Por José Urbano Silva
Jorge Remígio,
João de Sousa Lima, Manoel Severo e Urbano Silva
Cariri
Cangaço, memória e cultura nordestina. A região Nordeste é o berço do Brasil,
nação que por aqui teve início a partir da empreitada da coroa portuguesa, em
1500, na esquadra do Álvares Cabral, que desembarcou em Porto Seguro, na Bahia.
Quando abrimos o panorama dos 515 anos da nossa história nacional, com ênfase
no Nordeste, identificamos 3 mitos: Cícero Romão Batista, o padre cearense,
Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro pernambucano Lampião, e Luiz Gonzaga
do Nascimento, também pernambucano, rei do Baião. Esses personagens formam a
santíssima Trindade da história e cultura nordestina.
Para
entendermos seus papéis sociais, precisamos conhecer o cenário onde atuaram,
bem como os atores sociais daqueles tempos: cangaceiros, coronéis, coiteiros,
volantes, jagunços, modestos agricultores, feirantes, padre,
beatos...personagens inseridos num modelo social moldado por uma minoria, que
estabeleceu duas classes sociais: quem manda e quem obedece. Emoldurado pelo
coronelismo, vivendo influências de uma sociedade que transitou da monarquia
para a república, da escravidão para o capitalismo, temos como ponto de partida
a complexidade do tecido social costurado neste nordeste, e que tem influências
até os dias de hoje.
Urbano Silva
em uma de suas participações no Cariri Cangaço 2015, em Juazeiro do Norte
Para conhecer,
entender e discutir toda essa vasta história, suas nuances, seus heróis e
bandidos, santos e demônios, surgiu em 2009 a caravana multicultural Cariri
Cangaço, a partir da atitude visionária do cearense Manoel Severo. Seis anos
depois, os números são expressivos, os eventos e seus participantes trilham a
rota da história nas empoeiradas estradas nordestinas, locais onde aconteceram
fatos, nasceram e morreram personagens, no conflito permanente entre santos e
demônios, na sempre aquecida paisagem nordestina.
Na edição mais
recente, baseada em Juazeiro do Norte, se reuniram 70 pesquisadores de 14
estados. Foi significativa a crescente disposição dos participantes em trocar
ideias, ouvir e falar, assistir seminários, documentários, lançar livros,
enfim, produzir conteúdos que poderão perfeitamente ser formatados para
alcançar a sociedade, principalmente pelos valiosos caminhos da
educação. Não existe qualquer iniciativa de fazermos apologia à violência,
criminalidade, brutalidade humana ou santificação de quaisquer
personagens.
Urbano Silva
ao lado de Oleone Fontes, Heitor Macedo, Geraldo Ferraz e Manoel Severo em
painel na cidade de Lavras da Mangabeira
O ponto mais
alto da confraria Cariri Cangaço é desnudar a história de misticismos,
folclore, invencionices de todas as naturezas, e lançar luzes da verdade sobre
os fatos históricos. Ganhamos todos: os participantes, pesquisadores, autores,
artistas, anônimos ou famosos, iletrados e intelectuais. Assumimos o papel de
garimparmos a história nordestina e seus mitos, e ofertamos para a sociedade
nordestina, brasileira e a internacional.
Cada um e
todos nós somos operários da educação, a única e plena via de evolução humana
em suas múltiplas faces. Lampião atuou, Gonzagão decantou e padim Ciço abençoou
a força e os valores da cultura que o Nordeste produziu, o Brasil reconhece o e
mundo reverencia. Viva o Nordeste, viva a nossa Santíssima Trindade cultural!
José Urbano
Silva
Pesquisador e
Historiador
Caruaru -
Pernambuco
http://cariricangaco.blogspot.com
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