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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

DOS SURTOS DO PRÍNCIPE A MORTE DA IMPERATRIZ: O EXÍLIO DA FAMÍLIA IMPERIAL BRASILEIRA

Por Fabio Previdelli 

Gravura da família imperial brasileira - Getty Images

Em 15 de novembro de 1889, era proclamada a República do Brasil. Como consequência, os membros da Família Imperial seguiram para o exílio na França e no Império Austro-Húngaro, embarcando a bordo do navio Alagoas.

Lá estavam D. Pedro II e sua esposa Teresa Cristina, junto de Isabel, seu esposo D. Gastão e os filhos D. Pedro de Alcântara, D. Luís e D. Antônio Gastão. Também estava presente Pedro Augusto, filho mais velho da falecida Leopoldina.

No entanto, a principal protagonista da viagem, que ocorreu há 130 anos, foi Maria Amanda Paranaguá Dória: a baronesa de Loreto. Isso porque, seu diário, que foi esquecido nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), revelou com riqueza tudo que aconteceu a partir do embarque em uma chuvosa madrugada.

As impressões de Maria Amanda, chamada de Amandinha no circulo imperial, foram relatos no livro Brasiliana IHGB: Instituto Histórico E Geográfico Brasileiro - 175 Anos, publicado em 2014,  apresentando uma visão extremamente tocante sobre esse período histórico.

Navio Alagoas foi usado pela família imperial brasileira / Crédito: Domínio Público

As 120 páginas do primeiro caderno terminam com o momento de profunda dor em que o imperador lamenta a morte de Teresa Cristina — que aconteceu apenas três semanas do desembarque em Portugal.

Em uma demonstração de fidelidade à realeza, ela e seu marido, Franklin Américo de Meneses Dória, barão de Loreto, acompanharam, por vontade própria, o imperador durante o exílio. Assim, os dois se juntaram a uma caravana de duas dezenas de pessoas e se dirigiram, em um silêncio que mais lembrava uma marcha fúnebre, pelas ruas do Rio de Janeiro.

Partiram de lancha até o cruzador Parnaíba e, de lá, foram até a enseada de Abraão, na região de Angra dos Reis, quando migraram para o vapor Alagoas. O trajeto de volta a Europa durou 20 longos dias, no primeiro entre eles a baronesa recordou: “O mar estava um pouco agitado e, temendo enjoo, que me é inevitável, fui entrinchei­rar-me no beliche, onde me deitei com vivas saudades e lembranças de origens diversas”.

De maneira clara e objetiva, a escrita de Maria Amanda destaca o sentimento de conformidade dos passageiros, principalmente o de Pedro. Grande parte das citações também ressalta a palavra “saudade”.

Na embarcação não se discutia política, a única pauta bem vinda era literatura. Durante o trajeto, dom Pedro criou o hábito de rodas de leituras noturnas — que ele próprio batizou de “conversações saudosas”.

A bordo, era possível ver os traços simples que a família imperial levava em solo brasileiro. Não havia banquetes, festas ou até mesmo o uso de roupas de gala. Em 2 de dezembro, data do aniversário do imperador, uma garrafa de champanhe foi aberta para que todos se deleitassem. Dom Pedro ergueu uma taça e disse: “Brindo à prosperidade do Brasil”.  

Maria Amanda Paranaguá Dória: a baronesa de Loreto / Crédito: Domínio Público

Segundo o diário, dom Pedro II já não se importava mais tanto com os rituais, mas, mesmo assim, os almoços e jantares continuavam sendo servidos em uma mesa devidamente aparelhada, e a princesa Isabel continuava sendo acompanhada por duas criadas.

Entretanto, alguns costumes de dom Pedro não mudaram, como a generosidade. Conforme relata a baronesa, apesar da falta de dinheiro, o imperador não hesitou em fazer uma doação generosa a um padre para que ele distribuísse aos pobres. O aporte aconteceu durante uma escala na ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

Maria Amanda também revelou que um dos motivos que mais preocupou aqueles que estavam a bordo do Alagoas, foi o comportamento de Pedro Augusto. O neto mais velho do imperador — que desde cedo foi preparado para assumir o trono — tinha tendências paranoicas e sofreu surtos psicóticos durante a viagem.

A baronesa, assim como os outros tripulantes, atribuíram esses ataques de histeria à movimentação do navio que fazia a segurança do Alagoas. “Todas essas manobras só têm servido para assustar o príncipe dom Pedro Augusto, que, desde ontem, sofre de superexcitação nervosa, se acha possuído de pânico e pensa que estamos todos perdidos e não chegaremos a Lisboa. O seu estado é lastimável”.

Dias depois, a morte da imperatriz Teresa Cristina — que pereceu devido a um infarto — foi atribuída, pela baronesa, como culpa da República. “Desde que saiu do Brasil, ela mostrava-se impressionada pelos horrorosos acontecimentos tão sabidos. Eles, sem dúvida, concorreram para a sua morte”.

Retrato de dom Pedro II / Crédito: Getty images

Esta, inclusive, é a cena mais marcante descrita por ela. Afinal, apesar das amantes que teve, dom Pedro criou uma intensa relação de apego com a imperatriz, e a morte da mesma lhe causou profunda tristeza.

“Antes de soldar-se a urna, o imperador quis despedir-se da imperatriz e mandou chamar a todos nós para fazermos também nossas despedidas”, escreveu a Maria Amanda. “Não se pode descrever a dor dos príncipes e a nossa. Beijamos-lhe a mão e choramos copiosamente sobre o seu corpo sem vida.”

Dom Pedro, que normalmente era discreto ao demonstrar suas emoções, não foi capaz de esconder tudo que sentia. “Ele abraçou a sua muito amada esposa soluçando e foi logo retirado dali pelo Mota Maia (médico da família). A princesa beijou sua santa mãe repetidas vezes; o mesmo fizeram os príncipes, e nós beijamos a mão de nossa imperatriz, que fora sempre tão boa e carinhosa”.

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BANIDA APÓS PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, FAMÍLIA IMPERIAL VIVEU EXÍLIO ENTRE NOBRES NA FRANÇA

 Por Fernanda Canofre

Governo Deodoro antecipou expulsão de d. Pedro 2º com medo de reações populares pró-imperador; banimento vigorou até 1920

Clique no link e leia sobre Dom Pedro II.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/banida-apos-proclamacao-da-republica-familia-imperial-viveu-exilio-entre-nobres-na-franca.shtml

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DIÁRIO INÉDITO NARRA A VIAGEM DE DOM PEDRO II AO EXÍLIO

 Por Antônio Sérgio Ribeiro

Os antecedentes da história da Independência do Brasil têm vários aspectos, mas cabe destacar os fatos que ocorreram em São Paulo e foram determinantes para a vinda do príncipe D. Pedro, culminando com o grito do Ipiranga.

A divergência entre os membros da junta do governo provisório, conservadores e liberais, que desde o ano anterior dirigiam os destinos da Província de São Paulo, resultou na eclosão, no dia 23 de maio de 1822, de uma revolta que depois ficou denominada a Bernarda de Francisco Ignácio.

A situação vinha se agravando há muito, o príncipe regente, em 10 de maio, requisitou a presença do presidente da junta do governo provisório de São Paulo, João Carlos Oeynhausen Grevembourg, para que fosse ao seu encontro na Corte e, nesse mesmo dia, foi nomeado governador das Armas o marechal de campo José Arouche de Toledo Rendon. Na ausência do presidente da junta ligado aos conservadores, assumiria Martim Francisco Ribeiro de Andrada, secretário do Interior e Fazenda da corrente política divergente, este liberal.

A população foi instigada por Francisco Ignácio de Souza Queiroz, também membro do governo provisório, a não permitir a partida de Oeynhausen, e o impasse foi criado. A Câmara instada a destituir Martim Francisco e o brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, vogal pelo Comércio na junta, recusou-se a fazê-lo e a população, inconformada, invadiu o prédio obrigando os vereadores a demitir os dois. Martim Francisco retirou-se preso para o Rio de Janeiro e o brigadeiro Jordão foi para Santos. O presidente João Carlos Oeynhausen permaneceu no cargo, não cumprindo a ordem de D. Pedro de ir para a Corte.

Rendon, impossibilitado de assumir o seu cargo, como governador das armas, recebeu determinação do ministro da Guerra para destituir o presidente da junta e assumir com a ajuda do corpo de artilharia de Santos e de dois corpos de milicianos do Rio de Janeiro, sendo, ainda, determinado que lhe entregassem dez mil cartuchos de espingarda e dois mil de pistola.

No dia 25 de maio, D. Pedro expediu decreto "para dar pronto remédio a tais desordens e atentados que diariamente vão crescendo" e destituiu o governo da Província. Ele determinou as eleições para deputados à Assembléia Geral e Constituinte e a "nomeação de um governo provisório legítimo". Uma carta da mesma data ordenou aos membros da junta governativa de São Paulo que dessem pronta e fiel execução às ordens do príncipe Regente.

As tropas, vindas de Santos, foram hostilizadas pela população paulistana, e o seu comandante marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa resolveu recuar e aguardar os acontecimentos. Em 24 de julho de 1822, com a desistência do marechal Rendon de tomar posse, a nomeação do próprio Xavier de Almeida para esse cargo e com o retorno das tropas para Santos a situação na capital se normalizou.

Com destino a São Paulo

Outro fato grave ocorreu, por ocasião do enforcamento de 12 soldados que se haviam colocado à frente de seu batalhão na cidade de Santos, para pleitear a equiparação de soldos com os praças portugueses, a condenação dos envolvidos causou comoção na população paulista.

Em razão desses fatos, D. Pedro, príncipe Regente, revolveu vir à cidade de São Paulo e a Santos, a fim de apaziguar os ânimos. Em decreto de 13 de agosto de 1822, determinou que, em sua ausência, a princesa Leopoldina presidiria ao despacho de expediente e às sessões do Conselho de Estado; no dia seguinte partiu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, com destino a São Paulo.

Foram percorridas por D. Pedro e sua comitiva, a cavalo, no primeiro dia de viagem, onze léguas (légua de 6.600 m), tendo pousado na fazenda de Santa Cruz (residência de verão da família real, a oeste do Rio). No dia 15, a segunda parada foi na fazenda da Olaria (lugar hoje submerso pela represa de Lajes - município de Rio Claro - RJ). Em 16, o príncipe regente entra em território paulista, em mulas e cavalos, vai para a fazenda das Três Barras, em Bananal. Depois de passar por Bom de Jesus do Bananal e São João do Barreiro, dorme em São Miguel das Areias, tendo partido com novos animais e com a guarda de honra formada por moradores do vale do Paraíba. Passou por Silveiras e jantou no Porto de Santo Antonio da Cachoeira e, no dia 18, chegou a Lorena, onde por decreto dissolveu o governo provisório, assumindo efetivamente o governo da Província de São Paulo. Dia 19, pousou em Guaratinguetá, onde recebe "ótimas cavalgaduras para toda a comitiva, sempre mais numerosa", e vai rezar na Igreja de Aparecida. Em 20 de agosto, descansou em Pindamonhangaba. No dia 21, em São Francisco das Chagas de Taubaté, foi recebido com grande efusão e, no dia seguinte, chegou à vila de Nossa Senhora da Conceição do Rio Paraíba de Jacareí. Depois de passar pela vila de São José do Paraíba (hoje São José dos Campos), chegou, em 23, na vila de Santana de Mogi das Cruzes, tendo nessa localidade recusado a receber emissários do governo paulista dissolvido e da Câmara, nomeando governador das Armas de São Paulo o marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa.

Finalmente, após 634 km, em 12 dias, chega em 24 de agosto, a Penha de França, onde fez o seu último pouso antes de entrar em São Paulo. Na manhã de 25, participa de missa na capela de Nossa Senhora da Penha, logo após segue para a Capital. Na Sé, assiste, com sua comitiva, à solene Te Deum e depois recebe o beija-mão de autoridades e do povo. Permanece alguns dias na Capital, nesse período conhece D. Domitila de Castro e Mello, a futura marquesa de Santos.

Em 5 de setembro, foi a Santos a fim de inspecionar as fortalezas e visitar pessoas da família de José Bonifácio, seu ministro de Estado. De regresso a São Paulo, no sábado, por volta das 16 horas, dia 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro e comitiva se encontravam no alto de colina próxima do riacho do Ipiranga, dois cavaleiros em rápida carreira vão a seu encontro, eram o major Antônio Ramos Cordeiro e Paulo Bregaro - hoje Patrono dos Carteiros -, este, como correio-real da Corte, trazia diversas correspondências: cartas de sua esposa Leopoldina, de José Bonifácio; duas de Lisboa - uma de seu pai D. João VI e a outra com instrução das Cortes, exigindo o regresso imediato do príncipe e a prisão e processo de José Bonifácio, e a última de Chamberlain (amigo de confiança do príncipe D. Pedro).

CARTA DA PRINCESA LEOPOLDINA

"29 de agosto de 1822

Meu querido e muito amado esposo, mando-lhe o Paulo; é preciso que volte com a maior brevidade, esteja persuadido que não só amor, amizade que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim às crítica circunstâncias em que se acha o amado Brasil, só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína.

..As notícias de Lisboa são péssimas: 14 batalhões vão embarcar nas três naus, mandou-se imprimir suas cartas e o povo lisboense tem-se permitido toda a qualidade de expressões indignas contra sua pessoa, na Bahia entraram 600 homens e duas ou três embarcações de guerra.

Os ministros de Estado lhe escrevem esta carta, aqui inclusa, e assentou-se não mandar os navios para o sul porque o Lecor se desmacarou com Moratto e era capaz de embarcar a tropa para Santa Catarina; a sua vinda decidirá depois se sempre quer mandá-las.

Todos aqui estão bons e Maria já sai e o Manuel Bernardes a curou muito bem.

Receba mil abraços e saudades muito ternas desta sua amante esposa

Leopoldina"

CARTA DE JOSÉ BONIFACIO

"Senhor, as Cortes ordenaram minha prisão, por minha obediência a Vossa Alteza.

E, no seu ódio imenso de perseguição, atingiram também aquele que se preza em o servir com a lealdade a dedicação do mais fiel amigo e súdito. O momento não comporta mais delongas ou condescendências.

A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! até a deserdação, que dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor D. João VI, que as Cortes têm na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas.

Senhor, ninguém mais do que sua esposa deseja sua felicidade e ela lhe diz em carta, que com esta será entregue, que Vossa Alteza deve ficar e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem ligações e obediências às despóticas Cortes portuguesas, que querem a escravidão do Brasil e a humilhação do seu adorado Príncipe Regente.

Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe, que é Vossa Alteza, para orgulho e felicidade do Brasil.

E, se não ficar, correrão rios de sangue, nesta grande e nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já não governa em Portugal, pela opressão das Cortes; nesta terra que tanto estima Vossa Alteza e a quem tanto Vossa Alteza estima.

José Bonifácio de Andrada e Silva".

Integrantes da comitiva, o padre Belchior Pinheiro e o Barão de Pindamonhangaba deixaram para a história seus depoimentos sobre o 7 de setembro:

PADRE BELCHIOR PINHEIRO

"Foi nessa altura, no lugar denominado Moinhos, que dois correios da Corte se aproximaram açodadamente. Entregaram importantes papéis ao príncipe. O príncipe mandou ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro. Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de D. João [chegadas de Portugal], outra da princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain.

...D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixou-os na relva [então não estava sobre o cavalo]. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse: - "E agora, padre Belchior?" E eu respondi prontamente: - "Se V. Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.

..."D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me: - "Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal."

...Respondemos imediatamente, com entusiasmo: - "Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!" O príncipe virou-se para seu ajudante de ordens e falou: - "Diga à minha guarda, que eu acabo de fazer a independência do Brasil. Estamos separados de Portugal."O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões da guarda."

CAPITÃO-MOR MANUEL MARCONDES DE OLIVEIRA E MELLO, (depois BARÃO DE PINDAMONHANGABA).

"Chegando ao Ipiranga, sem que ninguém aparecesse, fiz parar a guarda junto a uma casinhola [hoje conhecida como "Casa do Grito"] que ficava à beira da estrada, à margem daquele riacho. Para prevenir qualquer surpresa, mandei o guarda Manuel de Godoi, que era dos mais moços, colocar-se de atalaia em lugar onde pudesse descobrir a aproximação do príncipe. Tomando esta providência, apeamos e nos pusemos a descansar, conforme era natural.

...Poucos minutos poderiam ter-se passado depois da retirada dos referidos viajantes (Bregaro e Cordeiro), eis que percebemos que o guarda, que estava de vigia, vinha apressadamente em direção ao ponto em que nos achávamos. Compreendi o que aquilo queria dizer e, imediatamente, mandei formar a guarda para receber D. Pedro, que devia entrar na cidade entre duas alas. Mas tão apressado vinha o príncipe, que chegou antes que alguns soldados tivessem tempo de alcançar as selas. Havia de ser quatro horas da tarde, mais ou menos. Vinha o príncipe na frente. Vendo-o voltar-se para o nosso lado, saímos ao seu encontro. Diante da guarda, que descrevia um semicírculo, estacou o seu animal e, de espada desembainhada, bradou: 'Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E quanto aos topes daquela nação, convido-os a fazer assim.' E arrancando do chapéu que ali trazia, a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisto acompanhado por toda a guarda que, tirando dos braços o mesmo distintivo, lhe deu igual destino.

... "E viva o Brasil livre e independente!" gritou D. Pedro. Ao que, desembainhando também nossas espadas, respondemos: - "Viva o Brasil livre e independente! Viva D.Pedro, seu defensor perpétuo!" ...E bradou ainda o príncipe:"Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou Morte!".

...Por nossa parte, e com o mais vivo entusiasmo, repetimos: "Independência ou Morte!"

Acompanhavam o Príncipe Regente, fazendo parte da comitiva, e foram testemunhas da proclamação da Independência do Brasil, os nomes relacionados abaixo:

Luiz de Saldanha da Gama, veador (fidalgo) da princesa Real, nomeado interinamente ministro e secretário de Estado especial, para acompanhar o príncipe Regente, assistir ao despacho e expedir as respectivas ordens.

Guarda de Honra

1º comandante, coronel Antônio Leite Pereira da Gama Lobo (de São Paulo);

2º comandante interino, capitão-mor Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, depois barão de Pindamonhangaba (da mesma cidade);

Sargento-mor Domingos Marcondes de Andrade (de Pindamonhangaba);

Tenente Francisco Bueno Garcia Leme (da mesma cidade);

Miguel de Godói e Moreira e Costa (da mesma cidade);

Adriano Gomes Vieira de Almeida (da mesma cidade);

Manuel Ribeira do Amaral (da mesma cidade);

Benedito Corrêa Salgado (da mesma cidade);

Francisco Xavier de Almeida (de Taubaté);

Vicente da Costa Braga (da mesma cidade);

Fernando Gomes Nogueira (da mesma cidade);

João José Lopes (da mesma cidade);

Rodrigo Gomes Vieira (da mesma cidade);

Bento Vieira de Moura (da mesma cidade);

Flávio Antônio de Melo (de Paraibuna);

Salvador Leite Ferraz (de Mogi das Cruzes);

José Monteiro dos Santos (Guaratinguetá);

Custódio Leme Barbosa (da mesma cidade);

Sargento-mor João Ferreira de Sousa (de Areias);

Cassiano Gomes Nogueira (São João Marcos cidade do Rio de Janeiro);

Floriano de Sá Rios (da mesma cidade);

Joaquim José de Sousa Breves (da mesma cidade);

Antonio Pereira Leite (de Resende)

Sargento-mor Antonio Ramos Cordeiro, veio acompanhando o correio-real;

José da Rocha Corrêa (da mesma cidade);

David Gomes Cardim (da mesma cidade);

Eleutério Velho Bezerra (do Rio de Janeiro);

Antônio Luís da Cunha (da mesma cidade);

Oficiais e criados da Casa Real

Guarda-roupa Joaquim Maria da Gama Freitas Berquó, depois Marques de Cantagalo;

Criado particular João Carlota;

Criado particular João Carvalho;

Criado particular Francisco Gomes da Silva, o Chalaça;

Pessoas particulares

Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão (de São Paulo);

Padre Belchior Pinheiro de Oliveira (de Minas Gerais);

Empregado Público

Paulo Bregaro, oficial do Supremo Tribunal Militar, na condição de correio-real.

Dom Pedro, acompanhado de toda a comitiva, encaminhou-se, a seguir, para a cidade. À noite, compareceu ao teatro da Ópera, ostentando, no braço, o dístico de ouro "Independência ou Morte", que, às pressas, mandara fazer no ourives Lessa, preso por um laço de fita verde e amarelo. Delirantemente aclamado, executou ao piano o "Hino da Independência", música por ela composta. E, logo após, ergueu-se o jovem poeta Tomás de Aquino e Castro e recitou um soneto de sua autoria, assim terminando:

"Será logo o Brasil mais que foi Roma

Sendo Pedro seu primeiro Imperador"

Em dado momento, o padre Ildefonso Xavier Ferreira, subindo a um dos assentos da platéia, em frente ao camarote de D. Pedro, por três vezes gritou: "Viva o primeiro rei brasileiro!" Após essas manifestações, teve lugar a representação da peça "O Convidado de Pedra".

No dia seguinte ao brado de Independência, D. Pedro fez a seguinte declaração:

PROCLAMAÇÃO

"Honrados Paulistanos: O amor que eu consagro ao Brasil em geral, e a vossa Província em particular, por ser aquela que perante mim e o mundo inteiro fez conhecer primeiro que todos o sistema maquiavélico, desorganizador, e faccioso das Cortes de Lisboa, me obrigou a ir entre vós fazer consolidar a fraternal união, e tranqüilidade, que vacilava, e era ameaçada por desorganizadores, que em breve conhecereis, fechada que seja a devassa, a que mandei proceder. Quando eu mais que contente estava junto de vós, chegam noticias que de Lisboa os traidores da Nação, os infames Deputados pretendem fazer atacar ao Brasil, e tirar-lhe do seu seio seu Defensor; Cumpre-me como tal tomar todas as medidas que minha imaginação me sugerir; e para que estas sejam tomadas com aquela madureza, que em tais crises se requer, sou obrigado para servir ao meu ídolo, o Brasil, a separar-me de vós, (o que muito sinto), indo para o Rio ouvir meus Conselheiros, e providenciar sobre negócios de tão alta monta. Eu vos asseguro que cousa nenhuma me poderá ser mais sensível, do que o golpe que minha alma sofre, separando-me de meu amigos Paulistanos, a quem o Brasil, e eu devemos os bens, que gozamos, e esperamos gozar de uma Constituição liberal e judiciosa. Agora, Paulistanos, só vos resta conservardes união entre vós, não só por ser esse o dever de todos os bons Brasileiros, mas também por que a nossa Pátria esta ameaçada de sofrer uma guerra, que não só nos há de ser feita pela Tropas, que de Portugal forem mandadas, mas igualmente pelos seus servis partidistas, e vis emissários, que entre nós existem atraiçoando-nos. Quando as autoridades, vos não administrarem aquela Justiça imparcial, que delas deve ser inseparável, representai-me que eu providenciarei. A divisa do Brasil deve ser - INDEPENDÊNCIA OU MORTE - Sabei que, quando trato da Causa Publica, não tenho amigos e validos em ocasião alguma.

Existi tranqüilos: acautelai-vos dos facciosos sectários das Cortes de Lisboa; e contai em toda a ocasião com o vosso Defensor Perpetuo. Paço em oito de setembro de mil oitocentos e vinte dois."

PRINCIPE REGENTE

D. Pedro nomeou, em 9 de setembro, a nova junta governativa da Província de São Paulo, composta pelo bispo diocesano D. Mateus de Abreu Pereira, ouvidor da Comarca Dr. José Corrêa Pacheco e Silva e o marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa. E, às 5 horas do dia 10 de setembro de 1822, deixou a Capital, partindo para o Rio de Janeiro, aonde chegaria em tempo recorde de cinco dias, apesar das chuvas e temporais.

* Antônio Sergio Ribeiro, advogado e pesquisador, funcionário da Secretaria Geral Parlamentar da ALESP.

O autor agradece a valiosa colaboração de:

Sandra Sciulli Vital, da Divisão de Biblioteca e Documentação da ALESP

Patrícia Guerra Guimarães Miranda, do DDI da ALESP

Bibliografia:

LEIS DO BRAZIL

Vol. II - 1822

Imprensa Nacional - Rio de Janeiro

Coleção pertencente à Divisão de Biblioteca e Informação da ALESP

ANDRADAS, OS

Alberto Sousa

Typographia Piratininga - 1922 - 3 vols. - São Paulo

APONTAMENTOS DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO

Manuel Eufrásio de Azevedo Marques

Tomo I e II - Livraria Martins e Editora - 1954 - São Paulo

DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DE SÃO PAULO

Antonio Barreto do Amaral

Edição do Governo do Estado de São Paulo - IMESP - 1980

HISTÓRIA DO BRAZIL

Rocha Pombo

Editora Weiszflog Irmãos - 1919 - São PauloHistória do de Rocha Pombo,

TEXTOS POLÍTICOS DA HISTÓRIA DO BRASIL

Paulo Bonavides e Roberto Amaral

Ed. Senado Federal - 3ª Edição - 2002 - Brasília

VIDA DE D. PEDRO I, A

Octavio Tarquínio de Sousa

Edição Comemorativa do Sesquicentenário da Independência Brasil

José Olímpio Editora - 1972 - 2 Vols. - Rio de Janeiro

https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=285344

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SOBRE O NOVO LIVRO DE CALIXTO JUNIOR

 

Casa de Isaias Arruda em Missão Velha

Conclui essa semana a prazerosa e elucidativa leitura de “Vida e Morte de Isaías Arruda: Sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”, de autoria do colega de academia (ABLAC) e Seminário Cariri Cangaço, Calixto Junior. Eu tinha adquirido o livro direto com o autor em Aracaju, no mês de março deste ano, mas como a biografia do célebre potentado de Missão Velha foi parar numa fila literária de quase quarenta obras que tinha em casa, então, só agora, pude me dedicar à leitura. Como gosto de tecer alguns comentários sobre os livros que leio, relato aqui algumas observações do que me chamaram atenção. Só para constar, depois que findei o livro do professor/escritor aurorense, creio que quem estuda cangaço e coronelismo, temas siameses, não pode deixar de ler a citada obra, que detalha a fundo a vida do chamado “coronel menino”.

Um dos pontos que me chamou atenção na obra de Calixto é de como os chamados coronéis de barranco do nosso beligerante Nordeste daquela época eram bem à margem da lei. Não canso de me surpreender com isso. No Cariri Cearense, por exemplo, rapidamente vem à mente, além Isaías, de Missão Velha, o não menos perigoso Zé Inácio, do Barro, dentre outros. Os homens eram umas feras! Imagino-os nos dias de hoje, com seus conchavos políticos e brigas pelo poder. Seriam, quem sabe, vereadores, vices e prefeitos de suas cidades, quem sabe até deputados. Poderiam ser considerados por muitos, cidadãos de bem, que defendem a família e a Pátria. Alguém duvida?
Em seu livro Calixto Junior detalha bem as inúmeras rixas do chefe político de Missão Velha, com quantas pedras Isaías Arruda mexeu, sendo que a pedra dos Paulinos foi a que lhe veio à cabeça. Foi a sua desgraça. Já diz o ditado que “o remédio de um doido é outro na porta”, então, por mais que o coronel menino fosse ousado e destemido, não faltava quem fosse igual a ele ou pior (ou seria melhor?).


Pela narrativa da biografia, Isaías Arruda parecia ser duro na queda, não era um sujeito “morredor”, como brinca Luiz Gonzaga, cantando com Carmélia Alves, onde diz que o sujeito morreu apenas com uns risquinhos de faca, pois naquele 4 de agosto de 1928, foi atingido por sete tiros dos revólveres dos irmãos Antônio e Francisco (Chico) Paulino, só vindo a falecer quatro dias depois. Tem gente que morre de uma topada. Isaías não! Foram sete disparos para tirar-lhe a vida, mesmo assim, não acabou-se no momento que foi atingido.
Talvez esse intervalo de tempo, do atentado propriamente dito, na estação de trem de Aurora, até a morte da casa de Augusto Jucá, na mesma cidade, tenha feito com que o advogado dos homicidas tenha posto em dúvida, perante a Justiça, o laudo cadavérico da vítima, e levantado a tese de defesa dos seus clientes de que Isaías faleceu porque não se cuidou direito, e não pelos tiros que tinha tomado, chegando em sua petição a dizer que “ (...) como medicamentos; uns fazem grande bem, outros nem bem nem mal. Daí os erros judiciários a que arrastam as faltas ou ignorância dos peritos,” e também que “a morte de Isaías resultou não porque o mal [os tiros] fosse mortal e sim por ter o ofendido deixado de observar o regime médico higiênico reclamado por seu estado”.
Absurdo?! Nem tanto. Inacreditável mesmo foi o corpo de jurados, reunido em maio do ano seguinte, para julgar os irmãos Paulino, ter aceitado esta estapafúrdia tese, respondendo questionário dizendo na primeira questão que os acusados tinham sido os responsáveis pelos disparos que atingiram Isaías Arruda, mas, no segundo quesito, que esses tiros não foram suficientes para matar a vítima, e sim a falta de cuidados dele mesmo. Ou seja: pelo que os jurados entenderam o chefe político de Missão Velha, foi o culpado pela sua morte e não os Paulinos, que pegaram uma pena leve, incursos no grau mínimo do código penal da época, sendo condenados a pouco mais de dois anos, o que fez com que o juiz do caso apelasse.
O Cariri Cearense possui no campo da História daquela região nomes como Xavier de Oliveira, Joryvar Macedo, patrono de Calixto na ABLAC, e os mais recentes Souza Neto, Cristina Couto, Bosco André e Daniel Walker, que precocemente foi morar com Deus. Somando a recente obra com outras de sua lavra, Calixto Junior, nascido em Aurora no dia da alfabetização, reforça, ainda bem, o time desses abnegados. Parabéns bela obra!

Junior Almeida, pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço , Capoeiras-PE

https://cariricangaco.blogspot.com/2020/12/sobre-o-novo-livro-de-calixto-junior.html
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O FIM DO PAI DE LAMPIÃO E A SUA ENTRADA NO CANGAÇO

 Por Na Rota Do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=QK5MBProfpY&ab_channel=NaRotaDoCanga%C3%A7o

Nessa narrativa vamos conhecer a versão da morte de José Ferreira, pai de Lampião do livro Lampião, Herói ou Bandido? Dos autores, Carlos Elydio Corrêa De Araújo e Antônio Amaury Correa de Araújo. As imagens são ilustrativas, porem algumas delas são da época do cangaço. Grupo do face book. Conheça. http://bit.ly/grupo_Na-Rota-do-Cangaço

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LUIZ GONZAGA FALA SOBRE SUA ADMIRAÇÃO POR LAMPIÃO NA INFÂNCI

https://www.youtube.com/watch?v=WU2kTrUFFo8&fbclid=IwAR0KEs4hjjzfAuQTbWDUjJtrGvTl1sgMd-DjULZin83uusbINkPqKWdJuxU&ab_channel=BrasilCanga%C3%A7o

LUIZ GONZAGA E A INSPIRAÇÃO EM LAMPIÃO

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“ESTAVAM TODOS DOIDOS!” – O EMBARQUE DESASTRADO PARA O EXÍLIO.

- OS SENHORES são uns doidos!, exclamou d. Pedro II aos militares que o acompanhavam ao embarque às 3 horas da manhã de 17 de novembro de 1889. 

Posteriormente, em suas anotações, a princesa d. Isabel lembraria: 

- Foi a única frase um pouco dura, mas bem merecida, que papai lhes disse. Se os senhores têm alguma lealdade, não deixem de repetir o que meu pai lhes declarou: que só embarcaria nesta ocasião para evitar um conflito”, disse a princesa imperial ao tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet enquanto ajudava o ex-imperador a entrar na lancha. 

O embarque apressado, na calada da noite, no Cais Pharoux, próximo ao Paço da cidade, enervava a todos.

Paulo Rezzutti, Dom Pedro II – A história não contada, p. 13.

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