Fazer o quê? Não é vaidade, O Edson, mas não tenho como me conter diante de um elogio como este. Eis o que escreveu em sua página no Facebook um cidadão de Floresta, Pernambuco, a respeito do meu livro:
“O livro Lampião - a Raposa das Caatingas, do escritor José Bezerra Lima Irmão, nos leva à verdadeira essência do Cangaço no Nordeste Brasileiro, de linguagem fácil e compreensão, em sua pesquisa séria, e quando você começa a ler esse magnífico livro não quer mais parar. Um livro desse é escrito a cada 100 anos, uma verdadeira obra-prima, para historiadores pesquisadores amantes do Cangaço. Eu recomendo essa grande obra do meu amigo José Bezerra Lima Irmão”.
Sabe-se que em toda aglomeração urbana, conforme avança o seu desenvolvimento ocupacional, vão surgindo diversos tipos de serviços públicos e privados que trabalham em prol das pessoas que ali vivem. Conhecer como era o funcionamento destes serviços, mesmo que de forma básica, faz com que exista a compreensão do dia a dia de uma cidade no seu passado (ou pelo menos de parte dela).
Até mesmo porque em muitos dos livros que tratam das histórias das cidades potiguares, encontramos mais à ação histórica de seus políticos, do que as características destas comunidades, ou o seu dia a dia.
Informações históricas de uma cidade não devem se restringir apenas a isso, até porque a história politica do Rio Grande do Norte é limitada quando se olha a competência de seus participantes, as suas qualidades pessoais, ou em relação as suas formações. O que vale na política do Rio Grande do Norte é somente o D.N.A. e o sobrenome.
Mas vamos ao que interessa.
Rotina
Ao lermos as velhas páginas do jornal “O Seridoense”, edição de 16 de julho de 1926, temos uma seção chamada “Informações”, que trata das repartições, atendimentos comerciais, dos profissionais liberais e outros serviços que existiam em Caicó, a principal cidade do Seridó Potiguar.
Na metade da década de 1920 do século passado o município de Caicó tinha uma população em torno de 25.000 mil habitantes, mas o núcleo urbano não tinha nem 8.000 almas. Apesar desta pequenez habitacional, Caicó já tinha um banco.
Aparentemente o tempo das velhas botijas para guardar valores estava acabando no Seridó. O fazendeiro e empreendedor Celso Dantas, além de possuir a única agência de automóveis da região, ainda tinha na sua agência bancária que representava o Banco do Brasil e o Banco de Natal na sua cidade e ficava localizado na então Rua Coronel Martiniano.
Se havia um banco, então havia muito dinheiro circulando. Se havia dinheiro, haviam bens patrimoniais sendo comparados e vendidos, então tinha que existir um cartório para sacramentar tudo. Este tabelionato ficava na Praça da Liberdade e o tabelião era o Sr. Elísio Dias de Medeiros.
Se havia dinheiro e cartório certamente entre aqueles que tinham bens, uma hora ou outra haveria conflitos. Para dirimir problemas da elite local havia um juiz. Na época este era interino e o cargo estava entregue ao Dr. Eugenio Carneiro. Estranhamente o jornal “O Seridoense” não trás o endereço do Fórum, mas o da residência do ilustre magistrado.
Então ele despachava em casa?
Conflitos Jurídicos
Independente desta última questão, logicamente conflitos judiciais não existem sem os nobres advogados. Na Caicó de 1926, pelo menos listados neste jornal haviam quatro destes profissionais para resolver qualquer bronca.
Os ilustres doutores Pereira da Nóbrega (Praça da Liberdade), Renato Dantas (Rua Coronel Martiniano), Diógenes da Nóbrega (Rua Sete de Setembro) e Higyno Pereira (Rua Padre Sebastião) estavam a postos para defenderem o direito de quem lhes contratassem.
Nesta época de um Brasil extremamente agrário, uma grande demanda do judiciário de Caicó estava ligada a questão de terras. Eram comuns litígios para saber se uma fazenda tinha certo tamanho, ou sobre a divisão de terrenos em razão de uma partilha de propriedade. Então não é surpresa encontrar, logo após a lista de advogados, o nome do agrimensor local. Este era o Sr. Aureliano Gonçalves de Mello, que atendia em sua casa, na Rua Monte Petrópolis, número 11.
Prioridade na Saúde
Banco, dinheiro, cartório, justiça, advogados, divisão de terras poderiam ser sinônimos de problemas, stress, hipertensão, infarto, etc. Então seria hora de falar sobre os médicos e os boticários que atuavam na mais importante cidade do Seridó Potiguar.
Mas é aí que na nota do jornal surge algo muito interessante, pois em 1926, antes dos profissionais que cuidavam dos seres humanos, vem em destaque o nome do veterinário de Caicó. Estava esta função entregue ao Sr. Carlos Fonseca, residente a Praça da Independência, nº 26 e que, aparentemente, nem formado era. Comento isso, pois não aparece o tradicional “Dr.” dos bacharéis antes do seu nome. Se hoje certas “universidades” produzem uma enorme quantidade bacharéis que não sabem nada, naquele tempo no sertão, se um cidadão tinha um curso superior era para ser chamado de “Dotô”, pois realmente aprendia o que tinham estudado e, além do mais, havia pouca gente com nível superior. Mas para o Sr. Carlos Fonseca, se realmente ele não tinha curso superior, pelo menos para o jornal não fazia diferença.
Isso mostra que a saúde dos animais era mais importante do que a das pessoas na Caicó desta época?
Espero que não, mas a verdade é que o principal meio transporte ainda eram as alimárias e o gado vacum tinha vital importância na economia local.
Mas enfim, quem era que tomava conta da saúde do povo de Caicó nesta época?
Estão listados três médicos. Eram os doutores José da Silva Pires Ferreira, que tinha residência (e certamente o consultório) a Avenida Seridó, Aderbal de Figueiredo, que atendia a Rua Ferreira Chaves e Gil Braz de Figueiredo Araújo, na Praça da Matriz, em um “sobrado”.
Já as boticas, que nesta época já eram conhecidas como “pharmácias”, existiam duas, a “Nóbrega” e a “Gurgel”. O primeiro estabelecimento ficava na Rua Felipe Guerra e respondia pelo atendimento o “Pharmacêutico Chimico” Homero Nóbrega. O também “Pharmacêutico Chimico” José Gurgel de Araújo respondia pela outra farmácia, que ficava na Avenida Seridó. O jornal informava que ambos os estabelecimentos era abertos a qualquer hora do dia ou da noite.
Interessante era a atitude do dentista local, o Dr. Gorgônio Arthur, que atendia na Praça da Liberdade e tinha enorme confiança no que fazia, pois colocou textualmente no jornal que “garantia a qualidade dos seus trabalhos, de contrário não aceitaria pagamento”.
Falando com o Mundo e Diversão
Nesta época Caicó já se comunicava com o Mundo, mas não era pelo rádio. O serviço era feito pelas linhas da “Estação Telegraphica”, que ficava a Rua Coronal Manoel Gonçalves Valle e era comandada pelo habilidoso telegrafista era José Antunes Torres.
Outra forma de comunicação era a Agência dos Correios e Telégrafos, na Praça da Liberdade e era comandada Belmira Benigna Valle, a única mulher listada em todos estes serviços públicos e privados da cidade naqueles tempos.
Cidade calma, pacata e tranquila, é de se perguntar o que o caicoense fazia a noite.
A edição de 16 de julho de 1926 de “O Seridoense” aponta uma situação positiva e interessante. A biblioteca Olegário Valle, situada na Associação Educadora Caicoense, localizada na Praça do Rosário, estava aberta todas as noites, de 18 às 21 horas, com vasta quantidade de livros para aqueles que desejassem aprender algo mais.
Na listagem surge um interessante personagem, muito pouco abordado nas páginas dos jornais caicoenses da época. Os negros no Seridó são mais lembrados pelas suas comunidades afastadas e suas danças, tendo pouca representatividade na história da elite caicoense. Mas José Eselino era um negro que havia conseguido extrema respeitabilidade na Terra de Santana com um atelier de fotografias, que inclusive ilustram este artigo. Seu trabalho, que teria produzido mais de 10.000 fotos, é verdadeiramente excepcional e a ele se deve grande parte do conhecimento iconográfico desta cidade e de sua região.
Certamente havia bares, cafés e, obviamente, os ambientes voltados para o sexo pago. Estes locais “semi-públicos” eram de conhecimento geral, onde todo mundo sabia a sua finalidade, onde estavam localizados, quem trabalhava neles e quem frequentava. Salvo engano, um deles era chamado de “Cabaré de Pedro Casé”.
Mas isso não se publicava nos jornais locais.
E o Governo Para Cobrar
Por fim não podia deixar de faltar o governo.
O Federal era representado pela “Colectoria Federal”, a atual Receita Federal. Ficava localizada na Rua Ferreira Chaves, sendo o coletor Manoel Etelvino de Medeiros.
No jornal, a mais importante repartição pública do Estado era Mesa de Rendas, cujo titular era Jerônimo Xavier de Miranda.
Já que falamos de governo, o “Presidente da Intendência”, como era antigamente conhecido o cargo de prefeito das cidades brasileiras, era o Coronel Joel Damasceno e a tesouraria da Intendência de Caicó estava nas mãos do Sr. Tasso Dantas.
Interessante notar que nessa época o governo, pelo menos até onde o informativo mostra, se fazia mais presente em Caicó para cobrar impostos.
Não podemos esquecer que a região ainda possuía uma grande produção algodoeira e evidentemente que estes produtos não poderiam sair da região sem pagar a parte que cabia ao governo.
Estes são alguns dados do dia a dia da principal cidade do Seridó Potiguar a oitenta e cinco anos atrás.
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Ocorrido no
dia 21 de fevereiro de 1925 nas proximidades do Serrote Preto na região de Mata
Grande em Alagoas o "Combate do Serrote Preto", como assim ficou
conhecido, foi sem dúvida um dos combates mais sangrentos e desastrosos
ocorridos entre cangaceiros e policiais em toda a história. A valentia
exagerada e a indisciplina militar, colocaram duas Forças Volantes paraibanas
entre uma fuzilaria infernal, causada por fogo amigo através de uma Força
pernambucana e tiros disparados pelos cangaceiros do bando de Lampião, que
resultou na morte de dois oficiais e de vários soldados paraibanos. Um desfecho
triste e lamentável para os bravos combatentes paraibanos, que perderam a vida
por conta da imprudência e negligência, principalmente, de seus comandantes.
Conheçam essa sangrenta e fascinante história. Em breve estarei publicando o
desfecho final dessa história. Assistam e ai final deixem seus comentários,
críticas e sugestões. Inscrevam-se no canal e não esqueçam de ativar o sino
para receber todas as nossas atualizações.
Forte abraço... Cabroeira!
Geraldo
Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.
A
religiosidade e o banditismo no Sertão nordestino sempre tiveram uma estreita
relação. O sentimento religioso do sertanejo era especialmente voltado para a
penitência e muitas vezes, ao fanatismo. A ligação entre padres e cangaceiros
sempre foi muito forte, despertando em ambos respeito, admiração e ódio.
Joaquim de
Alencar Peixoto nasceu na cidade do Crato, Ceará em 26 de abril de 1871.
Oriundo de tradicionais famílias do sertão cearense e pernambucano – Alencar e
Peixoto. Seus pais foram Felismino de Alencar Peixoto e Hortulana de Alencar
Peixoto. Seus avós paternos, Teodósio Marques de Abreu Peixoto (pernambucano) e
Joaquina Xavier de Jesus (de Missão Velha, Ceará); os maternos foram Francisco
Leão da França Alencar e Maria Leopoldina do Monte (de Exu).
Iniciou os
seus estudos primários com os professores Raymundo Duarte de Moura e Manoel da
Penha de Carvalho Brito. No Colégio Venerável Ibiapina aprendeu português,
francês, latim e grego com o padre Joaquim José Teles Marrocos.
Passou pelos
Seminários de São José do Crato a 17 de Março de 1891, Fortaleza, 1893, e no
Estado da Paraíba em 1895, onde ordenou-se em 1897.
Foi nomeado
pároco das cidades de Saboeiros e Arneiroz - CE. em 1898 onde exerceu
importantes funções.
De volta a sua
terra natal, funda o "Ginásio Cratense", em 1903, e mais tarde o
"Sul do Ceará".
Em 15 de
agosto de 1907, mudou-se para Juazeiro do Norte onde substitui na capela de N.
S. das Dores ao Pe. Agio Maia.
Em 1909, funda
o primeiro jornal juazeirense que tinha o título de “O Rebate”. As publicações
davam-se aos domingos, até o dia 03 de setembro de 1911, data de seu último
exemplar.
Provavelmente
pelo forte e combativo envolvimento político não obteve permissão para
confessar e foi suspenso de todas as ordens da igreja.
A partir de então
se insere na luta em prol da independência de Juazeiro e a criação do
município, o que aconteceu em 22 de julho de 1911. Depois da vitória em
Juazeiro, por divergências com o padre Cícero, deixou a cidade.
Foi pároco de
Belmonte - PE. no período de 02 de janeiro de 1917 a 23 de novembro de 1919.
Foi nomeado como Pároco Encomendado de Granito - PE. em 16 de dezembro de 1919.
Em setembro de
1926, Lampião entra em Granito, acompanhado por mais de cem homens. A população
em pânico procura a casa paroquial como refúgio. Padre Peixoto procura Lampião
e chama o chefe dos cangaceiros para uma conversa. Depois do diálogo, os
invasores vão embora da cidade em paz, inclusive pagando as contas das bodegas.
O
comportamento crítico do padre Peixoto em relação às ações do padre Cícero e,
distante das brigas enciumadas de intelectuais e do poder financeiro, fez com
que se afastasse, como se fugindo de algo, morando pelo resto da vida em
lugares diferentes; Sabe-se que esteve morando num lugar chamado Sena
Madureira, no Acre, na Amazônia, em Mangas - MG. e Rubiataba - GO.
Com o tempo,
adquiriu problemas renais dos quais se queixava muito. Em 1950 quando visitou
Juazeiro do Norte era um homem pobre, velho, quase cego, desiludido e por
poucos reconhecido.
O padre
Peixoto permaneceu lúcido até a madrugada de 24 de fevereiro de 1957 quando
faleceu em Rubiataba - GO. aos 85 anos. Teve atestada a causa mortis como
“bronco pneumonia derivada de diversas causas”. Foi sepultado no Cemitério
Público da mesma cidade.
Sacerdote, intelectual,
político, grande orador, jornalista, poliglota, escritor de textos em prosa e
poesia, escritor de livros dentre os quais: “Juazeiro do Cariri” e “À Margem de
um Livro”, destemido e polemista exaltado, fez história.
Mais uma
figura importante que cruzou o caminho do Rei do Cangaço.
REFERÊNCIAS:
JUNIOR, José
Peixoto. Padre Peixoto - intelectual, político, sacerdote. Goiânia: Kelps,
2007.
CAVALCANTE,
Francisco José Pereira. Padres do interior II - os padres da paróquia de nossa
senhora do bom conselho de Granito. Petrolina: Diocese de Petrolina, 2010.
CRUZ, Maria do
Rosário Lustosa da. Padre Joaquim de Alencar Peixoto: o baluarte da emancipação
política de Juazeiro. Fortaleza: IMEPH, 2012.
BARRETO,
Ângelo Osmiro. Misto de guerra e paz. Lampião Aceso, 02 nov. 2009. Disponível
em:<http://lampiaoaceso.blogspot.com/…/padres-e-cangaceiros.htm…>.
Acesso em: 25 mar.2020.
Ocorrido no
dia 21 de fevereiro de 1925 nas proximidades do Serrote Preto na região de Mata
Grande em Alagoas o "Combate do Serrote Preto", como assim ficou
conhecido, foi sem dúvida um dos combates mais sangrentos e desastrosos
ocorridos entre cangaceiros e policiais em toda a história. A valentia
exagerada e a indisciplina militar, colocaram duas Forças Volantes paraibanas
entre uma fuzilaria infernal, causada por fogo amigo através de uma Força
pernambucana e tiros disparados pelos cangaceiros do bando de Lampião, que
resultou na morte de dois oficiais e de vários soldados paraibanos. Um desfecho
triste e lamentável para os bravos combatentes paraibanos, que perderam a vida
por conta da imprudência e negligência, principalmente, de seus comandantes.
Conheçam essa sangrenta e fascinante história. Em breve estarei publicando o
desfecho final dessa história. Assistam e ai final deixem seus comentários,
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Geraldo
Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.
Reportagem
sobre a passagem do Rei do Cangaço, pela cidade de Limoeiro do Norte, interior
do Ceará em 15 de junho de 1927. Texto e reportagem: Jornalista Jucelino Castro
Edição: Dhiego Raulino Áudio: Rádio Vale / Custódio Saraiva Produção: TV Jaguar
Data da Reportagem: 15 de junho de 2018.