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domingo, 21 de outubro de 2012

Lampião e a cidade de Mossoró

Por: Juarez Morais Chaves
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Mossoró é hoje a segunda maior cidade do Estado do Rio Grande do Norte. É uma cidade bonita, muito limpa e bem administrada. Atualmente sedia o Hotel Termas, um dos melhores hotéis do Nordeste. Pois bem, foi nessa cidade que há 83 anos atrás Lampião conheceu a sua primeira derrota que lhe foi imposta pelos moradores da cidade no dia 13.06.1927

O cangaceiro Lampião

No dia 9 de junho de 1927, Lampião adentrava no Estado do Rio Grande do Norte, disposto a reforçar o seu caixa pilhando a cidade de Mossoró. No dia 12, já estavam no povoado de São Sebastião, hoje a cidade de Dix-sept Rosado, próxima a Mossoró. De São Sebastião enviou mensagem ao Prefeito de Mossoró, Sr. Rodolfo Fernandes, informando que no dia seguinte estaria invadindo a cidade, causando, com essa notícia, um grande desespero em toda a população, conhecedora que era das atrocidades do Cap. Virgulino quando não lhe satisfaziam as vontades.  No que pese a grande preocupação, o Prefeito acalmou o povo e liderou a reação montando trincheiras para recepcionar os invasores. Além das trincheiras montadas fazia parte da estratégia de defesa a orientação para que as mulheres e criança ficassem em casa e não saíssem à rua, dando assim um aspecto de  esvaziamento da cidade


" Cel Rodolfo

Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi mas nos resposte logo.
Capm Lampião."

No dia 13 de junho o bando de Lampião invadiu o  Sítio Saco, é  de lá enviou um bilhete, exigindo a quantia de  400 contos de réis sob pena de invadir e destruir a cidade. Numa prova de coragem do povo potiguar, recebeu como resposta outro bilhete, assinado pelo Prefeito e devolvido  pelo mesmo portador, dizendo que Lampião podia invadir a cidade pois para ele e seu bando tinham bala de fuzil.

Revoltado e com raiva pela petulância do prefeito Lampião entrou na cidade e  por volta das 16:00 h começou o ataque. O bando foi dividido em três grupos cada um encarregado  de invadir a casa do Prefeito, a estação ferroviária e outro o cemitério. Encontrando feroz resistência da população Lampião perde importantes cabras e  o bando, após uma hora de tiroteio, recua, deixando em plena rua o cangaceiro Colchete morto com o crânio esfacelado por balas e o cangaceiro Jararaca gravemente ferido no peito, que é capturado  e praticamente enterrado vivo. pela população.

A atual Igreja de São Vicente, na época apenas uma capela, foi a principal trincheira de resistência e ficou com sua única torre crivada de bala. Lampião com seus  53 cangaceiros dentro de Mossoró, não imaginou  que iria enfrentar mais de 150 cidadãos armados na defesa da cidade e das suas famílias. Foi uma noite de terror, de grande tiroteio, mais parecendo uma noite de São João.

Pela reação recebida Lampião sentindo que dominar a cidade seria praticamente impossível, ordenou a retirada da tropa, para evitar a perda de mais homens e não manchar ainda mais sua reputação. Era o começo do declínio da carreira de Virgulino. Por causa do desastre no Rio Grande do Norte, as deserções no grupo foram consideráveis. Até hoje, os filhos daquela terra se orgulham do feito de braveza ao contar que seus antepassados “botaram Lampião para correr”. Os inimigos do cangaceiro, entretanto, ainda teriam que esperar mais 11 anos pela morte do capitão, assassinado somente em 1938, na chacina da gruta de Angicos, em Sergipe.

http://xiquexiquense.blogspot.com.br/

Kydelmir Dantas e Luiz Gonzaga em Natal

 Kydelmir Dantas

Na próxima sexta-feira (26 de Outubro de 2012 às 19:30), o poeta, escritor, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC), pesquisador do cangaço e estudioso de Luiz Gonzaga, Kydelmir Dantas lançará em Natal - Rn.

Editora Queima Bucha

na Praça Cívica do Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. o seu mais novo trabalho "LUIZ GONZAGA E O RIO GRANDE DO NORTE." 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O senhor do Reino da Pedra - Delmiro Gouveia


A história de Delmiro Gouveia, o polêmico magnata que ergueu e comandou com mão de ferro uma civilização luminosa nas trevas do sertão
Dilton Cândido Santos Maynard

Era um homem temido e extremamente sedutor. Dizem que tinha ímã nos olhos e detestava gente preguiçosa. Quando ia à cidade, vestia-se elegantemente, com direito a bengala e cartola. Estava sempre perfumado. No sertão, manejava com habilidade o chicote e sabia fazer-se respeitar. Em todo o Nordeste, chamavam-no coronel Delmiro Gouveia, ou simplesmente “coronel dos coronéis”.

Em meio à pobreza e ao atraso do sertão, Gouveia criou a usina hidrelétrica Angiquinho, encravada nas paredes de uma cachoeira, para obter eletricidade das águas do Rio São Francisco. Com a energia, impulsionou a Companhia Agro-Fabril Mercantil (CAM), conhecida como Fábrica da Pedra — a primeira a produzir linhas de coser no país.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu em 5 de junho de 1863 em Ipu, Ceará. Órfão de pai, mudou-se ainda criança para Recife. Depois de perder a mãe, em 1877, caiu no mundo, dedicando-se a vários ofícios: foi tipógrafo, trabalhou na Brazilian Street Railways Company, virou mascate e chegou a despachante de barcaças no Cais de Ramos. Por fim, ingressou no negócio de peles de bode, carneiro e cabra, criando, em 1896, a Delmiro & Cia. Segundo o escritor Graciliano Ramos (1892-1953), Gouveia “adquiriu tanta habilidade que poderia, segundo afirmam os tabaréus, esfolar uma cabra viva sem que ela percebesse que estava sendo esfolada”.

Atacando ferozmente a concorrência, em pouco tempo o jovem empresário figurava nos jornais como o “Rei das Peles”, tornando-se o único exportador de couros do Nordeste para os Estados Unidos. Os lucros lhe trouxeram uma vida de fausto: sua residência, a Vila Anunciada (assim batizada em homenagem à primeira esposa), foi transformada em um espaço para grandes festas e saraus.

Apesar de não vir de família tradicional e de possuir pouca instrução, Gouveia tornou-se presidente da Associação Comercial de Pernambuco. Seu figurino era elegante: ditou moda com os “colarinhos Delmiro Gouveia”, tinha um apreço todo especial por roupas brancas e perfumes importados. A fama de negociante próspero logo foi acompanhada pela de galanteador que enviava rosas e bilhetinhos apaixonados às amantes.

Delmiro visitou a Exposição Universal de Chicago, em 1893, e voltou de lá com a cabeça cheia de idéias. Provavelmente, a experiência inspirou-lhe a criação do Derby, um mercado com 129 metros de comprimento por 28 de largura, 18 portões, 112 janelas e venezianas, e um restaurante. Funcionavam no Derby 264 boxes, todos com balcões de mármore, onde se vendiam hortaliças e verduras.

Os visitantes que desembarcavam no porto de Recife eram transportados pelo leito do Rio Capibaribe para um hotel construído próximo ao mercado. Mas a grande atração era mesmo a iluminação elétrica, inédita na cidade. O público lotava o mercado para experimentar os carrosséis e divertir-se com as barracas de prendas, o teatro, as regatas, além do velódromo para ciclismo. Para muitos, o Derby foi a versão pioneira de um shopping center no Brasil.

Do prefeito José Coelho Cintra (1843-1939), Delmiro Gouveia obteve isenção de impostos e outros favores, mas os privilégios não foram suficientes para que mantivesse o empreendimento por muito tempo. No dia 2 de janeiro de 1900, o Derby ardeu em chamas. O misterioso incêndio teria sido uma resposta à ousadia do empresário, que eliminava intermediários baixando os preços, e certa vez chegou a atacar a bengaladas o senador Francisco Rosa e Silva (1857-1929), poderoso líder político pernambucano e então vice-presidente da República. Delmiro acabou preso, acusado de ter ordenado o fogaréu para receber o seguro.

Inocentado, passou por uma séria crise conjugal. Para fugir do redemoinho, viajou para a Europa, ficando cerca de um ano longe dos negócios, que iam mal, e do casamento, que desmoronara. Quando, enfim, retornou ao Brasil, estava falido.


Em um ato intempestivo, Gouveia resolveu raptar a menor Carmela Eulina do Amaral Gusmão, por quem se apaixonara. A moça era filha do governador de Pernambuco, Segismundo Gonçalves (1845-1915), importante aliado de Rosa e Silva. Alguns biógrafos sugerem que Eulina (futura mãe de três filhos seus) foi a “vingança de saias” aplicada por Delmiro em Segismundo, pelos ataques aos seus negócios.

Delmiro Gouveia e Eulália, filha do governador de Pernambuco, Segismundo Gonçalves

Fugindo para Alagoas, Gouveia estabeleceu-se na cidade de Água Branca, onde recebeu apoio das poderosas famílias Torres e Luna e retomou o negócio de peles e couros. Recuperou-se dos prejuízos, e em março de 1903 fixou-se na Vila da Pedra. Próxima ao sítio que comprou na região ficava a cachoeira de Paulo Afonso. O que lhe inspirou um plano ousado: a partir da queda d’água, construir uma hidrelétrica para fornecer energia ao Recife, sua antiga morada, e a outras cidades do Nordeste. Tudo arquitetado, Gouveia associou-se a americanos para viabilizar o projeto. Mas nem tudo saiu como o esperado. O governador Dantas Barreto (1850-1931) teria dito ao negar a concessão: “O negócio é bom. Tão bom que deve esconder alguma velhacaria!” Os americanos pularam fora, mas Gouveia levou a idéia adiante, limitando-a às suas terras.

Enquanto a hidreletricidade era ainda assunto de revistas, Gouveia, de arma em punho, obrigava seus empregados a descer pelo abismo de Paulo Afonso para instalar a usina. A energia obtida moveu a Fábrica da Pedra, que prosperou alavancada pelos tempos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Os carretéis ingleses passaram a sofrer uma inesperada concorrência no mercado nacional, com o rápido crescimento das linhas marca Estrela. No exterior, Gouveia lançou a linha Barrilejo. Sua clientela estrangeira incluía Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Antilhas e Canadá.

O negociante modificou a paisagem do sertão alagoano. A vila pulou de menos de uma dezena para cerca de 250 casas, com uma população de quase cinco mil pessoas. As bebidas alcoólicas foram proibidas — mas isso, evidentemente, não valia para o rei das peles: instalado em um confortável chalé, abastecido de champanhes caros e vinhos de Bordeaux, tornou-se o “senhor da Pedra”. Seus cinco automóveis, os primeiros a cruzar aqueles sertões, assustavam os camponeses. Junto com a indústria, levou para a pequena localidade a máquina de gelo, o telégrafo, o cinema (como ingresso das crianças, cobrava o boletim escolar com boas notas), o carrossel, a tipografia, bandas de música e a jornada de trabalho de oito horas, com folgas aos domingos.

A fábrica possuía uma vila operária, onde Delmiro impôs normas rigorosas aos moradores. Havia horário para fechar as portas, vistoria da higiene nas casas e multas para quem cuspisse no chão. Das moças, o cearense exigia vestidos abaixo dos joelhos e cabelos arrumados. Os filhos dos empregados eram obrigados a estudar — se faltassem, os pais recebiam duras advertências. Todos deveriam andar sempre asseados. Arno Pearse, observador estrangeiro, registrou que os operários iam para o trabalho “mais bem vestidos do que o europeu médio no domingo”.

Quando dispunha de tempo, Gouveia fiscalizava pessoalmente o funcionamento de tudo. O perfume forte denunciava sua presença, deixando os empregados em pânico. Deslizes freqüentemente levavam os infratores aos troncos das baraúnas próximas à fábrica. Há relatos de empregados que “fizeram mal” a alguma trabalhadora, e após um dia amarrados na árvore, aceitaram o “conselho” do coronel e se casaram, apadrinhados pelo próprio. Talvez por isso, Mário de Andrade (1893-1945) tenha escrito que “Macunaíma (...) pensou em morar na cidade da Pedra com o enérgico Delmiro Gouveia, porém lhe faltou ânimo. Para viver lá, assim como tinha vivido era impossível”.

Mas se em muitos despertavam temor, as atitudes enérgicas do empresário eram, para outros, simplesmente inaceitáveis. Fosse por desavenças pessoais, fosse por interesses comerciais contrariados, a pele de Delmiro Gouveia estava a prêmio. Aos 54 anos, era um cabra marcado para morrer. E driblar este destino foi um golpe que o magnata não soube dar. “Foi covardemente assassinado a tiros de rifle o grande industrial Delmiro Gouveia, uma das existências mais úteis e laboriosas do Brasil atual”, alardeou a Revista da Semana. Os três tiros foram disparados quando o empresário lia jornal na varanda de seu chalé, no dia 17 de outubro de 1917. Em sua homenagem, a revista lembrava que ele “foi estabelecer-se próximo à cachoeira de Paulo Afonso, criando a Vila da Pedra, hoje em dia transformada pela sua energia ciclópica num dos mais importantes centros rurais e industriais do país, numa verdadeira civilização encravada dentro da barbárie do sertão nordestino”.

De Mário de Andrade, o acontecimento mereceu o seguinte comentário: “Teve o fim que merecia: assassinaram-no. Nós não podíamos suportar esse farol que feria os nossos olhos gestadores de ilusões, a cidade da Pedra nas Alagoas”.

Em seu testamento, Delmiro deixou uma fortuna calculada em quatro mil contos de réis. E exigiu: “Quero que meu corpo seja inumado em cova rasa, sendo meu enterro feito sem pompa alguma e dispenso também todos os sufrágios e quaisquer outras solenidades”. Assim foi feito. A banda local acompanhou o féretro, mas, além disso, nada mais houve.


Róseo e Jacaré, acusados e condenados...inocentes???

Foram presos dois suspeitos, que confessaram um crime que não cometeram após muita tortura. Ao que tudo indica, a ordem partiu de coronéis da região. O processo-crime, revisto anos depois, está repleto de falhas e, para alguns, é um belo exemplar de erro jurídico.

No ar, ficou a suspeita de que o assassinato fora encomendado pela Machine Cottons, grupo inglês que fez uma férrea campanha para adquirir a Fábrica da Pedra e retomar o monopólio no negócio de linhas, perdido durante a Primeira Guerra. Delmiro negou-se a vender a companhia. Anos após a sua morte, o trust finalmente comprou a fábrica. Os novos donos chocaram a população da Pedra: várias máquinas da CAM foram quebradas e jogadas no leito do Rio São Francisco.

Delmiro Gouveia virou mito. O homem um dia acusado de velhacaria tornou-se um mártir da indústria nacional, vítima do “atraso” sertanejo e da pressão do capital estrangeiro. Embora exista mais de uma dezena de biografias dele, como num romance policial sua vida tem lacunas intrigantes. Ainda assim, exposições, histórias em quadrinhos, filmes, ruas, avenidas e até a Vila da Pedra, hoje uma cidade, levam seu nome. Imponente entre as rochas, Angiquinho lembra as mudanças ocorridas no sertão. Projetada sobre ela, a sombra do coronel dos coronéis ainda passeia impetuosa.

Dilton Cândido Santos Maynard é professor da Universidade Estadual de Alagoas e autor da tese “O Senhor da Pedra: os usos da memória de Delmiro Gouveia (1940-1980)”, (UFPE, 2008).

Saiba Mais - Livros:

ARARIPE, J.C. Delmiro Gouveia: a glória de um pioneiro. Fortaleza: BNB, 1997.
MARTINS, F. Magalhães. Delmiro Gouveia: pioneiro e nacionalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL,1979.
ROCHA, Tadeu. Delmiro Gouveia: o pioneiro de Paulo Afonso. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1970.

Saiba Mais - Filmes:

“Coronel Delmiro Gouveia”, de Geraldo Sarno,1977.
“Delmiro Gouveia: o homem e a terra”, de Ruy Santos,1971.

Revista de Historia da Biblioteca Nacional

http://historianovest.blogspot.com.br/2009/02/o-senhor-do-reino-da-pedra-delmiro.html

Para você que ainda não o leu - A CIGANA DE PARICONHA E LAMPIÃO


Diz-se que Lampião, quando jovem, honesto e trabalhador, encontrou uma cigana bonita e sorridente, na feira de Pariconhas (Alagoas). Virgolino deu-lhe a mão para ser lida. A cigana começou a tremer lábios e pálpebras e fez terrível revelação: “Tenha cuidado com o número sete. Ele vai ser a sua perdição”. Até então, Virgolino trabalhava como almocreve do coronel Delmiro Gouveia, que, por coincidência, possuía nome e pré-nome com 7 letras...

Coronel Delmiro Gouveia

Delmiro foi assassinado a tiros, no dia 10 de outubro de 1917. Lampião morreu nas mesmas circunstâncias, na grota de Angicos, dedurado por um coiteiro de nome 

Pedro de Cãndido à esquerda - acervo João de Sousa Lima

Pedro de Cândido, no dia 28 de julho de 1938. Angicos e Cândido são nomes de 7 letras. Vinte e oito, o dia da morte de Lampião, é múltiplo de 7. Julho é o 7º mês do ano. Mil novecentos e trinta e oito tem 4 algarismo que, somados, totalizam 21, múltiplo de 7. Também foi de 21 o número de anos de diferença entre as mortes de Delmiro e Lampião.

Mossoró (Rio Grande do Norte), uma cidade de 7 letras, foi invadida por Lampião às 17 horas da noite de 13 de junho de 1927. A cidade estava em festa, promovida pelo “Humaytá”, uma instituição desportiva que possuía 7 letras em sua denominação. Também tinha 7 letras o nome do coronel Rodolfo, prefeito de Mossoró, que organizou a resistência contra o cangaceiro. Lampião, neste cerco, perdeu os cangaceiros Colchete e Jararaca e ficou com 5 homens seriamente feridos. Teve 7 baixas.

Se, supersticioso como era, Lampião tivesse dado mais atenção às palavras da cigana de Pariconhas, notaria que, na realidade, o número 7 tinha muito a ver com a sua vida. Lampião, capitão, cangaço, são exemplos de nomes que possuem 7 letras. Ele conheceu Maria Bonita no interior da Bahia, em Santa Brígida. O nome da santa (Brígida) tem sete letras, já não seria um aviso do destino? 

A metralhadora que ceifou a vida do cangaceiro era da marca Hot-Kiss, outro nome de 7 letras funestas, ligado ao destino do cangaceiro.

O cangaceiro Sinhô Pereira - O único chefe de bando de cangaceiro de Lampião

Lampião entrou para o cangaço aos 24 anos. Cerrou fileiras no bando de Sinhô Pereira (será que Pereira não tem 7 letras?), que abandonou a vida de bandoleiro e retirou-se para Goiás.

Os cangaceiros Corisco e Dadá

Corisco, um dos cangaceiros de maior confiança de Lampião, morreu dois anos após o cerco de Angicos. Quantas letras têm o nome de Corisco? 

Abraão Benjamim e Padre Cícero

Abrahão era um libanês que vivia em Juazeiro, ajudando padre Cícero. Foi ele quem, pela primeira vez, conseguiu a permissão de Lampião para fotografar o bando, em 1936. Abrahão é o 7º patriarca da Bíblia. O nome do fotógrafo de Lampião também tinha 7 letras...

http://zarcofernandes.webnode.com.br/curiosidades-/

NATALIA QUEIROZ MINHA MÃE, FOI ENTREVISTADA EM 1990



DEPOIMENTO DE NATÁLIA QUEIROZ SOBRE A INVASÃO DE LAMPIÃO A MOSSORÓ EM 13/06/1927 

Esse texto foi extraído do meu livro “MEMORIAS DE UM TEMPO FUGAZ”, que  será publicado em breve. Está na fase de revisão para depois ir ao prelo. Eis a entrevista:

P - Onde a senhora estava na véspera do ataque de Lampião a Mossoró? A senhora fugiu no trem para Areia Branca?

N - Estava na casa do prefeito Rodolfo Fernandes com um grupo de amigos e familiares, todos curiosos com a evolução dos acontecimentos, pois o ataque de Lampião a Mossoró poderia acontecer a qualquer momento.Sei bem que Júlio Maia ( um dos líderes da resistência e primo do Prefeito), chegou e disse que nós tínhamos que ir também para Areia Branca de trem. Continua Natália – os homens estavam se organizando em trincheiras. O prefeito foi muito corajoso, decidido, isso é que é a verdade., Acho que fomos no último trem, já muito lotado. Foi uma verdadeira folia. Eu era muito jovem, claro que estava com medo mas naquela idade tudo era aventura. Eu ainda não conhecia João Almino. Passamos três dias em Areia Branca. Era tanto boato!  As informações eram desencontradas, mas voltamos no primeiro trem.

P - Já sabiam que Lampião havia sido derrotado?

N- deram ordem para a gente voltar, pois Lampião já havia saído, mas tinha sempre aquelas pessoas que duvidavam de tudo. No percurso, acho que já bem perto de Mossoró, avistamos um carro e o trem diminuiu a marcha para saber notícias. Nessa ocasião o pai de Idália, (esposa de Chico Xavier de Queiroz), o senhor Antonio do Carmo, muito nervoso perguntou ao motorista do carro em voz alta, como estava a cidade. O motorista respondeu:- “tudo em paz”, mas ele entendeu “tudo em bala” .Ficou então gritando para o trem parar.E dizia : – Ta vendo, tudo em bala”. Foi um verdadeiro alvoroço. Algumas pessoas choraram, mas o maquinista desceu e foi conversar com o motorista do veiculo ficando esclarecido que estava tudo em paz. O trem prosseguiu viagem.

P-  O trem estava muito cheio?

N- sim estava mas nem todo o pessoal que tinha ido a Areia Branca voltou naquele dia, alguns ainda permaneceram por vários dias e a cidade de Mossoró ainda passou quase um mês com boatos. Diziam que Lampião ia retornar ou que estava na passagem do rio. Lembro-me de Jararaca na cadeia, fui olhar. Dr. João Marcelino foi o médico que o atendeu. Dizem que Jararaca  foi enterrado vivo, pelos policiais que iam levá-lo para Natal.

P- O que aconteceu após a fuga de Lampião?

N-  Sim, mas o bando de Lampião fugiu em direção a Jucuri e de lá até a fazenda Veneza, que era uma propriedade de Alfredo Fernandes. O gerente dela era Childerico (Childerico  Fernandes de Souza), primo de seu pai. Chegaram de manhã cedo (dia 14). A Bebela (Felisbela Rodrigues Fernandes) me disse muito depois o sofrimento que passaram. Acabaram com toda a comida existente lá, estoque de carnes, mataram muitas galinhas a tiro e mandaram fazer comida.  Eram mais de 50 cangaceiros. Saquearam tudo e ainda levaram 15 contos de reis que Childerico estava guardando para compra de umas reses. Bebela me disse também que só conseguiu guardar um queijo que caiu e ela jogou para debaixo de um armário. A certa altura Lampião perguntou se Childerico era primo do prefeito. Ele disse que sim. Não houve confusão por isso, mas  tinha um cangaceiro chamado Massilon que evitou muito as agressões que alguns queriam fazer. Eles ficaram na fazenda por todo o dia 14 e depois seguiram para Limoeiro do Norte.

Concluiu Natália: – eu não conhecia ainda João Almino. Minhas amigas é que falavam dele e diziam que ele era irmão de Celso Almino. Ora, se eu também nem sabia quem era Celso.

COISA LINDA! (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

COISA LINDA!

Coisa mais linda o entardecer no sertão e o cheiro de café torrado espalhando pelo ar, e ao bater à porta da velha senhora ela já saber o que você deseja ali. E traz o aroma fumegante na xícara, e traz a palavra, e traz o contentamento maior da vida.

Ao se aproximar da cancela ser logo recebido pelo meninote barrigudinho, que depois de mostrar sorriso no rosto bonito e no olho graúdo, se esconde por trás do mourão. E você o percebe olhando de fininho e se retraindo, até desabar em correria para depois surgir com um passarinho na mão e outro no coração. Que coisa mais linda, meu Deus!


Gesto lindo, maravilhoso, ainda que sentimentalmente desafiador, chegar de visita numa taperinha sertaneja e já próximo ao meio-dia o velho dono da casa pedir que lhe dê a honra de dividir sua mesa com o alimento que tiver. E você sentar e comer gulosamente feijão de corda com ovos de galinha de capoeira. E depois ouvir, sempre com semblante entristecido, as maiores desculpas por não ter oferecido o prato merecido pelo doutor.

Coisa linda, encantadora, é a tarde sertaneja com suas calçadas de cadeiras de balanços, com cocada e arroz doce em cima das mesinhas e janelas, vizinhas tratando cuidadosamente da vida dos outros, velhos picando fumo por cima dos tocos, velhas senhoras adormecendo suas lembranças nos embalos da ventania. E a meninada ao redor jogando bola, soltando pipa, correndo de canto a outro.

Lindo demais ainda poder encontrar o cavalo alazão do menino, todo bonito e ligeiro na sua magrez de cabo de vassoura ou pedaço de pau trabalhado; e também encontrar a casinha de boneca esperando sua dona chegar. E imaginar que quem está lá dentro, a própria boneca enfeitada no vestido de chita, anda muito raivosa pelo sumiço daquela que lhe chama de filha. E de repente chegar a menina com uma caminha de madeira que o pai acabou de comprar na feira.

Duvido que haja coisa mais bela do que o sertão nos dois extremos do dia, na alvorada e no anoitecer. Pelas matarias e descampados os sons da natureza, os bichos grunhindo, os mistérios sussurrando, para mais tarde, assim que o galo cantar e a passarinhada despertar, a vida receber sua cor e tudo se transformar em louvor. Menino se dana a correr, papagaio a falar, rala aqui e mexe acolá. Esse é o som do sertão, e eco mais belo não há.


E depois que o sol se esconde, quando o sombreado vai tomando os quadrantes, vai chegando a ventania trazendo o som de uma viola caipira, e muitas vezes o berrante ecoando para agradecer a juntada do gado, o trabalho cumprido, a vida que segue em frente. E tudo debaixo de uma lua imensa no terreiro da fazenda. E chega um compadre e outro, um gole é oferecido, e daí o proseado, o prestar contar do viver. E mesmo que não seja a melhor, coisa mais bonita não há.

Lindo, lindo demais, passar defronte ao cercado, à malhada do terreno, e avistar a caipirinha mais linda do mundo colhendo flores imaginárias para enfeitar sua janela. E tanta deusa, tanta musa, tanta doçura em pessoa, que é difícil não achar que por ali vivem as mais belas mocinhas do mundo, ainda que de roupa simples, vestidinho de chita, diadema no cabelo, uma maçã perfumada em cada face. E mais belo ainda o sorriso, o olho de flor da vida, cabelo amigo do vento, um passo que é valsa suave. E que melodia esse encontrar, que vontade de chegar perto dela e não dizer nada. Apenas admirar!

Que coisa linda é ser sertanejo, reconhecer-se sertanejo, jamais afastar do seu corpo a presença sentimental do chapéu de couro, do gibão, do alforje, da mochila de caçador, do suor queimando a pele, da moringa de barro da janela, do pote antigo recoberto com toalha rendada. E por onde andar, ainda que o asfalto sempre iguale os caminhos, ter na mente e na visão a vereda de encontros, um voo de jaçanã, a flor do mandacaru, o preá correndo à frente, o encontro com a catingueira, o xiquexique e a macambira.

Mas a coisa mais linda do mundo, e que somente no sertão existe, direi agora: o ser humano na mais pura realidade que possa existir. Haverá alguma coisa mais autêntica que o sertanejo?


Biografia do autor:

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE. 

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com