece a assinalação numérica, única no Brasil no plano da onomástica”, registra Cascudo.     
       

Portanto, nosso homenageado, Dix-huit, em francês significa dezoito, era o décimo oitavo filho de seu Rosado, mas havia outros filhos registrados em latim. Conheci, por exemplo, Oitava, Treizième, Dix-huit, Dix-neuf, Vingt e Vingt-un. O primeiro filho, Rosadinho, médico, faleceu jovem, aos trinta anos de idade, deixando três filhos, um deles, Lahyre Rosado, formado em Farmácia, primeiro neto e criado por seu Rosado. Doutor Lahyre, conheci bem, pai da amiga e colega na faculdade de jornalismo, Ilná Rosado. Seu Rosado era bastante envolvido com o desenvolvimento de Mossoró, lutou especialmente pela água e transporte ferroviário, chegou a intendente do município e faleceu em 1930, deixando o caçula, Vingt-un, com apenas nove anos de idade.  Câmara Cascudo conta que as primeiras pessoas do sexo feminino a trabalhar no comércio da cidade foram as filhas de seu Rosado, atendendo no balcão da farmácia, como Sétima e Onzième. Os homens cuidavam especialmente de uma pedreira que ele havia adquirido numa localidade próximo a Mossoró, em São Sebastião, hoje município de Governador Dix-sept Rosado, em homenagem ao décimo sétimo filho, que assumiu o cargo de governador do Rio Grande do Norte, em 1951. Conta Cascudo, que a extração de gesso inspirou os filhos de seu Rosado, ao ponto em que “...Dix-huit, ainda menino procurou o pai para informá-lo que não mais pretendia estudar. Ao que seu Rosado indagou: “E você, o que vai ser?”. “Tirador de gesso”, respondeu, convencidíssimo da vocação. O pai mandou fazer um macacão, vestimenta azul, folgada e confortável, com o dístico nas costas, Tirador de Gesso, anunciando que na próxima semana o jovem operário estaria de picareta e pá às margens do riacho do Tapuio, escavando gipsita. Dix-huit desistiu. Seria médico eminente, duas vezes deputado federal, senador da república”, registra Cascudo na biografia de seu Rosado.
         
Dix-huit ficou órfão do pai aos dezoito anos de idade, estudara em Recife, formando-se na Faculdade de Medicina da Bahia, turma de 1935, aos 23 anos de idade. Ainda sobre Dix-huit, dona Marieta Lima, artista plástica da cidade, que em janeiro de 2012 comemorou cem anos de idade, contou no programa Mossoró de Todos os Tempos que teve um breve romance com Dix-huit, quando meninotes. Ambos tinham menos de quinze anos de idade e que ele, Dix-huit, ainda andava de calças curtas, morava na Rua 30 de Setembro, e se encontravam às escondidas, na Praça da Redenção.

 A POLÍTICA

Tenente-Coronel e Chefe de Saúde da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Dix-huit foi o primeiro dos herdeiros de seu Rosado a ingressar na política, em 1945, como deputado estadual, período em que Dix-sept foi eleito prefeito de Mossoró. Dix-huit ainda exerceu dois mandatos de deputado federal, em 1950 e 1954. Eleito senador em 1958, exerceu o mandato de 1959 a 1966, oportunidade em que visitou alguns países de regime comunista, em missão oficial, incluindo a China, de Mao Tse Tung. Ainda na década de sessenta, Dix-huit foi nomeado pelo Presidente Costa e Silva para ocupar a presidência do INDA – Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário - período em que implantou em sua terra natal a ESAM – Escola Superior de Agronomia de Mossoró – com o curso de Engenharia Agronômica, hoje UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi Árido - que oferece diversos cursos, além de Agronomia, Medicina Veterinária, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Pesca e tantos outros. Eleito prefeito de Mossoró em três mandatos – 1972, 1982 e 1992 – Dix-huit Rosado deixou a marca de ter sido o melhor prefeito de todos os tempos.

Neste vídeo, Dix-huit Rosado, então presidente do INDA, recebe em Mossoró, o Presidente do Brasil, Marechal Costa e Silva, que inaugura poço artesiano, a Faculdade de Ciências Econômicas e a ESAM, em 1967.



Como empresário do ramo de comunicação e entretenimento, entregou a Mossoró em 1955, a Emissora de Rádio Tapuyo e o Cine Teatro Cid, um prédio imponente no centro da cidade, hoje Teatro Lauro Monte Filho, pertencente ao governo do estado.
       
Sobrevivente de um acidente aéreo em 1947, no qual faleceu o piloto, Dix-huit teve a sorte que faltou ao irmão, então governador Dix-sept Rosado, morto em acidente aéreo quando se deslocava ao Rio de Janeiro, então capital federal, em 1951, aos quarenta anos de idade, com apenas seis meses de mandato. Dix-sept é pai do ex-deputado estadual, Carlos Augusto, marido da atual governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado.

Revista produzida para a comemoração

Na noite de 12 de maio de 2012, um sábado, a Prefeitura Municipal de Mossoró brindou a cidade com um grande evento em comemoração ao centenário de Dix-huit Rosado, no Memorial da Resistência, que contou com a presença de toda a família do homenageado, que veio do Rio de Janeiro, como os filhos Mário e Naide Rosado, além de convidados do estado. Na ocasião, foi distribuída a revista 100 Anos de Dix-huit Rosado, editada pelos jornalistas César Santos, Edilson Damasceno, Julierme Torres, José de Paiva Rebouças; diagramação de Augusto Paiva e revisão de Stella Sâmia, tendo como curador da homenagem, o ex-chefe de gabinete de Dix-huit Rosado, Sebastião Almeida.

Dix-huit Rosado pertencia a uma geração de políticos que chegava junto ao povo, no homem comum, ou seja, era acessível, não andava com assessores e secretários, apenas com o motorista. Ele mesmo visitava obras, acompanhando reformas, por exemplo. Por diversas vezes presenciei-o chegando na Cobal, hoje Conab, para acompanhar a sua construção. Eu, garota, pedalando bicicleta, parava para ver aquele homem de estatura gigantesca, sempre vestindo uma espécie de conjunto, a calça e camisa da mesma cor. Vaidoso, ao descer do carro, retirava do bolso um pequeno pente, que passava nos raros cabelos, guardava-o e caminhava em direção à obra, cumprimentando a todos que passavam pelo local, trocando ideias e batendo papo com quem dele se aproximasse. Há alguns anos ouvi depoimento de uma moradora da Rua Frei Miguelinho, dona Maura Medeiros. Ela disse que o então prefeito Dix-sept Rosado, não só acompanhava de perto a obra de calçamento a paralelepípedo naquela via, no final da década de quarenta, como sentava-se no meio fio e tomava café junto aos funcionários da obra. 

Nos finais de semana, Dix-huit dispensava o motorista e o carro oficial, dirigia ele mesmo sua camioneta, tipo S 10, ao lado de Tia Nayde, para a fazenda ou mesmo dar umas voltinhas na cidade, visitar amigos. Mas era outro tempo. Talvez Dix-huit pertencia a uma classe de prefeito que diariamente batia o ponto em seu local de trabalho, na prefeitura, para onde havia sido eleito.

Para conhecer um pouco de Dix-huit e de sua esposa, que a cidade chamava na intimidade de Tia Nayde, reproduzo entrevista que fiz com o casal, ao final do segundo mandato dele, quando a saudosa Tia Nayde profetizou que retornariam a cidade para um terceiro mandato. Vejamos:

Dix-huit e Nayde

Entrevista ao jornal O MOSSOROENSE, em 1988.
Tia Nayde, uma amiga de Mossoró

Por Lúcia Rocha

Nayde de Medeiros Rosado é uma pessoa de gestos e traços finos, que transmite aos que a rodeia uma paz e  conduz para um mundo onde não há espaço para a maldade, o pessimismo e o ódio. Companheira durante mais de cinquenta anos de Dix-huit Rosado, prefeito de Mossoró, Nayde é aquela que ele escolheu em meio a um ato religioso, quando a viu pela primeira vez, em Natal. Pertencente a nata da sociedade natalense, filha de Manoel Clementino de Medeiros e Olindina Duarte de Medeiros, Nayde Rosado teve uma educação religiosa no Colégio Imaculada Conceição, tradicional na capital potiguar. Seu pai fora educado na Suíça, à exemplo dos seus irmãos. Esportista, Nayde Rosado praticou tênis até se casar. Depois aderiu ao Cooper, para manter o corpo em forma. Considerada uma das moças mais bonitas de Natal, foi por diversas vezes convidada a participar de concursos de beleza, não aceitando atendendo pedido da mãe, que desejava um futuro longe das passarelas para a filha.

PARA A CIDADE ELA É UMA TIA, PARA DIX-HUIT,  UMA PRINCESA
             
Nayde Rosado conheceu Dix-huit durante uma procissão de Santos Reis, em Natal. Estava acompanhada da mãe e, Dix-huit atento a sua beleza, em meio a multidão, dirigiu-se a ela e, num ligeiro bate-papo, pediu-lhe o endereço: “Fiquei encantada com Dix-huit, logo que o vi. Sua beleza me chamou a atenção. Senti uma grande emoção porque fez-me elogios, dizendo ser eu muito bonita”, conta Nayde Rosado, que quando passou a sair com Dix-huit percebia o assédio das mulheres que lhe dirigiam olhares a todo instante. Mesmo assim, não sentiu-se enciumada. Dix-huit confirma que realmente conheceram-se durante o ato religioso: “Desde então, ligamos nosso destino para alcançarmos depois de 51 anos o status conjugal no qual vivemos tranquilamente, quase que num ambiente isolado, afastados dos filhos e da família. Nossa convivência é a mais amena. Temos pouca reclamação a fazer um do outro”, enfatiza. Dizendo tratá-la com o carinho de quem paga uma dívida permanente, pela dedicação que ela lhe atribui, Dix-huit afirma ter sido Nayde, uma mãe carinhosa, que amamentou todos os filhos durante seis meses, como a medicina recomenda: “Comprova-se com facilidade o resultado desse procedimento, com a aparência de todos os filhos. Os homens são atletas e as mulheres, no meu julgamento, são lindas. O pai tem o direito de assim proceder”, palavras de um pai coruja. Numa referência ao mandato de prefeito, Dix-huit lembra que está alcançando o fim do mandato com suas mãos: “Preparamos para voltarmos ao lar que largamos temporariamente para servir a Mossoró. Eu, com minha obsessão e Nayde, com a sua paixão. Podem até pensar que não vou sair com saudade da cidade. A brava urbe vive intrinsecamente ligada ao meu coração. Vou ter saudade de tudo e de todos. Nada reclamarei de ninguém, até mesmo aqueles que me feriram profundamente. As feridas cicatrizaram. Resta apenas um reliquat que desaparecerá com o tempo”, promete Dix-huit.
             
CASAMENTO E EDUCAÇÃO DOS FILHOS
      
Até conhecer Dix-huit, Nayde não sabia da existência da família Rosado. “Namoramos pouco mais de um mês e nos casamos”, explica Nayde. O casamento foi num sábado de Carnaval, numa cerimônia simples. Nessa época, médico recém-formado, Dix-huit clinicava em Assu, onde o casal morou alguns dias, transferindo-se em seguida para Mossoró, depois alguns anos em Natal, onde nasceram todos os seis filhos: Liana Maria, Mário, Margarida, Maria Cristina, Nayde Maria e Carlos Antonio. Eleito Deputado Federal, Dix-huit transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, então capital federal e cidade que adotou por muitos anos e onde nasceram os netos e bisnetos. Na educação dos filhos teve preocupação em atividades, praticando esportes, línguas e balé. Liana Maria foi educada nos Estados Unidos. Longe do convívio com a família, Nayde Rosado fala quase que diariamente com os filhos e netos. “Hoje me sinto tão realizada, que a maturidade trouxe o conhecimento acerca de tudo e de todos”, comenta. Bastante amiga de todos os membros da família Rosado, Nayde reconhece que a cunhada Treizième Rosado, a quem considera matriarca da família, é sua maior amiga. “Treizième é gente muito fina, que admiro bastante”, disse.

Nayde com a cunhada e amiga Treziéme

MOSSORÓ TODA VIDA

Seu filho, Mário Rosado, economista, diz que a mãe pensa que mora no Rio de Janeiro. “Mas ela é devota de Dix-huit. Temos o maior carinho por eles. Estendemos o carinho e a dedicação deles a Mossoró, por isso nos privamos durante anos, da companhia deles. Gostaria que servisse de exemplo a outras mulheres”, entrega Mário, que confessa que se existisse santa na terra, sua mãe seria uma. “Ela é essa candura de pessoa que você está vendo. Nunca a ouvi falar com ódio, vingança ou algo parecido”, conta. Mário também explica que, à exemplo dos seus irmãos, é entusiasmado por Mossoró. “Nossos filhos têm tido oportunidade de ir a Mossoró e sempre temos dificuldade em voltar para o Rio ou São Paulo. Eles querem ficar em Mossoró, pois são encantados com a cidade”, afirma. Numa referencia a Mossoró, Mário, que também é poeta, autor do livroPoemas do Amor Constante, esclarece que a força do desempenho da cidade é reconhecida hoje no Brasil inteiro e é exemplo para o Nordeste. “Dix-huit é o nosso ídolo. Mostra-nos que o homem vale mais pelas obras que faz. Ele desprezou a roupa fina para viver na cidade que tanto ama. Somos muito entusiasmados por Mossoró”, repete Mário, que fala também em nome dos irmãos. Sobre Dix-huit, Nayde Rosado conta que não tem palavras que possam traduzir a admiração que sente por ele: “Nunca desejou mal a ninguém, é uma pessoa que ama sua terra e que nunca deixou de demonstrar isso. Gostamos muito do slogan Mossoró Toda Vida. Ele bem traduziu o afeto que temos pela cidade”, resume. Mas Nayde Rosado, que não gosta de ser rotulada de primeira-dama, dispensa esse tratamento por achar que não possui nenhum significado: “Não tenho vaidade de coisa nenhuma, não vivo à sombra disso”, descarta. Nayde é muito querida, principalmente pelas pessoas mais humildes, a quem tem tido a oportunidade de conhecer e servir, independente de partidarismo. “Quando faço uma bondade, um gesto, que mereça um elogio de alguém, faço com a melhor das intenções. Gosto de servir e de estar em contato com o povo, seja pobre ou rico”, esclarece. Dizendo ter em Mossoró amigos verdadeiros, apesar de ter passado maior parte da vida no Rio de Janeiro, Nayde diz: “Todos me tratam com carinho, todos são amigos. Vou levando as melhores recordações”, registra. Com certeza são os mais humildes que demonstram mais amizade e afeto. Nunca pedem nada, mas Tia Nayde oferece e procura servi-los. “Uma coisa que me choca é que muitas vezes não gravo a fisionomia das pessoas. Não sou boa fisionomista e tenho tido problemas, porque acho que muitas vezes possa parecer antipática, quando na realidade, deixo de falar com as pessoas por não gravá-las na mente. Algumas vezes é o nome que foge na hora de cumprimentá-los”, enfatiza.

Rosalba Ciarlini Rosado, Nayde, Dix-huit e o amigo, Sebastião Mendonça

A música do casal diz: “Em você tudo é encantamento/Em você tudo é deslumbramento/Você traduz sonhos de luz/anjo divino/Qual uma dádiva do céu no meu destino/Em você eu encontrei, querida/A realização de toda minha vida/É você minha expressão da verdade/A minha apoteose de felicidade”. A música bem traduz a felicidade que reina ao casal Dix-huit-Nayde Rosado. A felicidade muito comum em um casal que se ama, acima de tudo. No ano passado, o casal reuniu o clã para a comemoração das Bodas de Ouro, no Rio de Janeiro. “Foi tudo muito bonito, não sei como segurei tanta emoção”, recorda Nayde. Perguntada por qual momento sente-se mais feliz em Mossoró, ela diz que tanto em Mossoró, como em qualquer lugar é quando o prefeito retorna a casa. Nayde gosta de passear pelo comércio de Mossoró. “Aprecio as butiques e admiro a facilidade que as mulheres daqui têm em andar na moda. A mesma moda que vemos no Rio, ser lançada aqui, simultaneamente. Nunca trago novidades, porque encontro aqui em Mossoró”, comemora. Adriano da Silva Pinto tem nove anos de idade e é um dos inúmeros amigos de Nayde, ele confessa que tia Nayde é uma pessoa boa. “É como se fosse minha irmã”, disse. Adriano acompanha a tia, segundo ele, para jantar fora, batizados e quase todo final de semana vai lhe visitar. O sobrinho Laíre Rosado Filho, diz que tia Nayde é uma pessoa que conquistou Mossoró com sua bondade e simpatia. “À exemplo de tio Dix-huit, ela deixou de pertencer a sua família para se dedicar a Mossoró”, comenta. Sobre o retorno ao convívio com a família no Rio de Janeiro, que está próximo, Nayde Rosado afirma que sai com a certeza da volta. “Essa minha demonstração é maior, não pelo sentimento, mas já manifestei a Dix-huit que devemos manter uma residência aqui, para voltarmos sempre. E até pensando na possibilidade de vê-lo novamente na prefeitura, como diz o provérbio, o bom filho à casa retorna”, profetiza.
                                     
Nota: em 1992, quatro anos após essa entrevista, Dix-huit Rosado candidata-se a prefeito de Mossoró, aos 80 anos de idade e, eleito, cumpre o terceiro mandato até 22 de outubro de 1996, falecendo aos 84 anos, deixando como titular, a sobrinha, vice-prefeita Sandra Rosado, filha de Vingt Rosado e primeira mulher, descendente de seu Rosado, a ocupar a cadeira de prefeito do município. Sandra Rosado atualmente cumpre segundo mandato de deputada federal.
         
Autora: 

Jornalista Lúcia Rocha

http://www.luciarocha.com.br/2012/05/centenario-de-dix-huit-rosado-no-dia-21.html
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tributo à Mossoró - Ontem e hoje



Facebook, na página da jornalista Lúcia Rocha

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Crônicas de Humberto A Expedição contra Lampião

Por: Manoel Neto

“A Expedição Contra Lampião”, com esse título Humberto de Campos revive o tema cangaço nas suas crônicas diárias, então publicadas em todo o país por diferentes periódicos que lhe asseguravam muitos leitores e, por consequência, enorme popularidade, como já afirmamos no capítulo anterior.

Oportuna essa aproximação do autor com o cangaceirismo nordestino, pois era a união da “fome com a vontade de comer”, mormente, naquela quadra, quando despertava curiosidade crescente na opinião pública, cotidianamente informada sobre as andanças dos bandos errantes nos carrascais sertanejos, notadamente de Lampião, informações estas carregadas nas tintas e quase sempre tingidas com muito sangue e descritas com pormenores estarrecedores.

Mais uma vez é a repressão aos cangaceiros, muito embora, o autor se refira explicitamente a Lampião, a quem denomina - “o famoso sanguinário bandido que domina há doze anos os sertões do Nordeste brasileiro [1]”, que ocupa as meditações do cronista. Sobre este texto colhemos evidências que nos levam a acreditar haver sido ele publicado em 1931, isto por que, trabalho do professor Jorge da Matta Villela, intitulado “Operação anti-cangaço: As táticas e estratégias de combate ao banditismo de Virgulino Ferreira, Lampião [2] nos dá ciência que:

“Neste inicio de 1931, segundo CHANDLER [3], o centro de planejamento da campanha contra Lampião havia-se deslocado para a capital federal”. E no centro deste plano estava o Capitão Carlos Chevalier. Ele pretendia utilizar aviões na captura de Lampião e em conjunto com as aeronaves (que na verdade pareciam ser apenas uma) seriam empregues sistemas de radiocomunicação que travariam contato com um contingente de mil homens, dentre os quais 200, por exigência do capitão do ar, cariocas.(Cf. VILELLA, p. 112).

Avião Waco RNF NC 663Y fabricação 1930 um destes seria usado por Chevalier.  
Fonte: Lampião - Entre a espada a Lei. Sérgio Augusto Souza Dantas, Pág. 314.

A informação transcrita acima que Mattar colheu em Chandler nos permite elucidar um dado cronológico importante. Melhor explicando: esclareço de imediato que “A Expedição Contra Lampião”, objeto de nossos comentários neste capítulo reporta-se justamente ao ataque planejado pelo oficial Chevalier contra os salteadores sertanejos. Tendo em conta esse dado, podemos presumir que a crônica foi produzida por Campos em 1931, posto que ele não comentaria em ano posterior notícia notadamente datada. Ao puxarmos o fio de uma meada, sabemos, estamos “cutucando o cão com vara curta”.

Assim é que fomos passar os olhos no indispensável trabalho de Marilourdes Ferraz [4] e lá encontramos o seguinte trecho: “Em 1931, dois episódios marcaram de modo extraordinário a vida do Rei do Cangaço no sertão baiano”. (Cf. FERRAZ, p. 338). Como o primeiro episódio relatado não é relevante para o que tratamos neste artigo passemos ao segundo:

 “[...] Em maio deste mesmo ano, surge o bando no povoado de Várzea da Ema (grifo nosso) para levar a efeito a vingança contra o fazendeiro Petronilo Reis [5]. Agora quase meia centena de homens integravam o grupo, que chegou arrasando, queimando e matando. Essa tarefa devastadora teve a duração de quase quarenta e oito horas, num mês ameno, com o mato muito verde. Quando Lampião deu a ordem de partida, deixava para trás mais um lugar devastado e uma área esturricada pelo fogo” (ob. cit. p. 339).

Cel. Petronilo de Alcântara Reis

Este acontecimento narrado por Ferraz nos obriga a uma digressão, porém necessária. Quando tratamos da primeira crônica de Humberto de Campos, “A Última Proeza de Lampião”, em que o mesmo aborda os acontecimentos transcorridos em Curaçá, nos sertões da Bahia, destacamos as dificuldades para precisar a data da publicação do texto, em razão de inexistir referência na coletânea consultada. Além disso, em outras fontes coligida, como também, auscultando nomes conceituados que averiguaram e continuam averiguando o episódio, os mesmos confirmaram passagens de Lampião na Sede de Curaçá, mas desconheciam o incidente narrado por Campos, pelos menos naqueles moldes e extensão. Fato de tal monta como aquele textualizado por Campos não teria sido perpetrado por lá.

Marilourdes Ferraz

Ocorre, contudo, que a narrativa constante do “Canto do Acauã” ao mencionar Várzea da Ema e a violência do ataque, bem como, o número de cangaceiros participantes, nos obrigou a considerar que naquele ano o pequeno povoado – Várzea da Ema - onde nascera o famoso guerrilheiro Pedrão, conselheirista que lutou em Canudos, integrava o território de Curaçá, havendo, por consequencia, a possibilidade clara de Campos haver citado este município, em razão das informações que coligiu para redigir o seu escrito. Cabe neste momento uma observação que devemos ter em conta quando o tema é cangaço e que também se encaixa aqui como uma luva, observação esta proveniente de Luiz Rubem Bonfim [6], qual seja:

“Não existia na época um jornalismo investigativo sobre a presença de Lampião na Bahia, as matérias publicadas nem sempre eram assinadas pelos jornalistas, os periódicos da capital não focavam apenas notícias, mas também opiniões, comentários e editoriais. As informações sobre Lampião e seu bando na Bahia, eram obtidas através das agências de notícias, da abordagem de viajantes na estação ferroviária da Calçada em Salvador, no trecho ferroviário Salvador a Juazeiro, na Secretaria de Segurança Pública no bairro da Piedade, moradores do sertão se dirigiam às redações em Salvador, também eram enviados do interior telegramas e cartas assinadas” (grifo nosso).
(BONFIM, ob. cit., p. 15).

Que outras fontes estariam disponíveis para o ilustre autor de “Notas de Um Diarista”, cujo interesse pelo cangaço era eventual? Escrevia em cima da perna, diariamente, fazendo uso do seu enorme talento e inegável erudição, não havendo tempo para pesquisas mais acuradas, detalhes. Sofria de grave enfermidade que lhe roubava a visão gradativamente, escrevendo com enorme dificuldade para por “o pão na mesa”, como salientou inúmeras vezes. Leve-se em conta igualmente quer a notícia em si, já rendia “panos para manga”. Daí nossa especulação sobre a possibilidade de que o lugar exato do corrido, considerando os indícios, venha mesmo a ser o então distrito de Várzea da Ema, hoje pertencente à Chorrochó, sendo que naquela época ambos estavam inseridos em território de Curaçá. Estaríamos certos?

 Capitão Carlos Saldanha da Gama e Chevalier.

Voltemos agora ao capitão Chevalier e sua iniciativa na ótica do “moço de Miritiba”. Dizendo está noticiada “há dias a organização de uma coluna militar, de mil e poucos homens, para dar combate ao bandoleiro Lampião, o famoso e sanguinário bandido que domina há doze anos os sertões do Nordeste brasileiro” (Cf. CAMPOS, Notas de um Diarista, p. 31), Humberto vai adiante detalhando informes sobre a empreitada em curso, não sem uma fina ponta de ironia e certa estranheza diante da complexa estrutura logística que se ajuíza organizar para combater cangaceiros nos terrenos áridos e espinhosos da caatinga. Mencionando a chefia da empreitada dá asas ao seu raciocínio:

“Comandada pelo Capitão Chevalier essas forças levam canhões, metralhadoras, aviões, automóveis, o material bélico indispensável, em suma, para mim, batalha com tropas regulares. E é assim constituído, armado, municiado, apetrechado, que o pequeno exército vai entrar pelas terras adustas do Brasil nordestino, entre toques de corneta, rufos de tambores e a trepidação bárbara dos motores, na terra e no céu. Para justificar esse aparato bélico, informa-se que a quadrilha chefiada pelo salteador se compõe de 150 homens. E há nisso um evidente exagero. “O cangaço profissional para ser exercido com eficiência, prescinde de grandes grupos, que lhe comprometeriam a mobilidade” (CAMPOS, p. 31).

Cabe-nos de imediato melhor apresentar o Capitão Carlos Saldanha da Gama e Chevalier, este o seu nome completo. De antemão podemos assegurar que naqueles idos era o citado oficial figura conhecida. Participara das conspirações que resultou na sublevação vitoriosa denominada Revolução de 1930, havendo, porém, poucos anos antes, em 1921, integrado a turma:

“[...] de Observadores Aéreos ao lado do Capitão Newton Braga, dos Tenentes Eduardo Gomes, Ivo Borges, Amílcar Velloso Pederneiras, Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, Ajalmar Vieira Mascarenhas, Sylvino Elvidio Bezerra Cavalcante, Plínio Paes Barreto”

Na mesma década e, antes, no final dos anos 20, historiografou a insurreição militar acontecida em 1922, na fortificação militar de Copacabana, movimento popularizado como “os 18 do Forte” [7]. Em 1931 alcança generosos espaços na mídia ao apresentar seu plano para capturar Lampião. Não se pode dizer, contudo, que tenha sido o primeiro, talvez, sim, o mais ambicioso. Se corrermos os olhos nos jornais baianos publicados quando Lampião ganhara fama nacional e suas façanhas repercutiam com freqüência quase diária na imprensa, veremos que muitos foram àqueles, notórios ou anônimos, que “tiravam do bolso do colete” planos mirabolantes para capturar o antigo tropeiro de Vila Bela. O professor Jorge Vilella, autor já citado neste texto, observa que:

“Entre os anos de 1922 e 1938 os governos das capitais nordestinas, seus jornais e uma parcela de seus cidadãos tiveram uma preocupação em mente: como dar cabo daquele que era, já desde o primeiro dos seus 16 anos como chefe de cangaço, o maior de todos os cangaceiros” (VILELLA, ob. cit.)

Urgindo cumprir este desiderato, algumas iniciativas oficiais foram espantosamente encaminhadas, apesar das pouquíssimas chances de lograrem êxito. Refiro-me no caso a iniciativa do Capitão João Miguel, que agindo de forma insensata, autoritária e cruel, resolveu evacuar as populações rurais e confiná-las nos cidades-sedes dos municípios indexados no seu plano, como maneira de desmontar o apoio voluntário e involuntário que os coiteiros asseguravam aos bandidos. Famílias inteiras foram obrigadas a deixar seus lares e pertences, suas roças, afazeres e criações para em muito pouco tempo transformarem-se em pedintes, em párias, a perambular por praças e demais logradouros públicos das cidades, inteiramente despreparadas para receber e cuidar daquele excedente populacional. Em decorrência desta sandice, pais de família perderam-se no álcool e na violência, meninas se prostituíram, sem contar o sofrimento atroz de velhos e crianças. Este caos se estabeleceu em 1932 quando os sertões nordestinos padeciam uma das mais inclementes estiagens do século, fenômeno que por si só era um flagelo, batizada então de “seca de João Miguel [8]“.

O então 1º Tenente Felipe Borges de Castro num documento datado de 1939 [9], portanto, depois do trucidamento de Lampião e parte do seu bando na Grota do Angico, também apresentou sua solução para erradicar o cangaço. Na sua proposta Castro reconhece que a ação nefasta da Polícia que frequentemente usa de “medidas violentas” contra supostos colaboradores dos cangaceiros, pessoas em alguns casos, vítimas de informações infundadas oriundas de informantes dos policiais, é extremamente prejudicial à campanha repressora. Feita esta constatação o militar sugere a criação de “uma colônia correcional agrícola num dos pontos mais frequentados pelos bandoleiros” [10]. A esta providência somar-se-iam duas outras iniciativas: “a criação de uma Delegacia Especial em zona atingida pelo banditismo [11]” e a “difusão na zona do banditismo da doutrina de Deus e catequeses por um sacerdote católico”. Na avaliação do já citado Mattar Vilella,


“o projeto utópico do Tenente Castro é um plano de separação e arresto, a criação de um amplo espaço carcerário e didático no interior do qual todos os implicados no problema do banditismo, mesmo sem prova criminal, pudessem ficar fechados mantendo sua influência negativa separada do mundo [12]“.

Sempre atento e perspicaz o Cego Véio [13] mostrava-se escrupulosamente cuidadoso e discreto em relação aos seus colaboradores, avaliando corretamente a importância dos mesmos para o perfeito funcionamento da  intricada rede de apoio que cuidadosamente montara, como alerta Maria Cristina da Matta Machado:

“Lampião era muito discreto, comportamento importante para quem vive ameaçado de ter inimigos, até mesmo nas suas fileiras. Jamais falava com todos os seus camaradas de luta os assuntos ligados à segurança moral e física dos seus coiteiros” (MATTA MACHADO, 1969, p. 68) [14]

Notas e referencias

[1] A área territorial em que o cangaço se fez mais assíduo integra os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, e Sergipe. Procedente, entretanto, é a observação de Luiz Rubem Bonfim, no seu livro “LAMPIÃO, Conquista a Bahia”, quando o mesmo destaca que o vocábulo Nordeste era usual para referência a Bahia. Quanto aos demais Estados nordestinos eram registrados como “estados do Norte”, embora, não pareça ser o caso no texto comentado.
[2] VILLELA, Jorge Mattar. Artigo publicado na Revista de Ciências Humanas, de Florianópolis, Santa Catarina, no número 25, à página 112, em abril de 1999:
[3] CHANDLER, 1981apud Mattar, 1999, p. 112. Ob.cit.
[4] FERRAZ, Marilourdes. O Canto do Acauã. Das memórias do Cel. Manoel Flor (Coronel Manoel Flor). Comunigraf Editora. 3ª edição. Recife, 2011. 661 p. Il:.
[5] Senhor de muitos cabedais, grande proprietário de terras e criador de gado e principal liderança de Santo Antonio da Glória, hoje município de Gloria, situada próximo a divisa de Pernambuco e Alagoas.
[6] BONFIM, Luiz Rubem F De A. Lampião Conquista a Bahia. Impressão Graf Tech. Paulo Afonso, 2011. 422 p. Il:.
[7] Chevalier publicou os seguintes títulos “Memórias de um revoltoso ou Legalista”, de 1927 ; “Os 18 do Forte”, de 1930 e “Os 18 do Forte – Siqueira Campos”, obras hoje somente encontráveis em sebos e com alfarrabistas.
[8] O Capitão João Miguel integrava os quadros do exército Brasileiro e sendo comissionado na Polícia Militar com o fito de participar da luta contra o banditismo na Bahia, durante o governo do Interventor Juraci Magalhães, ocasião em que  o posto de Comandante das Forças em Operação Contra o Cangaço na Bahia. Era especialista em comunicações. Sobre a seca de 1932 e outras estiagens nos sertões nordestinos sugerimos a leitura do livro “Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX”,  do historiador paulista Marco Antonio Villa.
[9] Novo Plano Para Extinção do Banditismo. Felipe Borges de Castro galgou a posição de Coronel e escreveu um importante trabalho para a compreensão da política de repressão ao cangaço na região, o livro “A Derrocada do Cangaço na Nordeste”, reeditado recentemente pela Assembleia Legislativa da Bahia.

[10] Apud. VILELLA, Jorge |Mattar. Ob. cit.

[11] Idem
[12] VILELLA Jorge matar. Passim. Sugerimos a leitura entre outros de Lampião na Bahia, de Oleone Coelho Fontes, onde o autor relata outras iniciativas de particulares sequiosos de notoriedade ou portadores de uma coragem suicida, que se ofereciam para capturar Lampião por meios de estratagemas os mais diversos e inusitados.
[13] Porr esta alcunha muitos oficiais, soldados, rastejadores e contratados das volantes se referiam a lampião, em razão do seu olho afetado por acidente que causou-lhe a peda parcial da visão.
[14]MACHADO MATA, Cristina da. As Táticas de Guerra dos Cangaceiros. Laemmert, rio de Janeiro, 1969,223 p.

Longa seria a lista e certamente assunto para muitas laudas a história da repressão ao banditismo nos sertões do Nordeste, notoriamente no período em que o cangaço experimentou modificações expressivas no seu modus operandi, atingindo um nível de sofisticação profissional adredemente estruturada pela astúcia militar e estratégica de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Para combatê-lo e aos seus subgrupos, sob diferentes comandos, fizeram-se necessárias articulações políticas entre os estados atingidos [15]. Considerável dispêndio de recursos públicos, reciclagem das forças policiais regulares e das suas formas de combate, como também,  a incorporação de contratados eventuais, geralmente moradores das caatingas, afeitos ao terreno e conhecedores dos socavões por onde transitavam os bandoleiros, em verdade, guias sem os quais soldados e oficiais encontrariam enormes dificuldades de locomoção e orientação. Muitos deles tornaram-se rastejadores, isto é, indivíduos que divisavam em meio ao ambiente hostil e ilegível aos olhos leigos, as marcas deixadas pelos bandos marginais.

Ao comentar os preparatórios do capitão Chevalier, Humberto de Campos evidencia está mais familiarizado com as táticas e estratégias de luta dos adornados combatentes das caatingas. De chofre, sem maiores rodeios, chama a atenção do público leitor para o inédito conjunto de homens, armas e apetrechos a ser empregado na Campanha, afirmando que para justificar tão onerosa e complexa operação, os seus planejadores, à frente o oficial irredento de 1930, ancoravam-se na perspectiva de bater-se com uma quadrilha composta por 150 homens. Então Campos pondera explicitando conhecimento de causa:

E há nisso, evidente exagero. O cangaço profissional, para ser exercido com eficiência, prescinde de grandes grupos, que lhe comprometeriam a finalidade. A sua tática reside na mobilização rápida, na facilidade da dispersão no momento do perigo, e esta não é possível se os cangaceiros dispusessem de contingentes consideráveis. Antônio Silvino [16] jamais admitiu mais de uma dúzia de cabras, e Lampião nunca reuniu mais de 40, e isso mesmo para entrar em Juazeiro, temendo uma surpresa de Padre Cícero [17]. É sabido, mesmo, que o seu processo consiste em reduzir os seus contingentes à medida que é perseguido, de modo a desorientar os perseguidores, eclipsando-se na caatinga (CAMPOS, pp. 31, 32).

A citação conscientemente longa se impôs em decorrência da relevância de algumas observações nela contidas, que ratificam nossa percepção de que o articulista àquela altura já conhecia maiores detalhes sobre o modo de guerrear de Lampião e seus seguidores, observações estas que grifamos no trecho citado.

Interessante é que Campos já se refere ao “cangaço profissional”, num tempo em que a vida bandoleira no Nordeste ainda era analisada sob outros prismas.

Vale ressaltar igualmente que em Mossoró, para citar das mais infelizes sortidas de Lampião contra uma localidade, os sitiantes somavam mais de 150 homens, muito embora fosse um somatório de bandos que atuavam dispersos e independentes, inclusive nos seus comandos. Portanto, época houve, antes de ingressar na Bahia em 1928, que os agrupamentos eram mais numerosos, ao revés do mencionado no texto.


Civis e militares contra Lampiao em Mossoró, junho de 1927.

Independente das ponderações expressas fica, entretanto, o reconhecimento de que “o jovem oficial revolucionário vai prestar, todavia, um relevantíssimo serviço a sua terra, com essa expedição” (CAMPOS, p. 32). Mas, cauteloso e reflexivo adverte o capitão Chevalier: “Para combater cangaceiros, faz-se mister mais a habilidade individual do que a bravura, e mais perfídia vulpina do que, propriamente, arte militar”.(ibid. p. 32). Ou seja, o expedicionário teria que usar de “perfídia vulpina”, ou melhor, usar a sagacidade, a esperteza, a mobilidade da raposa, animal que integra a fauna catingueira, prevendo adiante

 “[...] que vamos assistir a um duelo entre a artimanha de um bandoleiro e a intrepidez de um verdadeiro soldado, ou, mais caracteristicamente, um encontro entre um cavaleiro que maneja um florete e um bárbaro que avança contra ele sustentando com a s duas mãos a sua formidável tangapema (grifo nosso) de maçaranduba” (CAMPOS, passim).

O contraponto entre civilização e barbárie que neste extrato fica delineada no confronto entre “o cavaleiro que maneja o florete” e o bárbaro munido de tangapema – mesmo que tacape, borduna, armas de guerra indígenas – representado pelos homens do cangaço, foi usado reiteradamente por Euclides da Cunha designando os camponeses sublevados em Canudos, tratamento reincidente em outros autores quando historiaram as insurreições do Contestado [18] e Pau-de-Colher, levantes rurais, nos quais milhares de seres humanos foram sacrificados com requintes de crueldade pelas armas “civilizatórias” do Exército e das forças policiais dos estados beligerantes.

Não nos esqueçamos das volantes e suas arbitrariedades e violências, quando soldados representando os Governos, estadual e federal, comportavam-se de forma truculenta. Lamentável por tudo a referência aos índios brasileiros, vítimas de agressões e dizimados durante séculos pelos colonizadores, latifundiários e autoridades dos mais diversos calibres e procedências. Afrancesada e recolhida ao conforto das cidades, especialmente as litorâneas, a intelectualidade brasileira ou a maior parte dela costumava “chamar de feio tudo que não era espelho”, parafraseando Caetano Veloso, e Humberto de Campos não era exceção, carregando sobre o seus ombros o pesado fardo do “espírito da época”. Volta-se posteriormente para aquilo que considera ultrajante para o país e sem rebuços, direto e incisivo opina:

“”A impunidade de Lampião constitui, sem dúvida, uma vergonha para a nação brasileira, e reclamava, de há muito, a intervenção do Exército, isto é, de forças da União, para acabar com o escândalo da sua sobrevivência. Mas não reclamava, talvez, a honra de uma expedição tão vultosa, como essa que lhe está destinada”. (grifo nosso). (CAMPOS, ob. cit. p. 33).
Retoma a tese de uma intervenção federal como resolução adequada pata enfrentar a  resistência obstinada e ardilosa dos cangaceiros, sem perder de vista, contudo, o juízo sobre o exagero das forças e equipamentos mobilizados para a tarefa, considerando que talvez “o Diabo não seja tão feio com se pinta”.


Logo mais vai descer ao terreno das especulações ao tomar como exemplo episódio ocorrido com o rei de Túnis, que tendo sua cidade arrasada pelas tropas de Luiz XIV, Rei de França, teria afirmado aquele monarca que pela metade dos gastos dispendidos pelo Rei Sol para por abaixo “o velho porto africano”, ele próprio executaria a tarefa pela metade do valor gasto, o que pouparia vidas e recursos. Logo volta a realidade dos fatos e escreve:

“Amando a agitação e o perigo, o Capitão Chevalier não aceitaria, sem dúvida, uma proposta de Lampião, no sentido de lhe darem a metade das despesas da Expedição mediante o seu desaparecimento do cenário nordestino. [...] O que o seduz é aventura e não o resultado feliz”. (Idem).

Desavisado pressupõe ser o Capitão sediado no litoral a recusar proposta do seu “colega” de patente, o comandante das tropas catingueiras, que tinha para si planos mais ambiciosos, sonhava ser o “Governador do Sertão”, conforme já propusera em um dos seus famosos bilhetes, este encaminhado ao Sr. Júlio de Melo, mandatário de Pernambuco, no mês dezembro de 1926, no qual redigiu a debochada proposta de uma divisão territorial e de poder. Seria ele Lampião, responsável pela região sertaneja do território pernambucano, cabendo a Júlio Melo, governar o litoral. Provocativo garatujou textualmente:

“Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas... Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. Aguardo resposta e confio sempre[19]”

Como se vê avaliava mal o acadêmico. Àquela altura, em meados dos anos vinte não houvera Lampião cruzado o Rio São Francisco rumo a Bahia. Não intentara contra a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, fato ocorrido somente no dia 13 de junho de 1927, mas já se convertera em figura carimbada nos sertões, caminhando rapidamente para se tornar história e mito, memória e imaginário.

A seriedade do assunto tratado não toldava, contudo, o fino humor de Humberto de Campos. Finaliza sua crônica de forma imaginativa e jocosa: “Eu tenho receio, entretanto, que o excesso de pares comprometa o sucesso da contradança, e que ouçamos, daqui do litoral, marcação do celerado sertanejo:- “Dames à droite!.... Chevalier à gauche!...” E que, como consequencia, a quadrilha continue...” (CAMPOS, ibid. pp. 34,35).

Evocando as quadrilhas tão animadas e comuns nas festas sertanejas de junho, Campos fez-se profeta e acertou no alvo: muita água ainda rolaria debaixo da ponte. Mas isso fica para o próximo capítulo!

[15] Foram celebrados vários convênios de cooperação entre os Estados molestados pelo cangaço, dentre os quais destacamos aquele acordado em 1927, entre os dias 28 e 30 de dezembro, cujo principal intuito era coibir com mais veemência a ação dos coiteiros.
[16] Antônio Silvino. Nascido Manoel Baptista de Morais, em Ingazeira, Estado de Pernambuco, faleceu na Paraíba em 1944., Precedeu Lampião e foi o mais afamado e temido bandido do seu tempo, ganhando o apelido de “Rifle de Ouro”.
[17] Lampião visitou Juazeiro do Norte em março de 1926. Lá recebeu a patente de Capitão, armas, munição e fardamento pra organizar um Batalhão Patriótico, com o fito de combater a Coluna Prestes. Sobre quem o convidou há controvérsias, que ainda suscitam debates e dissenções entre os pesquisadores e estudiosos.
[18]  A revolta do Contestado eclodiu em 1912, na região sul do Brasil, em área confluente dos Estados de Santa Catarina e Paraná. Apesar da forte conotação religiosa do movimento, outros interesses sócio-econômicos foram decisivos para a sublevação.
[19] Consulta realizada ao site  http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/. Acesso em 20/02/2013.

Manoel Neto
Centro de Estudos Euclides da Cunha
UNEB - Salvador - BA

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