Por José Cícero Silva
Mesmo após 95
anos muito ainda se discute até hoje e sem muito consenso, o real motivo para à
invasão de Mossoró no RN pelo bando de Lampião junto com jagunços de Isaías
Arruda e dos irmãos Marcelinos, fato ocorrido em 13 de julho de 1927.
São fartas e
díspares como se ver as muitas versões surgidas eque tentam elucidar a
verdadeira motivação de tal acontecimento. Talvez o mais debatido e emblemático
da densa e polêmica história lampiônica.
Ao meu juízo,
não apenas uma, porém duas foram as motivações que mais se aproximaram da
verdade que se espera. A primeira é política, enquanto a segundo, puramente
financeira na qual se incluem, além do coronel Isaias Arruda, Massilon Leite e
o próprio Virgulino Ferreira com todo o seu exército de facínoras que
comandava. Contudo, para que se possa melhor compreender este cipoal de
acontecimentos é preciso, com o perdão do pleonasmo, começarmos pelo começo. Senão vejamos. Ora, desde 1924 que os ânimos políticos se acirravam a partir da
região de Pereiro, entre os poderosos daquela região. Décio Holanda e o cel.
Francisco Pinto, este último, por sinal era parente de Rodolfo Fernandes, então
prefeito de Mossoró, famoso por ter organizado a resistência contra os terríveis e malsinados cangaceiros. E que, inclusive, morreria cerca de três
meses após este episódio.
É provável que
Décio Holanda teria interesse no enfraquecimento do poder politicis dos
Fernandes como forma de derrotar seu arquinimigo o cel. Francisco Pinto. De
modo que a invasão da cidadela potiguar seria sua principal estratagema.
Soubera,
inicialmente do bando de Isaías por meio do jagunço aventureiro Massilon Leite
que anos antes já havia promovido algumas maldades criminosas e outras
estripulias, por alguns pequenos vilarejos nas redondezas; tanto na PB quanto
no próprio RN; a exemplo de Canto do Feijão, Uiraúna, bem como Apodi, Itaú e
Gavião. Cometendo com seu grupo de malfeitores, roubos, destruição, estupros e
até assassinatos. Há que diga, inclusive, que parte do dinheiro obtido nestes
saques violentos foi dividido com o cel. Isaías, cujo encontro ocorreu na
fazenda Ipueiras onde residia o seu braço direito na Aurora, seu primo José
Cardoso.
Não costumo
acreditar muito nas tais coincidências do destino. E sim nos propósitos
estabelecidos pelos desejos e a vontade de poder dos homens. De maneira que,
coincidência ou não, no dia exato da partilha Lampião já se encontrava
arranchado para descanso por quase um mês no seu famoso coito. Isto é, no sopé
do serrote do Diamante sob às atenções e os cuidados do sitiante Miguel
Saraiva. Tido como aliado de Cardoso e vaqueiro do próprio coronel.
Viera antes da
serra do Mato da Goianinha terra do velhacouto cel. Santana. No Diamante
aguardava via Ipueiras armas e munições oriunda de Missão Velha.
Sabendo disso,
Massilon arquitetou a ampliação do plano inicial. E assim convenceu Isaías a se
associar aquela empreitada; como ainda, a aquiescer o rei do cangaço. Traçou
planos de mapa, cantou Vitória, fez contas e contou pabulagem sobre a suposta
facilidade do ataque. Apresentou o lucro das suas últimas investidas aquela
região comandando jagunços.
Além de armas
e balas guardadas nos porões do seu palacete em Missão Velha onde morava, o
prefeito Isaias ainda forneceu 30 contos de rés. Sendo assim o verdadeiro
patrocinador do malsinado plano. Conforme disseram armas e munições recebidas
de Floro Bartolomeu ainda da época dos Batalhões Patrióticos.
Pelas
conversas de Massilon e a quantidade de dinheiro obtida em Apodi o coronel não
somente admoestou Lampião, como também acreditou que lucraria por baixo, três
vezes mais. Além de agradar os interessados do rio grande. Fez recomendações a
Ze Gonçalves e Antonio de Rita sobre a jagunçada que seguiria com o bando de
Lampião para à ribeira potiguar. Somente os mais corajosos e experientes.
Mandou recado aos Marcelinos pras bandas do Chiqueiro das Cabras na zona rural
de Missão Nova.
Depressa
formou-se ali um verdadeiro conglomerado de aventureiros, bandoleiros, Jagunços
e cangaceiros. Gentes da pior espécie dispostas a matar e a morrer por ouro e
por dinheiro; todos sob o comando de Lampião. Portanto, além do bando de
Virgulino e dos subgrupos de Sabino Gomes, Jararaca, Massilon, João 22 e do
próprio Isaías, incluíram-se ainda dois empregados de Zé Cardoso. Entre os
quais o jovem Antonio, morador da Ipueiras que mais tarde receberia de Lampião
o apelido de Asa Branca o mais jovem dos que integraram o bando de malfeitores.
Do riacho das
Antas de Aurora também fizeram parte: Zé Cocô e José Roque, vez que um terceiro
de nome Antonio Soares terminou ficando no Diamante por ter adoecido na
véspera.
Deixaram a
Ipueiras no dia 9 pela madrugada nos rumos do RN. Mal sabiam o que de fato os
esperava. E assim, logo após saírem dos limites do Ceará, como nunca se viu;
Lampião pareceu inebriado pela aventura de pisar o solo do RN pela primeira vez
na vida. Ao ponto de não se importar tanto pelos desmandos, as depredações, a
bebedeira e o rastro de violência promovidas pelo pelo bando durante o
percurso.
O resto desta
história todos já sabem. Como do seu total fracasso, dada a heroica resistência
mossoroense comandada pelo destemido prefeito Rodolfo Fernandes. Como das
mortes dos cangaceiros Colchete e Jararaca logo na chegada. Bem como da volta
do bando para Aurora acuadis e perseguido pelas volantes de três estados.
Chegando em alguns embates à proporção de quatro soldados para um cangaceiro.
Ainda da chegada à fazenda Ipueitas onde aconteceu a suposta traição do
coronel. Onde houve o cerco do bando com o incêndio do pasto, o tiroteio e a
célebre tentativa de envenenamento da comida oferecida por Ze Cardoso a mando
de Isaias e major Moisés..
Muitas coisas
ainda hoje não se sabe. Perguntas que ainda ecoam como rimbombear de balas nos
ouvidos e no juízo de leitores e pesquisadores deste pedaço importante da
historia do cangaço. Tais como: Houve mesmo a traição de Isaías? O cel. tramou
de fato a morte do seu amigo Lampião negociando-a com o governador Moreira da
Rocha? O major Moisés Leite de Figueiredo, por sinal cunhado do coronel
facilitou a fuga de Lampião junto com seu bando como acusou a imprensa da
época?
Por que razão
as volante, senão do Ceará nao tomaram parte do cerco na Ipueiras?
Que outros
potentados e autoridades também apoiaram a invasão a Mossoró? Ou será que tudo
não passou de uma grande farsa?
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Prof.
Escritor, pesquisador e poeta.
Aurora - CE.
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