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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

S/A Mercantil Tertuliano Fernandes - 12 de Janeiro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

 O Rei do algodão de Mossoró 
               
A S/A Mercantil Tertuliano Fernandes tinha como objetivos sociais a promoção, comércio, transporte, exportação, importação, industrialização de algodão, cera de carnaúba, couros, sal marinho, óleos e sementes oleaginosas, sabão, transporte e navegação, agenciamentos, comissões, representações, consignações, agricultura, pecuária, administração de bens próprios ou alheios e particulares em outras empresas com recursos sociais.
               
A razão social “S/A Mercantil Tertuliano Fernandes” foi constituída em 6 de abril de 1949, em substituição à antiga “Tertuliano Fernandes & Cia.”, remontando a sua fundação ao ano de 1870 quando a partir de então teve as seguintes razões sociais: “F. T. de Albuquerque”, “F. T. de Albuquerque & Cia.”, “Tertuliano Fernandes & Cia.” E, finalmente, “S/A Mercantil Tertuliano Fernandes”.
               
E tudo começou com um pequeno comércio de fazendas, ferragens e miudezas, que tinha o nome de F. T. de Albuquerque. O seu fundador, Tertuliano de Albuquerque, era um homem progressista e com raro senso de observação. Aproveitou o potencial econômico de Mossoró, alcançado com a abertura do Porto de Areia Branca, em 1886, para incrementar a exportação de algodão. Era dali que saiam todas as mercadorias exportadas pela Praça de Mossoró. Essas mercadorias eram transportadas até o porto de Santo Antônio, em carros de bois ou comboios, nas costas de burros. Dali, os volumes eram levados em embarcações à vela até Areia Branca, de onde por sua vez, eram transportados em navios, ou ainda em embarcações a vela, de maior calado, para os mercados consumidores.
               
Foi por essa época que a empresa passou a trabalhar também com o sal marinho. O sal produzido em Mossoró era bem conhecido e aceito no sertão, mas no Sul do país se consumia quase que exclusivamente o sal importado de Cádiz na Espanha. Foi preciso muita artimanha dos diretores da empresa para que o sal mossoroense pudesse ser aceito no sul. O primeiro passo foi convencer uma firma sulista a adquirir um carregamento do sal aqui produzido (trezentas toneladas). O convencimento deu-se pela cobrança irrisória do produto. A estratégia era exatamente essa; fazer com que os sulistas percebessem que o nosso sal era tão bom quanto o que era importado. Não queriam lucros imediatos com essa transação. Desejavam ”fazer o mercado” para um produto estacionário. A medida funcionou, pois logo depois o sal de Mossoró ganhava o mercado do sul, já com bases eminentemente comerciais.


Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
http://www.blogdogemaia.com

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Farmácia e Drogaria Rosado - 13 de Janeiro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

A 27 de abril de 1890 o farmacêutico Jerônimo Rosado requer a Câmara Municipal de Mossoró/RN licença para instalar uma farmácia e drogaria na Rua do Graff, atual Rua Almeida Castro, no centro de Mossoró.
               
Fonte: jotaemeshon-saaguarn.blogspot.com

Começava assim uma empresa que por 40 anos atendeu aos anseios de uma população carente, que na área de saúde era capitaneada pelo Dr. Almeida Castro, médico e político em Mossoró.
               
Em 1897 o Almanak do Rio Grande do Norte, que era impresso em Natal, anunciava os produtos desenvolvidos pela Farmácia e Drogaria Rosado nas cidades de Mossoró, Natal, Recife e Fortaleza, informando que todos os produtos eram na base da flora indígena. Eram licores, vinhos, elixis, etc. Depois surgiram: Viperina, fórmula do Dr. Almeida Castro e Jerônimo Rosado, que era um antídoto do veneno de cobras e o Antinevrálgico Rosado, que se tornou popularíssimo.
               
Jerônimo Rosado recebeu a medalha de ouro na exposição nacional de 1908 pelos preparados Antinevrálgico, Viperina, Peitoral de Joatonka, Licor de Alcatrão e Jatany e Elixir Anti-Asthmatico. 
               
O elixir Antisezonático fora licenciado pela Inspetoria de Higiene do Estado do Rio Grande do Norte em 12 de novembro de 1895 e, por despacho da mesma entidade, mudada a denominação para Antinevrálgico. Na Exposição Internacional de 1922, com os mesmos preparados, obteve menção honrosa. Tanto a Exposição Nacional quanto a Internacional aconteceram no Rio de Janeiro.

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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

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Lampião O Bandoleiro dos Sertões Nordestinos



Em uma viagem de recreio com a família, na bela cidade de Aracajú, capital do estado de Sergipe, que foi fundada em 1855, sendo uma das primeiras planejadas do país, onde notamos que suas ruas centrais, são traçadas em forma de um tabuleiro de xadrez.

Em um city-tour, percorremos o mirante da 13 de julho, Mercado Municipal que, aliás, me encantou, disse então à minha esposa, que no último dia, deveríamos regressar para nos determos mais em suas peculariedades, que presenciei serem de muita cultura, pois havia ali muito folclore e um contador de historias, o que me agradou muito, fomos também à Catedral, Colina do Santo Antonio, onde se tem uma visão de toda a cidade e a Praia de Atalaia, etc.

Em um dos dias que se seguiu, fomos visitar os Canyons do Rio São Francisco, percorrendo terras áridas e secas, passamos pelo projeto de terras irrigadas chamado de Califórnia, onde o contraste é radical, com plantações de quiabo, uva, acerola, côco, maçã, feijão, etc.

Às margens do "Velho Chico" está a imponente Usina Hidroelétrica de Xingó, com um reservatório de 60km2 que formam imensos canyons. O passeio foi através de um catamarã, vislumbramos muitas paisagens maravilhosas que a natureza, com a ajuda do homem nos proporcionou, destacando a Gruta do Telhado.

No retorno, fizemos uma visita ao fabuloso Museu de Arqueologia, com o acervo obtido nas escavações do reservatório da Usina. Após o embarque de volta, fomos ouvindo o Cicerone da embarcação, onde deitava loas ao fato de dois dias atrás, ter havido na cidadezinha de Piranhas, próximo dali, a uns 20 quilômetros, uma missa comemorativa ao aniversário de morte do famigerado Lampião. Foi uma concentração de muita gente, dizia ele, vindo de todos os cantos, em louvor ao cangaceiro e ao seu bando, uma vez que ali perto foi morto com alguns de seus asseclas, tendo a cabeça decepada pelos policiais da época, chamados de "volantes". Contou também algumas passagens do bandoleiro, o que me deixou bastante curioso, para saber mais desse incauto personagem que virou uma lenda no Sertão.
O pacote turístico que compramos, incluía um almoço que seria servido após a parada final, em um restaurante rústico, à beira da represa. Quando nos aproximávamos das mesas, o cicerone lá do alto da embarcação, dizia:


- Não deixem de conhecer após o almoço, a Dona Expedita, a filha de Lampião, que os recepcionará junto com sua filha Vera. A velha senhora tem aquele restaurante e mora com a filha em Aracajú. Foi sem dúvida uma atração à parte. Contou aos curiosos que logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita, três vezes. Dizia ela:- "Eu tinha muito medo das roupas e das armas, mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo para conversar comigo"

No regresso à Aracaju, vim pensando em saber mais sobre a lenda que esse personagem fincou nas fronteiras dos Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia, lembrei-me então daquele contador de historias do Mercado.

Fomos até lá no último dia que nos restou da viagem, é um lugar fascinante, cheio de lojas onde tem vários barbeiros, cabeleireiras, moças que fazem unhas das donzelas da cidade, vendedor de queijo, castanhas, manteiga de garrafa, artesanato, conjuntos cantando forró, dançarinos e tocadores de berimbaus, uma verdadeira festa nordestina.

Rumei para a bancada do contador de historias, causos e lendas. Lá estava cercado de muitas pessoas, tinha até repentistas. Acabei conhecendo a pessoa de João Firmino Cabral, um mestre da literatura de cordel, que tem todas as obras de sua autoria aceitas pelo povo.

No momento, contava lendas de Lampião, lendo um livreto cujo titulo é: Lampião ? Herói ou Bandido. Ouvi com atenção e no final acabei comprando um livreto, que o João fez uma dedicatória, trocamos cartões e falei da minha paixão também em escrever historias.

Confesso que de herói, não vi quase nada, a não ser que em uma ocasião, conta João Firmino, o Padre Cícero Romão Batista, lhe mandou um recado que dizia:- Virgulino, meu digníssimo afilhado, venha aqui porque estou de você necessitado, a coluna Prestes quer invadir Juazeiro, saquear nossa cidade, carregar nosso dinheiro, queimar nosso mercado e matar o povo romeiro, venha urgente com seus homens para nos dar proteção, espero sem falta meu amigo, Lampião. 

- Vou atender esse pedido disse Lampião, entrou na cidade santa e não houve ataque, pois ficaram sabendo que lá estava protegendo a cidade e as pessoas. O Prefeito da cidade em agradecimento lhe deu o titulo simbólico de Capitão. Antes de se retirar, saiu cantando pelas ruas:

- "O meu nome é Virgulino, mas me chamam Lampião, e agora sou capitão!
Foi criado com mais sete irmãos, três dos quais foram seus companheiros de pistolagem, sabia ler e escrever tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume Francês e era habilidoso na costura em couros, fazia os próprios chapéus e outras indumentárias. As armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço, daí o nome de cangaço, que vem de canga, peça de madeira para prender o boi ao carro. 

Na madrugada de 28 de julho de 1938, em seu acampamento na Grota do Angico, na margem Sergipana do Rio São Francisco, uma tropa de policiais de Alagoas avançaram contra o bando de gangaceiros, foram apanhados de surpresa e não tiveram chance, combateram apenas por alguns momentos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem dos sertões: Virgulino Ferreira da Silva era o fim da incrível historia do pernambucano, pele queimada, cabelos crespos, braços fortes, era praticamente cego do olho direito. 

Foi um "cabra" destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades. O que levou a essa vida, foi o assassinato de seu pai, em 1920 de forma equivocada por uma "volante". A partir desse dia, ele e mais três irmãos, "juraram vingança" e assim, entraram para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira. Esse bandido, em razão de estar sendo severamente perseguido pela policia, deixou ao jovem Virgulino, com apenas 24 anos, o comando do grupo. Era o início do lendário Lampião.

Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião, e seu bando fossem mortos, foram decapitados e tiveram suas cabeças expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas. Lampião estava então com 40 anos de idade.

Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Quando morreu, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais, apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro. Mas a verdade é que, mesmo depois de sua morte, Virgulino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino, que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. Sua extraordinária história leva a crer que nunca o será

Depois de tudo o que ouvi por lá e li a respeito, não poderia finalizar essa crônica sem colocar alguma situação que veio na minha imaginação:

***O povo de uma pequena cidade estava cansado de ser atacado pelo bando de Lampião, pois situava na rota de fuga e esconderijo, sempre que por ali passavam, arrasavam tudo e faziam com que o Prefeito liberasse seu depósito de mantimentos que era para ajudar as famílias mais pobres.
Alem disso, na balburdia que a cidade era mantida, as casas eram invadidas, as mulheres violentadas, e ainda tinham que preparar comida para aquelas feras.

Na manhã seguinte depois que o bando foi embora, o Prefeito contratou uns "jagunços" para defender a cidade e o povo, daqueles bandoleiros. Ficaram então acampados no deposito da Prefeitura, de prontidão, para qualquer eventualidade, pois sabiam que dentro em breve, Lampião estaria de volta e faria nova estripulia no local.

O bando chegou perto da cidade e já era noite, Lampião resolveu acampar ali mesmo, ao pé do fogo, chamou um cabra por nome Azulão para entregar um bilhete ao Prefeito:

Dizia o bilhete:- Seu filho de uma égua, amanhã quero cinco contos de réis na minha algibeira e comida para os meus meninos, não tente me enganar, se não lhe corto as orelhas e a língua, seu corno dos infernos.

E lá foi Azulão, ao chegar à cidade percebeu alguma coisa diferente, havia em cada entrada, um "jagunço armado", conversou com um deles e perguntou do que se tratava.

- Estamos aqui a mando do Prefeito, para espantar o bando de Lampião.
Mesmo assim, Azulão foi até a Prefeitura e entregou o bilhete. 
O prefeito lhe disse:

- Manda o Lampião ir tomar no rabo, aqui mando eu, venham se vocês tem coragem, agora tenho proteção.

Na volta, Azulão contou a situação, Lampião virou uma fera e disse:
- Quantos "cabras" tem na vila? 
- Sei não capitão, tem gente "escondida" não sei quantos.
- Seu filho da puta, disse Lampião, não serve para nada, e deu um chute na bunda do desgraçado.

Então muito esperto, mandou mais uns "cabras" descerem o morro para ver e analisar a situação. Nesse momento, os jagunços do Prefeito perceberam que se tratava de homens de Virgulino. Todos deram no pé e acabou ficando somente o chefe que estava dormindo no galpão e não soube do acontecido. 

Deixaram o infeliz sozinho para enfrentar no dia seguinte o Bandoleiro Lampião.

O bando desceu a serra, mas na frente foi "Bico-fino", irmão de Lampião, verificar como estava o terreno. Voltou em seguida e falou:

- Meu irmão, só tem um "cabra", os outros foram embora.
- Então vamos para lá ver a mulherada e encher a pança. No caminho ia declamando um versinho que fez na noite anterior para a Maria Bonita:

" Cabrocha pra sê bunita.
Bunita como os amô.
Basta um vistido de chita.
Si chamá Maria Bunita.
E na cabeça um frô"

O bando entrou de supetão dentro da Prefeitura, o "valente" Alcaide, chamou o chefe dos jagunços contratados e disse:

- Dê um fim nesses bandidos lazarentos, aproveitadores de mulher.
O chefe que já não tinha mais comandados, abriu a janela e chamou a turma:

- Venham aqui, vamos acabar com eles. Nada foi respondido. Ele então correu para o meio da rua e lá estava Lampião, esperando-o com sua peixeira. O jagunço até então valentão, começou a mijar nas calças.
Lampião disse então:

- Ué seu "veado" tu não é macho? Sabe com quem está falando? Sou o temeroso Capitão Virgulino, o Rei do Cangaço, e quem e tu?
- Todo encolhido e ajoelhado sob os pés de Lampião falou:
- Sou o Lamparina, o Rei do Cagaço.

E assim acabei de criar mais uma "estória" como muitas outras que falam sobre essa fascinante figura que continua viva na memória das pessoas***


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Bando de Lampião promove rapto e seqüestro em Amparo do São Frascisco em Sergipe


Bando de Lampião promove rapto e sequestro em Amparo do São Frascisco em Sergipe

Dez componentes do bando de Lampião invadiram Amparo no ano de 1937. Segundo os moradores mais idosos que lembram da história, os bandidos - oito homens e duas mulheres - chegaram à cidade de surpresa, durante a madrugada. O povo entrou em pânico, muita gente fugiu da cidade e se meteu nos arrozais que ficavam na beira do rio.


Conforme relatam, entre os componentes do grupo que tomou a cidade estavam Volta Seca, Boca Preta, Canário e Pancada. "Os cangaceiros chegaram aqui empurrando as pessoas e exigindo dinheiro de quem tinha e de quem não tinha", relembra Esmeralda Oliveira.

Depois de informar-se sobre as pessoas importantes da cidade, os cangaceiros foram à propriedade de Franklin Freire, filho de João da Cruz Freire. "Eles o pressionaram para que ele desse dinheiro, e ele disse que não tinha. Então mandaram um portador para Jundiay, a fazenda do senhor Ercílio Brito, que é hoje de João Alves Filho, para pegar dinheiro. Como os bandidos já estavam de saída, disseram que o velho iria com eles para Aquidabã. Eles afirmaram que dariam o prazo até as 18 horas daquele dia. Caso o dinheiro não chegasse, ele morreria", relembra Antonio Freire de Souza, que na época tinha 7 anos.

O sobrinho de Franklin, Adão Freire, vendo a agonia do tio, disse que iria no seu lugar. Em seguida, o portador foi para a fazenda Jundiay. Além do dinheiro, os cangaceiros também queriam levar embora uma mulher casada. "Era Sinhá Teixeira, que era muito bonita. Mas o pessoal conseguiu iludir os bandidos com conversa, enquanto ela fugia pelos fundos da casa. Um morador, que estava esperando no quintal, ajudou a atravessar o rio. Só assim eles não a raptaram", conta Antonio Freire.

Os bandidos resolveram ir embora. Mas antes de o dinheiro chegar e o prazo acabar, a polícia, sabendo que os cangaceiros estavam naquela área, encontrou-se com eles, já no povoado Barra Salgada, município de Aquidabã.

Houve tiroteio e um soldado foi morto. Adão Freire, que estava com os cangaceiros, teve que se esconder. "Ele entrou num paiol de algodão, pois a polícia pensava que ele também era bandido. O tiro zunia e ele gritava "eu não sou bandido, eu não sou bandido". Se saísse morria. Uma hora mandaram ele sair, foi então que um cabo o reconheceu, por isso ele não morreu", explica Antonio Freire.


Web site: 

Extraído do blog: 
O Cangaço em Foco


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Um trabalho pesquisado nas caatingas e com os remanescentes de Lampião

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Lampião sua morte passada a limpo

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Uma saga potiguar


Publicação: 10 de Janeiro de 2007 

Em maio de 1982 eu estava começando o curso de jornalismo na UFRN, e um estágio como repórter na antiga Rádio Trairi, quando Assis de Paula (já falecido) me mandou fazer a cobertura de um assalto: o Roubo dos 94 milhões da Emergência. Era assim mesmo, com maiúsculas, que o caso - considerado um golpe audacioso, apesar de fácil execução - aparecia nos jornais. 

Entre as cidades de Caraúbas e Olho D’Agua dos Borges, uma Brasília dirigida por um funcionário do Banco Econômico e um vigilante foi interceptada por um grupo armado. Os dois fugiram e o bando ficou com os malotes onde estavam 94 milhões de cruzeiros do pagamento de trabalhadores rurais inscritos nas frentes de emergência contra a seca, mantidas pelo governo federal. A polícia civill investigou e não descobriu nada. Como o dinheiro era da União, a Polícia Federal entrou na investigação. Em dezembro, fez as primeiras prisões: Antonio Benevides Carneiro, o Toinho, que entregou Siqueira (gerente da agência do Econômico), que entregou outros integrantes da quadrilha, todos da família Benevides Carneiro.

A caçada cinematográfica aos Carneiro, que reagiram à bala e mataram um agente federal ao serem presos no interior do Piauí; o assassinato de um menino de quatro anos - filho de um cúmplice carioca do bando - e a prisão por quase dois anos de um inocente deram os ingredientes de crueldade e erro judicial que faltavam para fazer do “Caso dos 94 milhões” o mais espetacular, violento e controvertido episódio da crônica policial potiguar. Para mim, foi uma espécie de “rito de iniciação” ao jornalismo. Para o público, foi como um “prelúdio”, para uma história de crimes assombrosos. A enfâse dada pela mídia, nos anos seguintes, aos fatos violentos relacionados aos Benevides Carneiro, envolvida em uma rixa com os Fernandes, fizeram com que essa família fosse vista quase como um anátema no Oeste potiguar.

Para José Viana Ramalho, o Dudé, compositor popular, encarcerado durante 20 meses com base em uma ordem judicial de prisão em nome de outra pessoa, o “Caso dos 94 milhões” foi um “inferno na terra”. O episódio é um dos capítulos no livro A Saga Benevides Carneiro (237 páginas. R$ 25,00) que Dudé lançou no finalzinho do ano passado, às próprias custas. Sempre um otimista, um entusiasta da arte e da vida que não se deixa abater pelas dificuldades, Dudé resolveu contar a trajetória dos Benevides Carneiro não para desfiar mágoas e ressentimentos. Escreveu para fazer História e mostrar fatos. Como a acusação falsa que levou Valdetário Benevides, um pacato mecânico, a se transformar no líder de uma quadrilha de assaltantes. Como às origens comuns dos Carneiro, dos Benevides e dos Fernandes, pioneiros da colonização do Oeste potiguar no século XVIII. Dudé rastreia, em velhos registros paroquiais, os casamentos, nascimentos e mortes nas várias geraçõs de descendentes, constatando que entre as famílias que hoje são rivais há um tronco comum. Surpreendente? Nem tanto. Rixas familiares são sempre mais fortes e irracionais quando esses laços fazem do parente próximo “um traídor” do sangue. 

E assim como não é a história da injustiça sofrida, o livro de Dudé também vai além das rixas familiares. Conta a verdade - o que pode parecer inconveniente e perigoso, para alguns - mas a conta por inteira, mostrando que a família Benevides Carneiro tem outros personagens tão ou mais interessantes e surpreendentes: o capitão Francisco Fernandes Carneiro, comboieiro pobre que chegou a Intendente de Caraúbas; Raimundo Pedro Benevides, o “médico dos pobres”; Maria Laly Carneiro, médica e condessa na França... O livro está há quatro semanas na lista dos mais vendidos da Siciliano. Vale a pena e, se depois  você quiser falar com Dudé, ligue 8835 0871 ou escreva para dudeviana@yahoo. com.br.
Diálogo religioso

Em meio a desinformação e indiferença quase generalizada sobre o que não é tido como “nossa cultura”, a MK Editora lança um projeto audacioso e oportuno: uma série de quatro livros sobre o diálogo religioso. Encomendados a teológos diferentes, ligados a corrente evangêlica do Cristianismo, os textos refletem uma visão sem preconceitos sobre o Islamismo (160 páginas. R$ 15.90), o Budismo (R$ 11,90), as Religiões Afro (R$ 19,90) e o Hinduísmo (R$ 12,90).
Contos policiais

Tailor Diniz valeu-se da experiência como jornalista, escritor e roteirista de cinema e faz um experimento surpreendente na literatura policial. Nas “sete histórias para todas as horas, principalmente as más” que constituem Transversais do tempo (128 páginas, R$ 25,00. Bertrnad Brasil), ele subverte o fluxo narrativo sem levar o leitor a labirintos estilísticos desnecessários. O que vale e permanece, na leitura de cada um dos contos, é uma leve e divertida sensação de mistério.
Sobre amizade

Para as leitoras dos romances tipo Nora Roberts há uma novidade nas livrarias: As Quatro Graças (462 páginas. R$ 49,00. Bertrand Brasil). Não se trata de um novo título de Nora, mas do romance de estréia (no Brasil) de Patricia Gaffrey, retratando as relações de amizades entre quatro mulheres que, apesar de diferentes, se mantêm unidas durante vários anos. A autora já faz sucesso nos EUA desde a década de 80 e chamou a atenção de Nora Roberts com esse livro.


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SOLICITAÇÃO A QUEM SABE

Por: José Mendes Pereira

Amigo leitor:

Dizem que quem não sabe pergunta a quem sabe.
Na verdade eu não tenho profundo conhecimento sobre blogs, aliás, nem cursos de informática eu tenho, e o que eu faço neste é por pura intuição

Este blog que antes permaneciam de 10 a 15 conteúdos na página principal, no momento só está permitindo de 3 a 4.
Se você leitor, que tem grande conhecimento sobre blogs, e sabe solucionar este problema, por favor, envie-me e-mail: josemendesp58@hotmail.com, ou até mesmo no formulário de comentários, explicando-me como resolver esta falha, pois muito o agradeço.

Outro dia recebi informações da Lusa Vilar, do blog "Raízes", o porquê dele não querer mais aceitar fotografias. Já estou fazendo o que ela me ensinou.

Portanto se você leitor, sabe solucionar este problema, não deixe de me ensinar, pois quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou. 

Muito Obrigado!

José Mendes Pereira

NOVO LIVRO SOBRE O CORONEL DELMIRO GOUVEIA


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Câmara Cascudo - Historiador - 09 de Junho de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

    Trechos do livro: Câmara Cascudo - Historiador, de Geraldo Maia, ainda inédito. O material é parte da palestra que será apresentada hoje, no IX SEMINÁRIO DE CULTURA POPULAR, cujo tema é: CÂMARA CASCUDO - UMA BOA HISTÓRIA PRA SE CONTAR. 
                
               PRÓLOGO 
                
O dia havia amanhecido lindo como muitos outros do mês de maio; era domingo. O sol brilhava forte num céu límpido, quase sem nuvens, de um azul profundo. O calor era abrandado pela brisa fresca que soprava do norte, vindo do mar, e que levantava poeira no areal da rua. A cidade estava calma; havia, no entanto, uma agitação incomum na Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos. O seu vigário, o Padre João Maria Cavalcante de Brito, estava inquieto, andando de um lado para outro. Não estava nervoso; apenas inquieto. Celebraria, dali a alguns instantes, um batizado. Mais um Canguleiro como eram chamados os habitantes da parte baixa e originária da cidade, onde o cangulo do Canto do Mangue sobressaia, primitivamente, como o peixe mais freqüente na alimentação popular. Mas não era um menino qualquer que iria receber o batismo naquele dia. Era o filho de Francisco Cascudo e Dona Ana da Câmara Cascudo e os padrinhos seriam o Des. Joaquim Ferreira Chaves, então Governador do Estado , e sua esposa dona Alexandrina Barreto Ferreira Chaves. Muita gente, na Matriz, esperava pelo batizado. Celebrado em latim, como era de costume, coube ao padrinho, latinista, responder às perguntas do sacerdote: Quid petis ab Ecclesia Dei? - Fidem! E a Igreja concedeu-lhe a súplica, com o Padre João Maria pronunciando o nome do batizado em perfeito latim: Ludovicus. 
               
A criança recebeu na pia batismal o nome de Luis da Câmara Cascudo. A sua mãe, havia feito promessa para dar-lhe o nome de Luis de França. O pai, no entanto, vetou o de França por causa de um soldado desse nome, que era cachaceiro e briguento. Ficou só o Luis. 
               
Era um dia festivo para a família Cascudo, aquele 9 de maio de 1899. Após a solenidade, a madrinha, dona Alexandrina, o levou nos braços, da Capela do Bom Jesus até a casa que ficava na rua Senador José Bonifácio, no Bairro da Ribeira. A mãe do batizado não devia assistir a cerimônia. A madrinha entregou o afilhado nos braços da mãe, com as palavras que a tradição mandava: “ Minha comadre, aqui está seu filho que levei pagão e lhe entrego cristão! “ E cristão ficou sendo. 
                
               Nasce um Canguleiro 
                
 

Luis da Câmara Cascudo nasceu numa sexta-feira, 30 de dezembro de 1898, dia de São Sabino, às 5,30 da tarde, em Natal, Rio Grande do Norte, numa casinha que tinha apenas duas janelas e uma porta e que ficava na rua Senador José Bonifácio, ou rua das Virgens como era mais conhecida, posteriormente numerada de 212, no bairro da Ribeira, rua essa que depois passou a ter o seu nome. A parteira foi a velha Bernadina Nery, que quando morreu em 1922, com 82 anos, havia “apanhado” mais de 800 crianças. O primeiro banho foi água morna numa bacia de ágata. Água temperada com vinho do porto, para ficar forte, e um patacão de prata, do Império, para não faltar dinheiro. Filho único do Coronel Francisco Cascudo e dona Ana da Câmara Cascudo, duas das mais tradicionais famílias do Estado: Justino de Oliveira, Gondim, Ferreira de Melo, Marques Leal, pelo pai e Raposo da Câmara e Fernandes Pimentel pela mãe. E o Cascudo, de onde vem o Cascudo? O próprio Mestre explica que o seu avô paterno, Antônio Justino de Oliveira, passou a ser chamado nos últimos anos de vida, de o velho Cascudo, pela devoção ao Partido Conservador, também com essa alcunha. Dos quatro filhos do velho, dois resolveram juntar Cascudo aos seus próprios nomes, um dos quais era Francisco, pai do Mestre, que registrou o filho também como Cascudo para perpetuar a tradição nascida com ele e o irmão Manuel, mesmo porque o irmão morreu sem deixar herdeiros. Cascudo ficou sendo e Cascudo passou a ser a geração futura do Mestre. 
               
O Coronel Cascudo era um homem alto, louro, de olhos azuis, empreendedor e, como o próprio Mestre afirma, foi várias vezes rico mas morreu pobre. Deixou 1200 afilhados. Sua casa, que segundo as palavras do Mestre, ampla como um convento, era o hotel dos amigos do interior. Comerciante, homem prático, não interferiu na vocação do filho, transmitindo-lhe profissão cômoda. Apoiou-lhe a vocação intelectual. Foi Oficial do Batalhão de Segurança (Polícia Militar) de julho de 1892 a março de 1900. Período de lutas no sertão; período de busca aos cangaceiros que infestavam a região, assolando e devastando tudo. O Coronel Cascudo “bateu as estradas do alto sertão, sertão de pedra, na caçada aos cangaceiros. Abateu Moita Brava, dispersou os famélicos da Serra de João do Vale, 1898, expulsou do território o cangaceiro Pilão Deitado”. O Mestre afirmava que o pai tinha sido o seu professor de assuntos sertanejos. “Ensinou-lhe as lições do sertão, o puro e o singular, as mais autênticas virtudes sertanejas: a valentia, a honra, o cumprimento das obrigações, o respeito à família, história e estória, com h ou com e, a generosidade”. Gostava de ouvir o pai narrar a prisão dos criminosos, ressaltando o momento valente de falar ao homem, acuado, dentro de casa, disposto a resistir. Ocupou, na orla pública e social, as funções de Ajudante de Ordens do governador Ferreira Chaves, Prefeito Municipal, Presidente da Associação Comercial e figura de projeção em todos os setores em que se planejavam o progresso e o desenvolvimento econômico-financeiro, social e cultural do Estado. Em suma podemos dizer que o Coronel Francisco Cascudo fez de tudo um pouco: de “Oficial do Batalhão de Segurança do Estado, perseguidor de cangaceiros, debelador de fanáticos, representando a autoridade e a lei, transformou-se depois em comerciante e político de projeção na Cidade do Natal”. 
               
Dona Ana da Câmara Cascudo era uma criatura boníssima, de coração amável para a pobreza, se dedicando grandemente às realizações de caráter humanitárias, onde atuou como verdadeira dama de seu tempo. Com ternura cuidava das flores e do filho, amando-o e protegendo-o de tudo e de todos. Antes do nascimento de Luis, o casal havia perdido dois filhos, o que explica o excessivo cuidado com o menino Luis, mesmo porque ele era uma criança doente. E Dona Ana alimentava todo tipo de crendices populares: Rezas-fortes, banhos-de-cheiro, meizinhas serenadas, cascas de tronco do lado que o sol nasce. Seguindo conselhos médicos, Cascudinho seguiu com a mãe para o interior, onde passou a morar para enrijar os pulmões 
               
Nas suas reminiscências, o Mestre diz: “Fui menino magro, pálido, enfermiço. Cercado de dietas e restrições alimentares. Proibiram-me movimentação na lúdica infantil. Não corria. Não saltava. Não brigava. Nunca pisei areia nem andei descalço. Jamais subi a uma árvore. Cuidado com fruta quente, sereno, vento encanado! Brincava com meninas. Um quarto cheio de brinquedos para exercício sedentário, tudo rodando no solo ou em cima de uma mesa de mármore, que ainda possuo”. Restou-lhe o direito de ver livros de figuras, colecionar estampas de santos e ouvir estórias de trancoso. Aos seis anos de idade, já possuía um oratório e tocava piano em almofadas de veludo verde. Era o enlevo do Coronel Cascudo e Dona Ana. Também foi com essa idade que aprendeu a ler. Não sabia como aprendeu nem para que. A sua vida escolar começou com Dona Totônia Cerqueira, “mulher magra, imperiosa, serena, voz seca, adivinhando métodos instrutivos, mas carinhosa e acolhedora de convívio”. Com ela aprendeu os fundamentos do saber. 
               
Em 1905 a família Cascudo se muda para um casarão na Rua do Comércio, n.º 44, atual Rua Chile, em Natal/RN. Era um sobradão com sótão, onde Cascudinho, com apenas sete anos de idade, descobriu o seu pouso e miradouro. Passava horas no sótão, olhando o Potengi, com as pernas agarradas pela ama. As jangadas, os veleiros, os marinheiros manobrando o cabrestante e cantando, suspendendo as âncoras, tudo era por ele observados e quem sabe se muito do que escreveu em seus livros não estava guardado desde essa época em sua memória? Na parte de baixo do sobrado, o pai passou a negociar. O armazém tinha o nome de “O Profeta” e fornecia mercadorias às embarcações costeiras. A residência era em cima. A parte posterior do sobrado dava para o rio. O cuidado da mãe era evitar que o filho morresse afogado. Morou nesse casarão até 1910. Na abertura de “Jangada” (Editora Letras e Artes, Rio, 1964), Cascudo recorda: “vivia eu fugindo para ir pescar mores à mão ou agarrar baiacus coçando-lhe a barriga para que estufassem. Ia ao Canto da Praticagem e mesmo ao Canto do Mangue nas Rocas”. Pela recordação de Cascudo, nota-se que mesmo com todo o cuidado que a mão tinha, não evitava as “fugidelas” do menino Cascudinho. Mais de uma vez o Mestre usou a abertura de livros seus para recordar a infância. No prefácio de “Vaqueiros e Cantadores”(Livrarias Ediouro, Rio de Janeiro), lembra do tempo que morou no sertão: “ Vivi no sertão típico, agora desaparecido. A luz elétrica não aparecera. O gramofone era um deslumbramento”. Mais adiante ele descreve as travessuras de criança: “ Vivi nesse meio. E deliciosamente. Cortei macambira e xiquexique para o gado nas secas. Banhei-me nos córregos no inverno. Esperei a cabeça do rio nas enchentes. Desencalhei tarrafas nas pescarias dos poços. Dei “lanços” nos açudes. Cacei mocós e preás nos serrotes. Subi nas “esperas” de ema sob juazeiros. Persegui tatus de noite, com fachos e cachorros amestrados. Matei ribaçã a pau e colhi-a nas aratácas. Ouvi o canto ululado da “mãe da lua”, imóvel nas oiticicas. Ouvi histórias de Trancoso, de cangaceiros, de gente rica, guerra de família, heroísmos ignorados, ferocidades imprevistas e completas. Também recordaram a vida de missionários, de santos canonizados pelo Povo, superstições, adivinhanças de chuvas e de bom-tempo, rezas fortes para ser feliz em tudo, para não cair de cavalo, para ficar-se invisível”. 
               Apesar das traquinices, não foi uma infância alegre. A infância de Luis foi tristonha e sonolenta pelo excesso de cuidados maternos. Vivia, como ele mesmo confessava, “como um animal raro, no meio dos gasalhados de lã e dos cobertores de linho aquecido”. A brincadeira com meninas, na infância, a mãe justificava pelo medo que ela tinha que os meninos o pusessem a perder. Por isso o fez estudar no “Externato Sagrado Coração de Jesus”, que era exclusivamente feminino. Era Luis, portanto, o único varão na sala de aula. A idéia não foi, no entanto, apoiada pelo pai, que ao voltar do sertão discordou de tal medida e o matriculou no Colégio Diocesano Santo Antônio para que Luis pudesse ter amigos meninos. 
               
Quando se mudaram para a Chácara do Tirol, isso por volta de 1913, a ida a escola ficou difícil e longa. A solução foi optar por ensino em domicílio. Primeiro foi o Professor Pedro Alexandrino, com literatura clássica de Portugal e Brasil. Depois, com o Professor Francisco Ivo Cavalcanti. Em depoimento sobre o aprendizado do menino Cascudinho, o Professor Ivo afirmava: “era um menino de atividade desmesurada e profundamente inquieto. Ler e contar bem, foi por mim alcançado em pequeno espaço de tempo, mas fazer Cascudinho ter boa caligrafia não me foi possível conseguir”. Quando chegava na Chácara, o Professor já encontrava o aluno preparado, com a lição de casa pronta e ávido para aprender outras lições, em sua curiosidade de saber. Com o passar do tempo, no entanto, Cascudinho contraiu o hábito da leitura, ou melhor dizendo, o vício da leitura, vício esse que lhe acompanhou por toda a vida. O pai, apreciador que era do hábito do filho, alimentava-o cada vez mais comprando tudo, mandando buscar volumes de longe. Os livros enchiam-lhe a casa: presentes dos pais e dos amigos destes. Eram coleções, álbuns, revistas aos montões. ”Foi o primeiro menino em Natal, a possuir um quarto para a biblioteca que era visitada, gabada, aludida nos jornais por gente grande”. O menino se consumia em leitura durante a noite e não conseguia mais acordar cedo para fazer o dever de casa passados pelo Professor Ivo no dia anterior. Quando reclamava a Dona Ana, o Professor recebia sempre a mesma resposta: “Ah! Professor, meu filhinho passou a ler até alta madrugada!”. 
               
Com o passar dos anos, Cascudinho começou a freqüentar os cursos famosos que haviam na cidade, como o do Professor João Tibúrcio, Manuel Garcia, Teódulo Câmara, Luís Antônio e Celestino Pimentel, preparando-se para o exame do Ateneu norte-rio-grandense. Depois dos exames, vieram os estudos de medicina na Bahia, e Rio de Janeiro em 1919, curso esse interrompido por falta de vocação. Volta a Natal. Depois vai para Recife cursar Direito, onde se tornou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em dezembro de 1928. Em “O Tempo e eu” ele lembra: “Meu pai empobrecendo, não podia eu ser um pesquisador na terapêutica tradicional, como sonhara. Não tinha vocação médica. Minha vocação era o laboratório. Naquele tempo não havia a especialidade. Para alcançar o laboratório, era indispensável ter uma esmeralda no dedo, e isso já não era possível. Fixei-me em Natal, ensinando em colégios e ajudando cursos particulares. Para não ser seu Cascudinho, horrorizando mamãe, fui para a Faculdade de Direito do Recife, três meses por ano, levando as economias pessoais, hospedado em pensões humildes e típicas”. 
               
Na Chácara do Tirol, Cascudinho morou dos 15 aos 34 anos de idade. Foi ali que passou a sua mocidade. Vida de rapaz rico, usando monóculos e polainas, já tendo na época vasta biblioteca, com livros vindo da Europa, sobretudo da França, tendo carro e cavalo a sua disposição, mesa farta, boas amizades. Os amigos o chamavam de príncipe; a Chácara passou a ser o “Principado do Tirol” ou “A Vila Cascudo”. 
               
Menino rico, pois o pai e os amigos o enchiam de presentes, muitos vindos do exterior; ao crescer, foi rapaz elegante, vestindo roupas caras e tendo carro a sua disposição, o que na época era um privilégio; ao se tornar adulto, foi homem pobre, tendo que trabalhar para custear seus estudos. Assim foi, em síntese, a vida do Mestre. 
               
Afrânio Peixoto dizia que Câmara Cascudo era um provinciano incurável. Podia ter ido para onde bem quisesse, mas não fez. Ficou na província. Convites não lhe faltaram para ir morar em centros mais adiantados, onde poderia viver financeiramente melhor. Mas não foi porque sua vida estava aqui. Poderia ser cidadão do mundo; preferiu ser homem provinciano. Aqui nasceu, viveu e morreu. São Mateus, no capítulo 16, verso 26 diz: “Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? “ Cascudo preferiu perder o mundo, já que a sua vida estava aqui. 
             
               
             
Cronologia da obra de um Mestre 
                
               
A vida literária, e por que não dizer intelectual, de Câmara Cascudo começou num jornal, no dia 18 de outubro de 1918, tendo, na época, vinte anos de idade. O jornal era “A Imprensa”, de propriedade de seu pai, que circulava desde 1914. Nesse Jornal, começa pela crítica literária, num Bric-a-Brac revelador, que mostrava, desde o princípio, o talento pelas letras. O jornal “A Imprensa” durou de 1914 até 1927. Foi nesse jornal que a geração de Câmara Cascudo difundiu suas idéias. Bruno Pereira, José Gobat do Nascimento, Nascimento Fernandes, Ednor Avelino, Otoniel Menezes e Virgílio Trindade, na época considerados a mais altas expressões da cultura norte-rio-grandense, além de outros, compunham o quadro de redatores desse jornal. Foi aí que Luis da Câmara Cascudo começa o seu aprendizado de imprensa. Depois, em “A República”, passa a publicar uma coluna intitulada “Acta Diurna” que talvez tenha sido a maneira encontrada por ele para se comunicar com a grande massa da população. O Dr.º Américo de Oliveira Costa cita, no seu “Viagem ao universo de Câmara Cascudo”, que a Acta Diurna “representou, durante vários anos, a corrente de comunicação do Escritor com o grande público de sua província. Através delas, Cascudo penetrava áreas ilimitadas, de acesso mais difícil à revista e ao livro. Através delas, ficava ao alcance de leitores de todos os círculos da população”. Cada artigo era um estudo. É a vida do povo norte-rio-grandense estudada sob vários aspectos, como um espelho de onde refletia o corpo e a alma desse povo, os costumes e alimentação, as danças e seu canto, a indumentária e o trabalho, as suas lutas e tudo o que dizia respeito ao povo da terra. Mostraremos, no decorrer deste capítulo, que alguns dos livros que o Mestre publicou, são constituídos de artigos publicados originalmente nessa coluna. Foram ao todo, cerca de 3.200 crônicas escritas em “Acta Diurna”. Colaborou em vários órgãos de imprensa de Recife: Jornal do Comércio, Diário de Pernambuco, Diário da Manhã e, também, em outros jornais do país. 
               
Em 1921 surge o primeiro livro de um Câmara Cascudo jovem, com apenas 23 anos de idade. É o Câmara Cascudo crítico literário. Em “Alma Patrícia”, ele reúne a atividade literária dos poetas e escritores do Estado ou aqui radicados. É o primeiro trabalho de literatura norte-rio-grandense que se preocupa em documentar o fato literário, biografando os autores e firmando-os no tempo e no espaço. Dezoito escritores e poetas da terra são estudados. “Estudinhos de crítica sem examinar a gramática dos poetas”, segundo palavras do autor. Mas o livro passou a ter uma importância muito grande, por um pequeno detalhe: o autor incluía, no final do volume, uma “notícia biobibliográfica”. Pela primeira vez isso acontecia. João Ribeiro, Afonso Celso, Afonso de Oliveira e Monteiro Lobato elogiaram-no pelo pioneirismo. Era o Câmara Cascudo historiador que já começava a despontar nesse livro. Há quem diga que o livro foi duramente criticado nos bastidores. Nos jornais, no entanto, recebeu vários elogios. O poeta Alberto de Oliveira, em carta datada de 20 de março de 1922, elogia o livro, considerando-o de alto valor informativo sobre o movimento de literatura do Rio Grande do Norte, até então completamente ignorado pela maioria dos escritores da metrópole. E concluía: “Vou me aproveitar de toda a parte histórico-bibliográfica para o dicionário deste nome que a Academia Brasileira deve publicar”. O historiador Rocha Pombo também não poupou elogios, chegando mesmo a dizer a Cascudo que se o livro tivesse sido publicado antes, ele aproveitaria na íntegra para um trabalho que estava no prelo sobre o Rio Grande do Norte. 
               
Embora Alma Patrícia tenha sido o primeiro livro de Cascudo, é sabido que em 1920 ele publicou um trabalho intitulado “Versos reunidos, de Lourival Açucena” - edições anotadas, publicação autorizada pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e era precedido de um longo ensaio de crítica histórico-sociológica sobre a vida e a obra de Lourival Açucena. Há controvérsias sobre o ano de publicação desse trabalho. Sigo aqui a ordem geral e cronológica do levantamento da obra de Zila Mamede, mesmo porque a pesquisa zilamamediana foi orientada pelo próprio autor. 
               
Consta que em 1922 o Professor Bruno Pereira deu-lhe de presente o livro “Folclore do Brasil” de João Ribeiro. Esse livro teria despertado o interesse de Cascudo pelo folclore, ciência em que veio a ser mestre nacional, respeitado além fronteira pelos diversos trabalhos que escreveu nessa área, inclusive um “Dicionário do Folclore Brasileiro”, do qual falaremos mais adiante. 
               
Talvez a boa acolhida recebida pelo seu primeiro livro o tenha animado a escrever, em 1924, mais um livro de crítica literária: “Joio – Páginas de literatura e crítica”. Nesse livro, é um Cascudo mais maduro que aborda com segurança e profundidade temas de literatura platina, brasileira e principalmente norte-riograndense. No mesmo ano publica “História que o tempo leva”, onde trata a história do rio Grande do Norte sob uma ótica de ficção. E aí começa o Câmara Cascudo historiador. No prefácio desse livro, o escritor Rocha Pombo diz: “Sinto desde já que Luis da Câmara Cascudo irá direto a dar consigo nas amplitudes da história. A própria índole do seu espírito há de dirigi-lo para aí; pois o vigor ponderado da narrativa, o senso de medida, o instinto da justiça, que lhe são peculiares, parece que no-lo estão dizendo muito claro”. 
               
Em 1927 publicou “Lopez do Paraguai”, mais um livro de história. “Trata-se de um estudo de interpretação histórica e sociológica do fenômeno platino em contraposição do fenômeno político brasileiro”, nas palavras de Manoel Rodrigues de Melo. Já na dedicatória, o leitor menos avisado toma um choque. O livro é dedicado “à memória altíssima de todos quantos souberam morrer em defesa ou ataque às bandeiras do Paraguai”. Obra polêmica, desafiadora, corajosa. Já não é o crítico literário nem o historiador; é o Câmara Cascudo bibliógrafo que escreve, já mostrando aos 29 anos de idade, a diversidade que seria sua obra. O Dr.º Américo de Oliveira Costa em sua “Viagem ao Universo de Câmara Cascudo” diz: “A obra Cascudiana não é uma ilha; é um arquipélago, pela multiplicidade e pela variedade dos territórios que a integram”. 
               
Em 1928 Mário de Andrade, o grande nome do modernismo, meio ao Rio Grande do Norte em viagem de repouso, mas principalmente para ver Cascudo. Juntos andaram pelo interior do Estado, conhecendo a terra e a gente, andando por todas as regiões. O conhecimento adquirido a partir dessa viagem fez com que Mário de Andrade redobrasse o interesse pelo folclore. Após a viagem, os dois tinham se tornado muito amigos. Na dedicatória de “Ensaio da Música Brasileira” ele escreve: “Ao Cascudo, batuta força viva nossa, com admiração”. Em “Macunaíma” ele volta a escrever na dedicatória: “Ao Cascudo, cara de cajé peneirado lá em riba da geografia - Natal, com admiração”. 
               
1928 é também o ano em que Cascudo bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife/PE. Quanto a isso, ele declara: “Não tive o dinheiro para pagar retrato no Quadro de Formatura, orgulho de todo o estudante. Paguei a Carta, em falso pergaminho, registrando-a. Já era noivo. A pobreza de meu Pai, altiva e nobre, não me permitia abandoná-lo e viajar para o Sul, vencer no Rio. Filho único, devia retribuir em assistência quanto tivera em pecúnia e carinho. Fiquei, definitivamente e sem recalques, provinciano. Ia ser, até a velhice, professor jagunço”. 
               
É também nesse ano que Cascudo é nomeado pelo Presidente Juvenal Lamartine, para assumir as funções de professor interino de História do Ateneu norte-rio-grandense. Era a sua entrada no magistério estadual. Já ensinava história em colégio e cursos particulares, mas a partir daquele momento passava a ser professor oficial. E professor foi a vida toda; de cursos secundários até a universidade. 
               
Em 1933 publicou “Conde D’Éu”, que é um estudo bibliográfico. É a primeira obra sobre o Príncipe Gastão de Orleans. É mais um livro polêmico escrito por Cascudo, agora com 35 anos de idade. Sobre essa obra, o historiador Pandiá Calógeras, autor de “Formação Histórica do Brasil” escrevia ao autor: “Uma nobre biografia que vale por uma reparação histórica e por uma obra de justiça”. E termina dizendo: “A única coisa que lastimei foi ser tão curto o seu livro”. 
               
Nesse mesmo ano Cascudo passa a fazer parte da Ação Integralista Brasileira, que era um movimento político conservador, liderado pelo escritor paulista Plínio Salgado, chegando a ser um dos maiores divulgadores dessa ideologia. Sobre esse movimento, falaremos no próximo capítulo. 
               
Em 1934, a convite do Interventor Mário Câmara, integra uma comitiva de autoridades que percorreu o interior do Rio Grande do Norte. O resultado dessa viagem foi o livro de reportagem “Viajando o Sertão”, que foi publicado pela Imprensa Oficial nesse mesmo ano, tendo uma segunda edição publicada em 1975, patrocinada pela Fundação José Augusto, e ainda uma terceira edição publicada em 1984 pela Editora CERN. O livro é um misto de crônica e de ensaio, onde Cascudo aborda os mais diversos temas da vida sertaneja. O Interventor pretendia fazer uma viagem de observação pelo interior do Estado, por isso estava levando em sua comitiva técnicos em educação, agricultura e açudagem, além de um escritor de renome para relatar a viagem. o escritor foi exatamente Câmara Cascudo. A escolha de Cascudo para acompanhar a comitiva do Interventor não agradou nem à ala revolucionária do Integralismo local, nem ao grupo político que tinha por chefe natural o Deputado José Augusto Bezerra de Medeiros, o qual fez várias acusações contra Cascudo, questionando o fato de um chefe Integralista viajar com o Interventor. Em nota publicada no jornal “A República” de 04.09.1934, o mestre responde as acusações. Transcrevemos aqui um trecho da nota: “... Chefe Provincial Integralista, miliciano convicto, considero os Partidos Políticos meras fórmulas desacreditadas e incapazes de uma renovação social. Não pertenço a nenhuma agremiação partidária e mantenho relações íntimas com vários próceres que não ignoram a retidão da minha atitude, assumida publicamente a 14 de junho de 1933. 
               
Aos “camisas verdes” de minha Província, não dou explicações, porque eles me conhecem de perto. Aos políticos é desnecessária qualquer justificação em contrário às suas afirmativas, porque “político é isso mesmo”. 
               
O artigo nunca foi respondido. Tempos depois, o Deputado José Augusto procurou Cascudo em sua residência, em companhia de amigos, para acabar com o “mal-entendido”. E o que ficou de tudo isso foi o livro. Num dos capítulos desse livro, Cascudo relata que nos 1.307 quilômetros de terra por onde andou, não encontrou nenhum representante da raça negra. Essa afirmação fez com que o Sr. Otávio Pinto publicasse um artigo assinado em “A República” de 13.07.1934, dizendo que havia sim uma aldeia de Negros em Caicó. Na realidade, tinha havido aí um equívoco. Cascudo havia afirmado que no roteiro que tinham traçado (1.307 quilômetros por terra), não havia encontrado a presença de negros. Caicó não estava no roteiro percorrido pela comitiva, sendo a nota, portanto, inoportuna. 
               
A primeira edição de “Viajando o Sertão” foi publicada no jornal “A República” no período de 31/05 a 22/07/34, e o texto se dividia em dezoito capítulos, numerados em romano. Nas edições em livro, foram acrescidas duas notas, sem numeração, sobre a Capela de Extremoz e o bandido Colchete. 
               
Foi também em 1934 que o Mestre publicou “O Mais Antigo Marco Colonial do Brasil”. Nesse livro ele fala de como se tomou conhecimento da existência do marco, mostra fotografias do mesmo e dá a explicação política de sua existência. 
               
Em 1935 publica “O Homem Americano e Seus Temas” e “A Intencionalidade do Descobrimento do Brasil”. São dois livros de história onde o autor, com 37 anos de idade mas já historiador veterano, narra, no caso do primeiro livro, a origem do homem americano, discute teses e analisa as civilizações americanas, o povoamento da América, etc. Trata, enfim, da origem do homem americano e suas culturas no Continente. No segundo livro, discute a intencionalidade da viagem de 1500 e suas razões. 
               
Em 1936 Afonso Costa, então Presidente da Federação das Academias de Letras, pede ao Mestre para que ele fundasse uma Academia de Letras no Rio Grande do Norte e por ela se interessasse. Cascudo passa a trabalhar nesse sentido, com a ajuda do seu amigo Aderbal de França. Algum tempo depois, sai a primeira lista e Cascudo toma para si a incumbência dos convites. É cogitado, na ocasião, da presença feminina na nova academia, visto existir algumas brilhando nos meios literários. Dois nomes foram escolhidos: Palmyra Wanderley e Carolina Wanderley que quando convidadas aceitaram. A lista era composta, inicialmente, de 25 nomes. A fundação da Academia de Letras do Rio Grande do Norte se deu no dia 14 de novembro de 1936, no prédio do Instituto de Música de Natal. Câmara Cascudo, com 38 anos de idade, embora tenha sido o mentor da Academia, não aceitou a presidência. Preferiu ficar com a Secretaria Geral, de onde poderia coordenar os entendimentos ainda necessários, indicando para o cargo Henrique Castriciano. 
               
Em 15 de maio de 1937, a Academia foi solenemente instalada no salão nobre do Instituto Histórico, já tendo sido escolhido e adotado o lema AD LUCEM VERSUS. A composição do quadro ficou como segue, por ordem de nascimento dos seus patronos: Adauto da Câmara - Padre Miguelinho; Henrique Castriciano - Nísia Floresta; Otto Guerra - Conselheiro Brito Guerra; Virgílio Trindade - Lourival Açucena; Edgar Barbosa - Moreira Brandão; Carolina Wanderley - Luís Carlos Wanderley; Antônio Soares - Ferreira Nobre; Matias Maciel - Isabel Gondim; Nestor Lima - Almino Afonso; Bruno Pereira - Elias Souto; Januário Cicco - Padre João Maria; Juvenal Lamartine - Amaro Cavalcanti; Luis da Câmara Cascudo - Luís Fernandes; Antônio Fagundes - Joaquim Fagundes; Sebastião Fernandes - Pedro Velho; Francisco Palma - Segundo Wanderley; Dioclécio Duarte - Ribeiro Dantas; Waldemar de Almeida - Algusto Severo; Clementino Câmara - Ferreira Itajubá; Palmira Wanderley - Auta de Souza; Floriano Cavalcanti - Antônio Marinho; Luís Monte - Cônego Leão Fernandes; Bezerra Júnior - Antônio Glicério; Francisco Ivo - Gotardo Neto; Adherbal de França - Ponciano Barbosa. 
               
Algum tempo depois, a Federação das Academias de Letras sugeriu o aumento do quadro de sócios para trinta, a fim de promover a sua filiação. Aceita a proposta, foram convidados a ocupar as novas cadeiras: José Augusto Bezerra de Medeiros, Américo de Oliveira Costa, Paulo de Viveiros, Esmeraldo Siqueira e Manoel Rodrigues de Melo, que têm como patronos respectivamente: Manoel Dantas, Aurélio Pinheiro, Pe. João Manoel de Carvalho, Armando Seabra e Mons. Augusto Franklin. 
               
A participação de Luis da Câmara Cascudo foi essencial para a fundação e o funcionamento da Academia norte-rio-grandense de Letras, quer como fundador principal, quer como coordenador de elementos, organizador e membro efetivo. 
               
Com a morte do Mestre em 30 de julho de 1986, quinze candidatos apareceram para ocupar a cadeira 13 que lhe pertencia. A Academia entendeu, no entanto, que não deveria colocar nenhum porque Cascudo tinha sido o fundador e também pela figura extraordinária que foi. Afinal, foi em sua casa, na Av. Junqueira Aires, 377, que começou verdadeiramente a Academia. A cadeira vazia seria uma homenagem a sua honra. Dez anos depois, um candidato é escolhido para a vaga: foi o compositor e escritor Oriano de Almeida, de 75 anos de idade, que havia publicado três livros e tinha outros cinco a serem publicados. Sua posse se deu no dia 10 de setembro de 1996. 
               
Foi também em 1936 que o Mestre publicou “O Brasão Holandês do Rio Grande do Norte”. Mais um livro de história onde ele estuda a simbologia do brasão e chega a conclusão que o Conde Maurício de Nassau fixou nele o homem indígena do Rio Grande do Norte. Publicou também nesse ano uma biografia, “Em Memória de Stradelli”, onde ele inclui o resumo das obras com que Stradelli enriqueceu a mitologia e a lingüística do Amazonas. A obra foi editada pelo Governo do Estado do Amazonas. Stradelli foi fidalgo, doutor em direito, explorador e etnógrafo. Na primeira página do livro, o mestre diz: “Deus sabe o que lutei para arranjar-lhe a Biografia difícil e a mais rara bibliografia que me foi dado sonhar a existência”. 
               
Em 1938 publicou mais uma biografia: “Dr.º Barata, político, democrático e jornalista”. Trata-se de uma plaqueta que foi editada pelo Governo da Bahia. O “Dr.º Barata foi um baiano inquieto e agressivo, tribuno, jornalista, deputado às Cortes de Lisboa, panfletário, armando seus acampamentos e seus instrumentos de rebeldia, vibrantes de títulos sonoros, onde fosse possível faze-lo”. Morreu em Natal em 1838. 
               
Outro livro publicado pelo Mestre nesse mesmo ano foi “O Marquês de Olinda e seu tempo”. Mais uma biografia. Cascudo confessou que o que o levou a escrever esse livro foi “o encanto de evocar todos os velhos Ministros, o Imperador, as eleições, a lealdade, o brilho, a graça, o perfume de um ambiente de corte, do qual como que se sentia um pouco exilado”. 
               
Em 1939 publica “Governo do Rio Grande do Norte”. Trata-se de um levantamento de campo, que se tornou cadastro de consulta indispensável para todos que quisessem conhecer um pouco da política do Rio Grande do Norte. Nele o Mestre apresenta fichas cronológicas e resumos biográficos de todos os capitães-mores, presidentes de província, Governos do Senado da Câmara de Natal, juntas provisórias, juntas governativas, governadores, interventores federais desde Manoel de Mascarenhas Homem até o governador e depois interventor Rafael Fernandes. O livro foi mandado publicar pelo então Interventor Federal Dr.º Rafael Fernandes. 
               
Outro livro que publicou nesse ano foi “Vaqueiros e Cantadores”, folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. No prefácio do livro ele confessa que está reunindo ali quinze anos de sua vida. Durante todos esses anos fez anotações, leituras, observações, tudo pensando nesse livro. E confessa: “Em parte alguma dos meus depoimentos de testemunha a imaginação supriu a existência do detalhe pitoresco. O material foi colhido diretamente na memória de uma infância sertaneja, despreocupada e livre. Os livros, opúsculos, manuscritos, confidências, o que mais se passou posteriormente, vieram reforçar, retocando o “instantâneo” que meus olhos meninos haviam fixados outrora. É o que fielmente se continha em minh’alma. Dou fé”. E a partir do segundo parágrafo do prefácio, fala de sua infância vivida no sertão, descrevendo como era o sertão da época, sem energia elétrica, sem automóvel... 
               
Em 1940, com 42 anos de idade, publicou “Informações de história e etnografia”. Nesse livro ele reúne dois estudos de história e seis de etnografia e folclore. Nos estudos de história, mostra importantes questões dos primeiros anos do Brasil; nos estudos restantes, fala de assuntos ligados ao povo e ao folclore, temas que já domina como poucos. 
               
Publica também nesse ano, uma tradução com anotações da obra: “Montaigne e o índio brasileiro” - “MONTAIGNE, Michael Eyquem. 
               
Uma façanha digna apenas dos grandes homens é a que aconteceu em abril de 1941, quando Cascudo funda na província a “Sociedade Brasileira de Folclore”, sociedade essa que embora aqui radicada, conquistou renome e projeção universal. O seu lema era “Petibus tardus, tenax cursu”. 
               
Em artigo publicado em 1948, Cascudo falava das dificuldades encontradas no início da sua fundação: “Não havia sede nem papel para ata. Dispensamos a ata e a sede ficou sendo na minha casa. A biblioteca era também a que possuo”. E fala também de uma série de “trabalhos desacostumados” que fizeram. O escritor Edson Carneiro, no seu livro “Dinâmica do Folclore”, fala dessa Sociedade, e relaciona a espécie de trabalho que era feito pelos seus membros: “Distribuição de listas de endereços de folcloristas estrangeiros, fornecimento de informações bibliográficas a entendidos de outros países, fundação da Federação dos Folguedos Tradicionais, telegrama-circular aos governadores pedindo isenção de emolumentos e licenças e propondo “uma pequena subvenção animadora” a todos os grupos folclóricos locais, representação nos Congressos de Folclore de Oslo e de Estocolmo, publicação de uma classificação do conto popular, campanha de valorização das bonecas de pano, sugestão ao Governo Federal no sentido da criação do Museu do Povo, proteção ao artesanato, e outros. 
                
Aos membros interessados em pesquisar sobre folclore ele aconselhava que a colheita de material fosse feita no ambiente de casamento, batizado, doenças, mortes e trabalhos rurais, em indagações diretas ao homem do campo, ao soldado, ao marinheiro, ... nas fontes. Fossem direto nas fontes. E dizia mais: “Impressione-se com as narrativas trágicas e tenha pavor do que parecer apavorar o narrador. Sem essa participação, a confidência vai esfriando. Cuidado com o riso. Uma gargalhada incontida põe toda uma boiada a perder... Para a colheita de assuntos religiosos, macumbas, candomblés, xangôs, catimbós, fique solidário com a turma informante. Coma, beba, dance, carateie, salte, se tanto verificar seja indispensável para inspirar amizade”. Cascudo esforçava-se para fazer um folclore-ciência. Apesar da existência dos Estatuto da instituição, eram firmados planos de trabalho que eram verdadeiras cartas de princípios da Sociedade. 
               
Foi também em 1941 que surgiu a idéia de um dicionário de folclore brasileiro. A princípio era um plano para ser realizado em dez anos de trabalho, sem pressa mas sem descanso. Um fato novo veio reforçar esse plano: a 24 de agosto de 1943, o escritor Augusto Meyer, então diretor do Instituto Nacional do Livro, estava empenhado na elaboração de uma Enciclopédia Brasileira, e necessitava incluir um dicionário de folclore. Convida então Cascudo para realizar tal obra. Os originais do livro foram entregues ao diretor do Instituto em outubro de 1952. 
               
Um fato curioso mas que serve para mostrar a preocupação do Mestre também com a nossa língua, se dá quando em 1942, com 44 anos de idade, começa a usar em seus escritos o vocábulo estória com “e” e não com “h” quando se refere a conto popular. Criticado por muitos, explicou muitas vezes, pela imprensa, os motivos determinantes dessa ideologia. 
               
A Sociedade Brasileira de Folclore, fundada em abril do ano anterior pelo próprio Câmara Cascudo, saiu em defesa do Mestre. Hoje, estória é um vocábulo de uso comum, encontrada nas revistas, livros e até mesmo em publicações universitárias, graças a iniciativa do Mestre Cascudo. 
               
Nesse mesmo ano publicou “Sociedade Brasileira de Folk-Lore”. O livro, que não tem o nome do autor em canto nenhum, traz os Estatutos da Sociedade Brasileira de Folclore, Certidão do Registro Civil, Processo para a filiação à Sociedade, direitos e deveres das Sociedades filiadas à SBF, além de sugestões para a colheita de material folclórico. 
               
Publicou ainda nesse ano uma tradução anotada de “Viagem ao nordeste do Brasil - KOSTER, Henry. 
               
Durante todo o tempo, Cascudo escreve em jornais, leciona, pesquisa, colabora com revistas, escreve outros livros. Em 1944 publica “Antologia do Folclore Brasileiro” e “Os melhores contos populares de Portugal”. Duas das muitas antologia que vem a escrever. A Antologia do Folclore Brasileiro, Cascudo dedica “aos cantadores e violeiros, analfabetos e geniais, às velhas amas contadeiras de histórias maravilhosas, fontes perpétuas da literatura oral do Brasil, ofereço, dedico e consagro este livro que eles jamais hão de ler...” 
               
Não se deve, no entanto, esquecer que naquele período o mundo estava em guerra; era a Segunda Guerra Mundial que estava em curso. Embora não tenha havido nenhuma batalha no Brasil, a Cidade do Natal, no Rio Grande do Norte, vivia clima de guerra. A sua posição geográfica fez com que fosse instalada em Natal uma base de aviação americana, que dava apoio às tropas que lutavam na África. Era o Campo de Parnamirim ou “Parnamirim Field”. “Esse campo era imenso e digno de orgulho. Pistas de dois mil metros facilitavam a descida imediata de 250 aviões. Mil e quinhentos edifícios abrigavam 10.000 homens. Todos os serviços modernos, todos os recursos da técnica, possíveis ao gênio e ao dinheiro, estavam abundantemente acumulados em Parnamirim”. 
                
A importância desse campo era tão grande no esforço de guerra que se cogitou escrever a história da Base, desde seu início até 1944. O trabalho ficaria sob a direção do Capitão Wilfred Morin, oficial quartel-mestre que tinha sido professor de história na vida civil. Ele escreveria a história oficial da base e também uma história popular para os leitores civis. O plano era que o Capitão Morin colhesse dos oficiais de esquadrilha e do Destacamento, histórias baseadas nas suas próprias experiências. Para sua informação, deveria usar os arquivos do quartel-general e dos jornais locais, além de entrevistar civis americanos que estavam em Natal no início das obras do campo. O Capitão Morin deveria contar também com a colaboração do Historiador Luis da Câmara Cascudo. O livro saiu posteriormente escrito por outra equipe e terminou não contando com a colaboração e o conhecimento do Mestre. 
               
Em 1945 publicou, em colaboração com outros autores, “Lendas brasileiras - 21 histórias criadas pela imaginação do povo”. 
               
Em 1946 sai “Contos tradicionais do Brasil”, mais uma antologia publicada pelo Mestre. Nesse trabalho, ele faz uma tentativa de divisão do conto popular. No prefácio diz: “Minha divisão atende aos “motivos”, no critério de uma tentativa de sistematização”. O livro é dividido em: Contos de encantamento, contos de exemplo, contos de animais, facécias, contos religiosos, contos etiológicos, demônio logrado, contos de adivinhação, natureza denunciante, contos acumulativos, ciclo da morte e tradição. Para Cascudo, os contos populares se caracterizavam pela antigüidade, anonimato, divulgação e persistência. Era preciso que o conto fosse velho na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento e persistente nos repertórios orais. Que fosse omisso nos nomes próprios, localizações geográficas e datas fixadora do caso no tempo. Todo o livro é preparado partindo desse princípio. 
               
Em 1947 publica “Geografia dos mitos brasileiros”. Com esse trabalho ganhou o Prêmio João Ribeiro da Academia de Letras. Cascudo informa, na nota introdutória, que estudou nesse livro os mitos ainda vivos, correntes e crentes na imaginação do povo. No mesmo ano publica “História da Cidade do Natal”. É uma crônica documental da capital do Rio Grande do Norte, desde a sua fundação em 1599 até 1946, época que concluiu o livro. É uma viagem no tempo; uma crônica de amor. “Nas palavras do autor, “... registrará o essencial, o característico e a constante sociológica teimosamente sobrevivente”. A história é passada principalmente na Ribeira e na Cidade Alta, onde tudo começou. Mas não esquece de incluir um capítulo sobre Parnamirim (From Parnamirim Field) para mostrar a importância que o Campo de Aviação de Parnamirim teve durante a Segunda Guerra Mundial. 
               
A 25 de dezembro de 1948, em sessão solene, o Dr.º Sílvio Pedrosa, então Prefeito da Cidade, concedeu ao Mestre o diploma com o título de Historiador da Cidade do Natal, diploma esse em artístico pergaminho e uma miniatura da chave da Cidade em ouro. Na época o Mestre estava completando 50 anos de idade. 
               
Em 1949 publica “Consultando São João” que é uma pesquisa sobre a origem de algumas adivinhações. O material havia sido publicado anteriormente em A República, numa série de artigos e foi incluído posteriormente em Anúbis e outros ensaios com o título de “Advinhas de São João”. 
               
No mesmo ano publicou “Os holandeses no Rio Grande do Norte”. Mais uma vez o autor junta uma série de artigos publicados em A República para compor esse livro. É um trabalho de pesquisa árdua, onde Cascudo demonstra ser um dos melhores investigadores históricos brasileiro. Sobre o livro, diz Nilo Pereira: “Excelente contribuição ao conhecimento dos flamengos no Rio Grande do Norte, uma nota essencial nova da verdade velha que estava adormecida sob a crosta das tradições acacianas”. 
               
Em 1950 publica “O folk-lore nos autos camoneanos”. Outro livro que surgiu a partir de artigos publicados em A República. O livro registra elementos folclóricos que se perpetuaram em Portugal e no Brasil, mantidos e divulgados na memória do povo. 
               
Em 1951 é publicado “Anúbis e outros ensaios”, livro de mitologia e folclore. A obra é formada por 31 ensaios, cada um precedido de folha de título próprio e os texto, em sua maioria, iniciando-se com epígrafe. Na introdução o autor diz: “Os trinta e um motivos deste livro foram encontrados na vida cotidiana do povo brasileiro. Continuam todos existindo e facilmente registrados por quem deseje procurá-los”. 
               
Do mesmo ano é “Meleagro”, depoimento e pesquisa sobre a magia branca no Brasil. É um trabalho de vinte anos de pesquisa, onde o autor inclui uma relação de plantas medicinais usadas nos catimbós, processos de fechar o corpo, orações fortes, técnicas de vários feiticeiros, além de melodias privativas de cada “Mestre”, etc. No prefácio o Dr.ª Silva Melo afirma: “Meleagro constituirá sempre documento de alto valor: honesto, objetivo, sábio tanto pela erudição do autor quanto pelo seu espírito crítico e de investigação”. 
               
Nesse mesmo ano, Cascudo foi nomeado professor de Direito Internacional Público da recém-inaugurada Faculdade de Direito de Natal. 
               
Abrimos aqui um parêntese, para mostrar outra faceta do Mestre. Temos mostrado, cronologicamente, o desenvolvimento da obra de Cascudo. Uma obra grandiosa, capaz de absorver, por si só, todo o tempo disponível de um homem. Mas Cascudo não era só escritor; era também professor, jornalista, consultor jurídico do Estado, homem público. E tinha também os seus momentos de lazer, junto aos amigos, apreciador de vinhos e charutos bons. Pois foi exatamente para esses seus momentos de lazer que fundou, em 1952, juntamente com mais doze, o Clube dos Inocentes. A filosofia do clube era “inocentes das maldades alheias”. Segundo o Profº José Melquíades, uns dos membros do clube, “ o Clube dos Inocentes era a sociedade mais inofensiva desse mundo. Os seus membros eram limitados, escolhidos e selecionados prudentemente, mediante a consulta prévia e não podia pertencer a ele quem se preocupasse com a vida alheia”. Foi uma espécie de antecessor da “Sociedade dos Poetas Mortos”, obra que o cinema tanto divulgou. O Clube não tinha estatuto nem suas reuniões obedeciam a pauta ou a qualquer forma normal. Tudo se fazia para evitar regras. Bastavam os bons costumes. E onde se reunissem dois ou três em seu nome, aí estava reunido todo o clube. Exigia-se apenas que se reservasse uma taça vazia e nela cada um dos participantes derramasse, até enchê-la, goles de cerveja pelos ausentes. 
               
A referência que fazemos sobre o Clube dos Inocentes, serve apenas para mostrar o caráter do Mestre. Quem conhecia a grandiosidade de sua obra e depois vinha a conhecer o autor, surpreendia-se com a sua simplicidade. Esperava-se sempre um intelectual carrancudo, com respostas rápidas para se livrar dos seus interlocutores o mais breve possível. O que encontrava, no entanto, era um homem conversador, contador de histórias, extrovertido, tendo o dom da prosa e a capacidade rara de espalhar bom humor em torno de si. 
               
Em 1952 Cascudo publica “História da Imperatriz Porcina”. Trata-se da crônica de uma novela do século XVI, que era popular em Portugal e também no Brasil. Do mesmo ano é “Cinco livros do povo”, que é uma introdução ao estudo da novelística no Brasil e “Literatura oral” que foi talvez o seu livro mais técnico. Na introdução desse livro, Cascudo lembra, como já havia feito antes, os anos vividos no alto sertão do Rio Grande do Norte e da Paraíba, o que ele considerava o seu curso natural de literatura oral: “Depois da ceia faziam roda para conversar, espairecer, dono da casa, filhos maiores, vaqueiros, amigos vizinhos. Café e poranduba. Não havia diálogo mas uma exposição. História do dia, assuntos do gado, desaparecimento de bois, aventuras do campeio, façanhas de um cachorro, queda num grotão, anedotas rápidas, recordações, gente antiga, valentes, tempo da Guerra do Paraguai, cangaceiros, cantadores, furtos de moça, desabafo de chefes, vinganças, crueldades, alegrias, planos para o dia seguinte”. 
               
Publica uma tradução com anotações de “Os mitos amazônicos da tartaruga”, de Charles Frederick Hartt, além de traduzir com anotações “Mitologia indígena do Amazonas, do mesmo autor, que não chegou a publicar. 
               
Em 1953 publica “Em Sergipe del Rey”. O livro é, na realidade, a coletânea de uma série de artigos publicados anteriormente no jornal “Diário de Natal”, sobre a viagem que Cascudo fez a Sergipe, com anotações sobre a história e a cultura, o povo e a política daquele Estado. 
               
Em 1954 publicou aquela que viria a ser a sua obra mais importante: “O Dicionário do Folclore Brasileiro”. A obra que foi iniciada em 1941, só foi concluída em 1952. É um dicionário tanto de folclore como de etnografia. Cascudo considerava essa obra como sendo o seu livro perfeito. É nesse livro que ele despeja todas as suas correntes de estudos. É um livro de referência . Carlos Drummond de Andrade, em um artigo publicado na revista “Crítica - política & letras (ano XVI - número 6) intitulado “Imagem de Cascudo” diz: “- Já consultou o Cascudo? O Cascudo é quem sabe. Me traga aqui o Cascudo. O Cascudo aparece e decide a parada. Todos o respeitam e vão por ele. Não é propriamente uma pessoa ou antes é uma pessoa em dois grossos volumes, em forma de dicionário que convém ter sempre à mão, para quando surgir uma dúvida sobre costumes, festas, artes do nosso povo. Ele diz tintim-por-tintim a alma do Brasil em suas heranças mágicas, suas manifestações rituais, seu comportamento em face do mistério e da realidade comezinha. Em vez de falar Dicionário Brasileiro poupa-se tempo falando “o Cascudo”, seu autor, mas o autor não é só dicionário, é muito mais, e sua vasta bibliografia de estudos folclóricos e históricos marca uma bela vida de trabalho inserido na preocupação de viver o Brasil”. 
               
No mesmo ano publicou “História de um homem ( João Severiano da Câmara ). Mais uma biografia escrita pelo Mestre. É a biografia do industrial norte-rio-grandense João Câmara e sua importância na vida político-social e econômica do Rio Grande do Norte. Nesse livro, ele faz um levantamento completo sobre a família Raposa da Câmara no Rio Grande do Norte, os Câmaras do Ceará Mirim, Taipu e sua geografia econômica. 
               
Ainda em 1954 publica as antologias: “Contos de Encantamento”, “Contos exemplares” e “No tempo em que os bichos falavam”, as edições anotadas de “Cantos populares do Brasil” e “Contos populares do Brasil” de Sílvio Romero. Publicou também “Antologia de Pedro Velho, uma edição anotada, além de uma tradução do livro “Três poemas”, de Walt Whitman. 
               
1955 é um ano fértil de publicação das obras de Luis da Câmara Cascudo. Nesse ano é publicada a sua “História do Rio Grande do Norte”, que ao meu ver é o apogeu de sua carreira de historiador. Não foi o primeiro livro do gênero publicado no Estado; outros já existiam. Manoel Ferreira Nobre, Oficial Maior da Província, publicou em 1877 “Breves Notícias Sobre a Província do Rio Grande do Norte”. É tido como o primeiro livro de história do Estado. Em 1920 surge a História do Rio Grande do Norte de Tavares de Lira e em 1922 a de Rocha Pombo. Mas a de Luis da Câmara Cascudo é diferente. Nela, três séculos de história são expostos. Teses são defendidas. É um livro completo, recheado de informações úteis para quem deseja conhecer a Província e depois o Estado do Rio Grande do Norte. Numa nota de rodapé ensina que é Cidade do Natal e não Cidade de Natal. É a preocupação pelos detalhes que torna o livro diferente. Logo na introdução, ele informa: “Esta História do Rio Grande do Norte é uma exposição, uma narrativa com informações úteis e conclusões dispensáveis”. Usando uma citação de Quintiliano que dizia “escreve-se para narrar e não para explicar”, o Mestre diz que foi com esse critério que tentou evocar como nasceu a Capitania do Rio Grande do Norte e viveu a Província que é o Estado dos nossos dias. Na conclusão diz: “Se essa narrativa não ultrapassar os horizontes humanos e naturais, eu desta glória só fico contente... 
               
Nesse ano, publicou também “Notas e documentos para a história de Mossoró”. O trabalho consistiu em reunir a documentação, com alguns comentários, tendo sido os assuntos essenciais “analisados com a credencial irrespondível dos originais”. Na conclusão afirma: “Quis apenas dar um roteiro da jornada de Mossoró no tempo. Nada mais.” 
               
“Notas para a história (da Paróquia) de Nova Cruz” é mais um trabalho do Mestre como historiador. Esse livro foi publicado para comemorar o I Centenário da Paróquia, 1855-1955. No prefácio, o Monsenhor Alair Vilar de Melo inicia dizendo que “mais uma vez Luis da Câmara Cascudo presta serviços ao Rio Grande do Norte, quando, neste opúsculo, reúne a história do passado religioso, narrando como nasceu, desenvolveu-se uma das mais importantes circunscrições religiosas do Estado, dando uma importante contribuição para despertar, nos que se interessam pelo passado, o desejo de pesquisa dos dados necessários e importantes, para um futuro historiador eclesiástico, do Rio Grande do Norte”. 
               
“Notícia Histórica do Município de Santana do Matos” foi escrito a convite de Aristófanes Fernandes e Silva, para constituir uma das homenagens ao centenário da restauração do Município de Santana do Matos (1855-1955). 
               
Em “Paróquias do Rio Grande do Norte” o Mestre apresenta, além da história propriamente dita, uma relação das paróquias, cronologicamente, com datas de criação, santos patronos e primeiros vigários, de 1601-1952. Essa mesma relação está incluída na História do rio Grande do Norte, com o título “Paróquias vivas”. 
               
Foi também em 1955 que o Prefeito do Natal, Dr. Wilson Oliveira Miranda, sancionou a Lei n.º 341, de 31 de dezembro do mesmo ano, denominando Rua Câmara Cascudo a rua em que nasceu o historiador. Homenagem em vida a um homem ainda jovem, com 55 anos, que através de seus livros muito tinha feito em prol do Rio Grande do Norte, principalmente da Cidade do Natal, cidade em que nasceu, viveu e morreu. 
               
A História do Rio Grande do Norte, juntamente com a História da Cidade do Natal, elevaram o nome de Cascudo ao mais alto nível cultural no Estado. Gumercindo Saraiva afirma que “nada fazia na província em sentido de cultura sem primeiro ouvi-lo”. Era o sábio, o conselheiro, o historiador no sentido maior. 
               
No campo da antologia publica “Trinta estórias brasileiras”. 
               
Em 1956 publica “Geografia do Brasil Holandês”. Essa obra havia sido publicada anteriormente como tese nos anais do IV Congresso de História Nacional que se realizou no Rio de Janeiro em 1949. 
               
“Tradições Populares da Pecuária Nordestina” foi também de 1956. Nele, o Mestre apresenta todas as manifestações folclóricas da região em relação a pecuária, mostrando a maneira de viver do nordestino, o que comiam, o que vestiam, suas crenças e poesias nativas. Publicou também “A vida de Pedro Velho”. 
               
De 1957 é “Jangada”, uma pesquisa etnográfica escrita para a Société d’Études Histoiriques Dom Pedro II, sob o patrocínio de Adalberto Ferreira do Valle e publicado pelo Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura. Depois de Jangada vem “Jangadeiros”, onde o autor descreve o mundo dos pescadores de jangada. Na apresentação lemos que o livro “descreve não só a vida do jangadeiro em seu frágil batel e nas relações socioculturais brasileiras, mas também, com minúcia, o mundo dos pescadores de jangada, nas fainas diárias da profissão, na vida familiar, nas festividades sui generis, na poesia, na lenda, nos mitos e tradições”. O livro é um mergulho profundo no mundo dos jangadeiros. 
               
“Superstições e costumes” foi lançado em 1958. Trata-se de um trabalho de etnografia brasileira onde o autor, num leve tom de crônica, esclarece o significado e a origem de uma série de superstições e costumes brasileiros. 
               
Publica ainda uma edição anotada de “Poesias”, de Domingos Caldas Barbosa, além de “Nomes da Terra: Geografia, história e toponímia do Rio Grande do Norte. 
               
Em 1959 Cascudo publica “Canto de Muro”. É um romance de costumes, onde o autor alerta, logo na introdução que “quase todos os episódios contidos neste livro de costumes foram observados diretamente e qualquer semelhança não é mera coincidência”. É um romance naturalista, gostoso de se ler, diria mesmo que uma brincadeira, escrita por um dos homens mais sérios da literatura brasileira. 
               
Do mesmo ano é “Rede de dormir”, uma pesquisa etnográfica que foi escrita para a “Société d’Études Histoires Dom Pedro II”, sob o patrocínio de Sebastião Godoy Pinheiro e Clovis Felippe Olga, diretores do Banco Meridional de São Paulo S/A, e publicado pelo Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.


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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
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