Por Ruy Lima
Ao invadir uma
cidade na Paraíba, o Antônio Silvino se dirigiu à casa de um delator e disse,
em público, que ia matá-lo. A esposa da vítima, desesperada, pediu-lhe, então:
"Capitão, não mate o meu marido. Tenha pena de uma pobre mulher e de
crianças que vão ficar órfãs."
Ao que o
cangaceiro lhe respondeu: "[...] Antônio Silvino não sabe negar nada a uma
mulher aflita." [...] "Perdôo-lhe a vida, mas, para não ficar sem
castigo, vou mandar dar-lhe uma pisa."
Ao que a
mulher voltou a lhe solicitar: "Capitão, se é para humilhar meu marido, o
senhor me desculpe: em um homem não se dá! Mande logo matá-lo, que é melhor!
Naquele momento, vendo esvair-se a oportunidade de escapar da morte, o marido
delator interrompeu o diálogo dos dois e exclamou:
"Não se meta, mulher, que o capitão sabe o que faz!"
2. O VALENTÃO
Lampião
passava com uma "cabroeira", num vilarejo que se chamava Tomé Vieira,
e lá um caboclo, tomou a frente do grupo de cangaceiros e perguntou a Lampião:
- Aonde o senhor vai com essa ruma de cangaceiro?
E Lampião
respondeu:
- Eu vou pra Serra do Pereiro.
O caboclo tentou intimidá-lo
dando-lhe uma má notícia:
- Se eu
fosse o senhor mudava de caminho, porque no pé daquela serra mora um caboclo
muito valente, e insistiu afirmando que ele era valente.
Lampião
respondeu:
- Eu gosto muito de encontrar homem valente. Eu quero só o sinal onde ele
mora.
O caboclo disse:
- É numa casinha de tijolo no pé da serra.
Lampião acena para o grupo e sai em alta velocidade.
Chegando de
fronte a casa, param todos de uma vez, e o caboclo tinha chegado da roça e
estava deitado numa rede. Lampião chama ele em voz alta:
- Venha cá, cabra!
O caboclo, sem olhar quem estava falando, responde:
- Vou não senhor!
E Lampião
insiste:
- Venha cá, cabra! Você sabe quem sou eu?
O caboclo disse:
- Não sei, nem quero saber, nem gosto de quem sabe.
Lampião diz:
- Eu sou Lampião!
E o caboclo assombrado, fala:
Seu Lampião, me perdoe, aqui em casa tem
almoço, janta, rede, cama, se o senhor tiver precisando de namorar, eu dou
minha mulerzinha"...
Lampião disse:
- Cabra, você tá precisando é de uma pisa, e
perguntou: Cabra, você fuma?
O caboclo,
todo trêmulo, responde:
- Fumo, mas se o senhor quiser eu deixo agora
mermo!...
3. A SOPA
Lampião e seu
bando foram acolhidos por uma senhora, de idade avançada, e ele pediu a ela
para preparar um jantar para o bando. A velhinha não tendo quase nada em casa,
teve que fazer um caldeirão de sopa às pressas para os famintos cangaceiros.
Com a pressa e o medo, ela acabou esquecendo de colocar sal na sopa...
A sopa foi
servida e todos começaram a sorvê-la, sem problemas, mas um dos cabras, novato
no bando, para talvez fazer bonito diante de Lampião ou por idiotice mesmo,
começou a gritar com a pobre velha sobre a falta de sal.
Lampião terminou sua sopa sem nada dizer. Depois, tranquilamente, perguntou ao
bando se alguém sentiu falta de sal. Exceto o tal reclamante, o restante, que
não era besta, disse que não, que a sopa estava ótima! Então Lampião perguntou
à velhinha se tinha mais sal em casa. Ela disse que sim e ele então mandou ela
trazer um quilo! Ela correu a obedecer. Quando veio com o sal, Lampião mandou
ela despejá-lo no prato do sujeito que havia reclamado, e ordenou:
- Você
reclamou da falta de sal, cabra, pois agora tem aí bastante sal, e você vai
comê-lo até limpar o prato!
Apesar dos
lamentos do homem, Lampião o obrigou a comer todo o sal do prato e, quando ele
pedia água, Lampião não deixava que ele bebesse. E assim foi. Quando o
cangaceiro, até verde de tanto comer sal, sentindo suas entranhas em brasa,
terminou, Lampião o expulsou, mandando que o mesmo sumisse de sua frente,
ameaçando que, se o encontrasse novamente, iria sangrá-lo. É claro que o tal
sumiu até hoje.
Saindo da casa, já um pouco distante, Lampião parou, olhou
para trás, coçou a cabeça e comentou com um cangaceiro próximo a ele:
- E num é
que aquela sopa tava uma disgraçeira de insôssa?
E o cabra ao seu lado,
concordou imediatamente:
- Tumém achei, capitão. Tumém achei...
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