Por Rangel Alves
da Costa*
Segundo
recentes estudos divulgados na França, os primeiros sintomas da velhice,
caracterizados pelo início da diminuição das funções cognitivas do cérebro,
começam após os 40 anos em algumas pessoas, e não depois dos 60, como
anteriormente se afirmava. E assim devido ao precoce desenvolvimento dos
sintomas da senilidade.
Denomina-se
senilidade o processo de envelhecimento das pessoas. Em tal percurso, vão
surgindo as alterações orgânicas e funcionais, as disfunções mentais e as
alterações nos vários sistemas do corpo humano. Passo a passo, o corpo vai se
debilitando, as carências aumentando e as dependências surgindo. Com o passar
do tempo, então se diz que a velhice chegou.
Contudo, as
pesquisas ainda não apontam com segurança a fronteira de onde se inicia a
velhice. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, nos países desenvolvidos
a velhice tem início aos 65 anos, enquanto que nos subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento se inicia aos 60 anos. No Brasil, nos termos da Lei 8.842/94,
considera-se idosa a pessoa maior de sessenta anos de idade.
Mas não
importa que se imponha uma idade para o reconhecimento do início da senilidade
ou da velhice em si. Tudo é uma questão de conformidade perante a existência
humana. Como árvore que vai se tornando cada vez mais imponente com o passar
dos anos, assim também é o homem no seu passo de idade.
Não há ser
humano que não deseje ser árvore majestosa, frondosa, com história de sementes
e frutos. É próprio do ser humano o desejo de ter uma estrada longa e
duradoura, de caminhar o mais longe possível nas distâncias da vida. O cansaço
advindo não significa, porém, que tenha de desistir. Eis, então, o segredo da
velhice.
O segredo da
velhice é a não desistência, é a persistência, é a vontade de firmar-se ainda
mais, ainda que as forças e as fragilidades surjam como desalentos. Verdade que
se torna mais amiga do silêncio e da solidão. Também que vai tornando a pessoa
mais esquecida e solitária, mais nostálgica e meditativa, mas nada que se
mostre não ser um estágio normal da existência.
A velhice
traduz no ser humano um maior reconhecimento interior e intenso afloramento de
suas capacidades. Muito mais que nas outras fases da vida, é neste estágio que
deseja realizar muito mais, fazer aquilo que foi adiando e aproveitar de seu
conhecimento maior sobre as coisas da vida. Então o velho se remoça, se renova,
pois sente que tudo ainda está à sua espera para acontecer.
E como pessoa
deseja viver o mundo dos iguais, anseia abrir a porta e seguir em qualquer
direção, espera não ser avistado como um diferente, almeja o encontro e o
diálogo, tem necessidade de não apenas ser útil, mas necessário no convívio
social, no lar, em todas as vertentes da vida. E que jamais se espere apenas o
lançar de um olhar de saudade sobre o passado, eis que seu mundo é o que se faz
presente.
Eu já tenho
alguns meses acima dos 52 anos. Na concepção francesa de velhice, já estaria
plenamente inserido na sua contextualização. E ainda demoraria um pouco perante
o entendimento brasileiro. Porém nada disso importa, pois é na caminhada que se
chega ao futuro mais distante e este não haverá sem o dom do alcance da
velhice.
Daí que me
olho ao espelho e sorrio satisfeito para as marcas da vida, para os cabelos
brancos que pontuam, para as rugas dizendo que a caminhada já se faz desde
longe. Não temo sair do espelho e me deparar com um retrato jovial na parede.
Quanto mais a moldura envelhece e a vidraça se toma de névoa mais confirmarei a
minha presença na terra. E agradecido estarei pela caminhada e pela feição
agora revelada no espelho. Mais ainda quando somente o velho possa
reencontrar-se no menino da vida inteira.
E que venha,
pois, a velhice. Plena, completa, absoluta. Um ser tomado de anos e uma vida
repleta de histórias, experiências e conhecimentos. Um ser que não mais terá a
força e o vigor de outros idos, mas estará recompensado por forças ainda
maiores: discernimento e sabedoria. Poder dizer meninos eu vi, meninos eu sei.
Mas também o quanto ainda precisarei aprender.
Não importa
que as fragilidades físicas me coloque uma bengala à mão, dê-me um passo lento,
um olhar anuviado, uma lentidão no falar. Não importa que as caminhadas sejam
mais curtas, que os remédios estejam no relógio, que tenha de me abster de
determinados alimentos, de guloseimas e outras delícias. Nada disso importa.
Não importa
que as saudades cheguem de vez em quando, que as relembranças venham ao
entardecer ou em momentos de solidão. A memória é alimento da existência e
impossível viver sem recordar. Quanto será bom rememorar as brincadeiras
antigas, as frutas colhidas em quintal, o velho cavalo de pau e a ponta de vaca
no cercadinho.
E quando o
outono chegar não pensar em folhas mortas ao vento. Mas nas próximas estações e
nas manhãs de sol sobre o meu rosto sem idade. Pois não importa os anos que
terei, mas apenas que estarei feliz.
Poeta e
cronista
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