No município
de Barbalha, CE, havia um “coronel” dono de uma imensidão de terras
‘repartidas’ em várias propriedades. Podemos citar como sendo seus, os imóveis
rurais do coronel João Coelho de Sá Barreto, denominados Riacho do Meio,
Piquete, Brito e Chapada, esses em terras cearenses, ainda tendo como
propriedade uma fazenda no sítio Minador, no município de Serrita em
Pernambuco.
Variavam suas
culturas, sendo predominante a produção de cana para a fabricação, ou produção,
de rapadura em seus engenhos de cana. Nas terras em terras pernambucanas criava
gado para corte.
Necessitava de
muita gente para fazerem os serviços. Dentre seus trabalhadores encontravam-se
três jovens de uma família chamados João, Manoel e Marcelino. Todos da família
Marcelino.
João sendo mais velho dos três, tinha grande experiência na lida do campo.
Manoel, entre eles o do meio, com o vigor do jovem sertanejo aflorante em seu
corpo, é promovido de trabalhador braçal para vaqueiro. Já Marcelino, estava
começando a ‘entaludar’, muito jovem, principiava na adolescência. Essa
família, no todo era composta por nove pessoas, das quais quatro eram mulheres
e os demais homens.
No dia 23 de
agosto de 1923, João Marcelino deixa a roça e vai à feira da Vila de
Caririzinho, sua terra natal. Ainda hoje, em diversos locais por onde andamos
nesse Sertão de meu Deus, o pessoal da roça tem o costume de trazer na cintura
uma faca peixeira, instrumento de trabalho do trabalhador do mato, do roçado.
Pois bem, João, ao chegar a Vila, estava com a sua faca na cinta. Na ocasião
Ioiô Peixoto, velho conhecido de João, era Delegado daquela comunidade. Junto
com um soldado e um auxiliar chamado José Benedito inquerem João a entregar a
faca peixeira. João, homem rude e temperado, puxa a faca com bainha e tudo e a
joga no chão, aos pés do Delegado.
Aquele ato da
autoridade, para o sertanejo, foi visto como sendo uma desmoralização a sua
honra. É tanto que João Marcelino profere uma frase para os três:
Voltando para
casa, João diz aos irmãos o que ocorrera na Vila. Todos ficam indignados pelo
‘abuso’ de autoridade do delegado. Assim o tempo passa e, vez por outra, João
relembra o que se passou naquele dia de feira.
Três anos
depois, em cinco de setembro de 1926, num lugar de banho comunitário chamado
“Bica do João Bento”, Manoel Marcelino, irmão de João, conseguindo apossar-se
da arma de Ioiô Peixoto, um revólver, e o mata para lavar a honra do irmão.
Desse dia em diante, aquele trabalhador, vaqueiro das caatingas, entrega seu
gibão ao patrão e cai na vida do banditismo. Vira cangaceiro e passa a ser
conhecido como “Bom de Veras”. João, solidário ao que o irmão tinha feito,
também cai na vida de crimes e torna-se o cangaceiro “Vinte e Dois”. Está
formado o bando de cangaceiros dos “Marcelino”.
Praticando
arruaças aqui, roubos e molestando moças ali, a fama dos “Marcelino” vai
espalhando-se pelo cariri cearense, transpõe barreiras e alastra-se nos estados
vizinhos. O “Rei dos Cangaceiros”, Lampião, usou por diversas vezes o trabalho
das armas dos “Marcelino” em vários planos, inclusive no ataque a cidade
paraibana de Cajazeiras e na tentativa de ataque em Mossoró, no Rio Grande do
Norte.
No sítio Cruz,
no engenho de rapadura Lulu de Sá, tinha um ‘cambiteiro’ de cana conhecido por
todos como João Vaqueiro. O clã dos “Marcelino” mexe e maltrata uma irmã desse
vaqueiro que quer, também, lavar sua honra. Esse, larga da vida de trabalhador
braçal, viaja para capital do Estado, Fortaleza, e senta Praça na PMCE. É
enviado para destacar em Juazeiro do Norte. A partir daí procura não dar trégua
aos cangaceiros.
O soldado João
Vaqueiro, faz parte da tropa comandada pelo sargento José Antônio. O comandante
da volante recebe a informação de que haveria um animado forró e que nele
estariam os “Marcelino”. João Vaqueiro, conhecedor das redondezas, serve de
guia para a coluna e a leva até a Baixa do Catolé, local da festança. Nessa
noite, 23 de dezembro de 1926, é travado um grande tiroteio entre o bando de
cangaceiros e a volante do sargento José Antônio. Nesse confronto morre o
primeiro dos “Marcelino”, o “Bom de Veras”, assassino do Delegado Ioiô Peixoto,
o ex vaqueiro João Marcelino.
A morte do
cangaceiro “Bom de Veras”, pra variar, é no mínimo complexa, pois citam alguns
autores que ele enfrentou a volante de frente. No entanto, a bala que o matou,
penetrou na altura da sua nuca. Dando a impressão que alguém do próprio grupo o
tenha eliminado. Há até a citação de um pagamento feito para isso pelo dono de
um Chalet em Barbalha, o coronel Antônio Aristides Xavier, em ‘resposta’ a umas
'traquinagens' que o cangaceiro fizera no mesmo. A traição é tão antiga quanto
à humanidade.
Um ano e três
dias depois, em 26 de dezembro de 1927, a volante ataca o grupo e desse novo
confronto, tomba o cangaceiro “Vinte e Dois”, João Marcelino. Saindo ferido o
cangaceiro “Lua Branca”, um jovem adolescente que já caminhava na vereda do
crime. Seu ferimento era no pé, impossibilitando-o de dar sequência a sua fuga.
No dia seguinte, 27 de dezembro, é preso e levado para Barbalha.
No desenrolar
dos combates e perseguições, terminam presos em Barbalha os cangaceiros “Lua
Branca”, seus companheiros João Gomes e o irmão Joaquim Gomes, Manoel Toalha e
um inocente, que não tinha nada com o crime Pedro Miranda.
Esses cinco
presos são retirados da prisão de Barbalha para serem levados para a Cadeia
Pública da cidade do Crato, onde seriam julgados, condenados e tirariam suas
penas. O sargento José Antônio os retira da prisão em Barbalha, e os fazem
seguir por uma antiga estrada usada pelos almocreves no transporte de suas
mercadorias. Em certo momento, já tendo alguns quilômetros andados, o sargento,
entregando uma ferramenta a cada um dos presos, ordena que cavem cinco covas
rasas. O desespero toma conta dos prisioneiros. Alguns tentam fugir, outros
aceitam o destino e terminam a tarefa... Assim, no romper da aurora do dia 5 de
janeiro de 1928, todos do grupo dos “Marcelino” e um inocente, são executados
nas quebradas do Cariri cearense.
Fonte blog Ct.
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