Por Geraldo Maia do Nascimento
Ensinam
os manuais que “quando no começo dos tempos, na mais remota antiguidade, o
homem primitivo percebeu que outro seu semelhante poderia necessitar de um
produto que a ele sobrava, estabeleceu-se o primeiro ato de comércio. Quando se
descobriu que uma necessidade podia ser satisfeita ou quando se encontrou
mercado para um produto; quando o homem primitivo compreendeu que podia fazer
uma troca com vantagem, nasceu então o espírito comercial.” Podemos dizer,
portanto, que foi o desejo de posse que deu origem ao comércio. Tudo isso
podemos traduzir numa única palavra: ambição. Foi, portanto, a ambição, que
desde os tempos mais remotos, orientou o homem para o comércio.
Quando,
no início do século XVIII, os primeiros sesmeeiros fixaram-se na ribeira do
Mossoró, tinham por objetivo a criação do gado. Foi o gado quem plantou o homem
no sertão. O terreno plano, com vegetação rala e a presença do rio,
determinaram o lugar. Surgiram às fazendas, os caminhos, o povoado. O rio era a
grande estrada. Os primeiros caminhos não passavam de veredas abertas pelos
colonizadores, que rasgavam os sertões desconhecidos, marcando o chão que iam
pisando com os tacões das suas botas. Por esses caminhos, que ligavam as zonas
litorâneas aos mais distantes núcleos do povoamento espalhados no sertão, se
embrenhavam os mascates com suas cargas de mercadorias conduzidas até pequenos
arruados, onde se estabeleciam com pequenos negócios que lhes rendiam bons
lucros.
Assim
mesmo aconteceu com o povoado de Santa Luzia do Mossoró. Com o desenvolvimento
da povoação, foram aparecendo pequenos estabelecimentos, cujos gêneros eram
comprados no Aracati. Alguns desses primitivos comerciantes tiveram seus nomes
guardados através dos tempos. Foram eles: o Curandeiro Domingos da Costa de
Oliveira, Manoel Rodrigues Pereira, Francisco Gomes dos Santos Guará e José
Baltazar Augero de Saboia. De outros, a poeira do tempo apagou. Reza a tradição
que por volta do primeiro quartel do século XIX, alguns habitantes iam a
Pernambuco por terra e dali traziam algumas cargas de fazendas. Esses, ao
saírem para a jornada, despediam-se dos familiares e amigos até o dia juízo
final, tão arriscada era a travessia. Dos que se aventuraram nessa empreitada,
a história guardou o nome de Manoel Rodrigues Pereira e Antônio Gomes da Mota.
Os
pontos de negócios eram instalados em barracos, biroscas, depois, vendas,
bodegas, enfim, as lojas, que atendiam as necessidades dos moradores do
povoado, vendendo gêneros, utilidades de consumo imediato como o sal, café, gás
(querosene), fósforo, aguardente e ferramentas dos roçados e do campo, a
exemplo de enxada, terçados, foices, machados e facões.
Em
1845 surge a primeira padaria, que pertencia a Joaquim Nogueira da Costa, um
cearense de Aracati que veio a ser depois um dos mais fortes negociantes e
maior proprietário do lugar.
Entre
1845 e 1856 abriram casas de negócios em Mossoró: José Pereira da Costa,
Clementino de Gois Nogueira, Geraldo Joaquim Guilherme de Melo, Manoel do
Nascimento do Vale, João Evangelista Nogueira, Irineu Soter, João Martins da
Silveira, João Antônio Jararaca e outros.
De
1857 a 1867 apareceram na então Vila de Mossoró, novos comerciantes, dos quais
podemos destacar: Antônio Filgueira Secundes, Luiz Manoel Filgueira, Raimundo
de Souza Machado e o droguista João Antônio Gomes dos Santos.
Ainda
em 1857, chegam os navios da Cia. Pernambucana de Navegação Costeira, fazendo
de Mossoró ponto de escala regular das suas embarcações. A cidade se abre para
novos comerciantes, tornando-se, já no período de 1857 a 1877, uma próspera
praça de negócio, assumindo a condição de “empório comercial”. A situação
privilegiada da cidade, eqüidistante de duas capitais, Natal e Fortaleza, ao
mesmo tempo que dividia o litoral do sertão, contribuíram para essa condição.
No período citado, Mossoró aparecia como o “lugar privilegiado”, sentado na
área de transição entre a economia do litoral representada principalmente pelo
sal e o peixe, e a economia do Sertão representada pela pecuária, o algodão e
principalmente as peles de animais. Mossoró tornava-se assim o lugar de troca,
recebendo mercadorias de outras praças do país e do exterior e embarcando pelo
seu porto, o porto de Areia Branca que na época pertencia a Mossoró, a produção
regional que se destinava aos mercados nacionais e internacionais. Esse
crescimento comercial serviu de chamariz para os grandes comerciantes, que viam
em Mossoró o lugar ideal para desenvolverem os seus negócios. E os estrangeiros
chegaram!
Primeiro
foi o suísso João Ulrich Graf, que aqui instalou, no ano de 1868, a sua Casa
Graf, que era uma firma importadora e exportadora de produtos regionais. Depois
veio o alemão William Dreffren, “vindo no vapor costeiro de Pernambuco, com
destino a estabelecer nesta cidade uma casa de compra dos diferentes gêneros do
país”. Veio ainda o francês H. Léger, do Armazem Francês, Henry Admas &
Cia. (francesa), Teles Finizola (italiana), Frederico Antônio de Carvalho
(português), Conrado Mayer (suíço), antigo empregado das Casas Graff, que
ganhando muito dinheiro nesse giro de negócio, veio a se estabelecer por conta
própria em Mossoró, e muitos outros.
Essa
foi a fase áurea do comércio de Mossoró, fase essa que durou até o ano de 1877,
quando “a grande seca dos dois setes”, como ficou sendo chamada, levou muitos
comerciantes a falência.
Geraldo
Maia do Nascimento
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