Por Rangel Alves
da Costa*
No Brasil, foi
o jornal que praticamente cimentou a fama dos grandes escritores, hoje vistos
como clássicos. Numa época em que não haviam editoras especializadas em
literatura, apenas os periódicos publicavam em capítulos o que atualmente se
tem como marcos da literatura brasileira. Assim ocorreu com escritores
renomados como José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto e
tantos outros.
Todos estes,
tendo como os exemplos vindos da literatura francesa desde os Dumas, tanto o
pai como o filho, publicavam seus romances em folhetins, nas páginas dos
jornais que circulavam nos principais centos urbanos. Mas o interesse do
público era tamanho pelo desfecho dos episódios que mais tarde, ao final,
inevitavelmente que tais enredos e tramas eram transformados em livros, como o
publicado ou com ligeiras modificações.
Como
observado, eram escassos os meios e as publicações eram bastante reduzidas. Por
consequência, os autores saídos das páginas dos jornais alcançavam fama
rapidamente, vez que com escritos já conhecidos e acessíveis aos leitores dos
periódicos. E a situação não mudou quando começaram a surgir editoras
especializadas em literatura nacional. Publicava-se mais pela fama do autor que
pelo conteúdo da obra, abrindo pouco espaço para novos autores. E tal situação
teve continuidade e possui a mesma feição nos dias atuais.
Certamente que
naqueles idos muitos escritos de qualidade sequer ganharam espaços nos jornais.
As gavetas antigas como as de hoje amargam a certeza que somente as traças
serão assíduas leitoras e devoradoras. E assim acontece porque mais de noventa
por cento dos escritos têm de amargar a triste sina do esquecimento das
gavetas. Somente uma pequena parcela das criações literárias ganha sobrevida
através das editoras ou publicações próprias. E é neste aspecto que emergem
algumas considerações importantes.
Como dito, nem
sempre o que é publicado possui melhor qualidade do que foi rejeitado pelas
editoras, não obteve recursos suficientes para publicação ou simplesmente ficou
esquecido nas gavetas. Autores existem que precisariam apenas de uma
oportunidade e seus nomes logo seriam reconhecidos. Outros, mesmo cientes que
produzem escritos de qualidade, acabam desistindo diante da falta de apoio
cultural, de incentivos para publicação e dos infindáveis meandros
burocráticos. Já outros fazem pequenas tiragens por conta própria na esperança
que seu achado caia nas graças de algum editor. Mas dificilmente consegue pela
peneira que é imposta e pelas políticas de privilégios nestas existentes.
Por mais que
seja difícil aceitar, a verdade é que as editoras praticamente criam autores e
sucessos literários. Para elas, tanto faz que um autor nordestino ou nortista
seja verdadeiramente romancista, contista, poeta, cronista ou ensaísta, que
seja de grande criatividade literária e produza um trabalho de qualidade, se
não querem tê-lo no seu catálogo nem em qualquer lista dos mais vendidos. Mas
diferentemente ocorre quando desejam fabricar celebridades literárias. Por mais
que os escritos sejam medíocres, ainda assim o trabalho de marketing será tão
intenso que a crítica passará a reconhecer alguma qualidade na obra. E não raro
que a crítica receba “presentinhos” para falar bem do que não presta.
Não há dúvidas
que seria impossível dar oportunidade indistinta a todo aquele que já está com
livro pronto e esperando somente uma chance de publicação. As editoras ficariam
abarrotadas de autores novos e de difícil escolha para os leitores. Estes,
aliás, na maioria das vezes sequer folheiam o livro antes de adquiri-lo, pois
se contentam com o nome do autor e se dá por satisfeito. Mas, como dito, tais
autores são apenas aqueles escolhidos e lançados à fama pelas editoras.
Por
consequência, se a qualidade da produção literária do Brasil não é das
melhores, a culpa deve recair exclusivamente nas editoras, pois são estas que
não dão oportunidade aos autores novos, privilegiam alguns nomes socialmente
famosos e procuram a todo custo proporcionar reconhecimento ao que realmente
não tem. Objetivando grande vendagem pelo nome influente do autor, acabam
maculando a imagem e a qualidade da verdadeira literatura nacional.
Para se ter
uma ideia desse processo destrutivo e excludente comandado atualmente pelas
editoras, basta observar que a literatura brasileira parece ter chegado somente
até a literatura contemporânea do século passado. Os livros escolares sobre
literatura brasileira não citam autores atuais com igual consistência daqueles
de escolas mais antigas. E isso é motivado pela falta de autores realmente bons
estampando os livros publicados.
Para um livro
ser bom e assim ser reconhecido não adianta que a editora gaste milhões para
forjar de ouro o nome do autor. A boa literatura é reconhecida pelo leitor. Mas
quando a fama é imposta, jogada na estante porque assim deseja a editora, então
o que se terá é uma literatura nacional desacreditada e da pior qualidade. Ao
menos pelo que é publicado.
Exemplo maior
disso tudo é o tal do Paulo Coelho. Somente as editoras e os fracos de espírito
para dizer que ali está ao menos qualquer resquício de qualidade literária. A
fama do autor existe e se espalhou exatamente porque foi forjado como escritor.
O que verdadeiramente não é.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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