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sábado, 28 de dezembro de 2019

SEMANÁRIO “A NOÇÃO”, MEU MINI JORNAL LANÇADO EM 1963


Por Luiz Serra

Uma relíquia do baú pessoal, não reparar a gramática da época para uma criança de 10 anos de idade.

Ao chegar minha primeira década de vida, meu pai, Antônio Serra, comerciante português, fazia um papel de incentivador primeiro da literatura portuguesa: lia muito autores lusos do quilate de Júlio Diniz, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, e exigia que eu guardasse algumas quadras de um canto de Camões, do Os Lusíadas, Canto VII, da chegada da frota a Calecut, que versa pelas viagens dos portugueses por “mares nunca dantes navegados”.

Com a possibilidade de oferta de cópias no mimeógrafo do Salão Paroquial da Igreja Nª Sª do Loreto, da Freguesia, Jacarepaguá, Rio, aventurei-me precoce e ousadamente a criar um jornalzinho, logicamente para surpresa agradável paterna. A Santa padroeira dos aviadores, no dia do aviador, 23 de outubro, por vários anos registrei no jornalzinho a presença do Brigadeiro Eduardo Gomes e comitiva, na missa evocatória.

O conteúdo anunciava eventos do grêmio estudantil, fatos cívicos e festejos inerentes à Igreja, para compensar a gratuidade do mimeógrafo, aliás, prática ainda recorrente hoje na ‘grande’ imprensa, nada de novo. Na segunda página, a saudação ao padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião, que no mês se comemorava.

Na mostra está o número 2, de janeiro de 1964. A primeira edição em número de 100 exemplares, vendidos a CR$1,00; quando chegou a 10ª edição alcançou os 160 exemplares, um “recorde” para o segmento de micro imprensa! Uma versão citadina do cordel sertanejo.

As edições da publicação hebdomadária seguiram-se até ao segundo ano, quando o editor logrou ser aprovado para o Colégio Pio XII, no Centro do Rio, tradicional educandário fundado por D. Pedro II, aí será outra história.


Página 1 da 5ª edição.

Página 2 da 5ª edição.
Pintura de Andre de Court, a Igreja de Na Sa do Loreto, no Outeiro da Pena, na Freguesia, anos sessenta.



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NA ÉPOCA EM QUE ESSA FOTOGRAFIA FOI REGISTRADA...


Por Geraldo Antônio De Souza Júnior



... ela era a senhora Jovina Maria da Conceição e ele o José Antônio Souto, nomes que o casal cangaceiro Moreno e Durvinha adotaram em Minas Gerais pouco tempo após terem abandonado o cangaço.

Durante anos viveram escondidos e "protegidos" por trás de falsas identidades e nesse meio tempo aproveitaram para recomeçar suas vidas e trilharam por um caminho digno e honesto, deixando enterrado no passado a vida através das armas, ficando apenas em suas memórias as lembranças da época em que faziam parte do bando do célebre e temível Lampião.

Na fotografia está o casal Moreno e Durvinha ladeados pelos filhos, tendo ao centro a minha estimada amiga Neli "Lili" Maria da Conceição.

Geraldo Antônio De Souza Júnior


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1926, ESTAVA EM CARTAZ NO RECIFE

O filme “Joaseiro do padre Cícero 
Nos primeiros dias do mês de junho de 1926, as colunas informativas sobre cinema, exibidas nos inúmeros jornais da capital pernambucana, traziam a notícia que em breve seria exibido um “film” que era considerado pelos jornalistas especializados como “diferente” e “interessante”. Era a apresentação de “Joaseiro do Padre Cícero”, um documentário que mostrava a mítica figura do padre Cícero Romão Batista.

Jornal recifense “A Província”, de 3 de junho de 1926. 

Durante as décadas de 1910 e 1920, fotos tradicionais do padre Cícero, com a sua inconfundível batina negra e seu cajado, freqüentemente eram estampadas nas páginas dos jornais recifenses. Mas normalmente estas imagens vinham acompanhadas de uma pródiga quantidade de críticas e comentários ácidos sobre a figura e a trajetória política do conhecido “Padim Ciço”. Não faltavam nas páginas dos jornais adjetivos como “líder de fanáticos”, ou “comandante de um valhacouto de facinorosos”. Com este fluxo de notícias, associado ao interesse do público local pelos acontecimentos da cidade cearense de Juazeiro, a exibição desta película nos cinemas de Recife chamou atenção de muitas pessoas.

Realizado em 1925, a película foi rodada em 35 milímetros, sendo dividida em cinco partes e a direção coube ao cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque. Sua primeira exibição ocorreu no Cinema Moderno, em 
Fortaleza, no mesmo ano de sua produção. Depois de seu lançamento, a película peregrinou por várias capitais brasileiras, através da ação de Godofredo Castro, então deputado estadual no Ceará, e do presidente da Associação de Jornalistas de Fortaleza, Lauro Vidal. 

A intenção destas apresentações era criar uma propaganda positiva em relação à ação política e social do padre Cícero, além de mostrar o crescimento da cidade de Juazeiro.
 

 Em Recife “Joaseiro do Padre Cícero” foi apresentado ao público local na última semana de maio de 1926, onde ficou em cartaz durante dois dias no tradicional Cinema Royal, localizado na Rua Nova. No dia 2 de junho foi exibido no Cinema São José. Segundo a edição do jornal recifense “A Província”, de 3 de junho de 1926, em uma reportagem sobre o filme, os propagandistas Castro e Vidal afirmaram que este projeto teria custado a soma avultada de “40 contos de réis”. Para se ter uma idéia do que significava este valor naquela época, na mesma edição deste matutino, temos um anúncio da loja “Oscar Amorim e Cia.”, localizada na Rua da Imperatriz, número 118, onde era oferecido o modelo mais barato da linha de automóveis da marca Ford, por cinco contos e seiscentos mil réis.

 Cena da película

Já a crítica, de uma maneira geral, se apresentou positiva em relação à obra de Adhemar Albuquerque e esta aparentemente chamou a atenção da elite cultural recifense. O próprio diretor do jornal “A Província”, Diniz Perilo de Albuquerque Melo assistiu a película e teceu comentários. Para o conceituado jornalista “Joaseiro do Padre Cícero” foi apontado como sendo um filme “nítido”, que servia para mostrar positivamente o “expoente da admirável feição moderna de Juazeiro, da sua vida intensa e dos seus aspectos naturais”. Entretanto ele não considerou “admissível o fanatismo” que era apresentado.

Os jornais mostram que “Joaseiro do Padre Cícero” não foi classificado como um filme "cansativo", com várias cenas que surpreenderam os jornalistas. Entre estas são comentadas as que mostravam o imponente açude do Cedro, as cidades de Juazeiro em dia de feira, Crato, Barbalha e paisagens da região do Cariri. Da capital Fortaleza foi focalizado o seu porto, o passeio Público, o Parque da Liberdade, entre outros locais. Mas a figura mais destacada era o padre Cícero Romão Baptista. Conforme vemos nas páginas do jornal “A Notícia”, de 3 de junho de 1926, ora o popular sacerdote era aclamado pelo povo, ora era apresentado na sua casa, mostrando seu trabalho como prefeito de Juazeiro e sempre junto aos seus fiéis seguidores.

Não conseguimos apurar a rota seguida por “Joaseiro do Padre Cícero” pelas capitais brasileiras. Mas têm-se notícias que foi exibido na então Capital Federal, em setembro daquele mesmo ano. Ocorreu sessão dupla na Sala Parisiense e o filme teria recebido fortes críticas da revista carioca “Cinearte”. Outra exibição confirmada por pesquisadores da história cinematográfica brasileira, mostra que esta película foi exibida no Cinema Politeama, no dia 30 de novembro de 1926, em Manaus.
O periódico pernambucano "O Jornal do Comércio", na sua edição de 2 de dezembro de 1926, informa que houve uma segunda exibição em Recife. Um interessante detalhe que não foi comentado por nenhuma das colunas cinematográficas dos jornais recifenses de junho daquele ano, da conta que aparentemente haviam sido inseridas para a segunda exibição, algumas fotos do grupo de cangaceiros do chefe Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Se esta informação é correta, estas fotografias certamente seriam as chapas obtidas em março de 1926, pelo fotógrafo Pedro Maia, quando da polêmica passagem do famoso bando de cangaceiros pela cidade de “Padim Ciço”.
Independente desta questão, observando as notas dos jornais recifenses sobre o filme, não se pode negar que aparentemente este projeto alcançou o resultado que era desejado pelos seus idealizadores e financiadores. Ou seja, a de desmitificar para as classes dirigentes e formadoras de opinião dos principais centros urbanos do Brasil, da segunda metade da década de 1920, que o padre Cícero era sim um líder carismático, que tinha um grande número de seguidores, mas ao mesmo tempo era um homem inteligente, sério, cumpridor das leis, que buscava tão somente o desenvolvimento de sua querida Juazeiro. Não temos informações sobre o destino desta película.

  
Adhemar Albuquerque, criador da “Aba Film”

Já Adhemar Bezerra de Albuquerque, o diretor de “Joaseiro do Padre Cícero”, possui o justo reconhecimento de ser cultuado como um dos principais pioneiros e expoentes do cinema cearense, que produziu muitos documentários em 35 milímetros, onde são principalmente apresentados aspectos e acontecimentos da capital Fortaleza e de outras cidades do Ceará. A este homem empreendedor se deve a criação da famosa empresa ligada ao ramo fotográfico “Aba Film”, até hoje em funcionamento e pertencendo a seus descendentes.

Sobre esta empresa, não podemos deixar de comentar o famoso episódio ocorrido em 1936, que envolveu o emigrante Benjamin Abrahão Botto e a filmagem do bando de Lampião em plena caatinga. Com o apoio de Adhemar Albuquerque, o libanês de Zahelh, esteve em duas ocasiões com o “Rei do cangaço”, realizando uma proeza inédita e que se mostrava promissora em termos financeiros.

Cine Moderno: Seleta e privilegiada plateia para exibição do filme "Lampeão". 

Mesmo gerando toda uma expectativa entre o público, em pouco tempo a película é confiscada por ordem do governo de Getúlio Vargas. O Brasil se encontrava então em pleno período da ditadura do Estado Novo, que entre outras ações na região Nordeste, desejava exterminar definitivamente Lampião e o cangaço. Assim o filme de Abrahão seguia totalmente na contramão das ações governamentais, criando uma possível propaganda favorável aos cangaceiros e todo o projeto foi sumariamente encerrado. 

Logo depois, em maio de 1938, Benjamin Abrahão seria morto a facadas em uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Após alguns meses, as margens de um pequeno grotão, próximo ao “Velho Chico”, em território sergipano, Lampião caia fulminado de balas, junto com sua Maria Bonita e outros companheiros.

Do filme sobre os cangaceiros pouco restou. Entretanto se não fosse à iniciativa do libanês Abrahão e o apoio correto de Adhemar Bezerra de Albuquerque, não existiria nenhuma imagem cinematográfica de Lampião e seu bando.
 O emigrante libanês Benjamin Abrahão Botto, o “homem que filmou o facínora” 

Notas e comentários:

Amigos, podemos contar atualmente com instituições que realmente ajudam a conhecer o nosso passado, a quem quer pesquisar. Uma destas instituições fica na Rua do Imperador, no Centro de Recife e atende pelo nome de Arquivo Público do Estado de Pernambuco.
Quando puderem, façam uma visita. Sem dúvida alguma é o melhor de todo o Nordeste. E lá tem muita coisa, mas muita coisa mesmo.
De Natal a Salvador eu conheci, ou pelo menos tentei conhecer, todos estes arquivos públicos e o de Recife indubitavelmente me impressionou. Salvador vem em segundo e Aracaju em terceiro. O resto é depósito e o nosso Arquivo (Natal) até fechado está a mais de quatro anos.
O arquivo de lá possui, veja bem, 9.000 títulos de jornais. Não são 9.000 exemplares de jornais, são títulos de jornais diferentes e alguns remontam ao início do século XIX. È mais que a Biblioteca Nacional e com a vantagem da pesquisa ser gratuita.
 Em Recife, o pessoal do arquivo é ativo, profissional e interessado em apoiar o pesquisador. Funciona das 8:00 as 17:00, sem fechar para almoço, é arejado, sua localização é central e de fácil acesso. Existem falhas, mas são poucas diante das vantagens e do comparativo com outros locais. Fica no Centro, próximo ao Palácio do Governo.
 
Este pequeno texto foi feito somente com três notinhas, do material histórico que fotografei por lá.
 
Um abração,
Rostand Medeiros,  
Pesquisador


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LENHA NA FOGUEIRA! (Para quem ainda não leu).

Ademar ou Benjamim? 
Por: Renato Casimiro

Severo me pediu uma opinião sobre o excelente Depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abrahão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas.

Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.

Ademar Bezerra Albuquerque 
Pescada em Fortaleza Nobre

Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em
http://www.juaonline.info/.

FILMOGRAFIA(I)...

Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.

FILMOGRAFIA(II)...


O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO

(Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc.

Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. 

Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residência trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela".
(Jornal do Comércio, 02.12.1926)

FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.

FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.

FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para TV. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:

1931, 13 de Novembro 
-  DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: 
" Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. 
Joazeiro, 13, de outubro de 1931.  
Ass. Padre Cícero Romão Baptista. (Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)
No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas:
1931, 14 de Novembro 
DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra:
"Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. 
Saudações. 
Joazeiro, 14 de novembro de 1931. 
Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).

O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.

Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

 Benjamim

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois.

Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925.

Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.


Renato Casimiro

Pescado no açude do Coroné Severo: Cariri Cangaço

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BENJAMIN ABRAÃO

O Enviado especial de Ademar Albuquerque?! 

Por: Aderbal Nogueira

Pois é, a história nos causa muitas surpresas. Pelo que eu sabia ate ontem foi o libanês Benjamin Abrahão quem teve a iniciativa de filmar e fotografar Lampião, porém, em uma gravação de um documentário que estou fazendo com o amigo Gláuber Paiva, que não tem nada a ver com cangaço, surgiu o assunto Lampião. Pois o nosso entrevistado, Miguel Ângelo de Azevedo, o famoso "Nirez" que juntamente com Christiano Câmara são os dois maiores memorialistas e pesquisadores da história de Fortaleza, tendo um acervo incrível sobre nossa cidade, nos relatou que Chico Albuquerque, filho de Ademar Albuquerque lhe contou como foi que ocorreram as famosas filmagens de Lampião e seu bando.

 
Pesquisador e Memorialista Nirez Azevedo
Foto: Jornal O Povo

Eu não tenho como provar a veracidade desse fato, porém Nirez é de uma sinceridade acima de qualquer suspeita. Se o que ele nos fala for a verdadeira versão, é mais um sinal de que a história sempre tem duas caras. Como dizia o famoso humorista: "há controvérsias, amado mestre".


Se pensarmos bem após esse depoimento, realmente o que um libanês que não tinha nenhum conhecimento de técnicas fotográficas poderia querer filmando Lampião?


 Dadá, Corisco e Abrahão

Já Albuquerque era diferente, era empresário do ramo, vivia disso e conhecia os meios e como, depois, distribuir o material para o mundo. Tinha uma visão ampla do lucro que isso podia trazer, era influente e é muito mais plausível essa hipótese. Quero ressaltar que em momento algum Nirez tentou dizer nada a respeito de que o relato ia de encontro a tudo o que foi dito até hoje, não tentou criar nenhum tipo de polêmica, ele simplesmente relatou o que ouviu.

Eu sim fiquei pasmo, na mesma hora vi que ali poderia estar a verdadeira história... mas quem sou eu para atestar?

Abraço
Aderbal Nogueira

Pescado no açude do Coroné Severo Cariri Cangaço

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O SÍTIO PASSAGEM DAS PEDRAS

Por Anildomá Willans

O Sítio Passagem das Pedras. 

No município de Serra Talhada-PE, antiga Vila Bela, foi o berço de Virgulino Ferreira da Silva. Nas margens do riacho São Domingos na Serra Vermelha, nasceu em 07 de Julho de 1897 o mais destacado cangaceiro de todos os tempos: LAMPIÃO.

O cenário é a mais bela e pura manifestação de braba caatinga sertaneja. Agende uma visita: (87) 3831-3860 ou (87) 9 9664-2974.











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LAMPIAO ATACA A SERRA VERMELHA, 23 DE FEVEREIRO DE 1926:


Do acervo do pesquisador Virgolino Ferreira da Silva

Os membros da Coluna Prestes pegaram José Nogueira cunhado de Zé Saturnino, na fazenda Serra Vermelha, levaram-no por certa distância, liberando em seguida e tomando sua arma. Como Zé Nogueira era inimigo de Lampiao. Ao voltar pra casa, decidiu permanecer escondido no cercado dos bodes, até chegar um pessoa e garantisse o retorno ao seu lar. Lampiao chegou em sua casa, percebendo a ausência de Zé Nogueira mandou a moradora ir chamá-lo, com o seguinte recado: 

- Diga a Zé Nogueira que a Força de Nazaré está aqui e precisa urgentemente falar com ele.

A confiante mulher desconhecendo ser aquele o grupo de Lampiao foi atrás de Zé Nogueira no cercado e deu o recado, no que foi prontamente atendida por Zé Nogueira, que imaginou ser gente amiga. Ao entrar pela porta da cozinha e chegando na sala, se deparou com aquela gente, percebendo ser cangaceiros.

Lampiao muito satisfeito em ver aquele inimigo na sua frente, disse:

- E agora, hein, Zé Nogueira?

Zé Nogueira espantando vendo em que situaçãos se encontrava, responde trêmulo:

- Agora só mesmo nossa senhora! 

Todos os cangaceiros deram gargalhadas...

Zé  Nogueira estava com sintomas fortes de asma, mal respirava. Lampião vendo a situação do inimigo, resolve deixá-lo, mais foi impedido por Antonio Ferreira que disse: 

- Você ta doido Lampiao, deixar vivo esse homem?!.

Lampião ao se retirar da sala, sendo seguido por Zé Nogueira, Antonio Ferreira vinha logo atrás e sem dó, atira na nuca de Zé Ferreira que caíimortalmente. 

Lampião nao disse nada com o gesto do irmão. Antonio tira as alpercatas novas de Zé Nogueira e coloca nos pés, jogando fora as suas alpercatas já velhas.

Fonte: Marilourdes Ferraz, pag. 223 e 224.
O fato redundou um processo-crime contra Lampião e os mais destacados do seu bando. O processo está no 1º cartório de Serra Talhada-PE:

Texto colhido no livro "Guerreiros do Sol", pag. 123 e 124. Frederico Pernambucano de Mello.


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