Por José Tavares de Araújo Neto
Coronel Zé
Pereira e Xandu, Major Floro Diniz e Dona Dulce, Xandu e Coronel Marcolino
Diniz (foto do arquivo de Stella Veras).
Tinha três Xandu e elas eram primas. Antonio Pereira, filho do
Major Floro e Dona Xandu, irmão de Marcolino e sobrinho e cunhado do Coronel Zé Pereira, também era casado com uma senhora de nome Xandu, que também era sua
prima. Ou seja, os irmãos Antonio Pereira e Marcolino Diniz tinham uma
irmã chamada Xandu e as esposas de ambos também chamavam-se Xandu.
Então,
vejamos: Marcolino Diniz era sobrinho do Major Floro Diniz, pai de sua esposa
Xandu. Portanto, Marcolino era casado com sua prima.
Marçal Diniz, pai de
Marcolino, era casado com uma irmã do Coronel Zé Pereira, que este último era casado com uma filha de Marçal Diniz, irmã de Marcolino, ou seja, sua sobrinha,
que também se chamava Xandu.
Para complicar, Antonio Pereira, irmão de
Marcolino, era casado com uma senhora de nome Xandu, que também era prima das
outras duas Xandu.
Observe ainda que o
coronel Zé Pereira era tio-avô dos seus próprios filhos.
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A Revolta de
Princesa
Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
A guerra de
Princesa, em 1930, foi um acontecimento que marcou e transformou a vida
estadual e teve repercussão nacional. Tudo começou através de discórdias
políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o
governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. O
principal deles era o chefe político de Princesa Isabel, o “coronel” José
Pereira de Lima, detentor do maior prestígio na região, que se tornou o líder
do movimento. Era a própria personificação do poder político. Homem de decisão
e coragem pessoal, também era fazendeiro, comerciante, deputado e membro da
Comissão Executiva do partido.
João Pessoa discordava da forma como grupos políticos que o elegera, conduziam
a política paraibana, onde era valorizado o grande latifundiário de terras do
interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na
pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica,
que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de
jagunços armados e outras ações as quais o novo governador não concordava. Nos
seus redutos, eram eles que apontavam os candidatos a cargos executivos, além
de nomearem delegados, promotores e juízes. Eles julgavam, mas não eram julgados.
Verdadeiros senhores feudais, nada era feito ou deixava de ser feito em seus
territórios que não tivesse a sua aprovação. Mas João Pessoa passou a não
respeitar mais as indicações de mandatários para nomeações de cargos públicos.
Por esta época, esses coronéis exportavam seus produtos através do principal
porto de Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas
tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e
efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de
fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos,
que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
A gota d`água foi a escolha dos candidatos paraibanos à deputação federal. Como
presidente do estado, João Pessoa dirigiu o conclave da comissão executiva do
Partido Republicano da Paraíba que escolheu os nomes de tais pessoas. A ideia
diretriz era a rotatividade. Quem já era deputado não entraria no rol de
candidatos. Tal orientação objetivava afastar o Sr. João Suassuna, grande
aliado de José Pereira que, como presidente do estado que antecedeu a João
Pessoa, teria maltratado parentes de Epitácio na cidade natal de ambos,
Umbuzeiro. No entanto, João Pessoa deixou na relação dos candidatos o nome de
seu primo, Carlos Pessoa, que já era deputado. Isso valeu controvérsia na
comissão executiva e apenas João Pessoa assinou o rol dos candidatos.
Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos
governadores de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra, e do Rio Grande do
Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira decidiu resistir a
essas investidas contra seus poderes. Com data de 22 de fevereiro de 1930, ele
rompe oficialmente com o governo do Estado, através do seguinte telegrama:
"Dr. João Pessoa - Acabo de reunir amigos e correligionários aos quais
informei do lançamento da chapa federal. Todos acordaram mesmo que V. Excia.,
escolhendo candidatos à revelia Comissão Executiva, caracteriza palpável
desrespeito aos respectivos membros. A indisciplina partidária que ressumbra do
ato de V. Excia, inspirador de desconfianças no seio do epitacismo, ameaça de
esquecimento os mais relevantes serviços dos devotados à causa do partido.
Semelhante conduta aberra dos princípios do partido, cuja orientação muito
diferia da atual, adotada singularmente por V. Excia. Esse divórcio afasta os
compromissos velhos baluartes da vitória de 1915 para com os princípios deste
partido que V. Excia. acaba de falsear. Por isso tudo delibero adotar a chapa
nacional, concedendo liberdade a meus amigos para usarem direito voto consoante
lhes ditar opinião, comprometendo-me ainda defendê-los se qualquer ato de
violência do governo atentar contra direito assegurado Constituição. Saudações
(a) José Pereira".
Como resposta, João Pessoa mandou a polícia invadir o município de Teixeira,
reduto dos Dantas, aliados de José Pereira, prendendo pessoas da família e
impedindo que ocorresse votação naquela cidade. Determinou que acontecesse o
mesmo em Princesa, mas lá, o coronel se armou, juntou um exército e reagiu.
José Pereira tinha armas em quantidade, recebidas do próprio governo estadual,
em gestões anteriores, para enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna
Prestes. Seu exército particular era estimado em mais de 1.800 combatentes,
onde diversos desses lutadores eram egressos do cangaço ou desertores da
própria polícia paraibana. Com esse poderio bélico e seu prestígio político,
começou a planejar o que ficou conhecido como “A Revolta de Princesa”. Partiu
então para a arregimentação de aliados. Nessa tentativa, no dia 27 de fevereiro
de 1930, dirigiu ao Sr. Odilon Nicolau a seguinte carta:
"Amigo Odilon Nicolau, o meu abraço. O governo tem feito grande
pressão aos eleitores e sei agora que têm sido espancados vários
correligionários da Causa Nacional. Como você já deve saber, rompi com o
governo de João Pessoa e estou disposto a garantir os nossos amigos, para o que
envio vários contingentes.
O meu pessoal não tocará em ninguém, salve se for agredido. Havendo de provocar
a intervenção, pois estou disposto a ocupar todos os municípios do Sul do
Estado. O mesmo se fará no Norte com outra força comandada por pessoa em
evidência no Estado. Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para
esta luta, porque as minhas relações com você e sua família, me animam a assim
proceder. Não me engane porque a luta está amparada pelos próceres da política
nacional. João Pessoa está ilegalmente no governo, logo depois da eleição, dado
o movimento, o Governo Federal tomará conhecimento dos atos absurdos e
inconstitucionais praticados por ele. Venha e não se receie. Do velho amigo,
José Pereira Lima. Princesa, 27 de fevereiro de 1930".
O movimento declarou a independência provisória de Princesa Isabel do Estado da
Paraíba. Em 28/02/1930 o Decreto nº 01 foi aclamado pela população, que
declarou oficialmente a independência da cidade (República de Princesa), com
hino,bandeira e leis próprias.
Essa rebelião atingiu também diversos municípios como Teixeira, Imaculada, Tavares
e outros. A cidade, que já tinha visto passar diferentes grupos de cangaceiros,
passou a ser reduto de valentia e independência. Foram travadas sangrentas
batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma fortaleza
inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao
governador João Pessoa.
Mas a luta perde sua razão de ser. O "coronel" queria afastar o
presidente João Pessoa do governo, porém, o advogado João Duarte Dantas, por
motivos pessoais/políticos, assassinou o presidente do Estado da Paraíba, na
confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia 26 de julho de 1930. É que
João Dantas teve a sua residência e escritório de advocacia na capital da
Paraíba invadidos pela polícia do Estado, tendo parte de seus documentos
apreendidos e divulgados pelo jornal A União, quase um diário oficial do
estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de suas relações
com a jovem Anayde Beiriz. Em uma época em que honra se lavava com sangue,
Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em sua procura
para matá-lo.
Com sua morte, o movimento armado de Princesa, que pretendia a deposição do
governo, tomou novo rumo. Os homens de José Pereira comemoraram, mas o coronel,
pensativo, teria dito: “Perdemos...! Perdi o gosto da luta. Os ânimos
agora vão se acirrar contra mim".
E conforme sua previsão, os paraibanos ficaram chocados com o assassinato (a
partir daí criou-se todo um mito). O crime foi apresentado como obra dos
perrepistas, o Partido Republicano Paulista. Seus partidários, em retaliação,
foram perseguidos e tiveram suas casas incendiadas, além de sofrerem outros
tipos de perseguição e violência.
O Presidente da República, Washington Luiz, decidiu então terminar com a
Revolta de Princesa e o "coronel" José Pereira não ofereceu
resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º e 21º
Batalhão de Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó, ocuparam
a cidade em 11 de agosto de 1930. José Pereira deixa a cidade no dia 5 de
outubro de 1930.
No dia 29 de outubro de 1930, a Polícia Estadual ocupa a cidade de Princesa com
trezentos e sessenta soldados comandados pelo Capitão Emerson Benjamim,
passando a perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando
e torturando os que foram presos, sem direito a defesa. A luta teve um balanço
final de, aproximadamente, seiscentos mortos.
Depois de anistiado, em 1934, José Pereira foi residir na fazenda
"Abóboras" em Serra Talhada-PE.
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em
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Fonte: facebook
Página: Jose
Tavares De Araujo Neto
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