O antigo prestígio de uma vila estava na igreja, na cadeia e na entrega de correspondências. Eram essas três coisas que faziam com que novas construções surgissem e expandisse a parte física e o nome da localidade. Em inúmeras vilas, a implantação de feiras semanais, ajudaram bastante na atração rural com seus produtores,produtos e venda. Uma delegacia ou subdelegacia também era coisa extraordinária que dava maior confiança ao futuro morador ainda em dúvida. Assim uma vila conseguia atrair muita gente e formar ruas chamando a atenção de pessoas de sangue político e desejo de mando. Estes se articulavam com políticos de cidades visando elevar as condições da vila e comandar a nova cidade que certamente surgiria.
CADEIA VELHA ERA NO PRÉDIO CINZA VIZINHO AO AMARELO.
(FOTO: LUCIANA PONTES).
Muitos outros fatores contribuíram para que Santana do Ipanema passasse à condição de cidade. Cinema, teatro, banda de música, calçamento e um comércio dinâmico que assegurava o abastecimento da região. Assim surgiu há muito tempo a Cadeia Velha de Santana, situada na antiga Rua do Sebo (hoje, pequeno trecho dividido como Nilo Peçanha. Desde a sua demolição, não se vê mais vestígio que indique ter sido ali palcos de muitas histórias escabrosas. Foi cadeia, necrotério, delegacia, sede de batalhão de polícia e área de venda de escravos. A pequena rua, emendada com a Antônio Tavares, modernizou seus edifícios transformando-os em casas comerciais, porém a tradição não deixava essa parte do comércio progredir. Sempre foi um pedaço morto, como rebarba da parte central.
A falta de pesquisadores interessados na história da cidade e a falta de vestígios da Cadeia Velha, emperram novas descobertas que poderiam trazer lume sobre a trajetória da urbe. Tempos depois da sua demolição, surgiu ali um edifício moderno que se transformou na primeira joalheria da cidade. Um lugar completamente sofisticado, pertencente ao sr. Gumercindo (?) apelidado “Gugu”, tio do saudoso professor Ernande Brandão. Espero não estar enganado.
A Cadeia Velha foi substituída por delegacia moderna na localidade Aterro, trecho hoje da BR-316. Página de muitas lutas em Santana do Ipanema e Sertão alagoano.
28/07/1938 – Marco do fim do fenômeno do cangaço e banditismo no sertão nordestino
Sobre o Tenente João Bezerra
Biografia do Ten. João Bezerra, de autoria do 3º BPM – Alagoas:
“O Batalhão Tenente João Bezerra da Silva – 3º BPM, relata a passagem de um dos homens que mais marcaram a briosa Polícia Militar do Estado de Alagoas, rendendo-lhe esta justa homenagem, provocada por seu grandioso feito histórico.
Trajetória
Nasceu no dia 24 de junho de 1898, na Serra da Colônia, Município de Afogados da Ingazeira – Estado de Pernambuco. Seus pais: Henrique Bezerra da Silva e Marcolina Bezerra da Silva, eram pequenos fazendeiros e tiveram sete filhos: João, Cícero, Amaro, Manuel, José, Vitalina e Maria.
Com vontade de aprender a ler, trazia consigo sempre, uma “carta de ABC” (cartilha) e um “ponteiro” (lápis). Aos oito anos, já ajudava seu pai na agricultura e na criação de animais. Ironicamente, teria aprendido a atirar com Manoel Batista de Morais, popularmente conhecido como Antônio Silvino, “O Rifle de Ouro”, também de Afogados da Ingazeira/PE, que era primo de João Bezerra em segundo grau, tornando-se em um exímio atirador.
Antonio Silvino foi conhecido no sertão como um dos homens mais valentes do Nordeste antes de Lampião, tendo sido ainda testemunha do assassinato do jornalista João Dantas na penitenciária de Recife, que era o assassino do ilustre paraibano João Pessoa, contrariando a versão oficial da época de que dizia ter sido suicídio.
Aos quatorze anos, Bezerra fugiu de casa após ter sido surrado pelo pai, por ter desobedecido à proibição de namorar uma moça, fugindo para o Recife/PE. Já demonstrava uma personalidade marcante, corajosa e propensa à aventura. Um menino sertanejo, desbravando a Capital. A partir daí, foi carregador de carvão de pedra no cais do porto; ajudante de soldado; assentador de dormentes em linha férrea; trabalhador de pedreira e de lavoura. Após um ano, voltou para casa e montou um comércio (uma pequena bodega), onde vendia de tudo.
No tempo em que passou com a família na sua cidade natal, realizou o incrível feito de matar uma onça, que de tão grande assustava a todos do lugar e dizimava as criações das fazendas, o que o tornou já famoso nas imediações onde morava, fazendo-o receber muitos presentes dos proprietários de terra da região.
Tempos depois, foi forçado a sair do seio familiar; indo trabalhar com um dos maiores inimigos de Lampião, o famoso Coronel José Pereira, em Princesa/PB, de onde partiu para Maceió, no Estado das Alagoas para “sentar praça”. Iniciou sua carreira em 1919, na Policia Militar de Alagoas, como policial contratado para integrar as “volantes”, sendo incorporando definitivamente, em 29 de março de 1922, onde permaneceu por 35 anos e 07 meses.
Prestou serviço no 2º Batalhão de Infantaria, deslocado para Santana do Ipanema/AL, para combater o banditismo que assolava a região sertaneja, de onde saiu para o combate de angicos, hoje 3º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Arapiraca/AL.
Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922, e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com os bandidos, tendo de uma feita, morto três dos comparsas de Lampião. Sendo considerado oficial valoroso da Polícia Alagoana e de imediata confiança do governo.
Casou-se com Cyra Gomes de Britto, em Piranhas/AL, no ano de 1935, que em entrevista ao Jornal do Bandepe em 1985, confirma a natureza valente e perspicaz de seu marido, que chegava a passar meses no encalço dos cangaceiros, vindo inclusive a ignorar o nascimento de sua primeira filha, por estar em missão na caatinga, tendo em vista ter empenhado sua palavra de capturar Lampião.
Foi Maçom, alcançando o 18° grau na instituição em que participava.
Assentamentos Militares
Foram 19 Nomeações de comando, incluindo o de Comandante da Corporação (Apesar de não estar incluído no histórico de comandantes da Polícia Militar de Alagoas, devendo ter assumido o Comando Geral em algum espaço entre nomeações deixados por algum comandante entre 1950 e 1954); 12 Nomeações para delegado em diversas cidades de Alagoas, designações concedidas após o combate em angicos.
Participação como “Chefe de Volante” por um período de 12 anos, travando 11 combates com os grupos de cangaceiros, entre eles, os chefiados por Luiz Pedro do Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e por último com o famoso Lampião, o mais importante desses combates, que foi travado na Grota de Angicos, atual Município de Poço Redondo, estado de Sergipe, no qual ocorreu a morte de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua companheira Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita), e dos cangaceiros: Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.
Participação em diversas missões fora do Estado, com os contingentes alagoanos, entre elas: Combate à Coluna Prestes, em 1925; Deposição do governo Washington Luís, em 1930 e Revolução Constitucionalista em 1932.
Nomeação como Prefeito Interventor da cidade de Piranhas/AL, no ano de 1933.
Durante a sua vida militar, recebeu diversos elogios por seu desempenho nas missões em que participou, conforme foram publicados nos boletins da Policia Militar de Alagoas. Entre eles:
Elogio do Comandante do 2º Batalhão; – Louvor do Coronel Lucena comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl., de 17 de dezembro de 1938. “Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontaneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra a horda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinham sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo. Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal“.
Elogio do Comandante da Corporação; “Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou. O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”. Coronel EB Carlos Eugênio Pires de Azevedo – Comandante da Polícia Militar de Alagoas em 6/12/1970, quando da ocasião de seu sepultamento em Maceió.
Elogio do Interventor Federal; Elogio do Governador do Estado; Elogio do General de Exército; Elogio do Presidente da República. Tendo sido inclusive recebido no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no ano de 1938, pelo então Presidente Getúlio Dorneles Vargas, que nutria grande interesse pela campanha contra o cangaço, em virtude do sucesso da missão em Angicos.
Elogio da população de Piranhas/AL Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e orgulhosamente, a espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938, expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Oferece o povo de Piranhas. ”
Foi para a reserva da Polícia Militar de Alagoas em 04 de novembro de 1955, quando passou a dedicar-se à agricultura e à pecuária.
Faleceu na cidade de Garanhuns/PE, no dia 04 de dezembro de 1970, vitimado por um acidente vascular cerebral, recebendo alusões honrosas pela Câmara Municipal daquela cidade.
Seu corpo foi velado no quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas, e em seguida sepultado com honras militares no mausoléu da maçonaria em Maceió, como última homenagem da Corporação em satisfazer o pedido do próprio João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano. Anos mais tarde seu corpo foi transladado para o Estado de Pernambuco, a pedido de sua família.
João Bezerra foi um perseguidor empenhado em não dar trégua aos cangaceiros, reconhecido pelos seus pares e superiores, ao ponto de ganhar de Lampião o apelido de “Cão Coxo”, coxo em decorrência da redução de 04 centímetros em uma das pernas, causada por um ferimento em combate, e cão, pela valentia e destemor que apresentava nos combates. Em entrevista dada pelo então Capitão Manuel Neto, outro grande oficial das volantes, após a morte de Lampião, referia-se a Bezerra dizendo: – “O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia Alagoana e dos Estados vizinhos”.
Era homem obstinado, desbravador e estrategista. Cidadão honrado, decidido, extremamente observador, perspicaz e de muita fé. Seus passos foram cuidadosamente planejados, prevalecendo sempre a sensatez e a dignidade. Incansável na luta contra o banditismo. Seus contemporâneos sabiam do seu empenho, da sua responsabilidade e do seu valor: Nada em sua vida parecia ter sido por acaso.
Frases de João Bezerra
“Soldado não briga deitado. O que eu encontrar deitado, ou outro qualquer encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem deitado atirem em mim também.” (Frase proferida antes do confronto em Angicos).
“Para vencer os ímprobos que nos impunha um vaivém penoso, só Deus sabe o quanto tivemos que lutar! Descrever esses sofrimentos seria dedicar centenas de páginas ao nosso grande martírio que jaz no anonimato, morto nos segredos das caatingas!” (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).
“Soldados do Brasil! Eu vos admiro! Permiti que eu seja sangue do vosso sangue guerreiro, para felicidade da minha vida toda voltada à Pátria na honrosa carreira das armas”. (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).
O portal MN parabeniza a todos os militares integrantes do 3º BPM pelos serviços prestados a cidade de Arapiraca e região. Que os bravos e honrosos militares sejam vistos pela sociedade não apenas pelas fardas e patentes, mas como seres humanos que ariscam suas vidas para proteger a cada cidadão, e junto a população, construir uma sociedade mais harmônica.”.
Por Genival Silva. Fonte: Ascom/3º BPM e http://3batalhao.blogspot.com.br/
Cap. João Bezerra era maçom – Grau 18° do R.E.A.A.
Segundo preliminares informações na internet, provas documentais e depoimento do Irmão Paulo Britto, filho de João Bezerra, o Capitão João Bezerra da Silva foi maçom, sendo Grau 18 do R.E.A.A., iniciado em 25 de junho 1949, com 51 anos de idade, na Loja Maçônica Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL e, inclusive, enterrado no Mausoléu Maçônico Segredo 33, como seu último pedido, posteriormente, a pedido da família, seu corpo foi trasladado para Pernambuco. Este detalhe acena para o crivo legalista do homem militar, que deu cabo a Lampião e seu bando, em 28 de julho de 1938, e do homem maçom, 11 anos após o Combate de Angicos, na luta porfiada nessa história de combates quase “intermináveis”, bárbaros e cruéis, entre volantes e cangaceiros na caatinga nordestina pela ordem e legalidade.
REGISTROS FORNECIDOS, FRATERNALMENTE, PELO GRANDE ORIENTE DO BRASIL DE ALAGOAS – GOB-AL
O Marco do Fim do Cangaço – A Morte de Lampião
O cangaço, segundo Moacir Assunção, é um fenômeno social característico da sociedade rural brasileira. No nordeste, existiu desde o século XVIII, quando José Gomes, o Cabeleira aterrorizava populações rurais de Pernambuco. O movimento atravessou o século XIX, só terminando em 25 de maio 1940, com a morte de Corisco (1907 – 1940), sucessor de Lampião e seu principal lugar-tenente, pela volante de Zé Rufino (Diário de Pernambuco, 1º de junho de 1940, na sexta coluna).
‘Os homens do cangaço espalhavam fama, violência e aplicavam um conceito muito particular de justiça em sete estados do Nordeste. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia sofriam não apenas nas mãos desses grupos nômades, mas também com a seca, com a fome e com uma sociedade desigual e injusta, que perpetuava um modelo pérfido de exploração do trabalho.’ (Ângelo Osmiro Barreto in Iconografia do Cangaço, 2012)
Em 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em Sergipe, perto da divisa com o estado de Alagoas, o bando de Lampião foi cercado por uma força volante comandada pelo tenente João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela, Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Estes foram todos decapitados. No combate, foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza. João Bezerra e outro militar ficaram feridos (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira coluna, Diário de Pernambuco, 30 de julho de 1938). Eram 49 homens da volante e 36 cangaceiros. Os outros 25 cangaceiros presentes naquele dia, no local Grota de Angicos, saíram vivos e conseguiram fugir, mais tarde alguns sendo mortos e outros entregando-se à polícia. Foi o fim do cangaço no sertão, muito embora alguns pesquisadores ainda considerem o fim do cangaço com a captura do cangaceiros Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto, (Água Branca, 10 de agosto de 1907 – Barra do Mendes, 25 de maio de 1940).
Considerações finais
Correspondências enviadas ao Ir. Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, extraídas de Citações sobre João Bezerra Parte II, por Paulo Britto.
Correspondência enviada ao Irmão Paulo Britto, em 06.07.2002 pelo escritor e pesquisador Antônio Amaury Correa de Araújo:
“… Não é novidade para os pesquisadores que seu pai foi amplamente injuriado, invejado e que teve sua imagem denegrida por comentários oriundos de mentes tacanhas pelo fato de haver sido o comandante que eliminou Lampião e parte do seu bando cangaceiro, … Isso causou-lhes profundo ressentimento e usaram então dos mais baixos argumentos para achincalhar o episódio da Fazenda Angico.
… Pelo que pude observar nesses 53 anos de pesquisas e com seis mil entrevistas realizadas qualquer pessoa, em qualquer época usando de qualquer método para eliminar Lampião, … … seria questionado e destratado e sua atuação estaria sempre em dúvida na visão daqueles que não conseguiram o mesmo desideratum. A imaginação humana não tem limites e até mesmo episódios claros como cristal são colocados sob suspeita…. Para terminar, a polêmica não tem fim. É traição, veneno, tiro e Lampião ainda vivo até a década de 1990. Viva a fantasia, a ficção, a criatividade de alguns pesquisadores menos cuidadosos e pouco honestos para com a história…
PS. Faça o uso que quiser destas, pois é a expressão do meu pensamento e da verdade que obtive de cangaceiros, soldados, coiteiros e outras pessoas envolvidas no episódio de Angico. ”.
Gazeta de Alagoas – 06.12.1970 – 1º Caderno, página 3:
“Matador de Lampião sepultado em Maceió com honras militares…O Coronel (de Exército) Carlos Eugênio Pires de Azevedo, comandante da Polícia Militar, conheceu pessoalmente o Coronel Bezerra há 02 anos em Garanhuns. Lamentou a sua morte. Como última homenagem a corporação da qual é comandante, satisfazia o pedido de João Bezerra de ser sepultado em solo alagoano.
Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o Nordeste, não há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou, disse o comandante da Polícia Militar de Alagoas.”
… “O Coronel Bezerra era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.
Ir∴ Paulo Britto, filho do Cel. João Bezerra, em http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/11/citacoes-sobre-joao-bezerra-por-paulo.html:
“Espero que estas citações consigam demonstrar, um pouco, de quem foi o homem, o policial militar, o maçom grau 18 que, em todas as suas ações e missões, só fez enaltecer o nome da instituição a que pertenceu, e que, graças a Deus, teve o privilégio do reconhecimento e do respeito dos familiares, amigos, superiores e subordinados…”.
Coronel Lucena
Louvor do Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão comandante do II Batalhão, transcrito no III item do Boletim nº 285, do II Btl, de 17 de dezembro de 1938.(Grafia original):
“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que soube espontâneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando neste batalhão, mormente na campanha contra o orda de facínoras, perturbadores da paz sertaneja que há tanto tempo vinha sofrendo as agruras consequentes da ação do banditismo.
Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja, combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal.”
Alexandre Lopes Fortes é M∴ I∴, membro da ARLS Irmão Cícero Veloso n°4543 (GOB-PI). Grau 33 do REAA, grau 33 do Rito Adonhiramita, grau 9 do Rito Moderno e companheiro do Sagrado Arco Real.
Todas as andanças por entre os territórios pisados e vividos pelos reis das caatingas são preciosos. Cada cenário e; uns mais que outros; dependendo de seu peso e sua memória e o quanto contribuiu para o momento histórico se tornam emblemáticos. Chegamos em Sergipe, uma das "capitanias hereditárias" do rei do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva em seu segundo reinado.
Era o dia 20 de janeiro de 2018, um sábado ensolarado e quente, partimos de Aracaju ainda pela manha, ao lado dos pesquisadores Archimedes e Elane Marques rumo ao município de Canhoba, a 125 km da capital sergipana, terra do enigmático e poderoso coronel Antônio Ferreira de Carvalho, ou: Antônio Caixeiro.
Sob as bençãos do Cruzeiro da Borda da Mata, a imensidão das terras que um dia foram o feudo de Antônio Caixeiro
Manoel Severo e Archimedes Marques na Borda da Mata
Quem estuda cangaço e se debruça sobre a historiografia desse fenômeno no estado de Sergipe, terá em Antônio Caixeiro e seu filho Eronildes Carvalho, dois de seus mais destacados personagens. A partir de 1929 quando Lampião atravessou o rio São Francisco iniciando um novo ciclo em sua vida fora da lei, os contatos com a família e o poder dos Carvalho, de Canhoba, tendo a frente o patriarca Antônio Caixeiro vieram a ser determinantes para os novos rumos tomados pelo rei cego.
Não raramente vamos encontrar episódios marcantes acontecidos em terras abençoadas pelo potentado sergipano de Canhoba. Suas propriedades, notadamente as famosas fazendas, “Borda da Mata” e "Jaramataia" eram pouso comum dos vários grupos cangaceiros comandados por Virgulino Ferreira da Silva. Eram perto das 10 da manha quando enfim chegamos ao centro do município de Canhoba, dali mais quinze minutos em estrada de terra batida, aportaríamos na lendária e imponente fazenda Borda da Mata.
Coronel sergipano Antônio Caixeiro em foto do acervo de Lauro Rocha
No vilarejo defronte a fazenda Borda da Mata, a praia fluvial no São Francisco
Ingrid Rebouças e a vista do rio São Francisco a partir de um dos cômodos da fazenda Borda da Mata
Vamos recorrer ao Mestre Alcino Alves Costa para entender a ligação de Virgulino Ferreira com Sergipe e seus coronéis: " Foi em Sergipe que Lampião alcançou o maior apogeu de sua vida bandoleira. Foi o coronel dos coronéis; foi soberano, temido, respeitado por todas as autoridades; amigo dos homens mais influentes do Estado. Poderosos senhores, tais como os coronéis Hercílio Britto; Antônio Caixeiro, que era o pai de governador de Sergipe, Eronildes de Carvalho; era amigo dos famosos fazendeiros da Serra Negra, Pinduca e João Maria, ambos eram irmãos do temido tenente Liberato de Carvalho, famoso militar do exército brasileiro que caçava tenazmente os grupos bandoleiros e fez parte do histórico “Fogo da Maranduba”, em janeiro de 1932; e muitos outros homens de enorme importância e influência na terra sergipana."
E continua Alcino:"O poder de Lampião era tão grande que ele teve a ousadia de dividir partes do Estado de Sergipe nos moldes das antigas sesmarias, colocando seus principais homens, como se fossem sesmeiros, à frente de vastas glebas de terras, por exemplo: na região que compreende os municípios de Frei Paulo, Carira, em Sergipe, e Paripiranga, na Bahia, o domínio de Zé Baiano; em Porto da Folha, Gararu e N. S. da Glória, o senhor daquelas terras era o cangaceiro Mariano, em Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe, o domínio era de Zé Sereno e em Canindé, o poder estava nas mãos de Juriti."
A imensidão das terras da Borda da Mata em Canhoba
Nos detalhe da Borda da Mata o registro de uma época e sua gente...
Logo que se chega ao vilarejo do distrito, sendo acompanhado pelas margens do São Francisco se avista de longe a imponente "Borda da Mata" que se agiganta sobre uma pequena e estratégica elevação, de onde certamente seu mandatário mantinha as terras e os homens sob sua vigilância inconteste. A atmosfera do lugar é simplesmente espetacular, sob o testemunho do grande rio e a brisa forte típica da caatinga, estávamos pisando um solo sagrado da historia nordestina.
A edificação hoje em ruínas ainda mantém seu glamour e sua força. A Casa Grande reflete o poderio econômico dos Carvalho, os cômodos se sucedem cheios de detalhes de decoração nas antigas paredes, arcos e fachadas principais, permitindo-nos viajar no tempo e voltar aos idos dos anos 20 e 30 quando de Canhoba a dinastia Carvalho, de Antônio Caixeiro e seu filho, Capitão de Exercito, médico e depois interventor do estado, Eronildes de Carvalho, mandavam em Sergipe.
Eronildes Ferreira de Carvalho é um dos filhos mais de ilustres de Canhoba.Nasceu na Borda da Mata em abril de 1897. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 20 de dezembro de 1917, filho de Antônio Caixeiro e interventor de Sergipe.
De pé: Ezequiel, irmão de Lampião, Calais, Fortaleza, Mourão e o menino Volta Seca. Sentados : Lampião, Moderno, Zé Baiano e Arvoredo.
O pesquisador Kiko Monteiro nos auxilia e traz o escritor cearense Nertan Macedo que entrevistou o interventor Eronildes de Carvalho justamente quando da primeira passagem de Virgulino ainda em 1929 na Borda da Mata ao lado de 20 homens e foram "anfitrionados" pelo poderoso coronel. "Lampião conhecia “os Carvalho” desde a sua juventude. Quando percorreu a maioria dos caminhos que viria a fazer mais tarde como bandoleiro. Revendendo nas fronteiras de Alagoas e Sergipe, como simples almocreve conheceu a família. E agora já como poderoso chefe cangaceiro, aproveitou para visitar o Coronel. Sabendo do poder do grande comerciante Lampião pediu abrigo e comida, sendo prontamente atendido, onde lhe foi autorizado o abate de rezes etc, mas que seus moradores e contratados não fossem molestados por seus homens."
E continua Kiko Monteiro "Eronildes foi apresentado a Lampião em agosto de 1929, durante os dias em que se restabelecia de uma enfermidade na fazenda Jaramataia propriedade de seu pai no município de Gararu. Algumas biografias dão conta de que esse encontro se deu “antes” de ele estar com Caixeiro. Outras que foi numa visita do interventor até a Borda da Mata. A ordem dos fatores… Em ambas há um mesmo parágrafo: Trocam cumprimentos e o Dr. faz a Lampião uma indagação que entrou para galeria das “máximas cangaceiras: – “Então, como devo chamá-lo, capitão ou coronel? Porque eu também sou capitão e deve haver aqui uma hierarquia – como oficial do exército não posso ser comandado pelo senhor”. Lampião compreendeu a malícia e replicou: – “Pois desde já o senhor está promovido a coronel”.
Uma das fotos clássica do Rei dos Cangaceiros, usada muitas vezes como "salvo conduto" foi feita na fazenda Jaramataia pelas lentes de Eronildes Carvalho.
Neste chão pisaram os poderosos de Sergipe e suas sombras...cangaceiros
Imagens de uma das partes internas da Casa
A visita à fazenda Borda da Mata ciceronizado por uma das maiores autoridades sobre a historiografia do cangaço em Sergipe; o pesquisador e escritor Archimedes Marques; foi um grande presente para mim, havia muito tempo que desejava conhecer as famosas terras de Antônio Caixeiro e seu filho Capitão Eronildes, fato me proporcionado pelo querido casal Archimedes e Elane.
Sem dúvidas quando somos privilegiados com momentos como esse não se pode negar o tamanho da emoção e de todas as sensações que nos invadem. Sergipe o menor estados do Brasil em território foi sem dúvidas um dos territórios onde o Rei do Cangaço mais se sentia em casa, perpetuando a partir dali mais 9 anos de vida cangaceira. Para entender melhor a presença do cangaço em Sergipe, teremos no próximo Cariri Cangaço a se realizar em Fortaleza no mês de abril, o lançamento do segundo volume da obra de Archimedes Marques, o magistral "Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe".