Por
Archimedes Marques – Colaboração de Renato Didier Aquino.
Traição
e morte dentro do cangaço
Consta da
história que o sanguinário e impiedoso cangaceiro Zé Baiano, chefe de um dos
grupos de Lampião, atuava principalmente na região de Frei Paulo e adjacências,
no nosso querido Estado de Sergipe, inclusive era um rico bandido que tinha a
audácia de também ser um forte agiota, emprestando dinheiro a juros
exorbitantes para fazendeiros e comerciantes daquelas cercanias.
Zé
Baiano. Sanguinolento e feroz. Desalmado e Corno.
O famoso
bandoleiro ferrador Zé Baiano, apesar da sua feiúra em todos os sentidos, tinha
o privilégio de ter como companheira a mais linda e atraente das cangaceiras –
Lídia. Contaram os remanescentes do cangaço, mais de perto os então cangaceiros
sobreviventes e alguns ex-coiteiros e protetores de Lampião, que a linda Lídia
era daquelas mulheres de“fechar quarteirão”, de deixar todos os cabras-machos “babando” de
desejo, principalmente quando se apresentava saindo dos rios ou lagoas em
vestido molhado e colado ao seu estrutural corpo. Diziam ser um verdadeiro
deslumbre de se ver a cangaceira Lídia no seu andar provocante, mas
infelizmente não há uma fotografia dela sequer para assim comprovar tal beleza.
Por isso era
admirada e desejada por todos os cangaceiros, mas ninguém se atrevia a dar uma “cantada” na
moça, até porque, apesar de todos ali serem bandidos perigosos, havia muito
respeito dentro do acampamento. Essa era uma das regras impostas e prova
inconteste da liderança e comando de
Lampião posando para câmera
Lampião, ou seja, exigia o chefe, acima de
tudo, que todos se respeitassem mutuamente e que só houvesse sexo entre os
casais devidamente conquistados e efetivados. Além disso tudo, o próprio
Zé Baiano, pela sua crueldade, era dos mais respeitados dentro do bando e mais
ainda fora do acampamento, onde quer que chegasse. O seu nome fazia arrepiar e
tremer de medo qualquer um, talvez até mais do que o próprio Lampião que era
bem mais complacente.
Um temível
cangaceiro acostumado a ferrar mulheres com ferro em brasa com as iniciaisJB nos
seus rostos, virilhas ou nádegas somente pelo simples fato delas usarem cabelos
curtos, maquiagens ou roupas decotadas. Enfim, um psicopata impiedoso,
ignorante em todos os sentidos que matava, estuprava, roubava e torturava as
suas vítimas sem dó ou piedade.
Ocorre, porém,
que o desejo da carne terminou sobrepondo todos os perigos possíveis e assim a
linda cangaceira Lídia terminou por ceder ou mesmo procurou os encantos do
cangaceiro conhecido por Bem-te-vi e com ele passou a cometer
adultério em eloquentes e quentes encontros sexuais dentro do mato quando da
ausência de Zé Baiano no acampamento. No entanto, o cangaceiro Besouro que
também já estava de olho em Lídia há algum tempo e até desconfiado que ela
traia Zé Baiano com o Bem-te-vi, certo dia seguiu os dois quando
eles entraram disfarçadamente mato adentro, pegando-os em flagrante na hora do
ardente sexo. Daí fez uma proposta para a Lídia que se ela também
mantivesse relações sexuais com ele, o segredo ficaria somente entre os três,
caso contrário ele contaria tudo a Zé Baiano. Indignada, a corajosa Lídia
retrucou agressivamente com palavras de baixo calão o cangaceiro Besouro e
sua indecente chantagem.
Então, naquela
mesma noite, quando todos estavam reunidos em volta a uma fogueira, contando e
recontando as diversas histórias de Trancoso, histórias de assombração,
histórias de botijas e histórias diversas das guerras do cangaço, o bandido
flagranteador Besouroprovocou a Lídia que apesar de tudo não arrefeceu
mostrando força, coragem e determinação mesmo sabendo que tal gesto poderia
valer a sua própria vida.
Presentes
estavam os maiorais do cangaço que “lavaram as suas mãos” sem interferirem
na decisão, a exemplo do supremo chefe Lampião e de outros da sua
inteira confiança como Corisco, Luís Pedro, Moreno, Virgínio e Labareda, além do
próprio traído, cangaceiro Zé Baiano. Corajosa, afoita, determinada, atrevida
no atrevimento suicida das mulheres decididas da época e até mesmo
inconsequente para o momento, Lídia repeliu o seu companheiro
surpreso e enlouquecido de raiva e ódio, Zé Baiano, exclamando em alto e
bom som: Estive com ele, sim!… Que tem isso?… O que é meu eu dou a quem
quero!…
Enlouquecido
em místico de vergonha, raiva, ódio e desespero ao mesmo tempo, Zé Baiano
arrastou Lídia até uma árvore ali perto e após amarrá-la, matou-a
impiedosamente a cacetadas e depois chorou copiosamente a perda do seu grande
amor, enterrando o seu tão desfigurado corpo do que antes tinha sido uma linda
mulher. Para ele a sua honra fora lavada com o sangue da traidora. A partir de
então Zé Baiano que já era malvado ficou ainda pior, principalmente contra as
mulheres.
Já o
cangaceiro delator, Besouro, foi morto ali mesmo por ordem de Lampião no
momento em que Lídia disse que ele assim tinha denunciado o fato em
contrapartida dela não ter aceitado também transar com ele. Por sua vez, o cangaceiro
Bem-te-vi logo no início da conversa, de um pulo, tratou de fugir na
escuridão, mato adentro em desabalada carreira para nunca mais se ter notícias
dele.
Era um tempo
atroz em que não se aceitavam traições femininas em hipótese alguma e quem
assim se atrevesse a contrariar as regras pagava com a sua própria vida.
Autor:
Archimedes Marques (delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em
Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe).
* Fonte (
cariri ligado)
Fonte
( cariri ligado)
http://oabelhudo.com.br