Por: Dimas Macedo
Joaryvar
Macedo
Falar da
personalidade e, principalmente, da obra literária e historiográfica de
Joaryvar Macedo constitui tarefa que dignifica e ao mesmo tempo põe em desafio
a argúcia do intérprete, vez que estamos a tratar de um homem de letras que
“notabilizou-se como um dos mais autênticos pesquisadores da história do seu
Estado”.
Considerado
por Raimundo Girão como sendo “o mais abalizado historiador do sul do Ceará”,
Joaryvar Macedo nasceu no Sítio Calabaço, a oito quilômetros da cidade de
Lavras, aos 20 de maio de 1937, sendo filho de Antônio Lobo de Macedo, poeta
popular e político influente em seu município, e de Maria Torquato Gonçalves de
Macedo.
Na terra natal estudou as primeiras letras com as professoras Teresita Bezerra,
Irony Gonçalves, Adelice Macedo e Nícia Augusto Gonçalves, entre outras.
Posteriormente, foi aluno do Seminário Diocesano do Crato e do Seminário
Arquidiocesano de Fortaleza, cursando inclusive Teologia nos Seminários
Arquiepiscopais de Olinda, Recife e João Pessoa. Em 1965, ingressou na
Faculdade de Filosofia do Crato, por onde se licenciou em Letras, colando grau
aos 7 de dezembro de 1968, sendo na oportunidade orador oficial da turma,
possuindo ainda curso de pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Católica de Salvador.
Depois de formado, abraçou a carreira do magistério, principalmente como professor
da Faculdade de Filosofia de Crato e de vários estabelecimentos de ensino de
Juazeiro do Norte. Ensaísta e historiador, em 1974 fundou o Instituto Cultural
do Vale Caririense, que dirigiu por mais de uma década e do qual foi aclamado
presidente perpétuo, dedicando-se, como pesquisador, aos estudos da formação
étnica, histórica e cultural do Cariri.
Sendo admirável “a extensão de sua cultura e a perseverança de suas linhas de
pesquisa, qualidades que escondia atrás de uma personalidade simples e de aparência
tímida”, como bem acentuou o escritor Murilo Martins, o certo é que Joaryvar
Macedo, “revelando uma excepcional tendência para a pesquisa histórica, sua
atuação nessa área logo se mostrou tão ampla e profunda, que se passou a ver na
projeção do seu trabalho um desdobramento da escola instaurada por Irineu
Pinheiro e padre Antônio Gomes de Araújo, fixando-se neste último a sua linha
de ação”, consoante a observação de F. S. Nascimento.
Sobre a evidência de ser Joaryvar Macedo o representante mais legítimo e o mais
profundo continuador da escola histórica do Cariri, em 1984, no meu livro
Leitura e Conjuntura, eu já havia afirmado o seguinte com relação à sua
envergadura de intelectual: “Joaryvar Macedo é um escritor inquieto, porém um
homem polidamente tratável. É valor maior das letras sul-cearenses no momento
atual, porque, quem começar a leitura da história da Região Caririense pelas
obras de Irineu Pinheiro, e resvalar pelos ensinamentos do padre Antônio Gomes
de Araújo, terá fatalmente que ancorar nos seus trabalhos históricos sobre a
conquista, o povoamento e a formação étnica e social do ubertoso vale”.
Manoel Severo e Dimas Macedo no Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira
Além de farta produção em jornais e revistas do Ceará e de outros Estados,
publicou Joaryvar Macedo os seguintes livros: Caderno de Loucuras – 1965; Discurso
de Orador Oficial da Turma (1968); Apresentação de Fagundes Varela (1971); Os
Augustos (1971); Otacílio Macedo (1972); Um Bravo Caririense (1974); O Poeta
Lobo Manso (1975); Templos, Engenhos, Fazendas, Sítios e Lugares (1975); A
Estirpe da Santa Teresa (1976); Pedro Bandeira, Príncipe dos Poetas Populares
(1976); Fagundes Varela e Outros Rabiscos (1978); Influência de Portugal na
Formação Étnica e Social do Cariri (1978); Origens de Juazeiro do Norte (1978);
Presença Inconcursa de Norte-Rio-Grandenses na Colonização do Cariri (1979);
Composições Poéticas de Hermes Carleial (1979); O Contingente Paraibano na
Colonização do Cariri (1980); Autores Caririenses (1981); Lavras da Mangabeira
– dos Primórdios a Vila (1981); Alencar Peixoto, Um Clássico (1981); Pernambuco
nas Origens do Cariri (1981); Orações Acadêmicas (1983); O Talento Poético de
Alencar e Outros Estudos (1984); São Vicente das Lavras (1984); Um Vernaculista
e um Poeta (1985); Povoamento e Povoadores do Cariri Cearense (1985); Discursos
Acadêmicos (1986); Lavras da Mangabeira (1986); Temas Históricos Regionais
(1986); Ocorrências e Personagens (1987); Antônio Lobo de Macedo: o Homem e o
Poeta (1988); Império do Bacamarte (1990); Ensaios e Perfis (2001); e Na Esfera
das Letras (2010).
Da bibliografia acima, dois livros tão-somente seriam suficientes para
dignificar a reputação de Joaryvar Macedo como um dos nossos grandes
historiadores. Trata-se de A Estirpe da Santa Teresa e de Império do Bacamarte,
sem a necessidade de outros comentários, bastando mencionar que, com essa
última obra, Joaryvar Macedo “estabeleceria um novo marco na historiografia
política no nosso Estado, oferecendo aos cientistas dessa área e aos estudiosos
dessa temática sociológica o mais completo ensaio do gênero até hoje escrito no
Nordeste brasileiro”, ainda segundo F. S. Nascimento.
Joaryvar Macedo consolidou sua formação cultural estabelecido numa região e
tratando quase que exclusivamente da temática histórica do Cariri, o que não o
impediu de ter “uma visão histórica do Brasil através da região em que viveu”.
Transferindo-se para Fortaleza, em 1983, desempenhou, inicialmente, o cargo de
Assessor do Presidente do Conselho de Educação do Ceará. Em seguida, viria a
exercer as funções de Secretário de Cultura e Desporto do Estado do Ceará e as
de Presidente do Conselho Estadual de Cultura, tendo sido eleito, em 1986, para
a Academia Cearense de Letras, e, posteriormente, para o quadro dos sócios
efetivos do Instituto do Ceará.
Região do Cariri, sul do estado do Ceará
Professor da Universidade Regional do Cariri – URCA e chefe do seu Escritório
em Fortaleza, Joaryvar Macedo foi ainda membro do Conselho Estadual de
Educação. Foi, outrossim, um dos raros escritores cearenses a ser agraciado,
pelo Governo do Estado, com a Medalha José de Alencar, honraria máxima a que um
intelectual pode aspirar na Terra de Iracema. Sócio efetivo,
correspondente ou honorário de várias instituições culturais, nacionais e
internacionais, e detentor de vários tributos e comendas, Jorayvar Macedo
faleceu em Fortaleza, aos 29 de janeiro de 1991, constituindo a sua morte uma
das perdas de monta para a nossa cultura literária e historiográfica.
Em vida, foi Joaryvar Macedo a própria história do Cariri se movimentando,
expressando-se em gestos e palavras, dimensionando-se nas páginas dos livros e
opúsculos que nos legou e nos trabalhos esparsos respingados na imprensa
caririense e na Revista do Instituto do Ceará, cujas páginas enriqueceu com a
percuciência das suas observações. “Homem calmo, de sólida cultura, não
sabe fazer alarde pessoal dos seus conhecimentos. É valor autêntico da cultura
caririense que começa a espraiar-se por aí afora”. Dele disse o saudoso
escritor J.de Figueiredo Filho quando, em data solene para a história das
letras sul-cearenses, o recebeu como membro efetivo do Instituto Cultural do
Cariri.
Sem nenhuma dúvida, foi Joaryvar Macedo uma das personalidades mais ilustres
das letras cearenses e um dos mais eruditos historiadores do Ceará, cuja
formação histórica pesquisou com a argúcia e o devotamento de um beneditino. Em
todos os seus trabalhos de pesquisa Joaryvar Macedo primou por um estilo
eloquente. E sempre que expendiu juízos em torno de fatos históricos ele o fez
com a melhor clareza de raciocínio. A sua linguagem literária revela-se, em
todo o seu percurso, recheada de filamentos retóricos, demonstrando-nos o seu
autor possuir a dotação de um clássico, sendo ele um moderno.
Dimas Macedo
Fonte:
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