Por Luiz Serra
O genial
brasileiro nasceu no Império, a 20 de julho de 1873, em Palmira, MG, que hoje
tem o nome do inventor. Filho de família da lavra extensiva cafeeira que
progrediu nos áureos tempos da política do café com leite, com o poder da
República sendo revezado entre Minas e São Paulo.
Santos Dumont
O pai, o
engenheiro francês Henrique Dumont, a mãe Francisca Santos Dumont, de origem
portuguesa. Alberto era o caçula de oito irmãos, em 1891, esteve na França e
impressionou-se com as mostras de motores a gasolina que eram acontecimentos
populares, daí transparecia seu absoluto interesse por sistemas e dispositivos
mecânicos. Seus amigos e parentes reiteraram que o jovem Alberto, leitor de
Júlio Verne, imaginava criar um engenho, uma máquina, que proporcionasse ao
homem alçar voo autonomamente e fazê-lo tomar proas a seu alvedrio. Era
habitual observador do voo de pássaros, fazia desenhos das articulações e
movimentos de aves, estudava detidamente as reações relativas entre o ar e um
corpo em deslocação acelerada.
Havia na
França alguns praticantes da aerostação, dos balões, fruto da técnica na força
ascensional de um gás mais leve que o ar, eram chamados de aviadores.
Experimentos com equipagens similares ao planador ocorriam desastrosamente
embora com alguns êxitos, como os do alemão Clement Ader, cujos ensaios se
davam em segredo naturalmente por questão de injunção militar.
A trajetória
da conquista do ar de Santos Dumont teve um ciclo completo na virada do século
XIX. A rever a primeira fase ascensional, com os balões Nº1 ao Nº3, este com
motor a gasolina; a segunda, a dirigibilidade, com os de Nº4 e Nº5; e a
terceira, o ápice, a transição para um engenho apto à sustentação, o XIV Bis,
com uso de aletas e superfícies aerodinâmicas, além do primordial: o controle
da tração e da fase que se conhece hoje como de decolagem, por seus próprios
meios e técnicas. Pode-se acrescentar uma quarta etapa, a simplificação das
equações de peso e potência, na concepção do ágil Demoiselle, o pioneiro dos
ultraleves.
Paris
arredores voarblog1908
Ao conquistar
o Prêmio Deutsch em 12 de julho de 1901, nome de um milionário francês que
instituiu a competição alada, desafio aos construtores de dirigíveis, a difícil
exigência acabou por ser completada após cinco voos, qual seja decolar do Campo
de Saint-Cloud, circundar a Torre Eiffel e retornar ao ponto de partida em 30
minutos, premiação de 100 mil francos. Foi uma efeméride internacional,
estabelecendo a fama do aviador e inventor brasileiro. Mais ainda, cresceu a
admiração a ele quando fez dividir a distribuição do lauto prêmio entre seus
mecânicos e auxiliares e os pobres de Paris. Evento de grande repercussão
mundial foi-lhe instituída a Cruz da Legião de Honra que recusou por não ser
francês, mas recebeu a Medalha de Ouro pelo Aeroclube da França.
Entre os
aviadores que apresentavam seus novos dirigíveis despontava outro brasileiro
ilustre em busca de superar desafios na França era o potiguar Augusto Severo de
Albuquerque Maranhão que, a 12 de maio de 1902, ao conseguir elevar o seu
dirigível Pax a cerca de 1200 pés (400 metros), após partir da estação
Vaugirard, tendo a bordo o mecânico George Saché, ao completar dez minutos de
voo, aconteceu uma terrível explosão, ambos morreram na queda. Dumont chegou a
fazer referência elogiosa ao sistema semirrígido de construção inovadora ideia
do engenhoso patrício do Rio Grande do Norte.
Fumaça demonstração
Copacabana 2018 CECOMFAB
Santos Dumont
seguiu projetando seus novos balões, os de Nº7, Nº8, Nº9, e o de Nº10, este
popularizado por transportar passageiros em voos sobre Paris, a que ele o
chamou de dirigível-ônibus. Num dos voos levou a cubana Aída Costa que então se
tornou a primeira mulher no mundo a voar. Nos desafios com o XIV Bis, fez o voo
com uma aeronave, "mais pesada que o ar", seguiu o cumprimento de exigências
e desafios, sendo que o voo a distância de 60 metros se deu a 23 de outubro de
1906. O segundo foi proposto pelo comitê aéreo internacional, a decolagem do
Parque de Bagatelle, com motor de 50 cavalos de potência, tendo sido realizado
na distância de 200 metros, sob as vistas dos membros da comissão do Aeroclube
da França.
O Demoiselle
serviu de modelo a muitos projetistas de aviação, em formato que se revelou ao
mundo reconhecidos ao engenho de Santos Dumont, na ênfase à concepção
aerodinâmica e ao motor. As exposições dos novos modelos de Dumont no Grand
Palais de Paris consagraram a fama do genial brasileiro, como a de 1910.
Aviação de
irrepreensível nível técnico, amiga comandante da GOL Angelita de Araújo no
"escritório" 2018.
Em 1914 deu-se
a terrível I Guerra Mundial quando ficou evidenciada a decepção do brasileiro
após ver seu invento usado para bombardear cidades, como a tragédia de Colônia.
Ainda a 4 de janeiro de 1916 proferiu palestra no Segundo Congresso Científico
Pan-americano, conferência intitulada: “Como o aeroplano pode facilitar as
relações entre as Américas”.
Ao adoecer,
retornou ao Brasil em 1928, quando o navio Cap Arcona em que estava adentrou a
baía do Rio de Janeiro, seria recepcionada a sua chegada com um sobrevoo de um
hidroavião da Sindikat Condor. Chegou a avistar o portentoso avião iniciar uma
grande curva para cruzar a frente do navio quando adveio a queda no mar com a
morte de todos os ocupantes. Existe uma foto da imagem de abatimento do
inventor brasileiro.
A saúde se
deteriorou pela esclerose e depressão, em 1932 passou a residir primeiro no
Hotel Araxá, e a seguir no Hotel La Plage em Guarujá, sob os cuidados do
sobrinho Jorge Dumont Villares. Assistiu aos sobrevoos de aeronaves militares
em missão para bombardear alvos em São Paulo durante a Revolução
Constitucionalista daquele ano. Traumatizado, suicidou-se a 23 de julho de 1932
aos 59 anos de idade, sem deixar descendentes.
Em 22 de
setembro de 1959 houve a concessão do posto honorífico de Marechal-do-Ar,
sendo, doravante, reverenciado como Pai da Aviação e Patrono da Aeronáutica
Brasileira.
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