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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Novo livro na praça - "Cangaço, uma ampla bibliografia comentada".

De Melquíades Pinto Paiva

Sinopse:

A vastíssima bibliografia sobre cangaço assusta quem deverá rastrear toda uma produção inspirada nos gêneros biográfico, crônica, reportagens, ficção, contos, romances, cordel, memória, história oral, novelas, roteiros, iconografia e filmoteca. Melquíades tem a mais completa biblioteca sobre o cangaço a que alguém possa ter acesso na hora da redação de qualquer trabalho científico sobre o tema.

(...) Timidamente, para um círculo de pesquisadores dos fenômenos do cangaço, Melquíades foi publicando as fichas de cada material de sua coleção, com o título "Bibliografia Comentada do Cangaço", até organizar este magnífico guia de fontes, que resolveu nominar como "Cangaço: uma ampla bibliografia comentada".
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Nesta edição de luxo com capa dura e papel especial, estão incluídos os Volumes: I - II - III - IV e V da série "Bibliografia Comentada do Cangaço", mais o volume  VI, inédito. Portanto são (6 em 1) que somam392 páginas. Com peso de 1,2 kg. Adquira o seu agora com o valor especial de R$ 85,00 (Oitenta e cinco reais) "Frete incluso". Pelo emailfranpelima@bol.com.br ou se preferir (83) 9911 8286.

Quem já tem, recomenda!


Saudações amigos rastejadores.
Esse livro do Melquíades Pinto, é sensacional, pois, através do mesmo estão catalogados mais de 90 % dos títulos de livros, jornais, revistas, artigos, e cordéis que tratam do cangaço. É uma excelente fonte de informação para quem pesquisa. Eu já tinha os volumes de  I  a V, e, agora, saiu tudo condensado, numa única obra, e com novas informações. Por isso eu recomendo.


Ivanildo  Alves  da  Silveira

Colecionador do Cangaço
Membro da SBEC e do Cariri-Cangaço
Natal/RN

Capa e sinopse pescadas no site da Imeph
lampiaoaceso.blogspot.com

Os Assombros de Itiúba - Depoimento de Robério Pinto de Azerêdo - Parte I

Por: Rubens Antonio

1929

"Lampião passou pelas cercanias duas vezes... Nesse tempo, Itiúba era um arraial e quem administrava era o capitão Aristides e senhor Belarmino, posteriormente o primeiro prefeito de Itiúba, que eram os encarregados por recomendação de Queimadas, município pelo qual Itiúba dependia.
Em 1929, Lampião chegou até a Fazenda Desterro, do outro lado do Rio Jacurici... fronteira com o Município de Monte Santo, ao lado nordeste de Itiúba.
Ele se aproximou no tanque para dar água aos animais e encontrou um vaqueiro do capitão Aristides conhecido Zezinho do Licuri Torto. Aí, perguntou quem era ele e o mesmo lhe falou que era vaqueiro do capitão Aristides. Conheço bem esta história, pois eu, já maduro e pesquisando sobre o ocorrido, conversei com Zezinho...
Lampião disse que tinha uma carta para mandar por ele e redigiu-a ligeiramente para ele trazer aqui, para Itiúba, no mesmo dia, pedindo na mesma:
“Capitão Aristides. Mande-me três contos de réis de que preciso pagar meus coiteiros. Necessito desse dinheiro. Não bulo com seus animais, nem com suas fazendas. Mande hoje mesmo.”
E assinou: “Capitão Virgulino, o Lampião”
Eu era bem menino, nos meus dez anos de idade... e vi muito bem a hora que chegou o portador na casa do Capitão Aristides... Não dá para não lembrar, pois foi uma comoção geral.
Aqui era assim... Tinha soldados e contratados. Era mais ou menos, no normal, a proporção de noventa por cento de contratados...
O capitão Aristides era um homem grande, com dois metros de altura, muito disposto, um homem bom, o verdadeiro herói... Determinou a seu vaqueiro que ele não voltasse lá, que ele poderia trucidá-lo... Ele, então, convocou as autoridades e resolveu armar o povo, inclusive, os negociantes daquela época.
Diziam:
- Lampião vai passando ou tá próximo em tal lugar... Ribeirão do Pombal... Jaguarari... Cansanção...
Os soldados não eram suficientes.
Contratou mais meia dúzia de soldados e chamou mais gente valente de outros lugares... Tinha gente braba de Patamuté... de Chorrochó... Mandavam buscar homens bravos e destemidos na região de Paulo Afonso... Campo Formoso... Canudos... Eu mesmo via eles aqui na rua, pra para cima e pra baixo...
E esses cento e tantos homens armados ficaram em piquetes, nas trincheiras, e sobre aviso, esperando a invasão... Armaram-se cento e tantos soldados e contratados e foram para uma trincheira na Calçada de Pedra, e outra na saída da cidade que vai para Senhor do Bonfim e Filadélfia... Era onde atualmente está a Rua das Piabas... que era a antiga Cambecas...
A trincheira na Calçada de Pedras era assim... Usava as grandes pedras que tem lá, e ainda cavavam por trás delas, para dar mais segurança...
Os negociantes e os mais importantes, também os operários, os camponeses, os pequenos comerciantes como Elísio Ferreira, o próprio Aristides, Manoel Pinto, irmão de Belarmino, foram convocados... Os negociantes se armaram com fuzis, rifles, mosquetão... papo amarelo... e outras armas. A gente via todo mundo armado o tempo todo pela cidade.
Destaco, além de Aristides, Belarmino Pinto, também chamado seu Belau, o coronel João Antonio da Silva Neto e, como um dos valentes, Benedito Pinto, o Bino Pinto.
O pai do Joãozinho do Bel foi um dos que se armaram... Suplicio, pai do seu Virgílio, era contratado... O comércio local era quem contratava e pagava por mês... Fez assim por muitos anos... E os contratados ficavam todos os dias... sábado... domingo... na expectativa de esperar Lampião...
Lampião ficou esperando lá e ele não mandou o dinheiro. E o mesmo não veio, nem atacou a cidade... Lampião desviou a passagem dele... e foi para Queimadas..."

1931

“Depois de dois anos da primeira passagem, já em 1931, Lampião voltou a passar pelas cercanias da cidade de Itiúba... A cidade ainda permanecia em alerta desde a primeira visita... As trincheiras e os homens ainda estavam lá... Só diminuiam um pouco quando Lampião estava longe, mas, quando ele se aproximava, reforçavam tudo de novo.
Quem chegasse à cidade veria as trinheiras dos dois lados... com os homens armados.
E o Lampião chegou, precisamente, na Fazenda Campinhos...
Lá, ele entrou na casa de Edístio Celestino e viu uma mesa com uma gaveta fechada. Se aproximou e com uma faca começou a forçá–la. Então, a dona da casa disse:
– Não precisa isso, não.
E chamou o marido, o Edístio. Este foi, pegou a chave e abriu a gaveta.
Lampeão pegou então um broche de ouro, umas coisinhas mais e o dinheiro, e saiu sem fazer mal ao pessoal... E eu sei muito bem a história porque conversei com a Maria de Edístio Celestino, filha do velho, que era ainda menininha de sete anos de idade, estava no quarto e assistiu a cena toda... Nunca esqueceu...
Ele entrou na área do Município de Itiúba, pelas cercanias de Pintadas, Campinhos, Ariri, até aqui no Umbuzeiro, na Varzinha e Poço do Cachorro.
Como já tinha notícias de que na cidade havia trincheiras à sua espera, aos sábados, ele mandava cabras de seu bando à feira de Itiúba, para sondar se tinha gente armada e se a cidade estava prevenida ou não, para que ele e o seu bando pudessem entrar. Pois o medo dele era encontrar moradores, contratados e os soldados armados esperando por ele e sua corja.
Sabendo que ele tinha vindo por lá, o coronel Aristides tinha dado a instrução certa... A ordem era não dar combate quando eles chegassem... Que procurassem ficar escondidos, quietos... e deixassem eles entrar... Ou que, se fossem vistos, alguns deles entrarem em luta e perderem, deixando ele entrar... Quando Lampião estivesse dentro, o grosso dos homens iria descer e fechar aquela saída... E, aqui dentro, já estava apinhado de gente armada... Já viu, né? Ele estaria dentro de uma arapuca... Então, a ordem era deixar passar... Não atirar ou não lutar de verdade... até fechar o cerco...
Lampião encontrou um casamento no caminho. Isso na Varzinha, indo para Poço do Cachorro... Era um pessoal de Caraíba...
Parou o cortejo do casamento e perguntou:
- Vocês vêm de Itiúba?
E o pessoal respondia:
- Venho.
-Você me diga... Tem gente armada lá?
- Sim, tem muita gente armada, o pessoal do Belarmino, muita gente contratada, muita gente armada até os dentes, capitão... Os comerciantes também estão armados...
Ele olhou a topografia, as montanhas e viu que eram fechadas. Porque a ordem era a seguinte... Combater aqui, dentro no arraial.
Ele parou, conversou ali com os cabras dele, e disse, que o pessoal do casamento ouviu:
- Eu não meto a mão em cumbuca... Nós não vamos entrar não em Itiúba. Itiubinha... Dessa vez você escapa... Itiubinha...
Aqueles do seu bando que esperavam à sua volta, nas pedreiras das montanhas, espancaram uma velha, saquearam o capitão Antonio Joaquim, avô daquele Mundinho dos Carvalhal. Tomaram dinheiro deles. Mais ou menos uns três ou quatro contos de reis. Mas aqui no arraial ele não entrou. Ficou com medo dos cabras machos que aqui os esperavam...
A gente soube, depois, de algo muito interessante... sabido lá em Cariacá... Aqui, na feira, disfarçado, entrou Corisco, todo vestido direito... sondando as defesas... E entraram outros cangaceiros também, bem disfarçados...
A residência do Aristides está ali, ainda como era na época... Dizem que aqueles buracos na parte de baixo eram para os defensores dispararem... Sou da época e não lembro nada disso... Acho que era uma espécie de respiradouro somente. E eu não vejo como alguém poderia se utilizar bem daquilo ali para se defender... Não dá jeito... Não tinha altura para isso..."

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço: 

LAMPIÃO E O CABRA ASSINALADO

Por: Clerisvaldo B. Dantas - Crônica Nº 820
Clerisvaldo B. Dantas

Para o saudoso escritor Raul Pereira Monteiro, santanense, mas radicado em Campina Grande,“Deus faz, o vento espalha e o diabo junta”, conforme o ditado popular. Falando salteado e sem datas, aquele autor de vários livros, diz do constrangimento a que foi submetido o seu avô diante da indesejável e maléfica presença de 



Lampião e Corisco à sua fazenda; crônica: “provérbio que se cumpre”, “Espinhos na estrada”, págs. 93-96, editora Caravela, 1999. Vivendo toda a sua vida na fazenda, situada no povoado Capelinha, então, pertencente ao município de Santana do Ipanema, Alagoas, seu avô recebeu uma estranha visita. Homem de bom caráter, filantropo e amável, escutou a conversa do fugitivo da Justiça que chegara ali com sua esposa. Confessando sua condição de réu e acrescentando desejos de reabilitar-se e viver vida decente e pacífica, o sujeito ganhou a confiança do proprietário e passou a trabalhar na fazenda. Tempos depois, o empregado despachava a consorte para as margens do rio São Francisco, alegando que a sogra passava mal e precisava dos cuidados da filha. Passaram-se alguns dias e o indivíduo falou que a sogra havia morrido e que seu espólio precisava de interessados. Partiu.


Mais a frente, o fazendeiro recebeu aviso de um portador apressado e nervoso que Lampião se dirigia àquela fazenda. A família pegou alguns objetos como esteiras, lençóis, e ainda víveres e água e partiu para um esconderijo do outro lado do rio Ipanema, pedaço de caatinga com mais de seis quilômetros quadrados. “E antes que anoitecesse, escolhemos o chão mais macio e coberto de vegetação que nos amparasse muito bem das vistas curiosas e sedentas do grupo latrocida”. Ao amanhecer, desse tempo de verão, pensando em regressar, a família foi surpreendida por tiros próximos, pelas presenças de dois cangaceiros e o ex-empregado, fugitivo da Justiça. “Fui obrigado”. A família foi agarrada, extorquida e maltratada, até pagar um resgate (solicitado por empréstimo na cidade através de um portador). Desgostoso com tudo, o fazendeiro mudou-se com os seus para a cidade, mas continuou visitando a fazenda em fins de semana por causa de alguns bichos de estimação. Não se tinha certeza se o ex-empregado havia ingressado no bando.
Um dia, no final de julho de 1938, com a família já residindo em Santana do Ipanema, chegam às onze cabeças dos bandidos mortos em Angicos.


Estávamos mirando curiosamente as cabeças já muito intumescidas e olhos esbugalhados e vermelhos, quando uma delas nos chamou a atenção, pela semelhança com o rosto do homem que conosco morara na fazenda. Um sinal perto do nariz e uma pequena mossa na orelha esquerda convenceram-nos de que o bando de Lampião o atraíra, inclusive, para a morte agoniada na gruta Angico, sob o fogo cerrado de uma volante policial alagoana.

Monteiro, então, desabafa:

Para mim "os semelhantes se atraem”, e por isso o nosso ex-morador fora ao lado do “Rei do Cangaço”, para cumprir a sua maldita vocação nos palcos infernais das caatingas nordestinas, como serpentes e feras bravias. Mas para o povo, de modo geral, foi o diabo que juntou o que Deus fizera e o vento espalhara.

Acho que Monteiro não disse o nome do avô pela vergonha e humilhação sofridas e, o nome do cangaceiro não saiu, possivelmente por que nem isso ele merecia. Fora Lampião, Maria Bonita, Enedina e Luiz Pedro, restaram Quinta-feira, Mergulhão, Alecrim, Moeda, Elétrico, Colchete e Marcela. Quem seria de LAMPIÃO O CABRA ASSINALADO?.

Do site: Clerisvaldo B. Chagas

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 17 (ESCRITOS, MENTIRAS E DIFAMAÇÕES)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 17 (ESCRITOS, MENTIRAS E DIFAMAÇÕES)

Durante muitos anos o cangaço foi visto como fenômeno ilegítimo de rebeldia, insurgência contra os poderes constituídos, uma verdadeira facção criminosa. Tido e visto no contexto do banditismo social, foi amplamente relegado ao plano da covardia e frieza assassina de seus agentes, os cangaceiros. Mais correto seria afirmar, como fez Rui Facó no livro “Cangaceiros e Fanáticos”, que a violência cangaceira era uma resposta à violência social.

Muitos viam nos cangaceiros uma patologia criminógena cujas raízes estavam na condição social, no estágio da evolução psíquica e cultural, na brutalidade animalesca propiciada pela terra inóspita e no caráter selvagem presente naqueles sertanejos. Quer dizer, preconceituosamente afirmavam que a delinquência era natural ao cangaceiro, vez que o meio o condicionava a esse estado animalesco.

Tal viés preconceituoso objetivava, de um lado, acobertar a inoperância e negligência do Estado no combate aos desmandos coronelistas que se alastravam pelos rincões nordestinos, bem como as injustiças derramadas como água fervente pelos próprios governos contra as classes menos favorecidas, e de outro na tentativa de desqualificar a força organizacional do cangaço enquanto instrumento de luta.


Desse modo, por muito tempo a historiografia oficial desqualificou como pôde o fenômeno cangaço, citando Lampião como reles delinquente, um chefe de criminosos, salteadores e vis bandoleiros, enquanto os seus cangaceiros não passavam de uma tropa de matutos e ignorantes sanguinários, despejando suas bestialidades contra os próprios conterrâneos. Pouco se fala das atrocidades das volantes e de suas práticas mais comuns: assassinatos de inocentes, falsas acusações para escusos proveitos, covardias em todos os sentidos.

Dessa verdadeira política de desconfiguração conceitual, de busca a todo custo de transformar o cangaço num reles banditismo e, consequentemente, tornar figuras como Lampião, Maria Bonita, Corisco, Adília, Zé Sereno, Cajazeira e Zabelê, dentre tantos outros, em eternos réus no tribunal da história, é que o Nordeste, palco e berço desses cangaceiros, logo passou a contradizer o que falsamente andavam espalhando pelos quatro cantos. Mas nunca foi fácil impor a verdade diante de distorções históricas.

Até hoje as opiniões se dividem acerca do cangaço. Muitos, talvez leitores dos historiadores da desconstrução, ou até mesmo porque acabam fazendo do preconceito ao povo nordestino a razão do seu pensamento, ainda têm o cangaço como um grupo de bandoleiros, frios assassinos, que outra coisa não fazia senão sair por todo a região matando gente inocente, desvirginando mocinhas e ferrando bochechas rosadas. Nesse contexto, somente uma revisão na literatura cangaceira para dar outros e verdadeiros contornos ao fenômeno.

Muito já havia sido escrito sobre o cangaço, não só abordando o grupo de Lampião como os outros que o antecederam. Contudo, geralmente da lavra de escritores nordestinos, dificilmente as obras ultrapassavam fronteiras. Tais escritos não alcançaram a divulgação, por exemplo, do livro “Lampião – O Rei dos Cangaceiros”, escrito pelo norte-americano Billy Jaynes Chandler, e que se tornou um clássico generalista sobre o tema.

Clássico porque possibilitou uma ampla abordagem sobre o fenômeno, de forma sistemática, acadêmica e conceitual, ainda que em grande parte baseado nas reportagens publicadas à ocasião pelos jornais. No livro, Chandler examina a trajetória de Lampião, da infância em Vila Bela, Pernambuco, até a morte em Angicos, separando fatos da ficção e colocando o cangaço no contexto de um sertão onde, à época, tal opção de luta soava com naturalidade para um povo afligido pela pobreza e pelas injustiças dos governantes.

Verdade é que depois dos primeiros escritos, e quase todos numa época recente à chacina da Gruta de Angico de 38 e o fim do cangaço, pouco se produziu de importante sobre o tema. Contudo, a partir da década de 80 o que se vê é uma retomada sem precedentes das pesquisas, das revisões de literatura, das entrevistas e estudos de campo. Como consequência, o surgimento de uma imensa bibliografia sobre Lampião e o cangaço.


Contudo, interessante notar que as obras surgidas deixaram de fazer abordagens generalistas para se voltarem a temas específicos, num verdadeiro recorte dos aspectos mais importantes que marcaram a história do cangaço. Assim, um pesquisador faz abordagem sobre o coronelismo e o cangaço, outro sobre as estratégias de Lampião, outro sobre o cotidiano cangaceiro, e já outro exclusivamente sobre a chacina de Angico.

Por mais que enveredem por temas específicos dentro do contexto maior, ainda assim estão longe de esgotar os aspectos que merecem ser pesquisados e abordados. Verdade é que tem autor que tenta forçar um pouco a barra e, ao invés de buscar a verdade e escrever com fundamento, simplesmente inventam situações até esdrúxulas. Quer dizer, tentando trazer holofotes para si, nem se envergonham de passar por ridículos. Neste sentido, o livro publicado tentando provar que Lampião não morreu na Gruta do Angico, mas já centenário e lá pelas bandas de Minas Gerais.

Contudo, nada comparável ao infamante livro escrito pelo ex-magistrado sergipano Pedro de Morais. Intitulado “Lampião - O Mata-Sete”. Muitos acreditam que diante do conteúdo desrespeitoso, infundado e totalmente mentiroso, o autor procurou apenas polemizar, jogar na mídia sua verve bestial apena para polemizar. Ora, não se polemiza com a verdade, principalmente quando a notoriedade dos fatos não deixa margens a depreciações.

Elaborado com o único intuito de denegrir a imagem de Lampião, Maria Bonita e do cangaço, nasceu tendencioso e se tornou numa das maiores aberrações literárias do nordeste brasileiro. E não poderia ser diferente, pois sendo daqueles que desqualificam totalmente o cangaço, o próprio indigitado autor acabou traduzindo sua ira em entrevista concedida: “Eu quero com esse livro é desmitificar a figura desse bandido e assassino que tem missa celebrada até hoje em seu sufrágio. Uma figura que para muitos é um mito, mas não passou de um criminoso”.

Mas certamente não será o último a enveredar nos descaminhos da pesquisa, na contramão da verdade histórica. E isto porque um fato de relevo merece ser citado, e diz respeito às publicações que se acumulam, são colocadas na praça, porém sem a qualidade que se esperaria. Não são todos logicamente, pois grandes obras de pesquisa cangaceira estão vindo a lume, mas alguns livretos que não podem ser classificados nem de pesquisa nem de ficção.

Verdade é que alguns, se apresentando com o nome bonito e desnecessário de cangaceirólogo, ao invés de correr atrás de fontes primárias, fazer pesquisa de campo, viajar, pesquisar, entrevistar, ler e reler, contrapor situações, concluir sobre as mesmas situações, para depois produzir algo proveitoso, se contentam apenas em escrever sobre o que os outros já escreveram. Quer dizer, é um conhecimento sobre o cangaço apenas pelo que os outros escreveram, e não pelo que foi buscar no rastro, na caatinga, na entrevista fidedigna e esclarecedora.


Tais autores, bem como os seus livros, não produzem nada significativo ou proveitoso. Hábeis apenas em pesquisa bibliográfica discutem, por exemplo, acerca da configuração geográfica da Gruta do Angico tendo unicamente por base a afirmação de um autor, segundo a qual o local do refúgio não deixa de ser um descampado fácil de ser atacado, quando outro disse que as serras ladeando a gruta, bem como a margem do rio adiante, tornavam o lugar estratégico para a defesa dos cangaceiros.

Não obstante isso – e talvez porque achem bonito citar tal fato -, tem gente publicando livro sobre o cangaço sem jamais ter colocado os pés no Nordeste. Outro dia li uma entrevista de um desses que se enchia de orgulho ao citar que recebeu uma bolsa de estudos e passou uma temporada enfurnado numa biblioteca americana pesquisando sobre o cangaço brasileiro. Verdadeiramente não sei até que ponto tal escritor possa repassar ao leitor qualquer sentido sociológico ou antropológico em sua obra. Não sei mesmo.

Por tudo isso - digo e repito -, feliz do pesquisador ou mero interessado sobre o tema que algum dia teve a oportunidade de conversar com Adília, com Sila, com o coiteiro Mané Félix, com Durval de Cândido, dentre outros que viviam nas redondezas de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo. A vida me deu essa chance. Não sou historiador, mas já olhei no olho da História.
  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com