Por José Mendes Pereira
Aqui em Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, o Cemitério São Sebastião ampara três cangaceiros do bando do capitão Lampião, os quais, vieram na marcha do velho guerreiro, quando fez um frustrado ataque à cidade, mas, saindo daqui às carreiras, com uma mão na frente e a outra atrás, e por pouca sorte, teve um prejuízo na sua famosa malta,com baixas de dois importantes cangaceiros o Colchete o famoso Jararaca.
Lampião pensava que seria muito fácil atacar Mossoró, por ser uma cidade ainda pequena, com uma população de mais ou menos de 25.000 habitantes, mas o facínora se enganara de cheio. Mossoró estava bem preparada para receber a visita de uma porção de delinquentes que tentava extorqui-la, e ela era e continua sendo a maior cidade do Rio Grande do Norte, depois da capital potiguar Natal, e que, apesar de uma pequena população em 1927, já era uma cidade bem desenvolvida e com grande movimento comercial. Em 2020, a sua população era de 300.618 habitantes.
Cangaceiro Massilon Benevides
Dizem que o capitão Lampião foi incentivado pelo o cangaceiro Massilon Benevides (Leite), para fazer este ataque, simplesmente porque ele era grande conhecedor das terras mossoroenses, quando antes, trazia algodão para a fábrica algodoeira Alfredo Fernandes.
Alfredo Fernandes
& Cia. Era para este prédio que o Massilon vendia algodão transpotado por tropa de animais.
Mas o jornalista Alex Gurgel, em um dos seus artigos diz que, o interesse de Massilon Benevides ter aconselhado o capitão Lampião para uma possível invasão à cidade de Mossoró, não era tanto por dinheiro, e sim, para ver se raptava uma das filhas do prefeito Rodolfo Fernandes, pois em suas andanças vendendo algodão aqui na cidade, tinha se apaixonado por uma das filhas do prefeito.
O primeiro cangaceiro a ser abatido no dia 13 de junho de 1927, à tardinha, no centro da cidade, na rua Alfredo Fernandes com o cruzamento da Alberto Maranhão, bem ao lado da capela de São Vicente de Paula, foi o cangaceiro nomeado Colchete (não tenho maiores informações deste delinquente), que ficou estirado sobre o chão, pronto para se fazer o enterro.
Sobre a sua última residência em Mossoró que seria cova, não se tem notícia o local certo, pois ela foi perdida com o passar dos tempos. Há quem diga que com o acréscimo de defuntos, ela foi confundida com outras covas.
Prefeito de Mossoró na época da tentativa de saque por Lampião e seu resepitado bando Rodolfo Fernandes de Oliveira.
O pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas de Oliveira diz em um dos seus artigos o seguinte:
"... o cangaceiro Colchete não adentrou os jardins da casa do prefeito... Antes disto foi baleado na cabeça e caiu na rua, entre a Capela de São Vicente e a casa da esquina.
Não há suposição de nenhum historiador sobre 'paiol de algodão'... Houve sim, uma trincheira montada na frente da casa, em forma de U, onde ficaram alguns resistentes - isto se vê em foto da época, feita por José Octávio - que aparece nos livros".
Da esquerda para a direita: Igreja de São Vicente de Paula, Entre a igreja e a casa da esquina que nos últimos anos pertenceu ao médico Dr. Leodércio Néo tem a rua Alfredo Fernandes, onde teria caído morto o cangaceiro Colchete lado a lado da igreja e a casa. Onde está uma trincheira feita com fardos de algodão é a casa do prefeito Coronel Rodolfo Fernandes. Ela está intacta e bem cuidada pela prefeitura.
O outro cangaceiro enterrado nos terrenos do cemitério público São Sebastião é o famoso pernambucano da cidade de Buíque, o José Leite de Santana, alcunhado no mundo do crime por Jararaca. Acredita-se que Jararaca é um santo, pois antes de morrer, arrependeu-se dos crimes praticados e depois de morto, credita-se a ele algumas graças alcançadas, portanto, é considerado um santo popular na região de Mossoró.
Jararaca - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2018/06/familiares-irma-do-cangaceiro-jararaca.html
Este foi baleado e capturado no dia seguinte e levado para a Cadeia Pública de Mossoró, Dias depois, ele foi tangido até ao cemitério como um animal qualquer, para ser covardemente abatido lá mesmo.
Segundo dizem que Lampião teria chamado esta capela de igreja da bunda redonda.
Não todos mossoroenses, mas uma boa parte da população tem o ex-cangaceiro Jararaca como santo. A razão é que algumas pessoas religiosamente se apegam a ele, e dizem ter recebidos graças. Se é ou não verdade, não podemos contrariar as pessoas que nele confiam. Só sei que no dia de finados, túmulo nenhum recebe mais visitantes do que o do ex-cangaceiro Jararaca.
Túmulo do cangaceiro Jararaca. - Veja que ao lado esquerdo do túmulo do Jararaca tem outro colado. É o túmulo do ex-cangaceiro Asa Branca que morreu de morte natural em Mossoró em 1981.
O terceiro e último falecido e enterrado em Mossoró em um túmulo colado ao de José Leite de Santana, o Jararaca. é o paraibano lá de Cajazeiras do Rio do Peixe, Antonio Luiz Tavares, ex-cangaceiro "Asa Branca", que faleceu no dia 02 de novembro de 1981, às 09 horas e 30 minutos, em consequências de problemas cardiorrespiratórios.
Asa Branca
Após o ataque do bando de Lampião à Mossoró, dias depois, o ex-cangaceiro Asa Branca foi preso e transferido para a capital potiguar Natal. Mas posteriormente, o Asa Branca foi recambiado para Mossoró, onde aqui continuou cumprindo sua pena, recebendo liberdade 10 anos depois.
Historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
Ista informação acima é do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros, que tem documentos que comprovam isso (e que eu tive o privilégio de ver em seu acervo, certa vez, no Hotel Thermas de Mossoró),
O professor e
pesquisador do cangaço Francisco Borges ao lado do túmulo de Antonio Luiz Tavares
- o cangaceiro Asa Branca. Foto feita no dia 24 de Dezembro de 2012 - no
Cemitério São Sebastião, em Mossoró-Rn por Anthony D' Karllos Mendes meu neto/filho.
Anos depois do cangaço e cumprindo sua pena, o Asa Branca passou a ser curandeiro lá pelo Estado da Paraíba, e inclusive, a sua segunda esposa, dona Francisca da Silva Tavares, adquiriu-a quando rezava na cabeceira da sua cama, para curar o mal que lhe incomodava.
Cineasta e pesquisador do cangaço Aderbal Nogueira, dona Francisca da Silva Tavares, viúva do ex-cangaceiro Asa Branca e o professor, poeta, escritor, pesquisador do cangaço, Luiz Gonzaga e do antigo trio Mossoró Kydelmir Dantas de Oliveira.
Ela apanhou uma doença que médico nenhum descobriu, e o jeito foi procurar rezadores. Mas não demorou muito, O homem que antes era marginal e perverso na caatinga, o Asa Branca, agora era um homem que pertencia ao mundo bom de Deus, e a fez levantar da cama.
Devido viver ali, sempre ao seu lado, os dois findaram se apaixonando. Como já era casada e mãe de um filho de 7 meses que ainda é vivo e reside em Brejo do Cruz, dona Francisca se mandou com o curandeiro aqui para Mossoró. Mas a mando do seu pai Maximiniano, ela foi perseguida, sendo eles obrigados a fugirem para o Ceará.
Se a população
de Mossoró descobrir que o ex-cangaceiro Asa Branca era curandeiro, com certeza,
em vez de ser só um facínora santo em Mossoró, serão dois.
Se o ex-cangaceiro Jararaca não rezava nada e é milagroso, o "Asa Branca" rezava muito.
Então, tem que ser também santificado pela população desta cidade.
O aposentado do Banco do Brasil, pesquisador do cangaço e membro da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Francisco das Chagas do Nascimento, acaba de nos informar o seguinte:
"Em terras
mossoroenses, acho que tiveram mais três: Bronzeado, Às de Ouro e Mormaço. Todos
justiçados.
Veja o que ocorreu com Lampião em querer dar um passo maior que a
perna. Num ataque de meia hora, paga este preço, pelas consequências da sua
ousadia!"
Informação ao leitor:
Tudo o que eu falei aqui sobre dona Francisca da Silva Tavares, e sobre o seu passado amoroso com o futuro esposo Asa Branca, não é invenção minha. Foi ela que me
contou em sua residência no ano de 2012.
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