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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

MOSSORÓ EM 1877 - 30 DE AGOSTO DE 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

Manuel Ferreira Nobre ocupou, por dois anos, o cargo de Oficial Maior da Assembleia Provincial do Rio Grande do Norte. Cabia a ele, no exercício da função, passar informações sobre os diversos municípios da província para as Comissões Permanentes, quando as mesmas solicitavam alguns dados. A dificuldade maior para essa função era o fato de não haver bancos de dados ou publicações, cabendo a ele fazer todo o trabalho de pesquisa. E foi por esse motivo que em 1877 resolveu publicar um pequeno livro com os dados por ele levantados. 

Manoel Ferreira Nobre - jotamaria-ospioneirospmrn.blogspot.com

Esse trabalho recebeu o título de “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte – baseada nas leis, informações e factos consignados na história antiga e moderna”. Esse livro foi publicado pela “Typographia do Espírito-Santense, de Vitória, Província do Espírito Santo, tratando pioneiramente da história, geografia e economia do Rio Grande do Norte.
               
Na introdução do seu livro, disse: “Não escrevo a história preciosa e interessante do Rio Grande do Norte: publico apenas tradições e pequenas reminiscências, que são sempre agradáveis ao torrão, por mais estéreis que pareçam: é um ligeiro ensaio.”
               
No capítulo referente ao município de Mossoró, no ano de 1877, diz:
               
“Descobrimento, situação e extensão - Setenta e duas léguas ao Norte da Capital e sete longe do mar, está a comercial e populosa cidade de Mossoró à margem esquerda do rio do mesmo nome. Afirma a tradição que a sua primeira exploração teve lugar no correr do ano de 1633. É bem repartida, muito arejada e assenta sobre um bel plano. Os seus limites são os seguintes: principiam da Praia do Tibau, no lugar onde confina esta província com a do Ceará e daí pelo cimo da Serra Mossoró até o Sítio Pau do Tapuia, inclusive; desde compreendendo o Sítio das Aguilhadas, no Rio Mossoró, até a Fazenda Chafariz, da freguesia do Campo Grande, no Rio Upanema; e daí pelo rio abaixo, por uma e outra parte, até a sua emborcadura no mar. Este território foi desmembrado do município do Apodi, a quem então pertencia.
               
Criação: Foi povoado e depois vila, com o título de Vila de Santa Luzia do Mossoró (Leis Provinciais nº 87, de 27 de outubro de 1842 e nº 246, de 15 de março de 1852). 18 anos depois, a Lei Provincial nº 620, de 9 de novembro de 1870, conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de Cidade de Mossoró.
               
Clima: O seu clima é sadio. Raras vezes se desenvolvem moléstias com caráter epidêmico.
               
Costumes: O povo se lança ao trabalho com uma atividade verdadeiramente pasmosa. Os rigores do tempo, a rudeza dos campos e a falta de braços não o fazem empecer. As mulheres distinguem-se por sentimentos sublimes, profundos e generosos. O luxo, esse cancro, companheiro fiel dos vícios, é completamente desconhecido da população de Mossoró.
               
Barra: A barra de Mossoró é uma das mais abrigadas e a mais calma do Norte do Brasil. Navios de todo porte podem descarregar e tomar seus carregamentos ali com muita economia e prontidão. As tempestades lá são desconhecidas. O canal é regular e formando um meio círculo, se acha livre de pedras. Seu fundo é composto de lama e areia. Os comandantes de vapores e seus práticos e Capitães de navios, que frequentam a mesma barra, afirmam que é a melhor do Norte. A distância entre ela e a cidade é de sete léguas.
               
Ancoradouro: O espaço para ancoradouro é mui extenso e abrigado. A distância entre este espaço e o porto é de 10 quilômetros.”
                
Muitas outras informações sobre a Mossoró daquela época estão nesse livro que é, cronologicamente, a primeira história do Rio Grande do Norte, citada obrigatoriamente por todos os compêndios de história e geografia que saíram posteriormente.
               
Esse livro, que foi publicado em 1877, teve uma segunda edição em 1971, noventa e quatro anos após a primeira edição, graças ao esforço do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, comentada e anotada pelo escritor Manoel Rodrigues de Melo. Mesmo assim é um livro raro, encontrado em poucas bibliotecas.
               
Manuel Ferreira Nobre nasceu em Natal em 1824. Exerceu os cargos de vereador, Deputado Provincial, Oficial Maior da Assembleia Legislativa Provincial, Capitão da Guarda Nacional, Ajudante de Ordens do Presidente da Província do Rio Grande do Norte, Leão Veloso e Encarregado da Biblioteca Nacional, cargo no qual se aposentou.
               
Morreu em Natal em 1897, aos 73 anos de idade.

Geraldo Maia do Nascimento

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Fonte:
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Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró


Prezados Amigos (as) amantes do Forró,

É com muita satisfação que convidamos para o Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró, que será realizado na cidade de João Pessoa/PB no dia 10 de setembro de 2015.


O Encontro é parte da mobilização de músicos, pesquisadores e agentes culturais em torno do Registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, e é promovido pela Associação Balaio Nordeste, em parceria com a Superintendência do Iphan na Paraíba, Fórum Forró de Raiz, Sebrae/PB, Usina Cultural Energisa, Paraíba Criativa e Secretaria de Estado de Cultura da Paraíba.


A reunião será realizada na Usina Cultural Energisa e contará com a participação de representantes de vários Estados do Nordeste, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. Após o debate, uma das ideias dos organizadores é a elaboração de uma Carta de Diretrizes voltadas para o planejamento da Instrução Técnica de Registro que será entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).  


Segue em anexo a arte do evento que disponibiliza maiores informações e a programação completa.

Para sua comodidade, também enviamos no anexo algumas sugestões de locais para hospedagem e alimentação.


ENCONTRO PARA SALVAGUARDA DAS MATRIZES DO FORRÓ

HOSPEDAGEM
1) Próximos ao local do evento:

a) Hotel JR – Diárias em torno de R$ 156,00 (quarto duplo)
Fone: +55 83 2106 8700
http://www.hoteljr.com.br/hotel-joao-pessoa-ohotel.html

b) Lagoa Parque Hotel – Diárias em torno de R$ 140,00 (quarto duplo)
Fone: (83)3015-1414
http://lagoaparkhotel.com.br/

2) Na praia:

a) Hotel Pousada Tamandaré – Diárias em torno de R$ 152,00
Fone: (83) 3226-1159
http://www.pousadatamandarepb.com.br/

b) Tambaú Flat – Diárias em torno de R$ 193,00
Fone: (83) 2107-8800
http://www.tambauflat.com.br/

c) Xênius Hotel – Diárias em torno de R$ 140,00

Fone:
http://www.xeniushotel.com.br/

ALIMENTAÇÃO

1) Próximos ao local do evento:

a) Sonho Doce Festas – Pratos Executivos
R. Dep. Barreto Sobrinho, 472

b) Empório dos Sabores – Self Service
R. Corálio Soares de Oliveira, 541

c) Suave Sabor – Self Service
Av. Monsenhor Walfredo Leal, 632

d) Oca Restaurante Natural – Alimentação Saudável
Av. Alm. Barroso, 330 - Centro

Por gentileza confirme o recebimento dessa mensagem.

Contamos com sua presença!

Atenciosamente,

Emanuel Oliveira Braga e Paôla Manfredini Romão Bonfim
Superintendência do Iphan na Paraíba
Praça Antenor Navarro, 23 - Bairro Varadouro
João Pessoa/PB

Telefone: (83) 3241-2896 / (83) 3241-2959(See attached file: Arte Forró_Banner compactado.jpg)(See attached file: Arte Forró_externo.jpg)(See attached file: Arte Forró_interno.jpg)(See attached file: Arte Forró_Convite.jpg)(See attached file: ENCONTRO FORRÓ - Hospedagem e Alimentação.docx)

Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano Kydelmir Dantas

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LIVROS DO ESCRITOR ANTONIO VILELA DE SOUZA

Por Antonio Vilela de Souza

NOVO LIVRO CONTA A SAGA DA VALENTE SERRINHA DO CATIMBAU
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O livro "DOMINGUINHOS O NENÉM DE GARANHUNS" de autoria do professor Antonio Vilela de Souza, profundo conhecedor sobre a vida e trajetória artística de DOMINGUINHOS, conterrâneo ilustre de GARANHUNS, no Estado de Pernambuco.

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Lampião e seus cabras: representações do cangaço na cultura popular

Por: Caio César Santos Gomes

Os estudos sobre o cangaço estão presentes nas diversas áreas da pesquisa histórica, uma vez que essa temática foi e continua sendo um ponto de discussão sobre o qual emergem diversos questionamentos que contribuem para a produção de pesquisas acadêmicas e profissionais.

Do ponto de vista da historiografia, muitos estudos referentes ao cangaço já foram produzidos, o que corrobora a importância de tal assunto para a história regional e nacional. A maioria dos estudos realizados se debruça sobre o movimento em questão, bem como o resultado material de suas ações pelos sertões do nordeste brasileiro. Porém, cabe salientar que a presença o cangaço tem sua importância reconhecida não apenas devido às proporções que o movimento tomou ao longo de décadas. Uma das marcas deixadas pelo cangaço foi a forte influência nas formas de representação cultural.

O movimento do cangaço tem uma presença marcante em diversos segmentos da cultura popular do Nordeste brasileiro. As influências podem ser facilmente percebidas, merecendo destaque a literatura pela vasta produção sobre o assunto. Mas essas influências não estão restritas ao campo da literatura, elas também aparecem com bastante solidez no teatro, na música, nos grupos de bacamarteiros, na culinária, no artesanato, no cinema, enfim, numa série de manifestações que retratam o cotidiano popular.

O artesanato regional é um forte repositório dos elementos figurativos e representativos do movimento. Em qualquer ponto turístico da Bahia ao Ceará é possível encontrar diversas lembrancinhas que remetem a figura dos cangaceiros. Outro repositório são as feiras livres, que vendem a céu aberto vários utensílios típicos da época e que remonta ao período do banditismo social e a ação dos cangaceiros nos sertões como os típicos chapéus e sandálias em couro, armas brancas como facas e facões, lamparinas, esteiras, chapéus de palha, enfim, uma série de elementos que eram utilizados no dia-a-dia por Lampião e seu bando.

Uma das maiores formas de representação e difusão do cotidiano do cangaço são as quadrilhas juninas, desde aquelas que apresentam o casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita, até as que trazem no nome a referência ao cangaço. Um dos refrões mais conhecidos do grande público: “Acorda Maria Bonita! Levanta vem fazer o café, que o dia já vem raiando e a polícia já ta de pé.” é presença garantida na maioria das quadrilhas juninas, e mostra como era o dia-a-dia de um grupo de cangaceiros: acordar cedo, preparar algo para comer e logo em seguida sair em fuga para escapar das forças volantes.

A existência dos elementos representativos do cangaço na cultura popular como observamos, é uma realidade que a todo tempo se mostra presente no nosso dia-a-dia. Por vezes, é comum que esses detalhes passem despercebidos aos nossos olhos, mas basta observar ao nosso redor e veremos que ainda se mantém viva as tradições e as memórias de Lampião e seus cabras em na região, e cabe a pesquisa histórica e principalmente as futuras gerações preservar esse patrimônio tão rico e memorável que são as tradições, as representações, enfim, a cultura popular, maior marca da identidade de um povo.

Caio César Santos Gomes - Graduado em História pela Universidade Tiradentes (UNIT); Pós-graduando em Ensino de História pela Faculdade São Luís de França (FSLF)

http://meuartigo.brasilescola.com/historia-do-brasil/lampiao-seus-cabras-representacoes-cangaco-na-cultura-.htm

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MAIS UM LIVRO DE CANGAÇO NA PRAÇA... "LAMPIÃO E SUA LIGAÇÃO COM OS CORONÉIS BAIANOS...".


MAIS UM LIVRO DE CANGAÇO NA PRAÇA... "LAMPIÃO E SUA LIGAÇÃO COM OS CORONÉIS BAIANOS...".

Se trata de mais uma excelente obra do escritor João De Sousa Lima que nos trará muitas informações e fatos novos sobre o cangaço...

Quem quiser entrar em contato com o autor, poderá fazê-lo, através do email:

joao.sousalima@bol.com.br

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A HISTÓRIA DO PALÁCIO DA RESISTÊNCIA - MOSSORÓ/RN

https://www.youtube.com/watch?v=0vNPAVVsHUA

Publicado em 13 de fev de 2014
Música
"Da JR Funk" por Rick Braun/Richard Elliot (Google Play • iTunes)
Categoria
Radialista Pé Quente Show

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A VOLTA DO REI DO CANGAÇO


O livro custa 45,00 Reais, e basta clicar no link abaixo e pedir o seu.

http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-638907377-a-volta-do-rei-do-cangaco-_JM

MAIS PONTOS DE VENDA EM CAPOEIRAS

Amigos, nosso trabalho, A VOLTA DO REI DO CANGAÇO, além vendido direto por mim, no MERCADO ALMEIDA JUNIOR, também pode ser encontrado na PAPELARIA AQUARELA, ao lado do Correio, também na PANIFICADORA MODELO, com Ariselmo e Alessilda e no MERCADO POPULAR, de Daniel Claudino Daniel Claudino e Gicele Santos.

Também pode ser encontrado com o Francisco Pereira Lima, especialista em livros sobre cangaço.

franpelima@bol.com.br

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RELAÇÃO ENTRE PADRE CÍCERO E LAMPIÃO

https://www.youtube.com/watch?v=RUHI3h1Ax84

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LIVROS DO ESCRITOR GILMAR TEIXEIRA


Dia 27 de julho de 2015, na cidade de Piranhas, no Estado de Alagoas, no "CARIRI CANGAÇO PIRANHAS 2015", aconteceu o lançamento do mais novo livro do escritor e pesquisador do cangaço Gilmar Teixeira, com o título: "PIRANHAS NO TEMPO DO CANGAÇO". 

Para adquiri-lo entre em contato com o autor através deste e-mail: 

gilmar.ts@hotmail.com


SERVIÇO – Livro: Quem Matou Delmiro Gouveia?
Autor: Gilmar Teixeira
Edição do autor
152 págs.
Contato para aquisição

gilmar.ts@hotmail.com
Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 (Frete simples)
Total R$ 35,00

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VEJAM COMO FOI A PRIMEIRA VISITA DE LAMPIÃO A POÇO REDONDO, POVOADO DE PORTO DA FOLHA-SE. - Parte 03 - FIM


Não estou certo disso, Virgulino. Você precisa parar com essa loucura, precisa tomar novo rumo na vida.

– Tá bem, seu pade. Agora, já qui o sinhô me dá esse conseio, eu lhe peço: deixe eu assisti a missa... É um pidido qui lhe faço...

O coração do padre Artur amoleceu.

– Vá. Pode ir. Só não pode é entrar armado na igreja.

Na sala ao lado, dona Marieta escutava a conversa, apegando-se a todos os santos que conhecia para que tudo terminasse bem. Ao perceber que não havia mais perigo, dados os termos do acordo que acabava de ouvir, correu até a casa da vizinha para contar a novidade. Assegurou à comadre que Lampião era um homem muito educado.

Num instante, todo mundo sabia da notícia: Lampião estava no Poço e ia assistir à missa. Quem pensou em se esconder mudou de ideia ao ver o padre Artur sair da casa de China são e salvo, e atrás dele os ilustres visitantes, descontraídos, afáveis, palitando os dentes.

Começava a chegar gente das redondezas para a missa – gente a pé, a cavalo, em carros de bois. Ao ouvirem a novidade, a reação de todos era a mesma: assombro, medo, curiosidade.

Aos poucos, o povo foi se aproximando, olhando de longe o movimento na casa de China. João Cirilo e Miquéias estavam bebendo cachaça com os cangaceiros, cheios de intimidades. Mandaram chamar os amigos, garantindo que Lampião era amigo do Padre Autur, ninguém precisava ter medo. Uns meninos passaram na frente da bodega e Lampião jogou moedas para eles. Quando os moleques chegaram em casa com aquele dinheiro todo, cessaram de vez os receios. “Eta home danado de bom é Lampião” – diziam.

Na hora da missa, a igrejinha estava lotada. Mesmo assim, quando Lampião chegou com seus homens, as pessoas deram um jeito, se espremeram, coube todo mundo. Lá fora ficou apenas um cabra, de vigia. Mas Lampião não cumpriu a promessa feita ao padre Artur: estavam todos armados e equipados.

Durante a celebração, ninguém prestou atenção ao padre. Mesmo os que estavam na frente davam sempre um jeito de se virar de vez em quando, a pretexto de qualquer coisa, para dar uma espiada nos cangaceiros. Lampião sabia rezar, ajoelhava-se nas horas certas, sentava-se ou ficava de pé nos momentos adequados, respondia até aos “Dominus vobiscum” – coisas que no Poço só dona Marieta sabia.

Depois da missa, os cabras dirigiram-se à casa de China, e o povo, já familiarizado com eles, foi atrás, formando-se um ajuntamento em frente à bodega. China não conseguia dar conta do movimento. Gente que nunca comprou nada em sua venda, de repente virou freguês.

O padre Artur estava preocupado. Desde o amanhecer, os cabras estavam bebendo. Cangaceiro é cangaceiro, ninguém se iluda. Tinha de mandar Lampião embora, antes que acontecesse uma desgraça. Resolveu deixar os batizados e casamentos para mais tarde. Depois de tirar os paramentos, foi bater na casa de China. Ao avistá-lo, Lampião foi ao seu encontro:

– Mais seu vigaro, veja o sinhô qui dia feliz! Só tá fartano ũa sofona! Cadê esse tá de Agenô Pitomba?

– Pois é, Virgulino, é justamente sobre isso que vim lhe falar. Você me disse que estava de passagem...

Lampião coçou o queixo, embaraçado. Estava gostando daquele lugar. Depois dos batizados e casamentos ia ter festa. João Cirilo tinha dito que à noite ia ter um baile de arromba, o sanfoneiro era Agenor Pitomba. E outra coisa: nunca tinha visto tanta mulher bonita. Tudo doidinha por folia, que mulher é bicho danado pra gostar de cangaceiro. Mas, que fazer? Não se desrespeita um padre, pois ai do vivente que for excomungado por um padre, vai direto pras profundas dos infernos.

– Pade Artur, o qui eu prometi ao sinhô eu cumpro. – E, dizendo isso, alteou a voz: – Mininos, venham se dispidi e pidi a bença ao pade! Zequié, venha cá. Você tamém, Virgino. Cadê o resto?

O Capitão levou o padre até os outros cangaceiros, que estavam se divertindo entre o povo, olhando de longe para as mocinhas, como quem não quer nada. No alpendre de uma casa estavam as filhas de Antônio Marques e de Lé Soares. Uma das filhas de Lé não tirava os olhos do cangaceiro Mariano. E o cangaceiro também estava de olho nela. Naquele instante Mariano estava conversando com um vaqueiro, perguntando quais eram os homens ricos do povoado, além de Julião, um velho que era proprietário de muitas terras, porém sovina como o diabo. Lampião apresentou o companheiro:

– Este aqui, seu pade, é Mariano, cabra bom, anda cumigo fais munto tempo, é fio dum lugá chamado Afogados da Ingazeira, im Pernambuco, lá pras banda do Pajeú, o mermo lugá onde nasceu Antonho Silvino, de quem na certa o sinhô já viu falá. Se dispeça do pade, Mariano.

O próximo a despedir-se foi um cangaceiro avermelhado, de cabelo claro, feições firmes:

– Esse aí é Luís Pedo, seu vigaro. Ele num gosta de apilido. É cuma se fosse um irmão meu. É tamém de Pernambuco. E aquele ali é da Quixaba, se chamava-se Anjo Roque e agora é Labareda, derna de onte qui tá cum nóis. Aquele outo é Zé Furtaleza. Os outos dois são primo, é Curisco e Arvoredo. E agora venha vê um segipano. Dexei ele pro fim de proposto. É o premero cabra de Segipe a me acumpanhá. Nóis chama ele de Vorta Seca.

O padre Artur ficou chocado com o que via. O cangaceiro sergipano não passava de um menino, um mulatinho de olhos vivos e jeito brincalhão que nem fios de barba tinha ainda. O vigário perguntou a idade dele.

– Onze ano – respondeu o garoto.

– Deus misericordioso!... – balbuciou o velho padre, condoído com tão terrível desgraça. – Uma criança...

– Criança!? – contrapôs Virgulino. – Nun se ingane não, pade Artu. Esse muleque, com essa carinha de besta, tem corage de fazê coisa qui até o diabo duvida! Nasceu pra sê cangacero!

O Capitão levantou o rosto, consultando a posição do Sol, e decidiu que era hora de tomar a estrada. Pegou o apito que levava amarrado com uma tira de couro à cinta do cantil e soprou forte duas vezes, chamando os cabras.

– Vou simbora, pade Artu. Até mais vê. Adiscurpe os mau jeito.

– Deus o leve, Virgulino. Pense no que eu lhe falei. Arranje um jeito de largar essa vida. Procure o coronel João Maria, da Serra Negra. Ou o coronel Antônio Caixeiro, da Borda da Mata. Diga que falou comigo. Eles podem lhe ajudar.

– Munto obrigado, seu pade.

Enquanto Lampião ia falar com China, o padre Artur Passos procurou Volta Seca, que já estava montado, junto com os companheiros. Estava sinceramente preocupado com o destino daquele pobre menino. Segurando as rédeas do cavalo do garoto cangaceiro, o padre perguntou:

– Meu filho, por que você deixou sua família, para seguir essa vida?

– Eu nun tenho famia. Meu pai agora é Lampião.

– Você tem certeza de que é essa a vida que quer ter?

Embora a pergunta fosse feita a Volta Seca, quem respondeu foi Mariano, que estava perto, escutando a conversa:

– Ninguém é cangacero purqui gosta, seu vigaro. Nóis nun tem outo jeito não. A nossa vida é esta.

– E vocês não têm medo das forças do governo?

– Medo de macaco? Nóis? Os macaco é qui se pela de medo da gente, home!

A conversa de Lampião com China foi reservada. O Capitão estava interessado em coisas práticas. Queria saber se Aracaju ficava longe e se em Itabaiana havia muitos macacos.

– Capitão, se o sinhô tá pensano im ir pro Aracaju, pode mudá de ideia, purque fica nos confim do mundo. Tabaiana é a merma coisa. Lá quem manda é o coroné Dorinha, e a cidade tem mais sordado do qui gente!

– Seu China, quem foi qui diche qui eu quero ir pra Aracaju? Daqui eu vou é pra Serra Nega! Agora, mudano de assunto, eu quero qui o sinhô me conte aí a histora de uma butija qui o sinhô achou.

China tomou um susto. Até isso tinham contado a Lampião?!

– Butija, seu Capitão? – perguntou China, se fazendo de desentendido.

– Me conte a histora da butija, seu China – insistiu o cangaceiro. – O sinhô achou ou nun achou ũa butija?

– Ah, sim, a butija... Já lhe falaro disso pro sinhô, é? Foi coisa sem importança, Capitão. Eu tive um sonho, ũa arma do outo mundo dizeno onde tinha um dinhero interrado nũa casa véia.

– E tinha dinhero mermo, seu China? Quanto?

– Ũa bobage, Capitão. Era ũas mueda do tempo antigo, qui nun circulava mais, nun valia de nada...

– Foi isso mermo qui me dichero, seu China. Eu tava só quereno uvi a histora de sua boca. E agora vou simbora. Diga a dona Marieta qui adiscurpe o trabaio qui nóis deu a ela. Munto obrigado pur tudo.

– Eu é qui agardeço, Capitão.

Saindo do interior da casa, Lampião soprou o apito novamente e dirigiu-se ao cavalo. Aumentou o alvoroço. As pessoas esticavam-se na ponta dos pés para ver mais uma vez o Capitão Virgulino, que estava indo embora. As moças apinhavam-se nas portas e janelas. Dizia-se que Volta Seca tinha dado um de seus muitos anéis a Mocinha de Dedé, e ela agora mostrava o presente às amigas, que morriam de inveja.

China veio falar de novo com Lampião, que já considerava seu amigo:

– Capitão, gostei munto do sinhô. Se argum dia vosmicê vinhé de novo pur aqui, a casa tá as suas orde. Se eu nun tivé aqui, tou no terreno. Tenho ũas terrinha num lugá chamado Recurso, logo aí na saída da rua.

– Eu já sabia, seu China. Mais é assim qui se fala. Tou veno qui o sinhô é um cabra macho. Cum certeza vou vortá outas veis aqui. Até mais vê!

O Rei do Cangaço, imponente em sua montaria, acenou para o povo de Poço Redondo. Os cangaceiros esporearam os cavalos, fazendo cabriolas, mostrando destreza, e dispararam a galope pela estrada que ia para a Serra Negra. O povo ficou olhando o bando se afastar levantando uma nuvem de poeira.

Todos estavam maravilhados com os modos gentis do Capitão cangaceiro. A partir dali os mais velhos teriam muito que contar, muito assunto para os encontros com os amigos. E os mais novos teriam razões para sonhar de olhos abertos, imaginando novas perspectivas em suas vidas. Devia ser maravilhoso viver como cangaceiro, ficar famoso, ter dinheiro, ter mulheres, ser temido e adulado aonde chegasse, podendo fazer o que quisesse na vida, como Volta Seca, que aos onze anos de idade já era homem!...

Em vez de ir para a Serra Negra, como dera a entender ao sair de Poço Redondo, logo adiante o astuto cangaceiro mudou de rumo, pegando a estrada de Monte Alegre.”

* * *
O texto acima, entre aspas, é reprodução literal do capítulo 95 de Lampião – a Raposa das Caatingas. No capítulo 174, faço considerações acerca das circunstâncias que levaram Poço Redondo a ser identificada como “A Capital do Cangaço”.

Fonte: facebook

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