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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Luiz Gonzaga descendo os degraus de um avião

Por: Guilherme Machado

Foto de seu Luiz Gonzaga chegando a Juazeiro do Norte para a sua ultima visita a Exú, em 1989. 

Muito doente descendo do bojo de um avião, como ele gostava de chamar. Na descida do avião ele estava sendo  conduzido pelo seu sobrinho e  sanfoneiro Joquinha Gonzaga, o qual está  à sua esquerda. 

Mais atrás, piloto, seu motorista, e também sobrinho. Bem mais atrás a Deuzuita Rabelo, sua namorada.

Adquirido no facebook, na página do pesquisador Guilherme Machado

Estátua de bronze que, com a de Jackson do Pandeiro, fica de frente ao Açude Velho, Campina Grande, PB, Brasil).

Se você quiser conhecer a biografia de Luiz Gonzaga clique no link abaixo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Gonzaga


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Expectativa quanto... Aos ventos que virão - Publicado em 2010 no http://lampiaoaceso.blogspot.com

Por Alcino Alves Costa
Aderbal Nogueira e Alcino Alves Costa

Poço Redondo está sendo palco da filmagem do longa metragem “Aos ventos que virão”, filme que tem em Hermano Penna o seu diretor, ainda André Lavener como diretor fotográfico e Ana Clara Rafaldi, na condição de produtora executiva.

 
Poço Redondo, terra querida do mestre Alcino.

O filme é estrelado pelo ator Rui Ricardo Diaz, aquele mesmo que fez o papel do presidente Lula no filme sobre a sua vida, ainda pelas atrizes globais Neuza Borges e Emanuelle Araújo, além do nosso sergipano Antônio Leite e outros atores da Bahia.

Este é o terceiro filme que Hermano Penna faz em Poço Redondo. Anteriormente, na década de 70, aconteceram duas filmagens em nosso município: “Mulher no cangaço” e “Sargento Getúlio”, este teve como ator principal o lendário Lima Duarte que passou alguns dias em nosso município, nos dando a honra de sua ilustre presença em nossa cidade.

Foi naquela época que Hermano, ao ler o livro de minha autoria “Lampião além da versão” ficou encantado com a história de Zé de Julião, no capítulo intitulado “Zé de Julião – a grande vítima do destino”.

Aquela comovente epopeia do moço de Poço Redondo nunca mais saiu da cabeça do extraordinário cearense do Crato, porém radicado há muitos anos em São Paulo. Hermano havia jurado consigo mesmo que um dia iria levar para o cinema aquele extraordinário épico de um homem que viveu uma vida de terríveis provações até ser assassinado naquele lutuoso dia 19 de fevereiro de 1961.

Zé de Julião é um famoso e saudoso filho de Poço Redondo. O seu pai, Julião do Nascimento, era o único homem daquele então arruado das brenhas sertanejas de Sergipe, possuidor de muitos bens, de vez que era proprietário de várias fazendas e um rebanho bovino avultado. Mesmo assim, o filho do fazendeiro, então recém casado com Enedina, numa decisão de extrema infelicidade, porém temeroso pela perseguição que as volantes lhe moviam, ingressou no bando de Lampião, levando consigo a sua querida esposa, que perdeu a vida ao lado de Lampião, Maria Bonita, e os demais oito companheiros no célebre cerco à Grota de Angico pelo tenente João Bezerra da Silva.

Os anos se passaram. O projeto jamais saiu da cabeça de Hermano. Eis que, após muita luta e sacrifício, o sonho está sendo realizado. As filmagens tiveram seu início na semana passada, dia 19. O filme não segue propriamente a história e os acontecimentos da vida de Zé de Julião, segue o seu próprio caminho tão peculiar nos enredos e produções cinematográficas. Os nomes foram mudados. Zé de Julião passou a ser Zé Olímpio, e Enedina se tornou Lúcia. Enedina não vai morrer, ela acompanhará o marido até a sua morte em 1961.

O enredo do filme é emocionante. Por que “Os ventos que virão”? Vivia-se a esperança de Brasília, o então novo eldorado brasileiro. Naquele chão goiano estava sendo construída não só uma nova capital, mas as aspirações e os desejos de um povo. Recuperar a sua vida de empreiteiro naquele gigantesco canteiro de obras passou a ser o sonho de Zé de Julião, o nosso Zé Olímpio do filme. Aquela nova vida passaria a ser os ventos benéficos do futuro do homem que se tornou a grande vítima do destino. E assim, em sua sensibilidade artística, Hermano colocou o título “Aos ventos que virão”, aliás que nunca chegaram para Zé de Julião, na película por ele produzida.

Deixando de lado a fantasia do filme que nasceu da mente arejada de seu produtor, necessário se faz falarmos um pouco da verdadeira história do real personagem que fez florescer o enredo de “Os ventos que virão”.

Zé de Julião, nasceu José Francisco do Nascimento, naquele dia 19 de abril de 1919. O seu pai era um abastado fazendeiro para os padrões de Poço Redondo. Ainda muito moço contraiu matrimônio com uma parenta de nome Enedina. Na primeira quadra do ano de 1937 foi para a companhia de Lampião, levando ao seu lado a sua jovem esposa. No cangaço recebeu o nome de Cajazeira.

Zé de Julião

No pandemônio da Grota de Angico, vamos encontrá-lo naquele inferno. A sua esposa ali perdeu a vida. O cangaço morreu e Zé de Julião, após casar com uma irmã de Enedina, uma moça chamada Estela, arribou para as terras do sul, indo residir em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro.

Com a morte do pai foi obrigado a retornar ao Poço Redondo que ele tanto amava com a finalidade de cuidar dos bens deixados pelo genitor. Poço Redondo é emancipado em 1954. Zé de Julião se candidata a prefeito. A eleição terminou empatada entre ele e o seu opositor Artur Moreira de Sá. Por ser mais velho Artur ficou com os louros da vitória.

Na eleição de 1958 voltou a ser candidato. No entanto, uma medida compreensível da justiça eleitoral desgraçou a sua vida e ela chegou com a obrigação de se cadastrar todos os eleitores para adquirir novos títulos. Esta nova lei foi à desgraça de Zé de Julião. Nenhum de seus adeptos recebeu seu título.

Desesperado, no dia da eleição roubou as urnas. Foi perseguido como se fosse um cão danado. No dia 19 de setembro de 1959 foi preso e recambiado para a Penitenciária do Estado, em Aracaju. Após ganhar a sua liberdade, carregando o sonho dos ventos benéficos de Brasília, viajou para a nova capital. Eis que, misteriosamente, no aeroporto de Salvador, na Bahia, alguém cujo nome a história desconhece, o convenceu a não seguir a viagem tão sonhada para seguir o seu destino de dor e sofrimento, retornando ao Poço Redondo, aonde foi assassinado naquele dia 19 de fevereiro de 1961.


Que o nosso Hermano Penna, ao lado de sua competente equipe e de seus atores e atrizes tenham muito sucesso neste “Aos ventos que virão”, pois ele faz parte de nossa história sofrida e ao mesmo tempo bela deste tão amado Poço Redondo.

Em tempo: Você, meu leitor amigo, prestou atenção na repetição misteriosa do número 19 na vida e no destino de Zé de Julião? Nasceu em um dia 19, foi preso em um dia 19, morreu em um dia 19 e o filme baseado em sua saga começou num dia 19. Ainda mais, o nome de guerra, Cajazeira, tem nove letras.

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo

*As fotos que ilustram o artigo são do livro “Lampião além da versão - Mentiras e mistérios de Angico" estas foram escaneadas pelo reverendo Ivanildo Siveira.

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INFORMAÇÃO DESAGRADÁVEL

Jesuíno Brilhante
Esta foto é apenas uma representação

Em dezembro de 1879, na região das Águas do Riacho de Porcos, Brejos da Cruz, na Paraíba, Jesuíno foi atingido no braço e no peito, sendo levado, agonizante, por seus amigos. Morreu no lugar chamado "Palha", onde foi sepultado.

Dr. Almeida Castro

Em 1883, o Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro visitou o túmulo do bandido e trouxe a caveira do cangaceiro para Mossoró. Após sua morte a caveira de Jesuíno foi levada para o Grupo Escolar "30 de Setembro". No ano de 1924, a caveira foi transferida para a Escola Normal.

Falam que posteriormente os restos mortais do cangaceiro Jesuíno Brilhante foram doados  a um estudioso que residia no Rio de Janeiro. 

Local onde Jesuíno Brilhante se escondia

Eu pergunto: Qual era a intenção deste estudioso do Rio de Janeiro sobre a caveira do cangaceiro, se ele era de Patu, no Rio Grande do Norte? E por que o Dr. Almeida Castro trouxe a caveira para Mossoró, se o cangaceiro não era mossoroense? 

O certo deveria ter sido entregue os seus restos mortais à cidade de Patu, como acervo para sua população.

Hoje se encontram perdidos os restos mortais do cangaceiro. Você acha que é irresponsabilidade ou não?

http://www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_9g.htm

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Nordestern

Por: Fernando Spencer(*)

O cinema brasileiro ainda não descobriu o grande filão do cangaço. Houve tempo em que chegaram a chamá-lo de nordestern, de modestern, como um gênero cinematográfico do nosso cinema. Mas não aconteceu como já houve no cinema norte-americano. Tudo começou em 1903, com o Grande Roubo do Trem, de Edwin S. Porter. O grande western da época foi filmado nos descampados de Nova Jersey.

O crítico Alberto Silva, em seu interessante ensaio intitulado O Cangaceiro, Herói do Terceiro Mundo, analisa: "Mítico e rústico, justiceiro e criminoso, o cangaceiro forma ao lado do cowboy norte-americano e do samurai japonês a trindade dos grandes heróis cinematográficos, pelo menos para os brasileiros. Três heróis que se identificam e se distanciam: o cowboy leva o revólver insensível: o samurai; a espada e o cangaceiro, o facão (ou o punhal) e a espingarda".

O filme de cangaço, infelizmente, até hoje não emplacou. E por quê? Primeiro, por falta de investidores otimistas. Porque também no cinema se investindo dá. Além da figura do produtor, a presença indispensável do público que irá, sem dúvida, garantir o retorno do investimento. Logo, produtor e público devem andar juntos. Um faz e o outro consome.

Os filmes produzidos no eixo Rio São Paulo não conseguiram retratar o verdadeiro universo do cangaço. A paisagem, os personagens e as histórias se perderam em banalidades criadas por roteiristas sem o mínimo conhecimento do assunto. O mundo forjado pela miséria e as injustiças sociais.

Depois de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, premiado em Cannes como melhor filme de aventuras e menção especial para sua música, houve uma espécie de corrida em busca do ouro. Mas com a única preocupação de arrecadar gordas rendas. Houve, consequentemente, um desnível com respeito ao filme de cangaço. Desnível entre realidade e fantasia. A fantasia e o deboche (As Cangaceiras Eróticas, 1974, de Roberto Mauro). Ou o sério-falso (Lampião, O Rei do Cangaço, 1963, de Carlos Coimbra).

De acordo com Alberto Silva, para melhor compreensão, o Ciclo do Cangaço pode ser dividido em três fases: 

1) - Os filmes comerciais de Carlos Coimbra e Aurélio Teixeira;
2) - O novo cinema das fitas de Glauber Rocha; e
3) - O Cangaço da Boca do Lixo (as películas de Osvaldo de Oliveira).

O primeiro filme brasileiro que contou com a presença do cangaceiro data de 1925 e se chamou Filho sem Mãe, da Planeta Filme, com argumento, roteiro e direção de Tancredo Seabra. A produção era de Paulino Gomes, com Barreto Jr., mais tarde o popular "Rei da Chanchada" do teatro rebolado do Recife. Barreto já havia trabalhado no primeiro filme pernambucano, também de 1925, da Aurora Filme, Retribuição, dirigido por Gentil Roiz e cinegrafado por Edson Chagas. Falam de outro filme envolvendo cangaceiro. É Sangue de Irmão, 1926, rodado na cidade de Goiana, Pernambuco, pela Goiânia Filmes, de Leonel Correia. Filme em três partes, com argumento, roteiro e direção de jota soares. sangue de irmão foi destruído num incêndio ocorrido no escritório da distribuidora de Leonel correia. nada restou senão a lembrança de Jota Soares quando se referia ao ciclo do recife e do pioneirismo de todos.

A destacar os filmes rodados em 1936, por Benjamin Abrahão (tema do filme "Baile Perfumado"), únicos documentos vivos dos cangaceiros em seu habitat. Ele foi, na realidade, o primeiro e único repórter da histórias a conhecer o mundo de Lampião.

(*) Jornalista e cineasta

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

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CÂMARA CASCUDO, FREDERICO PERNAMBUCANO DE MELLO, E O "ESCUDO ÉTICO"

Por: Honório de Medeiros

Como sabemos, a famosa “Teoria do Escudo Ético” de Frederico Pernambucano de Mello está exposta em três parágrafos do capítulo 4 do clássico "Guerreiros do Sol", abaixo transcritos a partir de sua segunda edição:

Frederico Pernambucano de Melo

"Muito se tem falado nos paradoxos da chamada moral sertaneja. No Nordeste, talvez melhor que em qualquer outra região, sente-se a existência desse quadro de valores - inconfundível em muitos dos seus aspectos. Chega a ser quase impossível, por exemplo, explicar ao homem do sertão do Nordeste as razões por que a lei penal do país - informada por valores urbanos e litorâneos que não são os seus - atribui penas mais graves à criminalidade de sangue, em paralelo com as que comina punitivamente para os crimes contra o patrimônio. Não se perdoa o roubo no sertão, havendo, em contraste, grande compreensão para com o homicídio. O cangaceiro - vai aqui o conteúdo mental do próprio agente - não roubava, "tomava pelas armas"."

"Dentro desse quadro todo próprio, a vingança tende a revestir a forma de um legítimo direito do ofendido. "No sertão, quem se não vinga está moralmente morto", repitamos mais uma vez a frase tão verdadeira de Gustavo Barroso, conhecedor profundo desse paralelismo ético sertanejo."

"Ao invocar tais razões de vingança, o bandido, numa interpretação absurdamente extensiva e nem por isso pouco eficaz, punha toda a sua vida de crime a coberto de interpretações que lhe negassem um sentido ético essencial. A necessidade de justificar-se aos próprios olhos e aos de terceiros levava o cangaceiro a assoalhar o seu desejo de vingança, a sua missão pretensamente ética, a verdadeira obrigação de fazer correr o sangue dos seus ofensores. O folclore heroico, em suas variadas formas de expressão, imortalizava-o, omitindo eventuais covardias ou perversidades e enaltecendo um ou outro gesto de bravura. Concretizada a vingança, por um imperativo de coerência estaria aberta para o cangaceiro a obrigatoriedade de abandonar as armas, deixar o cangaço. Já não teria mais a socorrer-lhe a imagem o escudo ético por esta representado. Como então realizar tal vingança, se o cangaço era um bom meio de vida?"

Já tive oportunidade de observar que o “escudo ético” não é propriamente um epifenômeno da cultura moral sertaneja nordestina, muito menos apenas do cangaço. Essa opinião é corroborada, como se pode depreender, a partir da entrevista de Anthony Daniels à revista "Veja" de 17 de agosto de 2011 - edição 2230, ano 44, nº 33 -, na qual o psiquiatra e escritor inglês, ao analisar a influência da tese do suíço Jean Jacques Rousseau de que o ser humano é fundamentalmente bom, e que a sociedade o corrompe, afirma que esta prejudicou profundamente sua noção de responsabilidade: "Por influência de Rosseau, nossas sociedades relativizaram a responsabilidade dos indivíduos."

Como digo sempre: a realidade está na mente, antes de estar na realidade. Trocando em miúdos: o racional antecede, em última instância, o real.

E continua: "O pensamento intelectual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma consequência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infelizmente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com frequência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas universidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram tratados dessa maneira."

Exemplifiquei, em texto anterior, citando o exemplo ocorrido neste começo de século XXI, aqui no Rio Grande do Norte, e que já virou lenda, no qual se atribui a injustos mal tratos físicos da Polícia, o ingresso do célebre Valdetário Benevides Carneiro, líder do bando dos Carneiros, no crime. "Como não há justiça" teria dito em outras palavras Valdetário, "vou fazer a minha."

Valdetário carneiro

Ou seja: há o escudo ético, mas ele não é específico da moral sertaneja nordestina. Parece ser um epifenômeno decorrente da criminalidade, seja rural, seja urbana, não sendo suporte, portanto, para uma teoria que caracterize o epifenômeno do cangaço.

Por outro lado, especificamente no que concerne a essa famosa “teoria do escudo ético” de Frederico Pernambucano de Mello, é certo lembrar que Câmara Cascudo, em 1937, no seu “Vaqueiros e Cantadores”, já o expunha, no que diz respeito ao cangaço, quando no Capítulo denominado “Ciclo Social”, trata do “Cangaceiro”.

Câmara Cascudo

Para Cascudo, ao explicar por que a valentia, quanto aos cangaceiros, originava a “aura popular na poética” dos cantadores, necessário se fazia a existência, como pressuposto, do fator moral, que nada mais era que o “escudo ético”. Disse Cascudo:

“Para que a valentia justifique ainda melhor a aura popular na poética é preciso a existência do fator moral. Todos os cangaceiros são dados inicialmente como vítimas da injustiça. Seus pais foram mortos e a Justiça não puniu os responsáveis.”

Teria lido Pernambucano de Mello “Vaqueiros e Cantadores”? Na bibliografia de “Guerreiros do Sol” o grande teórico do cangaço arrola, de Câmara Cascudo, “Tradições Populares da Pecuária Nordestina” e “Viajando pelo Sertão”. O mais provável é que ambos souberam perceber, com quase cinquenta anos de diferença, na história da violência rural sertaneja nordestina do final do século XIX e início do século XX, esse fato específico, qual seja, a justificativa moral para a entrada dos cangaceiros na vida bandida.

A diferença é que Pernambucano de Mello transforma esse fato em algo determinante para explicar o cangaço, enquanto Cascudo propõe que o mesmo fato é fundamental para a existência da poética sertaneja nordestina de mitificação do cangaceiro.

Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço: Honório de Medeiros

http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br

Veja também:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://sednemmendes.blogspot.com
http://mendespereira.blogspot.com

Os 70 anos da morte de Lampião

Juliana Pereira Ischiara e Alcino Alves  Costa

No alvorecer daquela quinta-feira, do dia 28 de julho de 1938, naquele socavão ressequido e árido do Riacho do Angico, então jurisdição do território de Porto da Folha, e hoje após o desmembramento de suas terras em 23 de novembro de 1953, pertencendo ao município de Poço Redondo, foi morto pelas armas do tenente João Bezerra da Silva e sua volante, um dos maiores personagens da história nordestina e brasileira, o famoso Virgulino Ferreira da Silva, celebrizado com o nome fantástico de Lampião, ainda a sua amada companheira Maria Bonita e mais nove de seus parceiros de desdita.
               
Lá se vão 70 anos daquele fabuloso acontecimento. Num Brasil que se carrega a cultura de não se preservar a História causa admiração à chama viva e ardente que teimosamente não para de arder no sentimento do povo brasileiro que entra ano e sai ano e a saga do rei dos cangaceiros é pesquisada, esmiuçada e continua a ser escrita e comentada em verso e prosa por todo Brasil e além fronteira.
               
É deveras motivo de admiração à magia desse caipira das barrancas do Riacho São Domingos, nas terras da antiga Vila Bela, hoje Serra Talhada, que com uma força portentosa continua a dominar e enfeitiçar todos os segmentos sociais e culturais de nossa nação. 
               
 Aqui onde Lampião, Maria Bonita e mais nove integrantes de seu bando foram executados. 

O seu poder de persuasão chega às raias do inacreditável. O seu domínio sobre seus semelhantes foi e é imenso e envolvente. E assim, Lampião coloca sobre os que procuram enfadonhamente pesquisá-lo um campo recheado de intransitáveis e misteriosos labirintos que deixa todos zanzando pra lá e pra cá sem alcançar a verdade do que aconteceu em Angico.

Em meu livro “Lampião além da versão”, no subtítulo “Mentiras e mistérios de Angico”, eu discorro sobre o medonho mistério que o titã da Passagem das Pedras espalhou naquela grota do riacho, e ainda, as descomunais mentiras que as mais diversas testemunhas – coiteiro, soldado, cangaceiro – fizeram chegar até as páginas dos incalculáveis livros que tem como finalidade registrar a epopeia cangaceira e em especial a chacina de Angico.
               
Os exemplos são muitos. Jaques Cerqueira, subeditor do Viver do Jornal Diário de Pernambuco, é o autor de um artigo intitulado “A outra morte de Lampião”, que saiu no jornal Página Certa, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, afirmando com convicção de que Lampião não morreu em Angico, e sim em setembro de 1981. No livro “Lampião e Zé Saturnino – 16 anos de luta”, de autoria de José Alves Sobrinho, que era sobrinho em segundo grau de José Saturnino, o inimigo número 1 de Lampião, este respeitável senhor atesta com convicção que Lampião não morreu em Angico, e sim aos 83 anos de idade, na fazenda Ouro Preto, em Tocantinópolis, Goiás.
               
José Alves ainda afirma: “O Capitão Virgulino tinha o olho esquerdo com pálpebra arriada, e não o olho direito fechado como o da cabeça decepada pela Polícia e mostrada no Museu”.
              
Quase sempre, é certo, aparecem livros que se enveredam pelas versões e mistérios que estão fincados na Grota de Angico. Existe um boato de que ainda neste ano de 2008 serão lançados dois livros que com fundamentos poderosos desejam provar que Lampião não morreu em Angico.

 Grota de Angico

Tenho certeza absoluta de que tudo que se registrou sobre o cerco e o combate de Angico não passa de uma grotesca e quase que ingênua mentira. Aliás, as mais variadas mentiras que não se deve dar por elas nenhum crédito. Todavia, mesmo acreditando que tudo pode ter acontecido naquele histórico riacho, jamais eu me arriscaria em afirmar que Lampião não morreu naquele célebre combate com as “forças” alagoanas. No entanto, o que é deveras muito estranho é a maioria dos historiadores e estudiosos do cangaço não querer nem ouvir falar no que possa ter acontecido de real e verdadeiro em Angico e que venha contrariar a versão oficial mesmo que ela comprovadamente tenha sido edificada em cima de depoimentos absolutamente mentirosos.
             
Todos sabem, e isto não é nenhuma novidade, que os testemunhos dos que participaram de corpo presente, inclusive João Bezerra, do dia final de Lampião, são absurdamente falsos e mentirosos.


Não consigo compreender qual a razão de muitos ainda continuar a dar crédito aos depoimentos que estão registrados sobre o dia final de Lampião e do cangaço quando os mesmos não oferecem nenhuma sustentação que se possa alcançar a mais simples fundamentação.

Lampião morreu em Angico? Acredito que sim. Mas, me pergunto: por que os estudiosos, os historiadores, os pesquisadores, enfim a sociedade brasileira, não aceita sob hipótese alguma desfazer as terríveis mentiras que foram plantadas naquele pedacinho histórico de sertão?  

E se Lampião não morreu em Angico, como é que fica a história?

Não me surpreende o comportamento de muitos estudiosos do cangaço quando eles apresentam versões que atestam não ter Lampião sido morto em Angico. Não desdenho e nem fico fazendo chacota das mais diversas afirmações nesse sentido saídas de pessoas de gabarito, responsabilidade e respeito, mas que, dominados pela incomparável inteligência e habilidade de Lampião se vêem reféns de sua misteriosa estratégia que tem envolvido por todos os anos de sua vida e morte aqueles que nunca se cansaram de rastejá-lo.

Publicado nos blogs:

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