Por:Wescley Rodrigues
Nos últimos anos estamos assistindo um profícuo aumento nas publicações com referência a temática do cangaço. São obras que revisitam fatos, reconstroem conjecturas, questionam hipóteses e “verdades” que há muito estavam cristalizadas. Podemos encarar isso como algo extremamente enriquecedor para os estudos do cangaço e para o conhecimento como um todo, pois demonstra que o saber sempre deve ser questionado e revisitado para não se tornar dogma absoluto.
No entanto, outros problemas estão sendo gerados com tais publicações. Muitas dessas obras são livros sem leitores. Explico-me. Quando publicamos um livro partimos do prisma que queremos que nos leiam, degustem as nossas ideias, questione-as, abram novos rumos através de debates. Isso é salutar para qualquer escritor. Mas para que o livro seja lido, logicamente, o leitor tem que ter acesso a essa publicação. Em um país que o índice de leitores é extremamente baixo, no qual quase 70% da população nunca leu um livro de uma capa a outra, fico extremamente indignado quando sondando a industria editorial vejo livros que tem preços extremamente aberrantes. O conhecimento não tem preço, isso é fato, mas ele deve ser ao máximo popularizado, só assim teremos um país de leitores e mudaremos a realidade vivenciada por todos nós.
Estamos na década do modismo das publicações sobre o cangaço com preços aberrantes. São capas bonitas, fotografias extremamente detalhistas, papel sofisticado, mas livros sem leitores. Estamos aburguesando os estudos do cangaço. São os livros dos “centos”, cento e tantos reais. Só queria que me respondessem, esses livros encontram leitores fora aqueles colecionadores do cangaço e estudiosos da temática? E a população? Será se as pessoas da classe pobre e média baixa não têm o direito de conhecerem o cangaço? Os alunos de escolas públicas não são leitores dignos de livros de tão nobres escritores? A popularização do livro é uma luta que tem que ser travada na sociedade brasileira. Esses livros luxuosos do cangaço estão se tornando obras para burgueses ver. O que me surpreende é que, quando se abre o livro, depara-se com uma série de patrocinadores, empresas estatais ou privadas, que, até onde meu pequeno conhecimento alcança, patrocinam para ter isenção fiscal, e para que a obra venha a ter um valor mais acessível ao público.
Só queria através dessas palavras despertar a reflexão se realmente estamos escrevendo e pesquisando para o público, ou apenas para uma pequena parcela seleta da sociedade, para os nossos pares intelectuais. Penso que temas históricos devem ser popularizados, quanto mais leitores, mais rumos se abrirão para enriquecer o nosso campo de estudo.Livros são guardiões de memórias, são tesouros extremamente valiosos, mas tesouros que só tem sentido de existir se tiverem leitores, se todos os interessados puderem ter acesso a eles, porque se não, não significará nada mais do que um entulho de papel empoeirado em uma estante. Parafraseando aquela ideia que está se tornando senso comum, Lampião é uma marca que vende, é cultura, é história, e é dinheiro!
Saudações cangaceiras!
Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Catolé do Rocha – PB