Por Antônio Corrêa Sobrinho
Na "república", em Salvador, os acadêmicos de Medicina: Eronides de Carvalho (na extrema esquerda, o então futuro governador e interventor federal em Sergipe), Manoel Torres, Antonio Ferreira, Vitorino Bastos, Amphisio Ribeiro e Thalses de Souza. As mulheres: sinhá Henriqueta, jubilada em artes culinárias, e a pequena Bena (uma criança), copeira.
Disse Dr. Archimedes Marques:
Essa fotografia está na página 31 do
primeiro volume do meu livro LAMPIÃO E O CANGAÇO NA HISTORIOGRAFIA DE SERGIPE.
A original dela hoje se encontra no INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DA BAHIA.
O terceiro dos homens, ANTONIO FERREIRA, é o ANTONIO CAIXEIRO, pai de Eronides
Ferreira de Carvalho. Os outros são amigos da família Ferreira e NÃO ACADÊMICOS
DE MEDICINA como diz a matéria.
Possuo um livro da FACULDADE DE MEDICINA DA
BAHIA com todos os FORMANDOS DESDE A SUA FUNDAÇÃO e NENHUM DESSES NOMES CONSTA
NAS SUAS RESPECTIVAS RELAÇÕES...
Ademais o menino ERONIDES FERREIRA DE CARVALHO
era muito novo para já ser ACADÊMICO DE MEDICINA, ou seja, ele nasceu em
25/04/1897 e essa foto é de 1911, portanto, ele tinha 14 anos de idade.
Que bom, o seu
esclarecimento, Archimedes. A informação dos nomes é que se tratam de
acadêmicos é do próprio jornal.
Quanto à
condição de Eronides de Carvalho nesta foto, Archimedes Marques, concordo com você, estamos
aparentemente diante de um pré-adolescente, porém, vejo em jornal 1919
referências ao doutor Eronides de Carvalho clinicando em Sergipe.
Ainda Antônio Corrêa Sobrinho:
Seja esta
informação do Dicionário histórico-biográfico da Primeira República
(1889-1930): CARVALHO, Eronides de
*militar; rev. 1930; gov. prov. SE 1930; gov. SE 1935-1937; interv. SE
1937-1941; juiz TSN 1942-1943.
*militar; rev. 1930; gov. prov. SE 1930; gov. SE 1935-1937; interv. SE
1937-1941; juiz TSN 1942-1943.
Eronides Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba, então povoado do município de
Propriá (SE), no dia 25 de abril de 1895, filho de Antônio Ferreira de Carvalho
e de Balbina Mendonça de Carvalho.
Realizou seus estudos básicos em Maceió, no Colégio 11 de Janeiro e no Liceu
Alagoano, onde concluiu o secundário em 1910. No ano seguinte, matriculou-se na
Faculdade de Medicina da Bahia e, pouco tempo depois, começou a trabalhar em
atividades ligadas ao curso que frequentava. Foi auxiliar de laboratório da
cadeira de terapêutica, estagiário do Hospício São João de Deus, diretor da
Beneficência Acadêmica e auxiliar de clínica hospitalar do cirurgião Antônio
Borja, seu professor. Diplomou-se em 1917, defendendo a tese intitulada Do ópio
em terapêutica mental, aprovada com distinção, tornando-se assim membro da
Sociedade Médica dos Hospitais da Bahia.
Em novembro de 1918 foi nomeado diretor-geral interino de Higiene e Saúde
Pública de Sergipe, dirigindo os trabalhos de profilaxia da epidemia que ficou
conhecida como “gripe espanhola”. Diretor interino do posto de assistência
pública do estado durante o ano de 1919, Eronides exerceu as funções de
inspetor médico do sistema escolar entre fevereiro e outubro do ano seguinte,
quando foi comissionado para representar seu estado natal no Congresso de
Proteção à Infância que seria realizado no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal. Em virtude do adiamento desse conclave, Eronides recebeu a missão de
estudar o funcionamento do Serviço de Inspeção Médica Escolar do estado de São
Paulo.
Em agosto de 1921, foi nomeado para o corpo de veterinários do Serviço de
Indústria Pastoril, ligado ao Ministério da Agricultura Indústria e Comércio,
passando a exercer essas funções em seu estado natal. Aprovado em concurso para
o Corpo de Saúde do Exército em fevereiro de 1923, foi classificado como
segundo-tenente no 1º Regimento de Cavalaria Independente, localizado em Bela
Vista (MT). Dois meses depois, foi transferido para o 28º Batalhão de
Caçadores, em Aracaju, e, no ano seguinte, tornou-se primeiro-tenente. Nessa
patente, acompanhou as tropas que, em 1926, perseguiram a Coluna Prestes em sua
passagem pelo Nordeste.
Ingresso na política
A Revolução de 1930, no Nordeste, teve início na Paraíba, onde se encontrava o
capitão Juarez Távora, seu principal articulador na região, e um importante
grupo de oficiais ligados ao movimento tenentista. Depois da ocupação da
capital paraibana, as colunas rebeldes marcharam para o sul, conseguindo
adesões e depondo, sucessivamente, os governos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe
e Bahia. A unidade em que Erônides de Carvalho servia colocou-se ao lado dos
revolucionários e, em 17 de outubro, com a deposição de Maurício Graco Cardoso,
presidente de Sergipe, Erônides assumiu o governo estadual, entregando-o três
dias depois ao general José de Calasans, conforme critério adotado por Juarez
Távora.
No dia 24 de outubro, consolidou-se a vitória da revolução com a deposição, no
Rio, do presidente Washington Luís, e em 16 de novembro Augusto Maynard Gomes —
líder de duas sublevações militares em Sergipe na década de 1920 — foi nomeado
interventor federal no estado.
Nos anos seguintes, descontente com a administração estadual, Erônides de
Carvalho passou a fazer oposição ao interventor, consolidando essa opção
quando, em fins de 1932, o Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas
convocou eleições para a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte.
Nessa época, Erônides, Gonçalo Rollemberg do Prado e Augusto César Leite foram
os principais articuladores da União Republicana de Sergipe, fundada em 5 de
março de 1933, enquanto Maynard Gomes apoiou a criação do Partido Republicano
de Sergipe, que indicou candidatos à Constituinte pela lista “Liberdade e
Civismo”. Nas eleições, realizadas em maio de 1933, Erônides de Carvalho,
promovido a capitão no mês anterior, tornou-se suplente de Augusto César Leite,
único deputado eleito na legenda de seu partido para a bancada sergipana na
Constituinte, composta de oito membros.
Entretanto, em outubro de 1934 a União Republicana de Sergipe obteve a maioria
das cadeiras da Assembléia Constituinte estadual que, em março do ano seguinte,
encerrou seus trabalhos elegendo Erônides de Carvalho para governador.
Inconformado com esse resultado, Maynard Gomes, a princípio, recusou-se a transmitir
o cargo para seu sucessor, sem contudo conseguir impedir sua posse.
No governo do estado
No início de sua gestão, Erônides de Carvalho procurou saldar o débito do
estado para com o Banco do Brasil, herdado da administração anterior, cujos
atos foram sistematicamente desfeitos pelo novo governo. Baseado em pareceres
do ex-presidente Epitácio Pessoa e dos juristas Heráclito Sobral Pinto e Mendes
Pimentel, o governador anulou os decretos de criação do Tribunal de Contas e de
alteração do funcionamento do Tribunal de Justiça, então chamado de Corte de
Apelação do Estado, aumentando o número de desembargadores. Realizou também
melhorias na Biblioteca Pública e reaparelhou a imprensa oficial, além de
construir escolas, estradas, pontes, a cidade de menores “Getúlio Vargas” e o
quartel do Corpo de Bombeiros. Vinculado profissionalmente à área de saúde
pública, Erônides de Carvalho ampliou significativamente a capacidade da rede
hospitalar do estado e realizou uma reforma geral no sistema de esgotos da
capital. Conseguiu também uma verba de trezentos contos de réis da Câmara
Federal para aumentar o combate ao banditismo que agia no interior do estado,
especialmente o bando de Lampião.
Em novembro de 1935, ofereceu ao presidente da República tropas da Polícia Militar
de Sergipe para colaborarem na repressão ao levante comunista deflagrado nesse
mês em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Rapidamente dominada, a rebelião deu
lugar a uma das maiores ondas de repressão até então havidas no país submetido
ao estado de sítio e, depois, ao estado de guerra até junho de 1937. Erônides
determinou a realização de diligências policiais para descobrir possíveis
ramificações da sublevação em Sergipe, concluindo que elementos ligados ao
ex-interventor Maynard Gomes, seu adversário político, estavam envolvidos com
os comunistas. Baseado nessas considerações, escreveu ao presidente Getúlio
Vargas, solicitando a transferência de alguns oficiais que não gozavam de sua
confiança. J. Pires Wynne, em seu livro História de Sergipe, nega a existência
de qualquer vínculo entre Maynard Gomes e os comunistas, lembrando que, mais
tarde, ele integrou o Tribunal de Segurança Nacional, encarregado de julgar os
envolvidos no levante de 1935.
Em março de 1936, Erônides de Carvalho viajou para o Rio de Janeiro a fim de
obter auxílio para o combate aos efeitos das secas e enchentes que assolavam
regiões do estado, bem como para a realização de obras na barra de Aracaju,
conseguindo a quantia de seiscentos contos para iniciar a dragagem. Em 1937,
posicionou-se a favor da candidatura de José Américo de Almeida às eleições
presidenciais previstas para o ano seguinte. Apesar de apoiar oficiosamente
esse candidato, Vargas já articulava um golpe de Estado de caráter continuísta
e, no início de outubro desse ano, conseguiu autorização do Congresso para
decretar novamente o estado de guerra sob a alegação de que havia sido
descoberto o chamado Plano Cohen, pretensamente elaborado pelos comunistas
visando à tomada violenta do poder. Conforme comprovação posterior, tratava-se
de um documento forjado, utilizado pelo governo e sua alta cúpula militar para
favorecer a concretização do projeto golpista.
Erônides de Carvalho foi nomeado executor, em Sergipe, dos poderes excepcionais
conferidos ao Executivo durante a vigência do estado de guerra, o mesmo
acontecendo com todos os outros governadores estaduais, à exceção dos de São
Paulo, Rio Grande do Sul e do prefeito do Distrito Federal. Em fins desse mês,
o deputado Francisco Negrão de Lima, secretário-geral do comitê diretor da
campanha eleitoral de José Américo, visitou vários estados do Norte e Nordeste,
inclusive Sergipe, em missão secreta com o objetivo de arregimentar, em nome do
governo federal, o apoio dos governadores ao golpe de Estado que, em 10 de
novembro, implantou o Estado Novo, decretando a suspensão das eleições e o
fechamento do Legislativo e dos partidos políticos.
Partidário do novo regime, Erônides foi confirmado no posto, convertido em
interventor federal em Sergipe. Na nova fase de sua gestão, vários estudantes
foram presos e condenados pelo Tribunal de Segurança Nacional, encarregado do
julgamento dos opositores do Estado Novo.
Substituído pelo capitão Mílton Pereira de Azevedo em junho de 1941, Erônides
de Carvalho declinou do convite para se tornar adido comercial brasileiro em um
país africano, sendo então nomeado, em março de 1942, para a vaga de Maynard
Gomes no Tribunal de Segurança Nacional, representando o Exército. Integrou o
corpo de juízes desse tribunal até agosto de 1943, ano em que foi promovido a
major médico, transferido para a reserva e nomeado tabelião do 14º Ofício de
Notas da Justiça, no Rio de Janeiro.
Em 1945, com a reorganização da vida política nacional, tornou-se presidente do
diretório regional de Sergipe e membro do diretório nacional do Partido Social
Democrático (PSD).
Em fevereiro de 1952, foi promovido a tenente-coronel na reserva.
Faleceu no Rio de Janeiro em 19 de março de 1969.
Foi casado com Ivete de Melo Góis.
Publicou discursos e relatórios técnicos sobre saúde pública. Seu
correligionário Augusto César Leite escreveu Em defesa do governador Erônides
de Carvalho (1937).
Robert Pechman
FONTES: ARQ. GETÚLIO VARGAS; ARQ. MIN. EXÉRC.; ARQ. PÚBL. EST. SE; ASSEMB. NAC.
CONST. 1934. Anais; CABRAL, O. História; Correio da Manhã (15/6/39); Diário do
Congresso Nacional; Encic. Mirador; GUARANÁ, M. Dic.; INST. NAC. LIVRO. Índice;
PEIXOTO, A. Getúlio; POPPINO, R. Federal; SILVA, H. 1937; WYNNE, J. História.
Continua Antônio Corrêa Sobrinho:
Ainda a respeito da substanciosa intervenção do amigo Archimedes, fiquei intrigado quando comparei as imagens do Antonio Ferreira do O Malho (acima) com a considerada fotografia de Antonio Caixeiro, pai de Eronides de Carvalho (fotos que trago a seguir), na minha opinião as imagens não são da mesma pessoa.
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